sexta-feira, 16 de março de 2012

Uma visão católica de vida.


Uma visão do mundo
baseada em Fátima

Este artigo, transcrição de um discurso proferido em Outubro de 1999, na Conferência sobre Fátima para a Paz no Mundo em 2000, ajuda-nos a compreender melhor tudo o que antecede e rodeia o Segredo de Fátima na sua totalidade.
Por John Vennari

Hoje, 13 de Outubro de 1999, é o 82º aniversário do Milagre do Sol, ocorrido em Fátima a 13 de Outubro de 1917. Este milagre foi predito três meses antes, a 13 de Julho de 1917. Na aparição desse dia, a pastorinha Lúcia perguntou a Nossa Senhora:

«Eu queria pedir-Lhe para nos dizer Quem é, e para fazer um milagre com que todos acreditem que Vossemecê nos aparece.»

Nossa Senhora respondeu:

«Continuem a vir aqui todos os meses. Em Outubro direi Quem sou e o que quero, e farei um milagre que todos hão-de ver para acreditar.»

E a 13 de Outubro de 1917 – faz hoje 82 anos – 70 mil pessoas testemunharam o grande Milagre do Sol. 70 mil pessoas viram o sol dançar no céu, e precipitar-se de repente sobre a terra. Essas testemunhas, entre elas o Ti Marto, pai da Jacinta [e do Francisco], disseram-nos ter ficado cheias de terror. Contou ele: «O sol ... começou a dançar até que por fim pareceu que se soltasse do Céu e viesse para cima da gente. Foi um momento terrível!» Segundo essas mesmas testemunhas, o Milagre durou cerca de 8 minutos. E depois de o sol «ter voltado para o seu lugar no céu», o chão, que antes do Milagre estava completamente encharcado devido às chuvas torrenciais que caíram durante toda a noite, ficou seco. Do mesmo modo, as roupas de todos aqueles que, à chuva, ali tinham esperado toda a manhã pelo Milagre estavam completamente secas.

Durante o grande Milagre do Sol – dizem as testemunhas – podia-se olhar directamente para o sol sem que ele as cegasse ou de qualquer modo lhes ferisse a vista.

Nossa Senhora operou para nós no século XX um dos mais espantosos milagres de todos os tempos: um milagre público, anunciado três meses antes e testemunhado por 70 mil pessoas – milagre esse que chegou mesmo a ser notícia num jornal liberal, anticlerical e maçónico da época, O Século.

A notícia, publicada a 15 de Outubro de 1917, dizia:

«... vê-se toda a imensa multidão voltar-se para o sol, que se mostra liberto de nuvens, no zénite. O astro lembra uma placa de prata fosca e é possível fitar-lhe o disco sem o mínimo esforço. Não queima, não cega. Dir-se-ia estar-se realizando um eclipse. Mas eis que um alarido colossal se levanta, e aos espectadores que se encontram mais perto se ouve gritar: — Milagre, milagre! Maravilha, maravilha! Aos olhos deslumbrados daquele povo, cuja atitude nos transporta aos tempos bíblicos e que, pálido de assombro, com a cabeça descoberta, encara o azul, o sol tremeu, o sol teve nunca vistos movimentos bruscos, fora de todas as leis cósmicas, — o sol bailou, segundo a típica expressão dos camponeses.»

Foi este, de longe, o mais espantoso milagre público que o Céu operou, desde que Nosso Senhor fundou a Sua única e verdadeira Igreja Católica.

Assim, penso que a grandeza deste milagre corresponde à grandeza e à importância da Mensagem que Nossa Senhora nos deu em Fátima. E tal como este milagre – em especial com o sol a dançar no céu e, de repente, a precipitar-se sobre a terra – que, de tão espectacular, tornava impossível que os olhos dele se desviassem, a Mensagem de Fátima tem em si própria uma tal magnitude, e uma tão grande importância e centralidade que eu creio que, por meio deste Milagre, Nossa Senhora estava a dizer-nos que não devemos afastar nunca – mas mesmo nunca – o nosso olhar de Fátima, que nunca devemos afastar o nosso olhar da Sua Mensagem, e que não poderemos nunca permitir-nos qualquer distracção, seja ela qual for, em relação à Mensagem da Virgem Santíssima.

É por isso que esta comunicação tem por título "Uma visão do mundo baseada em Fátima". Nossa Senhora desceu a Fátima nos princípios do século XX, um dos mais paganizados de todos os séculos. O mundo está agora mergulhado não num simples paganismo, mas num paganismo pós-Cristão, que é muitíssimo pior do que o paganismo pré-Cristão. O paganismo pré-Cristão não tinha ainda ouvido falar de Cristo; mas o paganismo pós-Cristão ouviu a Mensagem de Cristo e rejeitou-O, a Ele e à Sua una e verdadeira Igreja. Como vemos, é um estado bem pior do que o do antigo paganismo, que era ignorante e nada conhecia de Jesus Cristo.

A Mensagem de Fátima deve ser o centro da vivência do nosso Catolicismo, o centro do modo como vemos o mundo. Eu acredito que tudo o que Nossa Senhora manifestou em Fátima nos mostra que devemos basear a nossa visão do mundo na Mensagem de Fátima – e não em coisa alguma que, de qualquer modo, a possa contradizer.

Eu acentuo propositadamente este aspecto porque, para muitos, a devoção a Nossa Senhora de Fátima não assume um lugar central, sendo muitas vezes relegada para uma posição lateral e periférica. Seria algo semelhante à devoção a S.ta Rita de Cássia, a S. Judas Tadeu, ou à devoção a Santo António. Embora considerada uma prática muito boa e um auxílio para a nossa vida espiritual, seria apenas um extra – mais uma devoção possível mas lateral, e cuja importância, apenas secundária, não é levada suficientemente a sério.

