quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Espelho da Perfeição - cap. LXII - LXV


Capítulo 62. Ele queria que todos soubessem do conforto que seu corpo recebia.

1 De maneira semelhante, numa outra vez, como comeu pratos temperados com toucinho em um eremitério na quaresma de São Martinho, porque o óleo lhe fazia mal por causa de suas doenças, 2 ter­minada a quaresma, quando pregava a uma grande multidão, disse logo no começo do sermão: “Vós viestes a mim com grande devoção, crendo que eu sou um homem santo; mas con­fesso a Deus e a vós que, nesta quaresma, comi alimentos tempe­rados com toucinho”.

3 E até quase sempre, quando comia com alguns seculares ou quando os frades, por causa de suas enfermidades, lhe preparavam algu­ma consolação corporal, 4 imediatamente, em casa e fora de casa, diante dos frades e dos seculares que ignoravam o fato, dizia claramente: “Comi tal alimento”. Pois não queria ocultar aos homens o que era manifesto ao Senhor. 5 Da mesma forma, todas as vezes que, diante de algum religioso ou secular, seu espírito tinha impulsos de soberba ou de vanglória ou outro vício, imediatamente confessava o fato diante deles com clareza e sem esconder nada. 6 Por isso, disse uma vez a seus companhei­ros: “Quero viver nos eremitérios ou em outros lugares onde estiver, como se todas as pessoas me vissem. Pois, se julgam que sou um homem santo e eu não levar uma vida como convém a um homem santo, eu seria hipócrita”.

7 Assim, por causa do frio e da doença do baço e do frio do es­tômago, quando um dos companheiros, que era guardião, quis costurar sob sua túnica um pedaço de pele de raposa perto do baço e do estômago, sobretudo porque na ocasião fazia grande frio, 8 o bem-aventurado Francisco lhe respondeu: “Se queres que eu tenha uma pele de raposa sob a túnica, manda que seja colocado um pedaço de pele também do lado de fora, sobre a túnica, para que assim to­das as pessoas saibam que também do lado de dentro tenho uma pele de raposa”. 9 E assim mandou que fosse feito, mas usou-a por pouco tempo, embora lhe fosse muito necessária.

Capítulo 63. Como imediatamente se acusou da vanglória que teve ao dar esmola.

1 Quando andava pela cidade de Assis, uma pobre velhinha pediu-lhe esmola por amor de Deus. Imediatamente ele lhe deu o manto que trazia sobre os ombros. 2 Mas logo, sem demora, con­fessou diante daqueles que o seguiam que teve um sentimento de vanglória.
3 E nós que vivemos com ele (cf. 2Pd 1,18), vimos e ouvimos (cf. 1Jo 1,1) muitos outros exemplos semelhantes a estes a res­peito de sua grande humildade, que não podemos relatar nem por pala­vras nem por escrito.
4 Mas foi nisto que o bem-aventurado Francisco colocou principalmente o maior esforço: não ser hipócrita diante de Deus. 5 E ainda que, muitas vezes, por causa de suas doenças, tivesse necessidade de um prato melhor, julga­va-se no dever de dar bom exemplo aos frades e aos ou­tros. Por isso, suportava pacientemente qualquer necessidade, para não dar a ninguém motivo de murmurar.

Capítulo 64. Como descreveu em si mesmo o estado da perfeita humildade.

1 Aproximando-se o tempo do capítulo, o bem-aventurado Francisco disse a seu companheiro: “Não creio que eu seja um frade menor se não estiver na condição que te vou dizer: 2 Com grande re­verência e devoção, os frades me convidam para o capítulo, e eu, mo­vido por essa devoção, vou ao capítulo com eles. Quando estão reunidos, pedem-me que anuncie a palavra de Deus e lhes pre­gue. Levantando-me, prego a eles conforme o Espírito Santo me inspirar (cf. Lc 12,12).

3 Terminada a pregação, suponhamos que todos gritem contra mim: Não queremos que tu reines sobre nós (cf. Lc 19,14), pois não és eloqüente como se requer e és demasiado simples e incul­to. 4 Ficamos muito envergonhados por ter um supe­rior tão simples e desprezível. Por isso, para o futuro, não tenhas a pretensão de ser chamado nosso prelado! E assim me expulsam com ignomínia e desprezo. 5 Pois não me parece que seria frade menor, .se não me alegrasse do mesmo modo quando me hu­milham e, vergonhosamente, me expulsam, por não querer que eu seja seu prelado, como quando me veneram e honram, sendo o proveito deles igual em ambos os casos. 6 Pois, se me alegro quan­do me exaltam e honram por causa de seu proveito e devoção, o que pode ser um perigo para minha alma, muito mais devo ale­grar-me e rejubilar-me com o proveito e a salvação de minha alma, quando me humilham, pois então há um lucro certo para a alma”.

Capítulo 65. Como quis ir humildemente para terras distantes, como enviara outros frades; e como ensinou os frades a ir humilde e devotamente pelo mundo.

1 Terminado esse capítulo, no qual muitos frades foram enviados a algumas regiões ultramarinas, ficando com alguns frades, o bem-aventurado Francisco lhes disse: 2 “Irmãos caríssimos, é preciso que eu seja o modelo e o exemplo de todos os frades. Portanto, se en­viei os frades a regiões longínquas para suportar trabalhos, humi­lhações, fome, sede e outras necessidades, 3 é justo, e a santa hu­mildade exige, que também eu vá a alguma região distante, para que, vendo que eu tolero as mesmas coisas, os frades supor­tem com mais paciência as adversidades. 4 Ide, pois, e orai ao Se­nhor, para que me faça escolher a província que melhor convier à sua glória, ao proveito das almas e ao bom exemplo de nossa Ordem”.

5 Com efeito, o santíssimo pai tinha o costume de, quando queria ir a alguma província, primeiro orar ao Senhor e manda­r que os frades orassem, para que o Senhor dirigisse (cf. Jt 12,8) seu coração para ir ao lugar que mais lhe agradasse. 6 Então os frades foram rezar e, terminada a oração, voltaram até ele. Cheio de alegria, logo lhes disse: “Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo (cf. At 3,6) e da Virgem, sua gloriosa mãe, e de todos os santos, escolho a província da França, onde há um povo católico, 7 sobretudo porque, entre os demais católicos, mostram grande reverência ap Corpo de Cristo, o que me agrada muito e, por isso, de muito boa vontade viverei com eles”.

8 Pois o bem-aventurado Francisco tinha tanta reverência e devoção pelo Corpo de Cristo que quis escrever na Regra que, nas provín­cias onde morassem, os frades tivessem grande cuidado e solici­tude por este sacramento 9 e exortassem os clérigos e os sacerdo­tes a colocar o Corpo de Cristo num lugar bom e digno e, se eles negligenciassem, os próprios frades o fizessem.

10 Desejou também colocar na regra que, se os frades encon­trassem os nomes do Senhor e as palavras pelas quais se consagra o Corpo do Senhor colocadas em lugar pouco conveniente, eles as re­colhessem e guardassem com dignidade, honrando o Senhor nas suas palavras. 11 E embora não tenha escrito isso na Regra, porque aos ministros não pareceu bom que os frades tivessem isto como mandato, em seu testamento e em outros escritos seus, porém, quis deixar aos frades sua vontade sobre isso.

12 E até, uma vez, quis enviar alguns frades por todas as pro­víncias, para levarem muitas píxides, bonitas e limpas, e onde encontrassem o Corpo do Senhor indignamente guardado, o colocassem naqueles píxides de maneira honrosa. 13 Quis também enviar alguns outros frades por todas as províncias com bons e belos ferros para fazer hóstias boas e limpas.

14 Por isso, quando o bem-aventurado Francisco escolheu os frades que queria levar consigo, disse-lhes: “Em nome do Senhor, ide pelo caminho dois a dois (cf. Mc 6,7), com humildade e modéstia e, sobre­tudo, em estrito silêncio desde o amanhecer até depois da Terça, orando ao Senhor em vossos corações (cf. Cl 3,16) e sem pro­nunciar palavras ociosas (cf. Mt 12,36) e inúteis entre vós (cf. Ef 5,3). 15 Embora estejais a caminho, vosso comportamento seja hu­milde e digno, como se estivésseis no eremitério ou na cela. 16 Com efeito, onde quer que estejamos ou andemos, temos sem­pre a cela conosco: pois o irmão corpo é nossa cela, e a alma é o eremita que mora lá dentro, na cela, para rezar ao Senhor e meditar sobre ele. 17 Afinal, se a alma não permanecer tranqüila em sua cela, pouco valerá ao religioso a cela construída com as mãos” .

18 Quando chegou a Florença, encontrou ali o senhor Hugoli­no, bispo de Óstia, que depois foi o Papa Gregório. 19 Este, ao ou­vir do bem-aventurado Francisco que desejava ir para a França, proibiu-o de ir, dizendo: “Irmão, não quero que vás além dos montes, pois há muitos prelados que teriam o prazer de impedir os bens de tua religião na cúria romana. 20 Mas eu e outros cardeais que amamos tua religião, de boa vontade a protegeremos e ajudaremos, se perma­neceres nos limites desta província”.

21 E o bem-aventurado Francisco respondeu-lhe: “Senhor, é uma grande vergonha para mim se, após enviar meus outros frades a regiões distantes, eu permanecer nestas províncias e não for participante das tribulações (cf. Ap 1,9) que eles hão de suportar pelo Senhor!”

22 Disse-lhe o senhor bispo, como se o repreendesse: “Por que envi­aste teus frades tão longe, para morrer de fome e para suportar ou­tras tribulações?”
23 O bem-aventurado Francisco, com grande fervor e espírito de profecia (cf. Ap 19,10), respondeu-lhe, dizendo: “Senhor, julgais, porventura, que o Senhor enviou os frades somente para estas pro­víncias? 24 Na verdade vos digo que o Senhor escolheu e en­viou os frades para proveito e salvação das almas de todas as pessoas deste mundo; e serão recebidos não só nas terras dos fiéis, mas também nas terras dos infiéis e conquistarão muitas almas!”

25 Admirado com suas palavras, o senhor bispo de Óstia afirmou que ele dizia a verdade. Ainda assim não lhe permi­tiu ir para a França; mas o bem-aventurado Francisco enviou para lá Frei Pacífi­co com muitos outros irmãos. Ele, porém, regressou ao Vale de Espoleto.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Saudação das Virtudes, de S. Francisco de Assis.


Saudação das Virtudes

1Salve, rainha sabedoria, o Senhor te guarde por tua irmã, a pura simplicidade!

2Senhora santa pobreza, o Senhor te guarde por tua santa irmã, a humildade!

3Senhora, santa caridade, o Senhor te guarde por tua santa irmã, a obediência!

4Santíssimas virtudes todas, guarde-vos o Senhor, de quem procedeis e vindes a nós!

5Não existe no mundo inteiro homem algum em condições de possuir uma de vós, sem que ele morra primeiro. 6Quem possuir uma de vós e não ofender as demais, a todas possui; 7e quem a uma ofender, nenhuma possui e a todas ofende (cfr. Iac 2,10). 8E cada uma por si destrói os vícios e pecados.

