segunda-feira, 5 de abril de 2021

Paixão de Cristo - remédio para nossos males.

Paixão de Cristo – remédio para nossos males.

(Na “Suma Teológica”, III,46, Santo Tomás analisa as razões da Paixão de Cristo; baseado em Santo Agostinho, afirma que a redenção pela Paixão foi o mais conveniente: o homem vê o quanto Deus o amou, é levado a amar a Deus por gratidão; na Paixão, Cristo deu exemplo de obediência, humildade, constância e justiça, virtudes necessárias à salvação; prometeu a graça e a glória, além de salvar o homem do pecado; lembrando-se de que o foi salvo pelo Sangue de Cristo, o homem evita o pecado; a dignidade do homem é elevada, pois venceu o diabo pelo qual fora vencido; a morte merecida pelo pecado foi superada pela morte de Cristo.) Que necessidade havia do Verbo de Deus padecer por nós? Grande necessidade e por duas razões. Uma, porque foi remédio para os nossos pecados; outra, porque foi um exemplo para as nossas ações. Foi, sim, um remédio, porque contra todos os males que contraímos pelo pecado, encontramos o remédio na Paixão de Cristo. Pelo pecado, contraímos 5 males.                                                                                                                                    

 1º) A mancha do pecado. Quando um homem peca, conspurca a sua alma; como a virtude a embeleza, o pecado a enfeia. Por que estás, ó Israel, na terra dos inimigos, e te contaminaste com os mortos (Bar.3,10). Mas a Paixão de Cristo lavou esta mancha. Cristo, na sua Paixão, fez do seu sangue um banho para nele lavar os pecadores: Lavou-os do pecado no sangue (Ap.1,5).  No Batismo, a alma é lavada no Sangue de Cristo porque esse sacramento recebe do Sangue de Cristo a força regeneradora. Então, quando algum batizado se macula pelo pecado faz uma injúria a Cristo e seu pecado é maior do que o cometido antes do Batismo. O que desprezou a lei de Moisés, após ouvido o testemunho de dois ou três, deve morrer. Como não deve merecer maiores suplícios aquele que pisou no Sangue do Filho de Deus e considerou impuro o Sangue da Aliança? (Hb.10,28-29).       

2º) Viramos objeto de aversão de Deus. Assim como quem é carnal ama a beleza da carne, Deus assim ama a beleza espiritual, que é a beleza da alma. Quando a alma se deixa contaminar pelo mal do pecado, Deus fica ofendido e odeia o pecador. Deus odeia o ímpio e a sua impiedade (Sb.14,9). Mas a Paixão de Cristo remove essas coisas porque ela satisfez ao Pai ofendido pelo pecado, cuja satisfação não poderia vir do homem. A caridade e a obediência de Cristo foram maiores do que o pecado e a desobediência do primeiro homem. Sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho (Rm.5,41).

3º) Fraqueza. Pecando pela primeira vez, o homem pensa que depois pode abster-se do pecado. Acontece, porém, o contrário: debilita-se pelo primeiro pecado e fica propenso a pecar mais. O pecado vai dominando o homem cada vez mais e este, pois si mesmo, coloca-se em tal estado que não pode mais se levantar. É como alguém que se lançou num poço. Só pode sair dele pela força divina. Depois que o homem pecou, nossa natureza ficou debilitada, corrompida e, por isso, ficou mais propenso ao pecado. Mas Cristo diminuiu essa fraqueza e corrupção, bem que não as tenha totalmente apagado. O homem foi fortalecido pela Paixão de Cristo e o pecado foi enfraquecido, de sorte que este não mais o dominará. Então pode, auxiliado pela graça divina, conferida pelos sacramentos, cuja eficácia deriva da Paixão de Cristo, esforçar-se para sair do pecado. O nosso velho homem foi crucificado juntamente com Ele, para que fosse destruído o corpo do pecado (Rm.6,6). Antes da Paixão de Cristo, poucos viviam sem pecado mortal. Depois dela, contudo, muitos viveram e vivem sem pecado mortal.          

4º) Dever de cumprir a pena do pecado. A justiça de Deus exige que o pecado seja punido e a pena é medida pela culpa. Como a culpa do pecado é infinita, porque ele agride o Bem Infinito, Deus, cujo mandamento o pecador desprezou, a pena devida ao pecado mortal é infinita. Cristo nos livrou dessa pena, pela sua Paixão, assumindo-a Ele próprio. Os nossos pecados (e suas penas) Ele carregou no seu corpo (1 Pd.2,24). A virtude da Paixão de Cristo foi tão abundante que ela só bastou para expiar todos os pecados de todos os homens. Por isso o que foi batizado foi purificado de todos os pecados. Por esse motivo também é que os sacerdotes perdoam os pecados. Do mesmo modo, aquele cujo sofrimento mais se assemelha ao da Paixão de Cristo consegue um maior perdão e merece maiores graças.                                                               

5º) Somos exilados do Reino do Céu. Quem ofende ao rei é obrigado a sair da pátria. O homem foi afastado do paraíso por causa do pecado: Adão foi expulso do paraíso e sua porta lhe foi trancada. Porém, Cristo, por sua Paixão, abriu aquela porta e chamou os exilados de volta para o reino. Quando o lado de Cristo foi aberto, a porta do paraíso foi reaberta; quando o seu sangue foi derramado, a mancha foi apagada, Deus foi aplacado, a fraqueza foi afastada, a pena foi expiada, os exilados foram convocados para o reino. Por isso disse ao ladrão: Hoje estarás comigo no Paraíso (Lc.23,43). Note-se que não foi dito outrora. nem a outrem – nem a Adão, nem a Abraão, nem a Davi; foi dito hoje, isto é, logo que a porta foi aberta e o ladrão pediu e recebeu perdão. Confiantes na entrada no santuário pelo Sangue de Cristo (Hb.10,19).

"Exposição Sobre o Credo", Art. 4º, Santo Tomás de Aquino.

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