As visitas de Nossa Senhora a Fátima deram-nos os fundamentos para uma completa visão do mundo – uma visão do mundo que não passa de moda nem se desactualiza. E uma tal visão do mundo, baseada na Mensagem de Fátima, nunca pode vir a ser "actualizada", de modo a significar algo diferente daquilo que, desde o primeiro momento, significou; nem pode ser rebaixada na sua realidade, nem mudada ou eclipsada pela superstição do aggiornamento. Nada do que aconteceu neste século poderá alguma vez obscurecer a importância da Mensagem que Nossa Senhora transmitiu em Fátima.

E a Mensagem de Fátima não é senão uma reafirmação urgente dos ensinamentos da tradição da Igreja, e uma reafirmação da urgente necessidade de reparação – o que tem implicações especiais no nosso tempo.

A Mensagem de Fátimalivra-nos dos slogans que nos metem na cabeça

A Verdade tem uma qualidade libertadora. Foi Nosso Senhor que o disse: «a Verdade te libertará».

E a Mensagem de Fátima livra-nos de cair na falsidade de tantos slogans vazios, tantas vezes repetidos hoje em dia. Livra-nos de aderir ao slogan de que as Nações Unidas (de princípios ateus) são "a última grande esperança de Paz para a humanidade". Livra-nos de cair naquele outro que diz que estamos agora a entrar numa "nova Primavera" com o advento do novo milénio. Livra-nos de acreditar no slogan de que estamos agora no limiar de uma espécie de nova "civilização do amor", na qual tanto os Católicos como os membros de falsas religiões podem esbater as diferenças entre si, para trabalharem juntos na construção de um mundo melhor. (É curioso recordar que, na realidade, esta noção de que Católicos e não-Católicos poderiam unir-se para construirem uma espécie de nova "civilização do amor" já tinha sido condenada pelo Papa S. Pio X, quando condenou o movimento Sillon, surgido em França em 1910).

Devemos também frisar que, de ambas as expressões, tão vulgarizadas – "uma nova Primavera" e "uma civilização do amor" –, nem uma só contém qualquer menção ao Imaculado Coração de Maria. Ora, na realidade, Nossa Senhora prometeu, em Fátima, uma grande vitória; mas nunca lhe chamou "nova Primavera", nem nunca lhe chamou "civilização do amor". Chamou-lhe, sim, «O triunfo do Meu Imaculado Coração».

Nossa Senhora trouxe a Fátima a seguinte Mensagem: «Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração». Logo, não pode haver nenhuma vitória, não pode haver nenhuma "nova Primavera" sem que um considerável número de Católicos corresponda fervorosamente aos pedidos de Nossa Senhora de Fátima. E este é que tem de ser o nosso centro de gravidade.

Façamos agora uma rápida revisão dos Seus pedidos.

Em Fátima, Nossa Senhora pediu-nos para:

rezar pelo menos um Terço todos os dias;

usar o Escapulário castanho;

oferecer a Deus os nossos deveres de cada dia, como um acto de sacrifício;

fazer os Cinco Primeiros Sábados, em reparação das ofensas cometidas contra o Seu Imaculado Coração;

Nossa Senhora pediu também que o Santo Padre, em união com todos os Bispos do mundo, fizesse a Consagração da Rússia ao Seu Imaculado Coração, prometendo que, deste modo, a Rússia se converteria e que seria concedido ao mundo algum tempo de Paz.

Ora esta Consagração ainda não foi feita, e tem de vir a ser realizada.

O meu pequeno testemunho no sentido de demonstrar que a Rússia não foi consagrada nem se converteu vem de um pequeno artigo que saiu no jornal canadiano Toronto Sun a 9 de Agosto de 1999, e que noticiava que Larry Flynt, o conhecido "rei da pornografia", acabava de lançar em Moscovo a versão em língua russa da revista Hustler.

Ora bem: para todos aqueles que não saibam do que se trata, basta dizer que a Hustler é uma das revistas mais pornográficas – tanto pelas palavras como pelas imagens – dos Estados Unidos. Trata-se de uma indústria que envolve milhões de dólares e que tem uma enorme circulação. Larry Flynt gabou-se de ter enviado uma assinatura gratuita desta revista a cada um dos membros do parlamento russo. Ora isto foi 15 anos depois da Consagração de 1984, uma Consagração que não mencionava a Rússia pelo seu nome, tal como Nossa Senhora tinha pedido.

Se já então vivêssemos o Triunfo do Imaculado Coração de Maria, Larry Flint não teria podido fazer tal coisa impunemente!

Observância e respeito pela Tradição da Igreja

Quero, portanto, explicar porque é que a Mensagem de Nossa Senhora de Fátima tem de ser o centro da nossa visão do mundo.

Em primeiro lugar, o que torna a Mensagem de Fátima eminentemente credível é o facto de Nossa Senhora ter aí demonstrado um profundo respeito pelos consistentes e imutáveis ensinamentos da Igreja através dos séculos. Quando Nossa Senhora desceu a Fátima, não veio trazer-nos uma doutrina nova, nem nos deu um modo de compreender os ensinamentos da Igreja Católica que fosse diferente dos sólidos ensinamentos pregados durante séculos. Disse S. Paulo: «Mas se alguém de entre nós, ou mesmo um anjo do Céu, vos pregarem um Evangelho diferente daquele que vos pregámos, que esse seja anátema.» (Epíst. aos Gálatas, 1: 8).

E Nossa Senhora seguiu estas sagradas directrizes. Não apenas observou com a mais profunda reverência tudo quanto a Igreja desde sempre ensinou, com as mesmas frases e os mesmos sentidos (eadem sententia eodem sensu), como ainda reforçou certas doutrinas e orientações-chave.

E as doutrinas e orientações que Nossa Senhora reforçou podem dar-nos uma pista em relação àquelas doutrinas que viriam a ser mais atacadas nos nossos tempos.
Nossa Senhora no plano da Salvação

Antes de mais nada, a Mensagem de Nossa Senhora de Fátima reforça a importância da Santíssima Virgem no plano da Salvação.