9A santa sabedoria confunde a Satanás e todas as suas astúcias.

10A pura e santa simplicidade confunde toda a sabedoria deste mundo (cfr. 1Cor 2,6) e a prudência da carne.

11A santa pobreza confunde toda a cobiça e avareza e solicitudes deste século.

12A santa humildade confunde a soberba e todos os homens deste mundo e tudo quanto há no mundo.

13A santa caridade confunde to das as tentações do demônio e da carne e todos os temores carnais (cfr. 1Jo 4,18).

14A santa obediência confunde todos os desejos sensuais e carnais 15e mantém o corpo mortificado para obedecer ao espírito e obedecer a seu irmão, 16 e torna o homem submisso a todos os homens deste mundo, 17e nem só aos homens, senão também a todas as bestas e feras 18para que dele possam dispor o que quiserem, até o ponto que lho for permitido do alto pelo Senhor (cfr. Jo 19,11).

Nome e oração de Jesus (hesicasmo).


A «Oração de Jesus»
Tradução: Pe. Pavlos Tamanini, hieromonge

Apresentação

Existe uma profunda relação entre a veneração milenar a Santa Face de Jesus Cristo (Mandylion) e outras devoções também dirigidas aos traços de sua Pessoa: seu Santo Nome, à Eucaristia (devoção por excelência), a seu Sagrado Coração. Com efeito, as quatro se referem aos aspectos mais significativos do ser humano e todas, em ultima instância nos conduzem à Pessoa em si do Deus encarnado.

1. A Face, expressão do interior e que nos relaciona com o outro.

2. O coração, sede da vida e, por analogia, da emoção mais profunda e espiritual do ser humano, o amor. O amor é o que define Deus. Se era “O Que É” no Antigo Testamento, João o define como Amor no Novo Testamento. Desse Ser que é Amor nós participamos. E este ser por essência, que é amor, se manifesta tornando-se um de nós com coração humano e palpitante.

3. A Eucaristia, meio privilegiado escolhido por Cristo para permanecer realmente entre nós, escondido aos olhos físicos humanos, mas vivo e real aos olhos do espírito daqueles que crêem

4. O Nome, que define a Pessoa como um todo e, que quando o invocamos, como fez o cego de Jericó, suplicamos com ele à Pessoa que nomeia, implorando sua ajuda e misericórdia: «Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!»

A oração do coração ou a oração da invocação de Jesus, remonta às origens do monacato. O primeiro a mencioná-la explicitamente foi Diadoco de Fotice, no século IV: «Os que não cessam de meditar nas profundezas de seu coração o Nome santo e glorioso de Jesus, poderão ver um dia a luz em seu espírito.»

Sua origem, porém, é mais antiga, pois é já encontrada nos Evangelhos: «Jesus, Filho de Davi, tem piedade de mim!», gritava com insistência o cego que estava à beira do caminho de Jericó. O mesmo clamavam os dez leprosos, nas terras de Samaria: «Jesus, Mestre, tem piedade de nós!» Todos foram curados, graças à sua fé e a profundidade de seu clamor. Esta invocação contínua do Nome de Jesus feita de um desejo cheio de doçura e de alegria, faz com que o espaço do coração se transborde em alegria ate a serenidade, até o pensamento não cessar de invocar o Nome de Jesus e o espírito estar totalmente atento à invocação do Nome divino; luz do conhecimento de Deus cobre com sua sombra toda a alma como uma nuvem inflamada em chamas. A oração Jesus é semelhante à oração do rosário de Maria em sua origem e objetivo: ambas têm suas raízes nos meios monásticos do Oriente (a oração de Jesus) e do Ocidente (rosário); ambas são orações de súplicas; em ambas imploramos aquilo que mais desejamos e necessitamos de verdade e que não sabemos, porque podemos desconhecer aquilo que desejamos; em ambas pedimos para que o Espírito fale em nós, utilizando para isto palavras da Escritura ou propostas pela Igreja e pela Tradição; ambas são orações para todas as pessoas, que recitadas com tranqüilidade e sem pressa, concentrando docilmente o ânimo no que dizemos, produzem sossego e, com o tempo e perseverança, a paz duradoura e a restauração da vida.

A oração de Jesus, por sua brevidade, pode ser rezada em qualquer lugar e em todas as horas. Mesmo que sua base seja a oração do cego de Jericó, pode ser dirigida por pessoas variadas: «Jesus, Filho de Deus, tem piedade de nós!» Ou, «Jesus, Filho de Deus, por meio da Virgem Maria, tem compaixão de nós pecadores!» etc.

Esta oração ajusta-se perfeitamente ao conselho evangélico: “É preciso orar incessantemente, sem desfalecer”. Se te sentires chamado a seguir este caminho da oração do coração, busca um bom conselheiro (pai espiritual) que te guie e começa já. Deus irá fazendo o resto, se é que deseja que este seja a tua forma de te dirigires a Ele.

Se a Igreja respira com dois pulmões – Oriente e Ocidente – pode-se dizer que a oração de Jesus é a expressão mais característica da espiritualidade da Igreja Oriental. Pelo bem que tem feito e faz, e pela influência que atualmente tem no Ocidente, vale a pena conhecer um pouco desta fonte escondida de piedade e espiritualidade. Para ampliar o conhecimento sobre o tema siga lendo outros fragmentos baseados em apontamentos traduzidos livremente do original em catalão, de Julià Maristany - SJ.

Raízes Históricas da Oração de Jesus

Jesus, salva-me! Kyrie eleison! Este clamor do coração que se encontra no centro da oração do Oriente procede diretamente do Evangelho: é o clamor do cego de Jericó e a súplica do publicano. Este pedido de auxílio é, antes de tudo, um ato de fé em Jesus Salvador. O próprio nome de Jesus significa « salva» e é uma confissão, no Espírito Santo, de que Ele é o Senhor. Recordemos que «ninguém pode pronunciar o Nome de Jesus sem a ajuda do Espírito Santo.» (I Cor 12,3).
O nome de Jesus não foi tão somente um nome que seus pais puseram-no quando nasceu --de acordo com o que pediu José e Maria em sua Anunciação: «Lhes porás o nome de Jesus» -- mas é também um nome divino que lhe foi dado pelo Pai, tal como disse Jesus na Oração Sacerdotal (Jo 17,11): «Pai Santo, guarda-os em teu nome aqueles que me destes, para que sejam um, como o somos nós.»

São Paulo também dirá em um hino, (Fl 2, 9-11) a propósito da humilhação e exaltação de Cristo: «Foi-Lhe concedido o Nome que está acima de todo nome, para que, ao Nome de Jesus dobrem-se os joelhos, nos céus, na terra e nos abismos e toda língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.» A glória do cristão é proclamar este Nome, e a sua felicidade estará em sofrer por ele: «Se receberes insultos porque pregais em nome de Cristo, felizes sois vós! O espírito de glória, que é o Espírito de Deus, repousa sobre vós.» (IPd 4, 13).

Em seu Nome os cristãos são batizados; por causa de seu Nome, são perseguidos; por seu Nome sofreremos e seremos glorificados (Lc e At). Pedro confessa ante o Sinédrio (At 4,2): «A salvação não se encontra em mais ninguém porque, sob o céu, Deus não deu aos homens outro nome no qual possam ser salvos.» Paulo, depois de perseguir àqueles que invocavam o Nome do Senhor (At 9,14), dirige-se, em sua Carta aos Coríntios, a todos aqueles que invocam o Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, animando seu estimado discípulo Timóteo a buscar a fé e a caridade com todos os que, com o coração puro, invocam o Nome do Senhor.

Os textos que fazem referência ao Nome de Jesus são inúmeros e pertencem a todas as tradições: Paulo, os Sinóticos e João. O Nome de Jesus é divino e forte. E quem o invoca, sempre é escutado. Ele mesmo disse em Jo 16, 23-24: «Em verdade vos digo, que meu Pai os concederá tudo o que pedires se o fazeis em meu Nome. Até agora não haveis pedido nada em meu Nome; fazei-o em meu Nome e recebereis tudo o que pedis, e vossa alegria será plena.»

O Nome de Jesus é Eucarístico: «Tudo o que façais, seja por palavras seja por obras, fazei em nome de Jesus, dirigindo ação de graças a Deus por meio dEle» (isto significa Eucaristia – Col 3, 17). Os textos de Efésios, Tessalonicenses e Lucas nos animam a orar sempre e em toda a ocasião e constantemente. A invocação ao Senhor é uma oração interior, porque não sabemos o que pedir, para rezar como é devido; é Ele, o Espírito, quem ora em nosso lugar (Rm 8,26). E ninguém pode dizer «Jesus» se não é movido pelo Espírito Santo (1Cor 12,3). Assim, pois, o Novo Testamento legitima a invocação do Nome de Jesus e como ela nos insere na graça batismal. Esta invocação do Nome de Jesus não se converterá na Oração de Jesus até que não se una ao desejo da oração contínua expressa nas invocações breves que contém o Nome do Senhor ou de Jesus. São Cassiano e Santo Agostinho dão testemunho da existência destas breves orações ou jaculatórias entre os eremitas do deserto do Egito.

Os Padres do Deserto

Os Padres do deserto retomam a oração do publicano no século IV. Ammonas, no deserto egípcio, aconselha que se conserve sempre no coração as palavras do publicano, para experimentar a salvação e Macário interrogado sobre como orar, ensina: «Não é necessário perder-se em palavras; é suficiente que estendais as mãos e digais: Senhor, como Tu queres e como Tu sabes, tem piedade! E se vier o combate (a tentação): Senhor, vem em meu auxilio! Ele sabe o que nos convém e terá misericórdia.»

Foi Diadoco de Fótice, no século V, quem propôs invocar no fundo do coração sem interrupção ao Senhor Jesus e a seu santo e glorioso Nome, para purificar e unificar a alma dividida pelo pecado, e experimentar a Graça como base da perpétua recordação de Deus: Quando, recordando a Deus, fechamos as saídas do espírito, este só precisa que lhe deixem alguma atividade adequada para manter em ação seu natural dinamismo. Este é o momento de entregar-lhe a invocação do Nome de Jesus como única atividade em que pode concentrar-se tudo o que quer. Está escrito: «Ninguém pode dizer: Senhor Jesus, senão pelo Espírito Santo.» E Barsunufio insiste: «A nós débeis, só nos resta refugiarmo-nos no Nome de Jesus.»

Foi em Gaza, no deserto Palestino, onde os monges deram à invocação do Nome de Jesus uma formulação mais desenvolvida. O jovem Dositeo manteve sempre a memória de Jesus durante a grave enfermidade da que deveria morrer. Seu pai espiritual, Doroteo, o havia ensinado a repetir sem descanso: «Filho de Deus, vem em meu auxilio!» Esta era sua oração contínua. E quando já estava tão enfraquecido que não podia repeti-la, deu-lhe a seguinte conselho: «Tem presente somente a Deus e pense que Ele está do teu lado.» Assim pois, encontramos que a tradição da invocação do Nome de Jesus ou, Oração de Jesus, se estendia pela Palestina, quando tem início a segunda etapa em que se associa o hesicasmo sinaítico ao do Monte Atos.

