sexta-feira, 26 de julho de 2013

Quinta consideração.

Como um santo frade, lendo a legenda de São Francisco,
no capítulo dos sagrados santos estigmas a respeito das palavras secretas
que o Serafim disse a São Francisco quando lhe apareceu,
rogou tanto a Deus que São Francisco as revelou para ele.

Ma outra vez, um frade devoto e santo, lendo a legenda de São Francisco no capítulo dos sagrados santos estigmas, começou a pensar com grande ansiedade de espírito que palavras podiam ser aquelas tão secretas, que São Francisco disse que não revelaria a ninguém enquanto vivesse, que o Serafim lhe tinha dito quando lhe apareceu. E esse frade dizia consigo mesmo: “São Francisco não quis dizer as palavras a ninguém enquanto estava vivo, mas agora, depois de sua morte, talvez as diga, se lhe for pedido com devoção”. E daí em diante começou o devoto frade a rogar a Deus e a São Francisco que lhes aprouvesse revelar aquelas palavras. Perseverando esse frade por oito anos nesse pedido, no oitavo ano mereceu ser ouvido deste modo.

Porque, um dia, depois de comer, tendo dado graças na igreja, ele estava em oração em uma parte da igreja e rezando para isso a Deus e a São Francisco mais devotamente do que costumava e com muitas lágrimas, ele foi chamado por um outro frade e lhe foi ordenado da parte do guardião que ele o acompanhasse à cidade para a utilidade do lugar. Por isso, ele, sem duvidar de que a obediência é mais meritória do que a oração, assim que ouviu a ordem do prelado, deixou a oração e foi humildemente com o frade que o chamara. E como aprouve a Deus, ele, naquele ato de pronta obediência, mereceu o que por longo tempo de oração não tinha merecido.

Assim, logo que eles saíram da porta do lugar, encontraram-se com dois frades forasteiros que pareciam vir de países longínquos, e um deles parecia jovem e outro antigo e magro, molhados e enlameados pelo mau tempo. Por isso o frade obediente, tendo grande compaixão deles, disse ao companheiro com quem ia: “Ó meu irmão caríssimo, se pudermos demorar um pouco para fazer o que nos foi mandado, pois estes frades forasteiros têm necessidade de serem recebidos com caridade, eu te peço que me deixes ir primeiro lavar os pés deles e especialmente deste frade antigo, que tem agora maior necessidade, e tu poderá lavar os deste jovem. Depois iremos cuidar das coisas do lugar”.

Então, condescendendo o frade com a caridade do companheiro, voltaram para dentro e, recebendo os frades forasteiros com muita caridade, levaram-nos para a cozinha para se esquentarem e enxugarem diante do fogo. Junto desse fogo estavam se esquentando outros oito frades do lugar.

Depois de ficarem um pouco junto do fogo, levaram-nos à parte para lavar os seus pés, como tinham combinado. E enquanto o frade obediente e devoto lavava os pés do frade mais antigo e lhe tirava o barro, pois estavam muito enlameados, olhou e viu que seus pés estavam marcados pelos estigmas. Subitamente, pela alegria e o estupor, abraçou-lhe apertado os pés e começou a gritar: “Ou és Cristo ou és São Francisco”.
Ouvindo esse grito e essas palavras, levantaram-se na hora os frades que estavam junto ao fogo e foram lá para ver, com grande temor e reverência aqueles gloriosos estigmas. E então o frade antigo, a pedido deles permitiu que eles os vissem, tocassem e beijassem. E estando eles ainda mais maravilhados pela alegria, ele lhes disse: “Não duvideis e nem temais, caríssimos frades meus filhos; eu sou o vosso pai Frei Francisco, que, segundo a vontade de Deus, fundei as três Ordens. E como isso é coisa que já me foi pedido já fazem oito anos por este frade que me lava os pés, e hoje com mais fervor do que nas outras vezes, que eu lhe revele aquelas palavras secretas que o Serafim me disse quando me deu os estigmas, palavras que eu nunca quis revelar durante minha vida, mas hoje, por ordem de Deus e por sua perseverança e pronta obediência, pela qual ele deixou a doçura de sua contemplação, fui mandado por Deus para lhe revelar, diante de vós, o que ele me pediu”. E então, virando-se para o frade, São Francisco disse assim:

“Sabe, caríssimo frade, que quando eu estava no monte Alverne, todo absorto na memória da paixão de Cristo, naquela aparição seráfica eu fui assim estigmatizado no meu corpo, e então Cristo me disse: ”Sabes o que foi que eu te fiz? Eu te dei os sinais da minha paixão, para que tu sejas meu porta-bandeira. E como no dia de minha morte desci ao limbo, trouxe e levei para o paraíso, em virtude de meus estigmas, todas as almas que lá encontrei, assim eu te concedo desde já, para que me sejas tão conforme na morte como foste na vida, que tu, depois que tiveres passado deste vida, todos os anos, no dia da tua morte, vás ao purgatório, tires e leves para o paraíso todas as almas das tuas três Ordens, isto é, Menores, Irmãs e Continentes, e além delas as dos teus devotos que lá encontrares”. Essas palavras eu nunca disse enquanto estive no mundo”.

Ditas essas palavras, São Francisco e os companheiros desapareceram de repente. Muitos frades ouviram isso depois daqueles oito frades que estavam presentes nessa visão e nas palavras de São Francisco.
Para louvor de Jesus Cristo e do pobrezinho Francisco. Amém.


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