Através da Mensagem sabemos que a salvação do mundo, a conversão da Rússia e a Paz no mundo dependem em última instância da correspondência, por parte da humanidade, ao desejo de Deus de estabelecer no mundo a devoção ao Coração Imaculado de Sua Mãe Santíssima. A centralidade e a importância de Nossa Senhora ficam bem salientadas nas aparições de Fátima.

É certo que um bom Mariologista poderia falar um dia inteiro sobre o modo como Nossa Senhora é o centro do plano da Salvação. Quanto a mim, quero apenas focar um aspecto desta verdade – e que é o seguinte: a Santíssima Virgem era absolutamente necessária para que Jesus Cristo se tornasse um homem ou, dizendo melhor, o «Filho do Homem».

É que Deus, embora sendo Todo-Poderoso, não poderia pertencer à raça humana sem Maria; não poderia tornar-se o «Filho do Homem» sem Nossa Senhora.

Não sou só eu que o digo; afirmou-o também o Abade Beneditino Marmion (1858-1923) que foi, provavelmente, o maior escritor da espiritualidade do século XX. Ao ver a obra do Abade Marmion, o Santo Padre Bento XV disse: "leiam isto: é a pura doutrina da Igreja".

Nos seus escritos, o Abade Marmion refere claramente que, para que Nosso Senhor pudesse ser verdadeiramente um membro da nossa raça humana, um Filho de Adão, um «Filho do Homem», Ele estava totalmente dependente do facto de a Nossa Mãe Santíssima ter respondido «Sim» ao Anjo, quando este Lhe perguntou se Ela consentia em ser a Mãe de Jesus Cristo, "verdadeiro Deus e verdadeiro Homem".

Evidentemente que Nosso Senhor poderia ter-Se tornado Homem pelo Seu próprio Poder, sem a intervenção de Nossa Senhora. Poderia simplesmente ter assumido a natureza humana a partir do nada – e aparecer diante de nós já como um homem feito.

Mas, se Ele o tivesse feito, teria sido, por assim dizer, como que um ‘alienígena’ de outro planeta, ‘caído’ na Terra. Teria sido, portanto, impossível olhar para Ele e vê-Lo fazendo parte da nossa natureza humana. Teria o aspecto de um homem, caminharia como um homem, falaria como um homem… Mas nós nunca poderíamos considerá-Lo como pertencendo verdadeiramente à nossa família humana, à linhagem do nosso sangue, à nossa raça – humana. Nunca poderíamos tê-Lo considerado como um verdadeiro descendente físico dos nossos primeiros pais, Adão e Eva. Não teríamos tido, enfim, qualquer relação de parentesco com a Sua humanidade.

Para que Nosso Senhor Se tornasse um parente nosso, verdadeiramente pertencente à nossa família humana que tanto precisava de Redenção, foi-Lhe absolutamente necessário que viesse a nascer de uma filha de Adão e Eva; e essa "filha" foi a Puríssima e Imaculada sempre Virgem Maria. Ela foi absolutamente essencial.

Quis Deus depender de Nossa Senhora, para que Nosso Senhor Jesus Cristo pudesse a Si mesmo chamar-Se "Filho do Homem". E – como salienta o Abade Marmion – parece que o nome de "Filho do Homem" era para Nosso Senhor o mais querido ao Seu Sacratíssimo Coração durante a Sua vida na terra. Por isso o Abade Marmion explica ter sido esta a designação que Ele mais usou, referindo-Se a Si próprio: "Filho do Homem".

Do mesmo modo, a Mensagem de Fátima ajuda-nos a lembrar o quanto dependemos de Nossa Senhora. Recorda-nos que a devoção a Nossa Senhora, e particularmente ao Seu Coração Imaculado, não é algo de periférico na nossa Fé, nem alguma devoçãozinha mínima e suplementar. Não! Nosso Senhor fez da devoção ao Imaculado Coração de Maria uma condição incontornável para a conversão da Rússia e para ser concedido ao mundo um período de Paz.

O reforço de pontos-chave da Doutrina

Na Mensagem de Fátima podemos também ver reforçados os dogmas fundamentais da nossa Fé.

Quando Nossa Senhora apareceu em Fátima:

Falou da doutrina do Céu,
Falou da doutrina do Inferno,
Falou da doutrina do Purgatório,
Falou da doutrina da Divina Eucaristia,
Falou da doutrina do sacramento da Penitência.

E, indirectamente, a Senhora falou ainda da doutrina do Reinado Social de Jesus Cristo – mas reforçando o ensino tradicional do Santo Padre de que existe uma única e verdadeira Igreja, fora da qual não há salvação, e de que as Nações e os seus Governos a devem reconhecer como tal, bem como o poder indirecto da Igreja acima do próprio Estado e da sociedade civil. Tudo isto está implícito no pedido de Nossa Senhora para que o Papa consagre a Rússia ao Seu Imaculado Coração.

Primeiro, o Céu.

A 13 de Maio de 1917, quando a Lúcia perguntou "De onde é Vossemecê?" a Senhora respondeu "Sou do Céu".

Nossa Senhora está no Céu, em corpo e alma. E o Céu é um local, um verdadeiro lugar, e não apenas um estado de espírito. E, de acordo com a Mensagem, é um lugar para onde nós só iremos se vivermos a vida sacramental da Graça santificante, como membros do Corpo Místico de Cristo que é a Igreja Católica.

Nossa Senhora recordou-nos também a doutrina do Inferno. Que o Inferno existe. Que é um lugar; e que há almas de pessoas que vão para lá, já para lá têm ido, e lá estão agora. Decerto Nossa Senhora não concordava com o teólogo progressista Hans urs von Balthasar que especulava que "o Inferno existe, mas é (e está) vazio".

Não. Nosso Senhor disse: «a Verdade te libertará». E o reforço de Nossa Senhora acerca da doutrina do Inferno liberta-nos de todos os erros de von Balthasar e dos seus seguidores, quem quer que eles possam ser.