Monte Atos

Na segunda metade do século XII e ao longo do século XIV, floresceu no Monte Athos, a Santa Montanha de Macedônia, o renascimento do ideal hesicasta. A oração de Jesus era acompanhada por uma disciplina da respiração, sistematizada por Nicéforo, o hesicasta, e por Gregório o Sinaíta. O método se baseia em retardar a respiração e buscar o lugar do coração dentro de si mesmo e se concentrar. Tudo isto, simultaneamente, com a invocação repetida da oração de Jesus; «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim» – acompanhando a inspiração e a expiração.
Este movimento de interiorização se faz em dois tempos, segundo as duas partes que compõem a fórmula da oração: «Senhor Jesus, Filho de Deus» e «tem piedade de mim pecador.» O ritmo da respiração e as batidas do coração participam também da oração complementando-se mutuamente: em simultaneidade com a primeira parte da oração: os pulmões inspiram o nome de Jesus, o qual permite à diástole que o espírito se lance por inteiro fora de toda a matéria e, simultaneamente, a segunda parte da oração: «tem piedade de mim, pecador», os pulmões expiram o ar contaminado, na vez que, pela sístole do coração, o espírito vem sobre si mesmo. A oração de Jesus tem pois, certo aspecto técnico e precisa de um adestramento. Mas não se pode reduzir a uma simples mecânica, porque «ninguém pode dizer ‘Senhor Jesus’ senão por influxo do Espírito Santo» (1Cor 12,3). Isto não impede que tais indicações dadas pelos monges, sejam de uma grande ajuda, porque são fruto de sua própria experiência.

O Hesicasmo

A palavra hesiquia, em grego, traduz-se como sendo um estado de tranqüilidade, de paz ou de repouso. Quem a possui encontra-se equilibrado, vive em paz; as vezes cala e guarda silêncio. Recorda a atitude que Platão afirma ser a do autêntico filósofo: mantém-se tranqüilo e se ocupa daquilo que lhe é próprio. Também se ajusta às palavras do Livro dos Provérbios: «O homem sensato sabe se calar»; ou ao estilo do solitário de quem disse o Profeta Baruc: «É bom esperar em silêncio a Salvação do Senhor.»

No Novo Testamento, o próprio Cristo disse a seus discípulos; «Vinde a Mim todos os que estais cansados sob o peso de vosso fardo, e eu vos darei descanso. Tomai sobre sobre vós o meu jugo, e aprendei de Mim, porque sou manso e humilde de coração, e encontrareis repouso (hesiquia) para vossas almas, pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve». (Mt 11, 28-29). Ammonas, sucessor de Santo Antônio do Egito, fala de como a hesiquia é o caminho próprio do monge e escreve uma carta mostrando que é o fundamento de todas as virtudes.

Foram os anacoretas os primeiros a se chamarem hesicastas. Se a virtude dos cenobitas (monges que vivem em comunidades) é a obediência, a dos hesicastas (anacoretas ou solitários) é a oração perpétua. A busca da hesiquia é tão antiga como a vida monástica.

No século VI São João Clímaco, abade do Monastério do Sinai e autor da «Escada do Paraíso», uniu a hesiquia e a Recordação de Jesus. A hesiquia é a adoração perpétua na presença de Deus: que a recordação de Jesus se una a tua respiração e rapidamente te darás conta da utilidade da hesiquia. A oração ideal é a que elimina os raciocínios e se converte em uma só palavra.

A memória de Jesus provê de forma e conteúdo este tipo de oração. A união da memória (lembrança) de Jesus e a respiração será novamente empreendida por Hesiquio de Batos que já a chama Oração de Jesus: «Se, com sinceridade queres afugentar os pensamentos, viver em quietude, sem dificuldade, e exercer a vigilância sobre teu coração, deves aderir a Oração de Jesus à tua respiração e prontamente o conseguirás.» A união da respiração com a Oração de Jesus, em sua fórmula desenvolvida: «Senhor Jesus, Filho do Deus vivo, tem piedade de mim, pecador!», constituirá o fundamento do hesicasmo bizantino do Monte Atos, no século XIV.

«Quando rezares, inspira ao mesmo tempo e, que teu pensamento, dirigindo-se ao interior de ti mesmo, fixe tua meditação e tua visão no lugar do coração de onde brotam as lágrimas. Que tua atenção permaneça ali, tanto quanto te for possível. Será para ti de grande ajuda. Esta invocação de Jesus libera o espírito de sua atividade, outorga a paz, e ajuda e descobrir a Oração Incessante do coração, por graça do Espírito vivificante, em Jesus Cristo, Nosso Senhor.»

A Filocalia

Já em fins do século XVIII compila-se e traduz-se para o eslavo a Filocalia com o que a tradição hesicasta chegará primeiramente à Rússia, e logo à Romênia, e dali a toda à Europa Ortodoxa. A Filocalia (termo grego que significa amor ao belo e ao bom) está composta por uma antologia de textos ascéticos e místicos, recopilados por Macário de Corinto e Nicodemo, o Hagiorita. Foi publicada em Veneza, em 1782 e diz-se que ela constitui o breviário do hesicasmo. Sua publicação coincide com o renascimento da fé ortodoxa na Grécia do século XVIII e, ao ser traduzida para o eslavo por Paissy Velichkovsky, e para a língua russa por Ignacio Brianchaninov, em 1857, marcou a renovação do monaquismo oriental. A filocalia eslava foi utilizada pelo grande São Serafim de Sarov e constitui o núcleo dos relatos sinceros de um peregrino russo ao seu pai espiritual, pequena obra que apareceu em Kazan em 1870.

Os Relatos de um Peregrino Russo

«Os Relatos de um Peregrino Russo» pertencem ao movimento literário russo do século XIX, no que tem de mais sereno e puro. O peregrino faz com que o leitor penetre no coração da vida russa, pouco depois da Guerra da Crimea e antes da abolição da servidão, ou seja, entre os anos de 1856 e 1861. Tudo está enquadrado numa planície imensa, com igrejas de cores claras e sinos refulgentes e sonoros.

Cristão ortodoxo como é, sua preocupação é passar da «noite escura» à «noite luminosa»: a contemplação da Santíssima Trindade.

O peregrino (strannik) descreve sua odisséia através da Rússia, que percorre com um alforje, contendo tão somente um pão seco e uma Bíblia. Em um monastério encontra um starets (pai espiritual) e o interroga sobre a maneira de praticar o conselho do apóstolo: orar sem cessar. O staretz lhe explica a prática da oração de Jesus. Submete-lhe – se se pode falar desse modo – a um regime de treinamento progressivo. Faz-lhe dizer a oração de Jesus, primeiro três mil vezes por dia, depois seis mil vezes e finalmente, doze mil vezes.

Logo o peregrino deixa de contar o numero de orações; associa o “Senhor Jesus Cristo, Filho do Deus, tem piedade de mim pecador!”, com cada respiração, com cada batida do coração. Chega o momento em que já não pronuncia nenhuma palavra: os lábios se calam e só resta escutar falar o coração. Assim, a oração de Jesus serve de alimento que sacia a fome, serve de bebida para sacia a sede, de repouso para a fadiga, de proteção contra os adversários e demais perigos; inspira as conversações que o peregrino tem com as pessoas que encontra, pessoas simples do povo, como ele. A fé do peregrino não é emotividade poética.

Nutrido dos ensinamentos teológicos, todas as suas ações são guiadas pelo desejo da perfeição da vida espiritual, cuja meta última é a contemplação. Se a fé precede às obras, sem obras a fé não existe. Consegue ignorar o frio, a fome e a dor; a própria natureza lhe parece transfigurada.

“Arvores, ervas, terra, ar, luz, todas estas coisas me dizem que existem para o homem e, para o homem dão testemunho de Deus: todas oravam, todas cantavam a glória de Deus.”

O campesino, em seu peregrinar pelas estepes da Rússia invocando constantemente o Nome de Jesus e falando a todos da oração de Jesus, conheceu condenados a trabalhos forçados, desertores, nobres, membros de diferentes classes, sacerdotes do campo... Mas nada lhe detinha.

Este pequeno livro popularizou esta oração, tanto no Oriente como no Ocidente. Graças a esta obra a Oração de Jesus ou a Oração do Coração, ultrapassou os muros dos monastérios para chegar à piedade popular. Já se disse que esta obra fez mais pela compreensão entre os cristãos que um sem número de reuniões teológicas.

Recordemos Textos seletos:

A oração de Jesus, interior e constante, é a invocação contínua e ininterrupta do Nome de Jesus por meio dos lábios, do coração e da inteligência, sentindo sua presença em todas as partes e em todo momento, inclusive quando dormimos. Se expressa com estas palavras: ‘Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim!’ Aquele que se habitua a esta invocação sente um grande consolo e a necessidade de dizê-la sempre; e depois de um certo tempo já não podemos passar sem dizê-la, e, sozinha, ela nasce do interior.”»

«Senta-te no silêncio e na solidão; inclina a cabeça e fecha os olhos; respira mais suavemente, olha com tua imaginação ao interior de teu coração, recolhe tua inteligência, quer dizer, teu pensamento da mente ao coração. De vez em quando repita silenciosamente ou simplesmente em espírito: “Senhor Jesus Cristo, tem piedade de mim!” Esforça-te por afastar todo pensamento, seja paciente e repita este exercício sempre.»

«Todo meu desejo estava fixo sobre uma só coisa: dizer a oração de Jesus e, desde que me consagrei a isto, estive tomado de alegria e de consolo. Era como se meus lábios e minha língua pronunciassem por si mesmas as palavras, sem esforço de minha parte.»

«Então senti como um rápido calor em meu coração, e tal amor por Jesus Cristo em meu pensamento, que me imaginei, a mim mesmo, ajoelhando-me a seus pés – Ah se pudesse vê-lo! – abraçando-o, beijando com ternura seus pés e agradecendo-lhe com lagrimas haver me permitido, em sua graça e seu amor, encontrar em seu nome tão grande consolo – a mim sua criatura indigna e pecadora. Em seguida sobreveio em meu coração um calor agradável que se expandiu para todo meu peito.»

«Algumas vezes meu coração resplandecia de alegria, parecia leve, pleno de liberdade e de consolo. As vezes eu sentia um amor ardente por Jesus Cristo e por todas as criaturas de Deus... As vezes, invocando o nome de Jesus, estava repleto de felicidade e, depois disto, conhecia o sentido destas palavras: “O reino de Deus está dentro de vós”»

Os relatos, são na verdade uma autobiografia? Ou um conto espiritual, ou uma obra de propaganda? Neste caso, de que meio emana? Trata-se de perguntas para as quais não temos respostas. Nem tudo está explicito, resplandecente como ouro. A oração de Jesus está apresentada, talvez excessivamente, como atuando ‘ex opere operato’. Um teólogo, um hegúmeno um sacerdote que tenha almas sob sua responsabilidade, se expressaria com maior sobriedade e prudência. Mas não poderia permanecer insensível ao frescor do relato, à sua aparente sensibilidade e tampouco à sua beleza espiritual e finalmente aos dons literários do autor. Os relatos tiveram continuação: uma segunda parte, atribuída ao mesmo autor que a primeira, apareceu vinte e seis anos depois e, nas mesmas condições misteriosas. A segunda parte é muito diferente. Ela teologa, reproduz conversas que foram feitas entre um professor e um starets, não tem a ingenuidade (talvez só aparente) e o encanto da obra primitiva e provavelmente não foram escritas pela mesma pena.

