quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Legenda Perusina 16-20.

[16]

Quando os frades ministros lhe sugeriram que concedesse alguma coisa, pelo menos em comum, para que tamanha multidão tivesse ao que recorrer, São Francisco invocou Cristo na oração e o consultou a respeito. Ele respondeu imediatamente que tirasse todas as coisas, tanto em particular como em comum, dizendo esta é a sua família, que estava sempre pronto para prove-la, por mais que crescesse, e que sempre a ajudaria, enquanto esperasse nele.



[17]

Quando o bem-aventurado Francisco estava em certo monte com Frei Leão de Assis e Frei Bonício de Bolonha para fazer a Regra - porque a primeira, que tinha mandado escrever ouvindo Cristo - muitos ministros se reuniram com Frei Elias, que era o vigário do bem-aventurado Francisco, e lhe disseram: “Ouvimos que esse Frei Francisco está fazendo uma regra nova; tememos que a faça tão áspera que não a possamos observar. Queremos que te apresentes a ele e lhe digas que nós não queremos ser obrigados a essa Regra; faça-a para ele, não para nós”.

Frei Elias respondeu-lhes que não queria ir, pois temia a repreensão de Frei Francisco. Como eles insistiam para que fosse, disse que não iria sem eles. Então, foram todos. Quando Frei Elias estava com esses ministros perto do lugar onde estava o bem-aventurado Francisco, chamou-o; quando o bem-aventurado Francisco respondeu e viu os referidos ministros, disse: “O que querem esses frades?” Frei Elias respondeu: “Estes são ministros, que, ouvindo dizer que fazes uma nova Regra, e temendo que a faças áspera demais, dizem e protestam que não querem ser obrigados a ela. Que a faças para ti, e não para eles”.

Então o bem-aventurado Francisco voltou sua face para o céu e assim falou com Cristo: “Senhor, eu não disse que não creriam em ti?” Então se ouviu no ar a voz de Cristo que respondia: “Francisco, não há nada de teu na Regra; tudo que está lá é meu”. E quero que a regra seja observada à letra, à letra, à letra, e sem glosa, sem glosa, sem glosa”. E acrescentou: “Eu sei do que é capaz a fraqueza humana e quanto quero ajudá-los. Os que não quiserem observá-la, que saiam da Ordem”. Então o bem-aventurado Francisco voltou-se para aqueles frades e lhes disse: “Ouvistes? Ouvistes? Querem que os faça ouvir outra vez?”. Então aqueles ministros, confundidos e reconhecendo sua culpa, foram embora.



[18]

Quando o bem-aventurado Francisco estava no capítulo geral em Santa Maria dos Anjos, que foi chamado capítulo das esteiras, e estavam presentes cinco mil frades, muitos irmãos sábios e doutos por sua ciência disseram ao senhor Cardeal, que depois foi Papa Gregório IX, que estava presente no capítulo, que convencesse o bem-aventurado Francisco, a seguir os conselhos dos referidos frades sábios e deixasse que eles o guiassem de vez em quando, alegando a Regra do bem-aventurado Bento, do bem-aventurado Agostinho e do bem-aventurado Bernardo, que ensinam assim e assim aviver ordenadamente.

Então o bem-aventurado Francisco, ouvindo a palavra do Cardeal sobre isso, tomou-o pela mão e o levou onde os frades estavam reunidos em capítulo e assim falou aos irmãos: “Irmãos meus, irmãos meus, Deus me chamou pelo caminho da humildade e me mostrou o caminho da simplicidade: não quero que me falem de nenhuma Regra, nem de Santo Agostinho, nem de São Bernardo, nem de São Bento. O senhor me disse que queria que eu fosse um “moço doido” no mundo; e Deus não quis conduzir-nos por outro caminho mas por esta ciência; mas por vossa ciência e sabedoria Deus vai confundir-vos. Mas eu confio nos esbirros do Senhor, que vai punir-vos através deles, e ainda voltareis ao vosso estado, ao vosso vitupério, queirais ou não”. Então o Cardeal ficou estupefato e não respondeu nada. Todos os frades ficaram com medo.



[19]

Embora o bem-aventurado Francisco quisesse que seus filhos vivessem em paz com todas as pessoas e que a todos se apresentassem como pequeninos, ensinou pela palavra e mostrou pelo exemplo que deviam ter a maior humildade diante dos clérigos. Pois dizia: “Fomos enviados para ajudar os clérigos para a salvação das almas, para que o que houver de menos neles seja suprido por nós. Cada um recebe o prêmio não segundo a autoridade mas segundo o trabalho.

Sabei, irmãos, que é agradabilíssimo para Deus o lucro ou o fruto das almas, e que se pode consegui-lo mais com a paz do que com a discórdia dos clérigos. Se eles estiverem impedindo a salvação dos povos, a vingança cabe a Deus e Ele há de retribuí-los no seu tempo. Por isso, sede submissos aos prelados, para não suscitar ciúmes no que depender de vós. Se fordes filhos da paz, lucrareis para Deus o clero e o povo, o que Deus acha mais aceitável do que lucrar só o povo, escandalizando o clero. Encobri, disse, as suas quedas, supri suas múltiplas deficiências; e quando fizerdes essas coisas, sede mais humildes”.



[20]

Uma vez alguns frades disseram ao bem-aventurado Francisco: “Pai, será que não vês que às vezes os bispos não nos permitem pregar, e nos fazem ficar muitos dias ociosos em algum lugar, antes de podermos pregar ao povo? Seria melhor que pedisses que os frades tivessem um privilégio do senhor papa, e fosses a salvação das almas”.

Respondeu-lhes com uma grande repreensão, dizendo: “Vós, Frades menores, não conheceis a vontade de Deus, e não me permitis converter todo o mundo, como Deus quer. Porque eu quero converter primeiro os prelados, pela humildade e a reverência, e quando eles virem vossa vida santa e a reverência que tendes para com eles, vão rogar eles mesmos que vós pregueis e convertais o povo. E vão convoca-lo para vós melhor do que os privilégios que quereis, que vos levarão à soberba. Se fordes alheios a toda avareza e inculcardes ao povo para que entreguem às igrejas os seus direitos, eles mesmos vão rogar que escuteis a confissão do seu povo; ainda que não devais pensar nisso, porque, se se converterem, vão saber encontrar confessores. Eu quero para mim este privilégio do Senhor: não ter nenhum privilégio que venha dos homens, a não ser prestar reverência a todos e pela obediência da santa Regra converter a todos mais pelo exemplo do que pela palavra”.

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