Servindo-se de um modo ainda mais dramático, Nossa Senhora não se contentou apenas em falar sobre a realidade do Inferno a crianças tão pequenas. No dia 13 de Julho de 1917, Nossa Senhora de Fátima mostrou aos três pastorinhos a terrível visão do Inferno.

Tal é o relato da Irmã Lúcia nas suas Memórias:

«Nossa Senhora ...abriu de novo as mãos, como nos dois meses passados. O reflexo pareceu penetrar a terra, e vimos como que um mar de fogo. Mergulhados nesse fogo, os demónios e as almas, como se fossem brasas transparentes e negras, ou bronzeadas, com forma humana, que flutuavam no incêndio, levadas pelas chamas que delas mesmas saíam juntamente com nuvens de fumo, caindo para todos os lados, semelhante ao cair das faúlhas nos grandes incêndios, sem peso nem equilíbrio, entre gritos e gemidos de dor e desespero, que horrorizava e fazia estremecer de pavor. (Devia ter sido ao deparar-me com esta vista, que dei esse "ai!" que dizem ter-me ouvido). Os demónios distinguiam-se por formas horríveis e asquerosas de animais espantosos e desconhecidos, mas transparentes como negros carvões em brasa. Esta vista foi um momento. E graças à nossa boa Mãe do Céu, que antes nos tinha prevenido com a promessa de nos levar para o Céu (na primeira aparição)! Se assim não fosse, creio que teríamos

Então Nossa Senhora disse-lhes:

«Vistes o Inferno, para onde vão as almas dos pobres pecadores. Para as salvar, Deus quer estabelecer no mundo a devoção ao Meu Imaculado Coração.»

Tal foi a visão aterradora dada a conhecer aos pastorinhos. A Irmã Lúcia disse muito claramente que «Os demónios distinguiam-se das almas dos condenados». Portanto, isto demonstra que a teoria de von Balthasar – de que o Inferno existe, mas vazio; ou, em alternativa, que "sabemos que existem demónios no Inferno, mas não sabemos se, na verdade, há seres humanos no Inferno" – é completamente falsa. Há demónios no Inferno, e há almas de pessoas no Inferno. Foi essa visão que deu aos pastorinhos a Graça e a coragem de fazerem sacrifícios heróicos para a salvação das almas.

Nossa Senhora reforçou ainda os ensinamentos acerca do Purgatório.

A 13 de Maio de 1917, Lúcia perguntou a Nossa Senhora por duas amigas que tinham morrido há pouco.

Perguntou a Lúcia: «A Maria das Neves já está no Céu?» (era uma rapariga que tinha falecido por volta dos 16 anos).

Nossa Senhora respondeu: «Sim, já está no Céu».

A seguir, Lúcia perguntou por uma outra sua amiga que tinha morrido entre os 18 e os 20 anos de idade: «E a Amélia?»

Nossa Senhora respondeu: «ela ainda vai ficar no Purgatório até ao fim do mundo.».

Tal afirmação de Nossa Senhora vai ainda contra as falsas crenças protestantes que não acreditam no Purgatório. Só com esta asserção – «ela ainda vai ficar no Purgatório até ao fim do mundo» –, Nossa Senhora está a dizer aos Protestantes: "a vossa doutrina protestante que rejeita o Purgatório é falsa".

Nossa Senhora reforçou a doutrina do Sacramento da Confissão, ao estabelecer a confissão sacramental como condição necessária às almas para cumprirem o que era requerido na devoção dos Cinco Primeiros Sábados.

E uma vez mais, por este meio, Nossa Senhora está a dizer aos nossos amigos Protestantes: "a vossa doutrina protestante que rejeita o Sacramento da Confissão é falsa".

Vejamos agora a Divina Eucaristia.

As aparições de Fátima não só reforçam a doutrina da Eucaristia como também salientam o dever de reverência diante da Divina Eucaristia – Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Em 1916, um ano antes de Nossa Senhora ter aparecido em Fátima, os pastorinhos Jacinta, Francisco e Lúcia foram por três vezes favorecidos com a aparição de um Anjo, precursor das visitas de Nossa Senhora. A terceira e última destas aparições angélicas deu-se no Outono de 1916, com o "Anjo da Eucaristia".

Nessa altura, quando veio administrar a Sagrada Eucaristia aos três pastorinhos, o Anjo não lhes apareceu todo Ele sorrisos, a dizer-lhes: "Pastorinhos, eu estou aqui para vos dizer que esta Eucaristia tem o propósito de vos transmitir o sentido de comunidade e solidariedade, de promover o diálogo e a interrelação entre as pessoas, e para celebrar a dignidade inerente à pessoa humana através da unidade na diversidade".

Não foi nada disso que aconteceu!


Lúcia diz-nos que era meio-dia, e que os três pastorinhos estavam prostrados por terra, recitando as orações de reparação que o "Anjo da Paz" lhes ensinara na Primavera anterior.

Escreve a Lúcia:

«Não sei quantas vezes tínhamos repetido essa oração, quando vemos brilhando sobre nós uma luz desconhecida. Erguemo-nos … e vemos o Anjo, tendo na mão esquerda um Cálice sobre o qual estava suspensa uma Hóstia, da qual caíam algumas gotas de sangue dentro do Cálice.

«Deixando o Cálice e a Hóstia suspensos no ar, o Anjo ajoelhou-se junto de nós e, prostrando-se igualmente por terra, repetiu por três vezes connosco esta oração:

«Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, adoro-Vos profundamente, e ofereço -Vos o Preciosíssimo Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus Cristo, presente em todos os Sacrários da terra, em reparação dos ultrages, sacrilégios e indiferenças com que Ele mesmo é ofendido. E pelos méritos infinitos do Seu Sacratíssimo Coração e do Coração Imaculado de Maria, peço-Vos a conversão dos pobres pecadores.»