Significado da Oração de Jesus

«Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem piedade de mim, pecador!»
Senhor: vem de «Kyrios» e é como dizer, Deus. Pois para dizer «Jesus é Senhor» é preciso a ajuda do Espírito Santo – Deus.
Jesus: é nome e mistério de Salvação.
Cristo: quer dizer Messias ou seja, Sacerdote, Profeta e Rei.

No Antigo Testamento o nome de Deus passa de nome pronunciável a indizível ou inefável, pelo que se substitui por Adonai para não permitir imagens sequer do nome de Deus. No Novo Testamento o Nome de Deus é pronunciável porque na nova economia Deus se une a nossa carne. «Porás o nome de Jesus, porque Ele salvará seu povo de seus pecados.»

A Oração Hesicasta ou Oração de Jesus contém toda a verdade dos Evangelhos e incorpora os dois grandes mistérios que caracterizam a revelação e a fé cristã.

1. A Encarnação - Jesus (humanidade) Filho de Deus e Senhor (divindade).
2. A Trindade – Filho de Deus (o Pai) , Jesus - Senhor (Espírito Santo que nos dá a força para confessá-lo).

É uma prece de adoração e penitência que, unida à inspiração, expressa acolhida e, unida à expiração, expressa o abandono. A Oração de Jesus aparece intimamente associada às atitudes de ‘metanóia’ (mudança interior, nova escala de valores); à compunção e humildade, à confiança segura e audaz, à atenção dos sentidos e, o coração, às palavras e à Presença; e em ultimo lugar, à hesiquia (busca da quietude e da autêntica unificação interior através da invocação do Nome de Jesus).
A Oração de Jesus pode ser praticada de duas maneiras diferentes:

1. Livre: permite encher o vazio entre o tempo de oração e as atividades ordinárias da vida e unir-nos a Deus em momentos de trabalhos.

2. Formal: concentrados e com afastados de toda outra atividade. Para isto, é bom estar sentado, com pouca luz, olhos fechados, segurando, se for preciso, um rosário oriental ou ocidental, que é um meio para nos concentrar melhor.

Recomenda-se não mudar muito a fórmula escolhida desde o início, ainda que certas variações nos pareçam oportunas para evitar o tédio. Aos que começam, recomenda-se a alternativa entre a invocação pronunciada pelos lábios e a oração interior: «Quando se reza com a boca, há que se dizer a oração com calma, docemente, sem agitação alguma, para que a voz não atrapalhe ou distraia a atenção do espírito, até que este se habitue e possa rezar por si só, com a Graça do Espírito Santo.»

Todas estas indicações não tem maior objetivo que alcançar a concentração em Jesus, do corpo, da alma e do espírito. De fato, as palavras que compõem a oração de Jesus variam segundo as épocas e os autores. A fórmula mais breve repete unicamente o Nome de«Jesus», e a mais longa diz: «Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus vivo, tem piedade de mim, pobre pecador!» Mas, uma vez escolhida, recomenda-se evitar o quanto possível variá-la.

Assim, no coração, ao estar integradas e unificadas todas as forças e partes do ser humano, «o coração absorve o Senhor e o Senhor absorve o coração, e os dois se fazem um.» E continua o texto: «Mas isto não é obra de um dia ou dois. Requer muito tempo. Há que se lutar muito e durante muito tempo para alcançar o afastamento do inimigo e a habitação de Cristo em nosso interior.»

Este estalo de amor no pobre coração humano o eleva acima de todas as criaturas. Não se trata, porém, de uma elevação que implique uma exclusão, mas o contrário: tal elevação de amor é uma inefável inclusão de tudo o que foi criado; é uma capacidade e potência de amor por todas as pessoas e coisas.

Isaac, o Sírio, é quem melhor falou, no Oriente, deste amor universal, com uma ternura e simplicidade que recorda Francisco de Assis, no Ocidente:

«Que é um coração compassivo? É um coração que arde por toda a Criação: os seres humanos, pássaros, animais, demônios e por toda criatura. Quando pensa nisto e quando os vê, seus olhos se enchem de lágrimas. Tão intensa e violenta é sua compaixão, tão grande é sua constância que seu coração se encolhe e não pode suportar ouvir a presença do menor dano ou tristeza no seio da Criação. Por isso que, com lágrimas, intercede pelos animais irracionais, pelos inimigos da verdade e por todos os malfeitores, para que sejam preservados do mal e perdoados”. É a mesma compaixão que deve brotar do teu coração: uma compaixão sem limites, à imagem de Deus. Porém, nada pode ser forçado. A oração deve ir estabelecendo seu próprio ritmo e freqüência que é o ritmo que Deus quer para nós.»

A invocação do Nome de Jesus no Ocidente

A Igreja Romana tem uma festa do Santo Nome de Jesus. Desde Pio X, esta festa é celebrada entre o domingo que fica entre o dia primeiro de Janeiro e a festa Epifania no dia 02 de janeiro. A liturgia e o ofício da festa foram compostos por Bernardino dei Busti (+1500) e aprovados pelo Papa Sixto IV. Originalmente era restrita aos conventos franciscanos e, mais tarde, foi estendida para toda Igreja de Roma.

O estilo retrocede à época em que foram compostos e difere muito do antigo estilo romano. Não se pode mais que admirar a beleza das leituras das Escrituras e das homilias de São Bernardo escolhidas para as matinas. Os hinos ‘Jesu dulcis memória, Jesu rex admirabilis’, atribuídos também a São Bernardo, foram tomados, na verdade, de um ‘jubilus’, escrito por um desconhecido do século XII. As litânias do Santo Nome de Jesus, aprovadas por Sixto V, são de origem incerta; talvez foram compostas, no início do século XV, por São Bernardino de Sena e São João Capistrano. Essas Litanias, tal como mostram a invocações; “Jesus, esplendor do Pai; Jesus, sol de Justiça; Jesus, doce e humilde coração; Jesus, aficionado da castidade, etc” estão consagrados mais aos atributos de Jesus que ao seu próprio Nome. Poderia, até certo ponto, comparar-se ao “Akathistos do Doce Nome de Jesus”, da Igreja Ortodoxa. É sabido que aquela devoção esteve cercada pelo monograma JHS, que não significa, como muitas vezes se diz, “Jesus Hominum Salvator”, senão que, simplesmente, apresenta uma abreviação do nome de Jesus. Os jesuítas, colocando uma cruz sobre o H, fizeram deste monograma o emblema da Companhia.

Em 1564, o Papa Pio IV aprovou a Fraternidade dos Muitos Nomes de Deus e de Jesus, que se transformou, mais tarde na ‘Sociedade do Santo Nome de Jesus’, ainda existente. Esta fundação foi conseqüência do Concílio de Lyon, em 1274, que prescreveu uma devoção especial ao Nome de Jesus. A Inglaterra do século XV usava um «Jesus Psalter», composto por Richard Whytfor, que compreende uma série de petições, das quais, cada uma inicia pela tríplice menção ao Nome sagrado que ainda está em uso.

O grande propagador da devoção do Nome de Jesus, durante a Baixa Idade Média, foi São Bernardino de Sena (1380-1444). Recomendava levar tabuinhas nas quais estava escrito o símbolo JHS. São João de Capistrano, discípulo de Bernardino, era também um propagador fervoroso da devoção do Nome de Jesus. Ambos os santos pertenciam à família religiosa de São Francisco de Assis. Sabe-se que o próprio Francisco enternecia-se com o Nome de Jesus. O culto do Santo Nome de Jesus se transformou em uma tradição franciscana. É muito significativo que uma versão italiana das “Floricillas” realizada em Trevi, em 1458, por um irmão menor da Ordem de São Bernardino, contenha um capítulo adicional sobre o testemunho da devoção que São Francisco tinha pelo Nome de Jesus.

Definitivamente, porém, foi Bernardo de Claraval, no século XII, o mais inspirado devoto do Nome de Jesus, sobretudo em seu sermão XV, sobre o «Cantar dos Cantares.» Comentando a assimilação do Nome de Jesus ao azeite derramado feita pelo Cantar, desenvolve a idéia de que «o Nome Sagrado, como o azeite, ilumina, unge.» Não é na luz desse Nome que Deus nos chamou à sua admirável luz? Recorda-nos os hesicastas: «O nome de Jesus não é somente uma luz, mas também alimento.» E, finalmente: «Se escreves, eu não gosto de teus escritos, a menos que eles lembrem o nome de Jesus. Se discutes ou pronuncias uma conferência, não gosto de tua palavra, a menos que ressoe nelas o Nome de Jesus. Pois Jesus é mel na boca, melodia para o ouvido, alegria para o coração... Porém, o Nome de Jesus é também um remédio. Alguém de nós está triste? Que Jesus chegue ao seu coração e, dali, Ele brote na sua boca ... Alguém cai em crime? Se invoca o nome mesmo da vida, não respirará ao mesmo tempo o ar da vida?»

Estas passagens contém a mais profunda Teologia sobre o Nome Sagrado de Jesus.
Edição: Pe. André Sperandio, hieromonge

Como rezar.


«Sobre a Maneira de Rezar»
São Cipriano, Bispo de Cartago (+258)

Os preceitos evangélicos não são outra coisa, Irmãos Caríssimos, senão os ensinamentos divinos, fundamentos para edificar a esperança, provações para robustecer a fé, alimento para nutrir a alma, leme para dirigir a navegação, presídio para a salvação. Ao mesmo tempo que iluminam os crentes dóceis sobre a terra, guiam-nos até aos reinos celestes.

1. Deus quis que muitos ensinamentos nos fossem dados por meio dos Profetas, Seus Servos. Mas quão superiores são as palavras do Seu Filho, aquelas palavras que o Verbo de Deus, já ressonante nos Profetas, atesta com a Sua viva voz. Já não é alguém que vem aplanar os caminhos d'Aquele que há de vir, mas Aquele que veio e nos abre e mostra o caminho. Deste modo os que, antes, incautos e cegos cambaleavam nas trevas da morte, iluminados agora pela luz da graça, podem seguir na vida sob a guia e o governo de Cristo.

2. Entre outros conselhos salutares e ensinamentos divinos com os quais provê à salvação do Seu povo, Cristo deu também a norma da oração, e Ele mesmo nos mostrou e ensinou como devemos rezar. Aquele que nos deu a vida, ensinou-nos a pedir, com a mesma benevolência com que Se dignou dar-nos os outros bens. Assim rezando ao Pai com a oração do Filho, somos mais facilmente ouvidos.

Já antes tinha anunciado o dia em que os verdadeiros adoradores aprenderiam a adorar o Pai em espírito e em verdade (Jo. 4, 23), mas agora cumpre a promessa e faz de nós, santificados pelo espírito de verdade, verdadeiros e espirituais adoradores, conformes ao Seu ensinamento.

Que oração haverá mais espiritual do que aquela que nos ensinou Cristo, o qual enviou sobre nós o Espírito de Verdade? Que oração será mais verdadeira do que aquela que saiu dos lábios de Quem é a verdade?
Portanto, rezar de outra maneira diferente da que Cristo nos ensinou, não só é um ato de ignorância, mas uma culpa, pois Ele mesmo disse: “Vós rejeitastes o mandamento de Deus para acreditar na vossa doutrina” (Mc.7,8).

3. Seja a nossa oração a que o nosso Mestre nos ensinou. É cara e familiar a Deus a oração composta pelo Seu mesmo Filho. Assim, quando rezamos, o Pai reconhece as palavras do Filho.

Aquele que é hóspede do nosso coração esteja também nos nossos lábios. Se Cristo está junto do Pai como advogado para os nossos pecados, nós pecadores devemos rogar o perdão dos pecados com as mesmas palavras do Advogado. De fato, se Ele nos prometeu obter tudo o que pedirmos ao Pai em Seu Nome (Jo. 16, 23), quanto mais eficazmente obteremos o que pedimos em Nome de Cristo se o pedimos com a Sua mesma oração?

4. Os que rezam, tenham devoção à doçura das palavras. Pensemos estar na presença de Deus e por isso devemos ser aceites aos Seus olhos pela atitude do corpo e pela maneira como rezamos. Como é imprudente quem pede sem piedade, assim a oração convém que seja em tom respeitoso e submisso. O Senhor ensinou-nos a rezar no silêncio e nos lugares escondidos das nossas casas. Esta atitude é mais adequada à nossa fé para que saibamos e jamais olvidemos que Deus está em toda a parte, vê tudo e atende a todos, enche com a plenitude da Sua majestade os lugares mais recônditos.
Está escrito: “Não sou Eu o Deus do alto e o Deus que está a teu lado? Se o homem se esconde, deixo acaso de o ver? Não sou Eu que encho o céu e a terra?” (Jr. 23, 23-24). “Em todo o lugar os olhos de Deus observam os bons e os maus” (Pv. 15,3). E quando nos juntamos aos outros irmãos para celebrar com o Sacerdote o Sacrifício divino, devemos recordar-nos de ser devotos e disciplinados na oração e não espalhá-la ao vento numa seqüência de palavras, nem dirigi-Ia a Deus precipitadamente, mas sim com propósitos. DEUS NÃO ESCUTA A VOZ, MAS O CORAÇÃO. Deus, que perscruta os pensamentos humanos, não quer ser rogado com gritos. Diz assim o Mestre: “Que andais vós a ruminar nos vossos corações” (Lc. 5, 22) e ainda: “Todas as Igrejas saibam que Eu perscruto os rins e os corações” (Ap. 2, 23).

5. Já nos mostra isto o primeiro Livro dos Reis com o exemplo de Ana, figura da Igreja. Ana rezava ao Senhor não com palavras clamorosas mas na humildade e no silêncio com o seu coração. A sua oração era oculta, mas era manifesta a sua fé. Falava com o coração e não com a boca, porque só assim era ouvida por Deus. Por isso obteve o que pediu, porque rezou com fé, como atesta a Sagrada Escritura: “Falava no seu coração. Os seus lábios moviam-se, mas não se percebia a sua voz. E Deus escutou-a” (1 Re. 1, 13). O mesmo se lê nos Salmos (5, 5): “Pensai no silêncio dos vossos quartos”. Jeremias põe na boca de Deus estas palavras: “Encontrar-Me-eis se Me procurardes com todo o coração” (Jr. 24, 13).

6. Quando rezarmos não esqueçamos o publicano no templo, que não ousava levantar os olhos ao céu nem se atrevia a elevar as mãos, mas batia no peito em sinal de detestação dos seus pecados, e assim pedia a ajuda da misericórdia divina. Enquanto o fariseu se comprazia a si mesmo, o publicano, com a sua oração, mereceu ser santificado mais, visto que colocou a esperança da sua salvação não na sua inocência - pois ninguém é inocente - mas na humilde confissão dos seus pecados. E, Aquele que do Céu perdoa os humildes, ouviu a sua oração, como se lê na parábola evangélica que se segue: «Dois homens subiram ao templo para rezar; um era fariseu, o outro era publicano. O fariseu, de pé, rezava assim: “Eu Te dou graças, ó Deus, porque não sou como os outros homens, ladrões, injustos, adúlteros; nem tão pouco sou como aquele publicano. Eu jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus bens”. O publicano, ao contrário, lá longe, nem se atrevia a erguer os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: “Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador”. Pois Eu vos digo que este voltou justificado para sua casa. Não aconteceu o mesmo com o outro, pois quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado» (Lc. 18, 10-14).
Também os Apóstolos, com todos os discípulos, rezavam assim depois da Ascensão do Senhor: «Perseveravam todos unanimemente na oração, com as mulheres e com Maria, Mãe de Jesus, e com os Seus irmãos» (At. 1, 14). Perseveravam concordemente na oração e assim demonstravam, com a assiduidade e unanimidade da sua oração, que Deus «faz habitar sob o mesmo teto todos os que estão de acordo» (Sl. 57, 7) e não admite à Sua divina e eterna habitação senão aqueles cuja oração é comum e unânime.

«Regra para a Oração»
São Teófano, o Recluso

Regra para a oração, para quem está no caminho de uma vida para servir à Deus:
1. «Memorizar os Salmos»;
2. «Substituir as preces longas pelas curtas»;
3. «O rosário de oração.»

Você pergunta sobre uma regra de oração. Sim, é bom ter uma regra de oração devido à nossa fraqueza para que, por um lado, não nos rendamos à nossa preguiça, e por outro, limitemos nosso entusiasmo à sua medida adequada. Os maiores praticantes de oração seguiam uma regra de oração. Eles sempre começavam com preces já existentes e se, durante o curso das mesmas, uma prece se sobressaísse, eles deixariam de lado as outras e rezariam tal oração [a da prece que se sobressaiu]. Se isto é o que os grandes praticantes faziam, há todas as razões para que o façamos também. Sem preces estabelecidas, nós não saberíamos rezar, absolutamente. Sem elas, seríamos deixados inteiramente sem preces.

Contudo, as pessoas não têm que fazer muitas preces [1] . É melhor fazer um número menor, corretamente, do que apressar-se e fazer muitas, porque é difícil manter o calor do zelo quando são feitas em excesso.

Eu consideraria as preces matinais e noturnas inteiramente suficientes. Apenas tente, cada vez, conduzi-las com plena atenção e sentimentos que correspondam.
Para obter melhores resultados, dedique um pouco do seu tempo lendo as preces separadamente. Pense sobre elas e sinta-as para que, ao recitá-las na sua regra de oração, você perceba quais os pensamentos e sentimentos sagrados estão contidos nelas. A oração não significa, apenas, que as recitemos, mas que assimilemos seu conteúdo e as pronunciemos, como se saíssem de nossas mentes e corações.

Após ter analisado e sentido as preces, procure memorizá-las. Então, você não terá que manusear seu livro [de orações] e a luz [necessária à leitura] quando for a hora de rezar; tampouco você se distrairá por qualquer coisa que veja enquanto reza, podendo, mais facilmente, manter uma súplica mais conscienciosa para com Deus. Você verá por si o quanto isto ajuda. Manter o livro com você o tempo todo e em todos os lugares [na mente e no coração] é de grande importância.

Estando assim preparado, ao realizar a prece, tome cuidado para que sua mente não vagueie nem se renda à frieza e indiferença, esforçando-se a qualquer custo para manter sua atenção e para manter o calor do sentimento.

Após recitar as preces, faça prostrações, quantas quiser, acompanhadas por uma prece para qualquer necessidade que você sinta, ou usando sua prece curta [sua pequena prece] de costume. Isto prolongará um pouco seu tempo de prece, mas seu poder aumentará. Você deve orar um pouco mais, especialmente no final, pedindo perdão por desvios sem intenção e colocando-se nas mãos de Deus o dia inteiro.
Você também deve manter uma atenção especial a Deus ao longo do dia. Para isso, como já foi mencionado mais de uma vez, há uma lembrança de Deus; e para lembrar-se de Deus há preces curtas. É muito, muito bom memorizar vários salmos, recitando-os enquanto se está trabalhando ou no intervalo entre tarefas, ao invés de preces curtas. Este é um dos mais antigos costumes cristãos, mencionado e incluído nas regras de São Pacômio e Santo Antão.

Depois de passar o dia desta maneira, você deve rezar mais diligentemente e com mais concentração à noite. Aumente suas prostrações e pedidos a Deus; depois de se posicionar com as mãos unidas (no Divino) novamente, vá dormir com a prece curta nos seus lábios e durma com ela ou recite um salmo.

Que salmos você deveria memorizar [2]? Memorize os que tocam seu coração ao lê-los. Cada pessoa encontrará um salmo que gere mais efeito para ela. Comece com "Tem piedade de mim, meu Deus" (Salmo 51 [50]); então "Bendize o Senhor, ó minh´alma"(Salmo 103 [102]); e o "Ó minh´alma, louva o Senhor" (Salmo 146 [145]). Estes dois últimos são os hinos antífonos na Liturgia. Há também salmos no Cânone para a Comunhão Divina: "O Senhor é meu pastor" (Salmo 23 [22]); "Ao Senhor, a terra e suas riquezas, o mundo e seus habitantes" (Salmo 24 [23]); "Eu amo o Senhor, pois Ele ouve a minha voz suplicante"(Salmo 116 [114-115]); e o primeiro salmo da vigília noturna, "Ó Deus, vem libertar-me" (Salmo 70 [69]).

Há os Salmos das horas e os semelhantes. Leia o Livro dos Salmos e selecione.
Após ter memorizado todos estes, você sempre estará plenamente munido de preces. Quando algum pensamento perturbador lhe ocorrer, apresse-se em abaixar-se diante do Senhor, tanto com uma prece curta, quanto com um dos Salmos, especialmente "oh Senhor, seja atencioso ao ajudar-me", e a nuvem perturbadora irá se dispersar imediatamente.

Aí está tudo sobre uma regra para prece. Contudo, mencionarei mais uma vez que você deveria se lembrar de todas estas ajudas e a coisa mais importante é estar diante de Deus com a mente e coração, com devoção e prostração sincera a Ele.
Pensei em algo para lhe dizer! Você pode limitar a regra de oração inteira apenas a prostrações com preces curtas e preces com suas próprias palavras. Fique em pé e faça prostrações, dizendo "Senhor, tenha misericórdia", ou qualquer outra prece, expressando sua necessidade ou louvando e agradecendo a Deus. Você deveria estabelecer tanto um número de preces quanto um limite de tempo para a prece, ou ambos, para que você não fique preguiçoso.