Lúcia escreve que o Anjo se ergueu, tomou de novo nas mãos o Cálice e a Hóstia, e administrou a Comunhão aos três pastorinhos, colocando a Sagrada Hóstia sobre a língua da Lúcia e dividindo o Sangue do Cálice pelo Francisco e pela Jacinta, dizendo ao mesmo tempo:

«Tomai e bebei o Corpo e o Sangue de Jesus Cristo, horrivelmente ultrajado pelos homens ingratos. Reparai os seus crimes e consolai o vosso Deus.»

A seguir, conta a Lúcia, o Anjo «prostrou-se de novo em terra, e repetiu connosco outras três vezes a mesma oração: ‘Santíssima Trindade, etc.’. E desapareceu.»

Será possível que o Céu envie aos homens um ensinamento mais forte do que este, em como a Divina Eucaristia deve ser reverenciada e venerada? Por meio das suas atitudes e acções, o Anjo ensinou não só os três pastorinhos de Fátima como também todo o século XX e todas as nações do mundo até ao fim dos tempos.

Todos os gestos do Anjo em relação à Eucaristia estavam em perfeita conformidade com a tradição, os ensinamentos e a prática da Igreja:

O Anjo pôs-se de joelhos, prostrado com a face por terra. Tal atitude significa o reconhecimento da Soberana Majestade e da Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiramente presente na Eucaristia. Tudo isto nos lembra a profunda reverência que é devida ao Santíssimo Sacramento.

O Anjo recitou orações de reparação pelas blasfémias e sacrilégios contra o Santíssimo Sacramento, como se predissesse os inumeráveis ultrages que seriam praticados contra o Santíssimo Sacramento, especialmente depois de 1960.

O Anjo rezou, por intermédio do Coração Imaculado de Maria, pela conversão dos pobres pecadores, especialmente – podemos inferi-lo do contexto – daqueles que pecam contra a Divina Eucaristia.

O Anjo não deu à Lúcia a Comunhão na mão.

Os três pastorinhos de Fátima sabiam que o Anjo tinha vindo para os ensinar, e que o seu exemplo devia ser seguido.

Lúcia escreve:

«Levados pela força do sobrenatural que nos envolvia, imitávamos o Anjo em tudo, isto é, prostrando-nos como ele e repetindo as orações que ele dizia... Nós permanecemos na mesma atitude, repetindo sempre as mesmas palavras.»

Por consequência, parece que o Anjo era um mensageiro de Deus, vindo do Céu, para nos dar o exemplo da profunda reverência que por todos nós é devida ao Santíssimo Sacramento. E – convém lembrar de novo – a doutrina da Divina Eucaristia é dogma rejeitado tanto por Protestantes como por Judeus, Muçulmanos, Hindus, Budistas. É o Céu que está a dizer a todas estas religiões feitas pelo homem que as suas doutrinas estão erradas, que as suas crenças são falsas.

Os Cinco Primeiros Sábados

Antes de entrar no assunto desta secção que aborda os Cinco Primeiros Sábados, gostaria de fazer uma observação. Há uma tendência nos dias de hoje – à luz daquilo que podemos chamar certas "sensibilidades ecuménicas" – de esbater as duras Verdades Católicas em favor de uma orientação ecuménica. Esta ideia nova diz que, no contacto com os não-Católicos, não deveríamos prender-nos muito àqueles pontos que nos dividem, mas antes pô-los de parte e concentrar-nos naquilo que nos une.

Pelo contrário, nós bem vemos que não é esta a abordagem do assunto que a Nossa Mãe Santíssima fez em Fátima. Nossa Senhora reconheceu que o Seu principal dever é ensinar a Verdade. E Nossa Senhora,

ao valorizar o Terço,

ao valorizar a devoção ao Seu Imaculado Coração,

ao valorizar o uso do Escapulário castanho,

ao valorizar a existência do Purgatório,

ao valorizar a autoridade do Papado,

ao valorizar o Sacramento da Confissão,

ao valorizar a Divina Eucaristia que é o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo,

– Nossa Senhora está a valorizar, precisamente, aqueles pontos que SEPARAM os Católicos dos Protestantes, e que INDIVIDUALIZAM os Católicos em relação a qualquer outra religião à face da terra.

Pode algum de nós afirmar que, na nossa abordagem, sabemos tratar melhor deste assunto do que a Mãe de Deus?

E a Mensagem de Fátima não salienta apenas os pontos que nos separam e individualizam; também explica claramente, segundo um raciocínio objectivo, que as pessoas que não acreditam nestas verdades, sobretudo aquelas que recusam prestar à Mãe do Céu a honra que Lhe é devida, são culpadas do crime de blasfémia.

Nosso Senhor disse isto mesmo, de uma maneira delicada mas firme, ao explicar os Cinco Primeiros Sábados de Reparação.

A devoção a Nossa Senhora dos Cinco Primeiros Sábados não era algo de novo. Não se tratou de uma inovação. E novamente vemos que, no Seu apelo à devoção dos Cinco Primeiros Sábados, Nossa Senhora demonstrava um profundo respeito pela tradição da Igreja.

Em 1892, o Santo Padre Leão XIII concedeu uma indulgência plenária a todos os Fiéis que oferecessem Quinze Sábados seguidos em honra de Nossa Senhora do Rosário.

Mais tarde, o Papa S. Pio X concedia indulgência plenária àqueles que cumprissem Doze Primeiros Sábados em honra de Nossa Senhora.

Logo a seguir, a 13 de Junho de 1912, o mesmo Papa S. Pio X concedia novas indulgências aos Fiéis que cumprissem a devoção de Reparação a Nossa Senhora nos Primeiros Sábados de cada mês.

E precisamente cinco anos depois desse dia, em Fátima, a 13 de Junho de 1917, Nossa Senhora mostrava aos três pastorinhos o Seu Imaculado Coração – «cercado de espinhos que O pareciam cravar» – o qual pedia reparação.

Ao apelar para a prática dos Cinco Primeiros Sábados, Nossa Senhora retomou uma devoção que já tinha uma tradição na Igreja, simplificou-a e deu-lhe uma eficácia muito maior.

A 10 de Dezembro de 1925, quando Lúcia era ainda uma postulante de 18 anos em Pontevedra (Espanha), Nossa Senhora apareceu-lhe acompanhada pel’O Menino Jesus. Disse-lhe Jesus, Nosso Senhor:

«Tem pena do Coração de tua Mãe Santíssima, que está coberto de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Lhe cravam, sem haver quem faça um Acto de Reparação para os tirar.»

O Menino Jesus aflige-Se com estes pecados contra Sua Mãe.

Então, a nossa Mãe Santíssima diz a Lúcia:

«Olha, Minha filha, o Meu Coração cercado de espinhos que os homens ingratos a todos os momentos Me cravam, com blasfémias e ingratidões. Tu, ao menos, faz por Me consolar, e diz que a todos aqueles que, durante cinco meses, no primeiro sábado, se confessarem recebendo a Sagrada Comunhão, rezarem um Terço e Me fizerem 15 minutos de companhia meditando nos 15 Mistérios do Rosário com o fim de Me desagravar, Eu prometo assistir-lhes à hora da morte com todas as graças necessárias para a salvação...»

Anos mais tarde, o Padre Gonçalves, confessor e director espiritual da Irmã Lúcia, haveria de lhe pedir que fizesse algumas perguntas a Nossa Senhora relativamente aos Cinco Primeiros Sábados. E uma das perguntas era: «Porque hão-de ser cinco sábados, e não nove, ou sete em honra das Dores de Nossa Senhora?»

Durante a revelação de Nosso Senhor em Tuy (Espanha), a 29 de Maio de 1930, a Irmã Lúcia fez-Lhe essa pergunta. E esta foi a resposta que lhe deu o Céu:

«Minha filha, o motivo é simples: são cinco as espécies de ofensas e blasfémias proferidas contra o Imaculado Coração de Maria:

Blasfémias contra a Imaculada Conceição;

Blasfémias contra a Sua (Perpétua) Virgindade;

Blasfémias contra a Sua Maternidade Divina, recusando, ao mesmo tempo, recebê-La como Mãe dos Homens;

As blasfémias daqueles que procuram publicamente infundir, no coração das crianças, a indiferença, o desprezo ou até o ódio para com esta Imaculada Mãe;

As ofensas daqueles que A ultrajam directamente nas Suas sagradas imagens.»

Ora é precisamente a isto que eu me quero referir quando digo que, de um modo indirecto e segundo um raciocínio objectivo, Nosso Senhor acusou os membros de religiões não-Católicas de serem culpados de blasfémia contra o Imaculado Coração de Maria.

Observemos de novo estes cinco tipos de ofensas:

1) Blasfémias contra a Imaculada Conceição;

A maioria dos Protestantes, bem como maioria dos Ortodoxos da Igreja do Oriente, não acreditam na Imaculada Conceição de Nossa Senhora. Nem, evidentemente, os Judeus, os Muçulmanos, os Hindus, os Budistas, os maçons, os comunistas, os socialistas, os humanistas seculares, e tantos outros.

2) Blasfémias contra a Sua Perpétua Virgindade;

Isto também diz respeito à maior parte dos Protestantes, e aos Judeus, Muçulmanos, Hindus, Budistas, a grande maioria dos quais não acredita na Perpétua Virgindade de Nossa Senhora. E, para dizer a verdade, também hoje muitos Católicos não acreditam na Sua Perpétua Virgindade.

3) Blasfémias contra a Sua Maternidade Divina, recusando, ao mesmo tempo, recebê-La como Mãe dos Homens;

Como sabemos, tanto os Muçulmanos, como os Judeus, Hindus e Budistas rejeitam esta doutrina, especialmente por não acreditarem que Jesus Cristo é Deus. E Nosso Senhor avisou: «Ninguém vem ao Pai senão por Mim.»

4) As blasfémias daqueles que procuram publicamente infundir, no coração das crianças, a indiferença, o desprezo ou até o ódio para com esta Imaculada Mãe;

E de novo é esta a situação dos Protestantes, Judeus, Muçulmanos, Hindus, Budistas, e de muitas outras falsas religiões. Os membros destas reões ensinam os seus filhos a não ligarem importância a Nossa Senhora nem ao Seu Imaculado Coração. Repare-se ainda que não se trata de coisa insignificante aos olhos de Nosso Senhor. Ele chama a isso blasfémia, e apela aos Católicos para que se ajoelhem e façam reparação por estes grandes pecados – que são espinhos cravados no Coração Imaculado de Nossa Senhora.

5) As ofensas daqueles que A ultrajam directamente nas Suas sagradas imagens;

Isto diz respeito àqueles que, na realidade, chegaram ao ponto de destruir as Suas imagens ou de troçar delas, ou àqueles Protestantes que acusam os Católicos de idolatria, por terem imagens de Nossa Senhora em lugar de honra nas suas casas.

Para além do chamamento à penitência, trata-se de uma condenação de todas as outras religiões, à excepção do Catolicismo.

Como vemos, Nosso Senhor não está a lidar com este assunto seguindo a moderna abordagem ecuménica. Ele não realça aqueles pontos que nos unem às falsas religiões. Realça, sim, aqueles pontos que nos separam dos não-Católicos. Creio que, ao agir deste modo, Nosso Senhor nos está a dizer que esses pontos são, precisamente, muitíssimo mais importantes do que uma qualquer e superficial unidade ecuménica.

Nosso Senhor chama a atenção para o facto de tais blasfémias contra o Imaculado Coração de Maria não deverem ser encaradas levianamente. Elas são, na realidade, pecados contra a Fé.