Isto é necessário porque há uma certa peculiaridade incompreensível a nosso respeito. Quando, por exemplo, saímos para alguma atividade, as horas passam como se fossem minutos. Quando rezamos, contudo, mal alguns minutos se passaram e parece que estivemos rezando por um tempo muito longo. Este pensamento não é prejudicial quando rezamos segundo uma regra estabelecida; mas quando alguém reza, fazendo prostrações com preces curtas, isto apresenta grande tentação. Isto pode pôr fim a uma prece que mal começou, deixando a falsa certeza de que ela foi feita devidamente. Então, os bons praticantes deveriam utilizar rosários de preces para que não se submetessem a essa auto-decepção. Rosários de preces são sugeridos para aqueles que desejam rezar usando suas próprias preces, que não as do livro. Eles são utilizados da seguinte maneira: diga "Senhor Jesus Cristo, tenha misericórdia de mim, um pecador" [3] , e mova uma conta do rosário entre seus dedos. Repita a prece novamente e mova uma outra conta, e assim por diante.

Faça uma prostração em cada repetição da prece, como preferir, tanto parcial (com a cintura), como a completa (estendendo-se sobre o chão); ou, para as contas pequenas, faça a prostração da cintura e, para as maiores, faça a completa no chão. A regra em tudo isto consiste em ter um número definido de repetições de preces, com prostrações às quais são adicionadas outra preces, com suas próprias palavras. Ao decidir o número de prostrações ou preces, estabeleça um limite de tempo para que você não se engane e não se apresse ao executá-las. Se você terminar antes do esperado, poderá preencher o tempo fazendo mais prostrações.

O número de prostrações que devem ser feitas para cada prece é estabelecida ao final do livro de Salmos, com seqüências em duas categorias: uma para pessoas diligentes e outra para os preguiçosos ou ocupados. Os anciães que vivem hoje conosco em sketes ou kellia especiais [4] , em lugares como Valaam ou Solovki [5] fazem toda sua prática dessa forma. Se você tiver vontade de conhecer, agora ou em outra ocasião, você pode executar sua própria regra de prece dessa maneira. Antes disso, contudo, acostume-se a fazê-lo da maneira prescrita para você. Talvez você não precisará de uma nova regra. De qualquer forma, estou lhe enviando um rosário de preces.

Experimente! Anote quanto tempo você leva nas preces matinais e noturnas, então sente-se e recite suas preces curtas com o rosário e veja quantas voltas você deu no rosário durante o tempo geralmente necessário para a prece. Faça com que seja essa a medida para sua regra. Faça isto não durante seu horário de oração habitual, mas em qualquer outro momento, embora fazendo-o com a mesma atenção. A regra de oração é então conduzida desta maneira, levantando-se e fazendo-se reverências.

Depois de ler isto, não pense que eu vou te levar para um monastério. A primeira vez que ouvi a respeito de rezar com um rosário, foi de um praticante leigo, não de um monge. Muitas pessoas leigas ou monásticas rezam desta maneira. Deveria ser adequado para você também. Quando você está recitando preces que você memorizou e elas não te tocam, você pode, neste dia, rezar usando o rosário e fazer preces decoradas num outro dia. Desta forma as coisas vão melhorar.

Repito que a essência da prece é elevar a mente e o coração a Deus; estas pequenas regras são uma ajuda. Nós não podemos progredir sem elas, em função da nossa fraqueza. Que Deus te abençoe!

Notas:
[1] Conforme o ensinamento de Jesus, no Evangelho de São Mateus: " 5E quando rezardes, não sejais como os hipócritas que gostam de fazer suas orações de pé nas sinagogas e nas esquinas, a fim de serem vistos pelos homens. Em verdade , eu vos digo: já receberam a sua recompensa. 6Quanto a ti, quando quiseres orar, entra em teu quarto mais retirado, tranca a tua porta , e dirige a tua oração ao teu Pai que está ali, no segredo. E teu Pai , que vê no segredo, te retribuirá. 7Quando orardes, não multipliqueis palavras como fazem os pagãos; eles imaginam que pelo muito falar se farão atender. 8Não vos assemelheis, pois, a eles, porque vosso Pai sabe do que precisais, antes que lho peçais. (Mt 6, 5-8)". (Nota do Editor do site Inter-Religo)
[2] Os versículos dos salmos que aparecem a seguir estão conforme a Tradução Ecumênica da Bíblia (TEC), Edições Loyola/Edições Paulinas. Apenas duas citações não estão de acordo com a tradução: a do Salmo 116 (o texto em inglês cita I believed, wherefore I spake) e a do Salmo 70 (o texto em inglês cita O God, be attentive unto helping me). O leitor notará que, para cada citação do salmo, aparecem dois números; por exemplo, Salmo 23 [22]. O motivo é que, por volta de meados do século II a.C., o texto hebraico dos Salmos foi traduzido para o grego, para uso dos judeus da Diáspora — a chamada versão dos Setenta (LXX), ou Septuaginta. O Psaltérion ou Psalmoi (forma como a versão dos Setenta denomina o Livro dos Salmos ou, propriamente, os Salmos, respectivamente, encaixado entre o livro de Jó e os Profetas, contém um salmo suplementar (Sl 151). A numeração dos poemas não é totalmente idêntica à do texto hebraico masorético. Com efeito, por duas vezes ocorre o caso de um salmo, único no texto hebraico, estar dividido em dois na versão grega dos Setenta (Sl 116 e 147). Inversamente, e também aqui por duas vezes, dois salmos da coletânea hebraica (9 e 10; 113 e 114) correspondem a um único canto da Septuaginta, donde uma defasagem na numeração. (Nota do Editor do site Inter-Religo)

[3] Essa oração é conhecida como "A Oração de Jesus" que, completa, é: "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tende piedade de mim, pecador". Pode-se afirmar que essa oração está fundamentada na seguinte passagem do Evangelho de São Lucas:

"35Ora, quando ele se aproximava de Jericó , um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo esmolas. 36Tendo ouvido passar a multidão, perguntou o que era. 37Anunciaram--lhe: ‘É Jesus , o Nazoreu que está passando’. 38Ele exclamou: ‘Jesus, filho de David, tem compaixão de mim!’ 39Os que iam na frente o repreendiam para que se calasse; mas ele gritava ainda mais: ‘Filho de David , tem compaixão de mim!’ 40Jesus se deteve e ordenou que lho trouxessem; quando ele se aproximou, Jesus o interrogou: ‘41Que queres que eu faça por ti?’ Ele respondeu: ‘Senhor, que eu recupere a vista!’ 42Jesus lhe disse: ‘Recupera a vista! A tua fé te salvou!’ 43No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus , dando glória a Deus . Todo o povo, vendo isto, ergueu a Deus o seu louvor" (Lc 18, 35-43).

Esse trecho foi retirado da Tradução Ecumênica da Bíblia (TEC), Edições Loyola/Edições Paulinas. Em português, há dois livros clássicos da espiritualidade ortodoxa, editados pela Paulus, comentando a Oração de Jesus: "O Peregrino Russo" e "Novos Relatos do Peregrino Russo". Em grego, a "Oração de Jesus" escreve-se:
Esse trecho foi retirado da Tradução Ecumênica da Bíblia (TEC), Edições Loyola/Edições Paulinas. Em português, há dois livros clássicos da espiritualidade ortodoxa, editados pela Paulus, comentando a Oração de Jesus: "O Peregrino Russo" e "Novos Relatos do Peregrino Russo". Em grego, a "Oração de Jesus"
é pronunciada da seguinte maneira:
"Kírie Iissú Christé, Ié Tu Theú, Eléison Mê Tôn Amartôlo"
(Nota do Editor do site Inter-Religo. Agradeço a colaboração da psicóloga e mitóloga Maria Lúcia Camargo Andrade pela explicação da pronúncia da "Oração de Jesus", em grego, e pela gentileza de transcrever a oração em caracteres gregos. Da mesma forma, agradeço a extrema gentileza do Patriarcado de Alexandria e Toda a África – "Greek Orthodox Patriarchate of Alexandria & all Africa" – e ao Reverendo Charalambos Theodossis, da Arquidiocese Ortodoxa Grega da Ática – "Metropolis of Attica")

[4] "Sketes" são pequenas comunidades monásticas, de alguma forma dependentes (ligadas, vinculadas) a um grande mosteiro cristão ortodoxo. (Nota do Editor do site Inter-Religo)

[5] Valaam é um arquipélago de cerca de cinqüenta ilhas, numa área de 36 quilômetros quadrados. Esse arquipélago está localizado no Lago Ladoga (denominado, em épocas anteriores, de Nyevo). Solovki também é um arquipélago de seis ilhas ao norte da Rússia, já próximas ao Círculo Polar Ártico. O cristianismo penetrou no arquipélago em torno dos anos 30 do século XV. (Nota do Editor do site Inter-Religo)
Nota I) Nota de Patrick Barnes, webmaster do site Orthodox Christian Information Center, de onde o texto acima foi retirado e traduzido: Extraído de "A Vida Espiritual e como estar em Harmonia com Ela" (The Spiritual Life and How to Be Attuned to It), Platina, CA: St. Herman of Alaska Brotherhood, 1996, capítulo 47, págs. 204-209. Este é o melhor livro sobre vida espiritual que já li. Se pudesse, teria dois livros: um seria este e, o outro, a Bíblia. Espero que você o leia. Disponível na Editora St. John de Krondstat.

Nota II) Nota do site Interreligo: todas as palavras entre colchetes "[ ]" foram adicionadas ao texto original. O ícone de São Teófano também não se encontra no texto original, tendo sido adicionado pelo editor deste site.

Fonte:
Inter-religo: http://www.inter-religo.com
Tradução de: Ana Trivellato

A estratégia do adversário.


A Estratégia do Adversário

Satanás convocou uma Convenção Mundial de demônios. Em seu discurso de abertura, ele disse: «Não podemos impedir os cristãos de irem à igreja. "Não podemos impedi-los de lerem as suas Bíblias, seus Catecismos e conhecerem a verdade. Nem mesmo podemos impedi-los de formarem um relacionamento íntimo com o seu Salvador em seus sacramentos, suas obras de caridade e suas devoções. E, uma vez que eles ganham essa conexão com Jesus, o nosso poder sobre eles está quebrado. Então, vamos deixá-los ir para as suas igrejas; vamos deixá-los com as piedades e caridades que organizam. MAS, vamos roubar-lhes o tempo que têm, de maneira a que não sobre tempo algum para desenvolver um relacionamento com Jesus Cristo».

«O que quero que vocês façam é o seguinte», disse o diabo: «Distraia-os ao ponto de que não consigam aproximar-se do seu Salvador, para manterem essa conexão vital durante o dia todo!» «Como vamos fazer isto?» gritaram os seus demônios.

«Mantenham-nos ocupados nas coisas não essenciais da vida, e inventem inumeráveis assuntos e situações que ocupem as suas mentes», respondeu-lhes ele.