Tradição de Reparação

Nesta altura, desejo voltar a referir um aspecto de que já falei antes. Nossa Senhora de Fátima, em todas as Suas acções, mostrou sempre um profundo respeito pela tradição religiosa; e que os Cinco Primeiros Sábados eram, e continuam a ser, parte da nossa devoção tradicional. Portanto, do ponto de vista doutrinário, Nossa Senhora não veio ensinar algo de novo. Na verdade, Ela foi em tudo obediente ao Concílio Vaticano Primeiro que definiu como um artigo de Fé – de fide – que «o significado da Sagrada Doutrina é imutável». Ensinou o Concílio Vaticano I:

«O significado dos Sagrados Dogmas, que deve ser sempre preservado, é aquele que a Santa Madre Igreja determinou. E não é permissível, nunca, qualquer afastamento que seja em nome de um conhecimento mais aprofundado.»1

Em 1918, o ilustre Cardeal Mercier da Bélgica afirmou que a Primeira Grande Guerra era um castigo pelo crime que os homens cometeram ao colocar a única e verdadeira religião Católica ao mesmo nível dos falsos credos. Disse o Cardeal Mercier: «Em nome dos Evangelhos, e à luz das Encíclicas dos últimos quatro Papas, Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII e Pio X, eu não hesito em afirmar que este indiferentismo religioso que põe ao mesmo nível a Religião de origem divina e as religiões inventadas pelos homens, de modo a incluí-las todas no mesmo cepticismo, é a blasfémia que atrai castigos sobre a sociedade, muito mais do que os pecados dos indivíduos e das famílias.»

Infelizmente, a actual prática de ecumenismo e o “espírito de Assis” colocam a verdadeira Religião Católica ao mesmo nível das religiões inventadas pelos homens. Segundo o Cardeal Mercier, isto é uma blasfémia, que irá incorrer na Punição Divina.

Assim, pelo que diz respeito à doutrina do Purgatório, à doutrina da Divina Eucaristia, à doutrina da confissão, à doutrina que define a existência de uma única e verdadeira Igreja, fora da qual não há salvação, o Concílio Vaticano I ensinou que o signficado destas doutrinas não pode mudar nunca. E podemos ver que Nossa Senhora era totalmente fiel a isto.

Além disso, em Fátima, Nossa Senhora demonstrou seguir acontinuidade em relação às revelações especiais dadas pelo Céu à Igreja durante o século XIX, aquando das Suas aparições em Lourdes, em La Salette, ou das manifestações de Nosso Senhor à Irmã Marie de Saint-Pierre, em França, na década de 1840. É sempre a mesma mensagem urgente.

Quando Nossa Senhora apareceu em Lourdes, em 1858, exclamou: «fazei penitência, fazei reparação.»

Já quando Nossa Senhora tinha aparecido em La Salette, em 1846, pedira: «fazei penitência, fazei reparação.» E nessa altura a Senhora avisou em La Salette que a França iria ser castigada fundamentalmente por dois pecados: pelos pecados contra a profanação dos Domingos (pecados contra o Terceiro Mandamento da Lei de Deus) e por invocar o Santo Nome de Deus em vão (pecados contra o Segundo Mandamento).


Isto também corresponde, de um modo muito especial, às revelações, aprovadas pela Igreja, dadas por Nosso Senhor à Irmã Marie de Saint-Pierre na década de 1840. A Irmã Marie de Saint-Pierre era uma freira Carmelita, de França, que morreu por volta dos vinte anos (uma história fascinante, mas que não temos tempo de contar em pormenor).

Nessas mensagens (tal como em Fátima), Nosso Senhor apelou à grande necessidade de reparação. E em particular Nosso Senhor pediu reparação para com a Sua Sagrada Face. Nosso Senhor deu então à Irmã Marie de Saint-Pierre uma oração especial, chamada A FLECHA DE OURO (em reparação da blasfémia), que irei passar a recitar para todos vós. Foi a 24 de Novembro de 1843 que Nosso Senhor disse à Irmã Marie de Saint-Pierre:

«A terra está coberta de crimes. A violação dos Primeiros Três Mandamentos da Lei de Deus irritaram o Meu Pai; proferem-se blasfémias contra o Santo Nome de Deus (2.º Mandamento) e os Dias Santos do Senhor são profanados (3.º Mandamento), o que enche a medida de todas as iniquidades. Estes pecados ergueram-se até ao trono de Deus e provocaram a Sua ira, a qual em breve explodirá, se a Sua justiça não for aplacada. Nunca, em tempo algum, alcançaram estes crimes uma tal dimensão.»2

Passava-se isto na década de 1840, o que nós consideramos "os bons velhos tempos." E tudo está muitíssimo pior agora.

Durante estas revelações, Nosso Senhor pediu que se formasse uma associação de Reparação à Sua Sagrada Face, e ainda ensinou a oração A FLECHA DE OURO para a reparação contra a blasfémia:

«Que o Santíssimo, Sacratíssimo, Adorabilíssimo e Misteriosíssimo Nome de Deus seja louvado, santificado, amado, adorado e glorificado, no Céu, na Terra e no Inferno, por todas as criaturas de Deus, e pelo Sagrado Coração do Nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, no Santíssimo Sacramento do Altar. Amen.»3

Por essa altura, um dos maiores promotores desta Devoção da Sagrada Face era o "Santo de Tours", Léo DuPont, que pendurou uma enorme imagem da Sagrada Face na sua sala de estar, diante da qual acendeu Santos Óleos. Foram tantos os milagres operados na sala de estar de Léo DuPont que o Venerável Papa Pio IX chamou a DuPont «o obreiro do sobrenatural do século XIX».

Agora é Nossa Senhora de Fátima que vem relembrar esta sólida "tradição": este imutável e urgente apelo à Reparação.

E as revelações de Nosso Senhor à Irmã Marie de Saint-Pierre não pediam apenas Reparação relativamente ao 2.º e ao 3.º Mandamentos – como pedirá Nossa Senhora em La Salette –, mas também Reparação pelos pecados contra o Primeiro Mandamento. Ora nós sabemos que o Primeiro Mandamento é: «Eu Sou o Senhor vosso Deus. Não tereis deuses estrangeiros (falsos deuses) diante de Mim.»; e que a nossa teologia católica tradicional nos diz que os pecados contra a Fé, especialmente o pecado da heresia, são pecados contra o Primeiro Mandamento.

Por isso nós não somos chamados a esboçar um sorriso ou a olhar com bonomia as falsas crenças dos não-Católicos; somos, sim, chamados a cair de joelhos e a fazer Reparação por esses pecados contra a Fé, esses pecados contra o Primeiro Mandamento. E esses pecados de heresia, de onde provêm as cinco blasfémias contra o Imaculado Coração de Maria, foram enunciados por Nosso Senhor em Tuy, a 29 de Maio de 1930.
Fátima vs. o "espírito de Assis"

Assim, em conclusão, eu creio que o Céu quer que a Mensagem de Nossa Senhora de Fátima esteja no centro da nossa visão do mundo. Seja o que for que aconteça na Igreja ou no mundo, nós o julgaremos bom ou mau, apropriado ou não, com base naquilo que está – ou não está – em conformidade com as palavras de Nossa senhora em Fátima.

Em Fátima, a Senhora reforçou pontos-chave da doutrina sobre a Fé, centrando-se naqueles pontos de doutrina que nos separam dos não-Católicos, para demonstrar que o mais importante é a Verdade. Ela veio também instruir-nos, especialmente através dos Cinco Primeiros Sábados e em conformidade com as revelações dadas em Lourdes, em La Salette e à Irmã Marie de Saint-Pierre da necessidade de ajoelhar e fazer Reparação pelos pecados dos homens, em particular pelos pecados contra a Fé que são uma parte e uma parcela dos credos não-Católicos, especialmente pelo que respeita ao Seu Coração Imaculado.

A Senhora não veio ensinar uma doutrina nova, nem qualquer compreensão modernizada da doutrina que, de qualquer outro modo que fosse, nos fizesse reinterpretar os ensinamentos da Santa Igreja Católica diferentemente do modo como têm sido ensinados durante 2.000 anos.

Disse-nos Ela que o mundo só alcançaria a Paz através da obediência ao Seu pedido de Consagração da Rússia ao Imaculado Coração de Maria, realizada não por Católicos unidos a falsas religiões, em orações comuns pela paz; essas religiões, a própria Senhora as proclamou como blasfémias contra Ela, pelo facto de Nela não acreditarem. Na realidade – e isto é triste de se dizer – no grande encontro de oração em Assis em 1986, quando os Católicos, juntamente com membros de falsas religiões, oraram publicamente pela causa da Paz, absolutamente ninguém rezou o Santo Terço. E isto a despeito do facto de que o Terço é a oração específica dada por Nossa Senhora como uma condição de alcançar a paz. Do mesmo modo, naquele dia de oração, o Imaculado Coração de Maria não foi honrado nem sequer invocado.

Ora isto é um afastamento radical do plano traçado por Nossa Senhora. Com efeito, eu penso que tais assembleias inter-religiões não só hão-de fracassar no sentido de produzir alguns bons frutos, como também podem tornar-se a causa de grandes castigos. E digo-o não apenas segundo a minha própria autoridade, mas segundo a autoridade de um dos mais eminentes Cardeais do século XX, o Senhor Cardeal Mercier, da Bélgica.

Em 1918, passado só um ano depois das aparições de Nossa Senhora em Fátima, o ilustre Cardeal Mercier afirmava que a Primeira Guerra Mundial não era mais do que a punição devida pelo crime dos homens ao colocarem a única e verdadeira religião ao mesmo nível dos falsos credos (o que é precisamente aquilo que fazem estes novos encontros pan-religiosos, em contradição flagrante com 2.000 anos de doutrina católica). Numa carta pastoral de 1918 intitulada "A Lição dos Acontecimentos", o Cardeal Mercier disse:

«Em nome dos Evangelhos, e à luz das Encíclicas dos últimos quatro Papas, Gregório XVI, Pio IX, Leão XIII e Pio X, eu não hesito em afirmar que este indiferentismo religioso que põe ao mesmo nível a religião de origem divina e as religiões inventadas pelos homens, de modo a incluí-las no mesmo cepticismo, é a blasfémia que atrai castigos sobre a sociedade, muito mais do que os pecados dos indivíduos e das famílias.»4

Vemos, portanto, que as afirmações do Cardeal Mercier estão em perfeita continuidade com a consistente doutrina dos Papas através dos séculos, e em perfeita harmonia com uma visão do mundo baseada em Fátima.

Vou, pois, terminar com as mesmas palavras que disse mais acima. E tal como o grande Milagre de 13 de Outubro de 1917 – em especial com o sol a dançar no céu e, de repente, a precipitar-se sobre a terra – que, de tão espectacular, tornava impossível que os olhos dele se desviassem, a Mensagem de Fátima tem, em si própria, uma tal magnitude, e uma tão grande importância e centralidade que não devemos nunca afastar os nossos olhos de Fátima, que nunca devemos afastar os nossos olhos dos de Nossa Senhora, e que não poderemos nunca permitir-nos qualquer distracção, seja ela qual for, que nos desvie do olhar da Nossa Mãe Santíssima.
Footnotes:

1. Vatican I, Session III, Chap. iv, Faith and Reason.
2. Scalan, The Holy Man of Tours (Tan Books), p.122.
3. P. Janvier, Life of Sister Saint-Pierre, with an approbation by Most Rev. Charles Colet, Archbishop of Tours, (John Murphy & Co, Baltimore, 1884) p.114.
4. Citação tirada de The Kingship of Christ and Organised Naturalism pelo Padre Denis Fahey (Regina Publications, June, 1943), p.36. Notas de rodapé tal como foram citadas na Carta Pastoral do Cardeal Mercier, 1918, The Lesson of Events.

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