«Tentem-nos a gastarem, gastarem, gastarem, e tomar emprestado, tomar emprestado, tomar emprestado. Persuadam as suas esposas a irem trabalhar durante longas horas, e os maridos a trabalharem de 6 a 7 dias por semana, durante 10 a 12 hora por dia, a fim de que eles tenham capacidade financeira para manter os seus estilos de vida fúteis e vazios. Assim, adorarão as coisas e as amarão acima de Deus, de si mesmos e do próximo, e trocarão Deus por essa idolatria das coisas.

Criem situações que os impeçam de passar algum tempo com os filhos. À medida em que suas famílias se forem fragmentando, muito em breve seus lares já não mais oferecerão um lugar de paz para se refugiarem da pressões do trabalho e eles ficarão esgotados, frustrados e voltarão para a agitação do mundo cá fora. Seus filhos ficarão cada vez mais hedonistas, impiedosos, materialistas, revoltados, violentos, drogados e promíscuos tentando encontrar a felicidade onde ela nunca estará. Incentivem seus filhos a serem rebeldes e a desobedecerem seus pais: o desrespeito a regras, leis e autoridades começa aí. Convençam os pais a enviarem seus filhos para cursos e escolas nos primeiros meses de vida: precisamos isolar pais dos filhos para que estes não aprendam o que é necessário e importante para viver, aprendam futilidades, e possamos formar jovens totalmente diferentes do passado cristão, equilibrado e ordeiro de seus antepassados, sendo expostos a maus exemplos de colegas em ambientes permissivos das escolas. E depois nunca conhecerão a fonte de tanta discórdia e violência na sociedade. Estimulem a preguiça e a passividade nos filhos convencendo seus pais a lhes darem uma vida confortável e sem sacrifícios. Façam todos esquecerem que Deus, que é Pai, não poupou de sacrifícios o Seu Filho.

Estimulem suas mentes com tanta intensidade, que eles não possam mais escutar aquela voz suave e tranqüila que orienta seu espírito. Encham seus ouvidos com ruídos e falatório fútil, e suas visões com filmes e novelas, para que nunca vejam e nem escutem a voz do caminho, da verdade e da vida. Induzam todos a ligarem o radio ou o toca-fitas sempre que estiverem dirigindo. Que a TV, o Vídeo, os CDs e os PCs estejam sempre ligados constantemente em seus lares, e providenciem que todas as lojas e todos os restaurantes do mundo toquem constantemente música que não seja cristã. Isto entupirá as suas mentes e quebrará aquela união com Cristo.

Encham as mesinhas de centro de todos os lugares com revistas e jornais. Bombardeiem as suas mentes com notícias e outras mentiras, 24 horas por dia. Invadam os momentos em que estão dirigindo, fazendo-os prestar atenção a cartazes chamativos. Inundem as caixas de correio deles com papéis totalmente inúteis, catálogos de lojas que oferecem vendas pelo correio, loterias, bolos de apostas, ofertas de produtos gratuitos, serviços, e falsas esperanças.

Mantenham lindas e delgadas modelos nas revistas e na TV, para que seus maridos acreditem que a beleza externa é o que é importante, e eles se tornarão mal satisfeitos com suas próprias esposas. Incentivem a pornografia em filmes, revistas, músicas e na moda: façam com que a mulher seja vista como um objeto de consumo e satisfação de apetites. Estimulem o adultério e os vícios, principalmente o do álcool, para que se tornem violentos, preguiçosos, estúpidos, gastadores, ruidosos, machistas, libertinos e lascivos, e assim se tornem insuportáveis em seus lares. Destruir as famílias é nosso alvo prioritário!

Mantenham as esposas demasiadamente cansadas para amarem seus maridos e filhos, e dê-lhes dores de cabeça também. Se elas não dão a seus maridos e filhos o amor que eles necessitam, eles então começam a procurá-lo em outro lugar, e isto, sem dúvida, fragmentará as suas famílias rapidamente. Estimulem a vaidade e o orgulho nas mulheres: assim, elas gastarão tudo o que têm em futilidades da última moda, acharão que merecem privilégios, companhia de homens endinheirados e charmosos como os galãs da TV (tão diferentes de seus maridos); que têm direitos mas nenhuma obrigação para com suas famílias; que seus maridos sejam vistos como inimigos da sua liberdade, e que, sem vez nem voz (pois só terão obrigações financeiras e nenhum direito), deixem de ser uma referência ética, de correção, sabedoria, orientação, sustento, proteção e direção do lar, e assim prefiram bares e jogos de futebol. Encham suas cabeças ocas com revistas e programas feministas de rádio e TV, inflamados com o discurso marxista de conflito de classes: assim, aumentaremos os divórcios e as famílias destruídas, os abortos, as crianças abandonadas, a impiedade, o materialismo, a promiscuidade e a ostentação. Destruamos as famílias! Incentivamos a egolatria, a idolatria do “eu primeiro”!

Dê-lhes o ídolo Papai Noel, para distraí-los da necessidade de ensinarem aos seus filhos, o significado real do Natal. Faça-os esquecer a humildade e a penitência do Advento pois a humildade, a simplicidade, a caridade e o despojamento são grandes inimigos nossos. Faça-os trocar tudo isso pelo consumismo, a glutonaria e a ostentação.

Dê-lhes o ídolo Coelho da Páscoa, para que eles não falem sobre a Ressurreição de Jesus, e o Seu poder redentor sobre o pecado e a morte. Faça-os esquecer a penitência da quaresma, a cruz , o crucifixo e o sentido do sofrimento: assim vão desesperar-se e entrar em depressão, partir para os vícios, para o crime e para o suicídio.

Estimule os pais a darem brinquedinhos caros a seus filhos e nunca lhes deixem ter carinho, atenção, boa educação religiosa e moral, amor e orientação. Incentive os jovens a admirarem artistas drogados ou promíscuos, nunca os santos. Troque o mês da mãe de Deus pelo mês da criança (outubro) ou da abolição dos escravos (maio), incentivando o consumismo e a discórdia racial.

Até mesmo quando estiverem se divertindo, se distraindo, que seja tudo feito com excessos, para que ao voltarem dali estejam exaustos e vazios! Que eles creiam que estão aqui para se divertirem, que o importante é ser feliz, e que nos vendam suas almas para conseguirem o os ídolos do prazer, o poder e o possuir, e troquem o céu pelo inferno.

Mantenha-os de tal modo ocupados que nem pensem em ir andar ou ficar na natureza, para refletirem sobre criação de Deus e seu papel nessa mesma criação. Ao invés disso, mande-os para parques de diversão, acontecimentos esportivos, peças de teatro, concertos e ao cinema, principalmente aos domingos, que deveriam santificar.
Convença-os a trocar peregrinações e romarias por pacotes turísticos; Missas por piscinas e campos de futebol; rosários por colares, pulseiras e brincos; imagens de santos por arte profana; que ser religioso é ser cafona, preconceituoso, atrasado.

E, quando se reunirem para um encontro, ou uma reunião espiritual, envolva-os em mexericos e conversas sem importância. Faça-os disputarem entre si pelo prestígio e influência pessoal em suas paróquias, para imporem sua vontade própria e esquecerem a vontade de Deus e da vocação de Sua Igreja. Nunca os deixe confrontar suas vidas com os ensinamentos religiosos: é tão desagradável perceberem-se pecadores para se santificarem! Incentivem algum sentimentalismo oco em suas reuniões ou alguma discussão ética estratosférica: é tão prazeroso, delirante, alegra e os desvia de sua conversão! Convença o clero a falar só o que agrada aos ouvidos mundanos, e a descuidar da catequese e dos sacramentos.

Encham as vidas de todos eles com tantas causas nobres e importantes a serem defendidas para que não tenham nenhum tempo para buscarem o poder de Jesus. Iludamos todos eles para que pensem que o paraíso tem que ser neste mundo – assim nunca se prepararão para a vida eterna. Façamo-nos trocar a caridade cristã pela revolução socialista e seus projetos ilusórios de “libertação”, confundindo seus significados: é a morte de Deus, da liberdade e da solidariedade. Muito em breve, eles estarão buscando, em suas próprias forças e sem o poder da oração, as soluções para seus problemas e para as causas que defendem sacrificando sua saúde, suas almas e suas famílias pelo bem da causa.

Mantenha-os ocupados, ocupados, ocupados! Isto vai funcionar! Vai funcionar!

Este era um «senhor» plano!

Os demônios ansiosamente partiram para cumprirem as determinações do chefe, fazendo com que os cristãos, em todo o mundo, ficassem mais ocupados, e mais apressados, indo daqui para ali, e vice-versa, tendo pouco tempo para Deus e para suas famílias e não tendo nenhum tempo para contar a outros sobre o poder de Deus para transformar vidas.

A pergunta que só você pode responder: - o diabo está tendo sucesso, em suas maquinações, na sua vida?

Feliz Natal e feliz ano novo...e aproveite bem seu tempo!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

É a oração que salva.


71. É a oração que salva

1 E dizia: “Há muitos que põem na ciência todo o seu esforço e toda a sua solicitude, dia e noite, deixando sua santa vocação e a devota oração.

2 E quando pregarem a alguns ou ao povo e virem ou ficarem sabendo que alguns ficaram edificados ou se converteram à penitência por causa disso, vão se inchar e orgulhar-se pelas obras e o lucro alheio.

3 Porque é o Senhor que edifica e converte aqueles que eles crêem que eles acham que se edificam com suas palavras e se convertem à penitência, com as oração dos frades santos, mesmo que eles não saibam disso, pois assim é a vontade de Deus, que não percebam disso para não se orgulharem.

4 Estes são os meus frades da távola redonda, que se escondem nos desertos e nos lugares afastados, para se dedicarem mais diligentemente à oração e à meditação, chorando os seus pecados e os dos outros, cuja santidade é conhecida por Deus, algumas vezes pelos frades, mas é ignorada pelos outros.

5 E quando suas almas forem apresentadas a Deus pelos anjos, então o Senhor vai mostrar-lhes o fruto e o resultado de seus trabalhos, isto é, muitas almas que forma salvas por suas orações, dizendo-lhes:

6 Filhos, olhem estas almas salvas por suas orações, e porque fostes fiéis no pouco, eu vos constituirei sobre muitas coisas (cfr. Mt 25,21)”.

7 Por isso, o bem-aventurado Francisco dizia sobre aquela passagem: Enquanto a estéril teve muitos filhos e a quem tinha muitos filhos ficou doente (cfr. 1Re 2,5), que a estéril era o bom religioso, que edifica a si mesmo e aos outros pelas santas orações e virtudes.

8 Dizia muitas vezes essas palavras diante dos frades em suas conversas com eles, e principalmente no capítulo dos frades junto à igreja de Santa Maria da Porciúncula, diante dos ministros e dos outros frades.

9 Por isso formava para as obras todos os frades, tanto ministros como pregadores, dizendo-lhes que por causa da prelatura e do ofício e solicitude de pregar não deviam absolutamente deixar a santa e devota oração, ir pedir esmolas e trabalhar com suas mãos, como os outros frades, por causa do bom exemplo e do lucro de suas almas e das dos outros.

10 E dizia: “Os frades súditos ficam muito edificados quando seus ministros e pregadores se entregam de boa vontade à oração, e se prostram e se humilham”.

11 Por isso ele, como um fiel zelador de Cristo, enquanto foi sadio de corpo, fazia em si o que ensinava a seus frades.


72. A ciência incha, a caridade edifica

1 Como aquele frade noviço, de que falamos acima, morava num eremitério, aconteceu que certo dia esteve lá o bem-aventurado Francisco.

2 Então aquele frade falou com ele, dizendo: “Pai, para mim seria uma grande consolação ter um saltério, mas, embora o ministro geral queira conceder-me isso, quero tê-lo de acordo com a tua consciência”.

3 Esta foi a resposta que o bem-aventurado Francisco lhe deu: “Carlos imperador, Rolando e Olivério, e todos os paladinos e robustos varões, que foram poderosos no combate, perseguindo os infiéis com muito suor e trabalho até a morte, conseguiram uma gloriosa e memorável vitória sobre eles, e no fim os próprios santos mártires morreram no combate pela fé em Cristo;

4 e sãos muitos os que só pela narração deles, do que eles fizeram, querem receber honra e louvor humano”.

5 E por isso escreveu qual o significado dessas palavras em suas Admoestações, dizendo: “Os santos fizeram as obras e nós, recitando-as e pregando-as, queremos receber por isso honra e glória”.

6 Como se dissesse: a ciência incha, mas a caridade edifica (cfr. 1Cor 8,1).

Heresias protestantes.


A “fé neopentecostal” destoa, claramente, da fé bíblica

Em:http://afeexplicada.wordpress.com/2011/12/19/a-fe-neopentecostal-destoa-claramente-da-fe-biblica/

No contexto em que tratou exaustivamente sobre os dons espirituais em sua primeira carta aos crentes da cidade de Corinto, Paulo terminou por afirmar a esses irmãos, seus contemporâneos: “Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o címbalo que retine” (1 Coríntios 13:1).

Obviamente que o apóstolo quis destacar que, embora no tempo presente esses três dons façam parte da vida de todo cristão genuíno, haverá um dia no qual a fé e a esperança deixarão de existir, haja vista que são dons instrumentais, vinculados à realização/cumprimento das promessas divinas. A parousia (vinda de Cristo), portanto, porá fim à fé e à esperança, por perderem tais dons a razão das suas existências.

Porém, o amor, por fazer parte da essência de Deus e, por conseguinte, “… do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade” (Efésios 4:24), permanecerá pelos séculos dos séculos, como o vínculo de união entre Deus e o homem, e entre os homens entre si. Não é sem razão que Paulo escreveu aos cristãos da cidade de Colossos: “acima de tudo isto, porém, esteja o amor, que é o vínculo da perfeição” (Colossenses 3:14).

O amor, desse modo, exerce uma posição sublime, elevada, na vida cristã. Tal fato é comprovado pelas palavras do próprio Jesus Cristo, o Deus encarnado: “… Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (Mateus 22:37-40 ). Paulo, o mesmo que nos disse “Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo” (1 Coríntios 11:1 ), deixou-nos escrito palavras semelhantes às de Jesus, embora mais resumidas: “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Romanos 13:10).

No mesmo sentido de Jesus Cristo e de Paulo, Tiago, irmão na carne do Senhor, ensinou-nos: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta” (Tiago 2:14-17).

Não necessita muito esforço hermenêutico, interpretativo, para se chegar à conclusão que por “obras”, no contexto, Tiago está se referindo ao “amor”, pois dá como exemplo de boa obra o socorro ao irmão ou irmã que por acaso estão em necessidades materiais de alimento e vestimenta. Nem é de surpreender que Tiago tenha o amor em mente, diante do fato de que “… o cumprimento da lei é o amor”, e em face da afirmação bíblica de que “… em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor” (Gálatas 5:6 ).

Fé considerada à parte do amor, “… por si só está morta”, tratando-se, por conseguinte, de fé falsa, antibíblica, inútil e diabólica, posto não gerada pelo Espírito e pela Palavra de Deus. A fé verdadeira se concretiza, isto é, torna-se perfeita e eficaz na expressão do amor, no cumprimento da lei. A fé, então, é instrumento da graça divina para a vida cristã nesse mundo pecaminoso posta à serviço do amor. Em suma, a fé verdadeira é serva do amor.

Não obstante ser o ensino que acima expus sobre a fé a doutrina clara e nítida da Escritura Sagrada, o neopentecostalismo inverte a ordem, fazendo da fé a virtude suprema. Nem é necessário ser um bom observador para se constatar que a doutrina neopentecostal anda em caminho contrário ao da Escritura, ao magistério de Jesus, Paulo e Tiago, por ensinar que o cumprimento da lei é a fé.

Qualquer pessoa de mente iluminada pela Palavra de Deus que se dispuser, como eu, a passar horas e horas assistindo na televisão aos vários pregadores neopentecostais, concluirá, a despeito de não ouvir da boca de nenhum deles a frase literal de “… que o cumprimento da lei é a fé”, que esse é o cerne da doutrina neopentecostal.
Toda pregação deles termina por conclamar o povo à uma atitude de fé, como satisfação da vontade de Deus. Diga-se que por atitude de fé eles têm sempre em mente o exercício dela relativamente à curas, milagres, soluções de problemas financeiros, de saúde, emocionais, afetivos e coisas semelhantes. Para eles, o fato de alguém “não se revoltar” contra as tribulações de diversas naturezas pelas quais passa é atestatório de desobediência à vontade de Deus revelada (sua Palavra), e demonstração ímpia de falta de fé.

Contudo, como demonstrarei abaixo, apesar de a fé ser o ponto central e culminante da pregação e da doutrina neopentecostal, ela é morta e falsa, e conquanto pareça ser a pregação dessa orientação teológica muito piedosa por exaltar a fé em Deus, pelos motivos que a acuso (morte e falsidade), a fé neopentecostal é uma verdadeira expressão de falsa piedade cristã.

Aludi, com base nas palavras de Jesus e de Paulo, que o cumprimento da lei e dos profetas é o amor. O amor do cristão tem uma dimensão vertical, para com Deus, e uma dimensão horizontal, o amor recíproco entre os irmãos em Cristo e para com o próximo.
O amor a Deus é constantemente nas Escrituras retratado em termos de ação obediente aos seus mandamentos: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama…” (João 14:21 ). Mas, o que diz a Escritura sobre como deve reagir o cristão quando estiver enfrentando diversas tribulações? Que o próprio Espírito, através de um daqueles que inspirou, nos diga: “Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue e estais esquecidos da exortação que, como a filhos, discorre convosco: Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe” (Hebreus 12:4-6 RA).

É certo que nós ainda não somos seres perfeitos nesta vida, o pecado ainda habita em nós, mesmo sendo redimidos. Por si só, esse fato deve nos lembrar de que estamos sujeitos à correção do Senhor, simplesmente porque o pecado não foi totalmente expurgado de nós até o dia da redenção final, o dia do retorno de Cristo. Em face disso, o escritor da carta aos Hebreus recorreu ao Antigo Testamento para nos lembrar do mandamento do Senhor: “Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor, nem desmaies quando por ele és reprovado; porque o Senhor corrige a quem ama e açoita a todo filho a quem recebe”.

Ele, o escritor de Hebreus, usou os verbos “menosprezar” e “desmaiar” no modo imperativo na língua grega, indicando ser, de fato, mandamento de Deus. O primeiro verbo, “menosprezar”, é o verbo grego ολιγωρεω (oligoreo), que signfica “não importar-se com, não considerar com seriedade, fazer pouco caso” (Léxico de Strongs). Já o segundo, “desmaiar”, é o vocábulo grego εκλυω (ekluo), cujo significado é “1) soltar, desprender, tornar livre; 2) dissolver, metáf., afrouxar, relaxar, extenuar; 2a) ter a força de alguém relaxada, estar enfraquecido até a exaustão, tornar-se fraco, tornar-se cansativo, estar cansado; 2b) desanimar, perder a esperança” (Léxico de Strongs).

Então, o mandamento do Senhor envolve que quando o crente passar por provação, deve considerá-la com a máxima seriedade, aplicando o seu coração em compreender a vontade de Deus para aquele caso específico. Deve, igualmente, manter-se esperançoso, animado, forte, a despeito das adversidades que se lhe acometem.
O interessante é que ambos os verbos estão no original grego no tempo presente, implicando que o cristão deve agir assim continuamente. Deve ser um padrão perene de conduta cristã. Todavia, o verbo ολιγωρεω foi usado na voz ativa, enquanto que o verbo εκλυω foi empregado na voz passiva. O que isso significa? A voz ativa implica que o sujeito pratica a ação. Desse modo, Deus requer de seu filho, do crente, que ele, ao ser corrigido, aplique toda diligência do seu coração em relação à disciplina que está sofrendo, a fim de tirar o proveito máximo dela. Por outro lado, na voz passiva, o sujeito é paciente da ação, isto é, sofre a ação. Uma tradução literal do que o autor aos Hebreus escreveu, seria: “nem sejas afrouxado de…”. Ou seja, Deus impõe sobre seu filho, sobre aquele que está sendo objeto de correção, a responsabilidade de não deixar que as tribulações advindas dessa correção o desanime, o “afrouxe” em seu animus, em seu espírito.

Se levarmos em conta o padrão típico do pensamento hebraico, ou melhor, da expressão do pensamento hebraico (judaico) em forma de paralelismo, então concluiremos que “… não desprezes a correção que vem do Senhor… ” é frase sinônima de “… nem desamies quando por ele é reprovado”. Dessa forma, aquele que não considera com seriedade a disciplina, que faz pouco caso dela, termina por desanimar, tornando-se cansado e exausto, combalindo em sua esperança e, assim, desobedece ao mandamento de Deus, dando clara demonstração de não amá-lo.

Não obstante, para compreendermos bem o intento do escritor bíblico, faz-se necessário entendermos a natureza da correção. Por exemplo, o escritor bíblico utilizou o verbo “corrigir” e, no contexto, o substantivo “disciplina” (haja vista que “correção” corresponde à mesma palavra grega que “disciplina”). “Corrigir” é o verbo grego παιδευω (paideuo): “1) treinar crianças: 1a) ser instruído ou ensinado; 1b) levar alguém a aprender; 2) punir: 2a) punir ou castigar com palavras, corrigir: 2a1) daqueles que moldam o caráter de outros pela repreensão e admoestação; 2b) de Deus: 2b1) purificar pela aflição de males e calamidade; 2c) punir com pancada, açoitar: 2c1) de um pai que pune seu filho; 2c2) de um juiz que ordena que alguém seja açoitado” (Léxico de Strongs). “Disciplina” é o vocábulo παιδεια (paideia): “1) todo o treino e educação infantil (que diz respeito ao cultivo de mente e moralidade, e emprega para este propósito ora ordens e admoestações, ora repreensão e punição). Também inclue o treino e cuidado do corpo; 2) tudo o que em adultos também cultiva a alma, esp. pela correção de erros e contenção das paixões: 2a) instrução que aponta para o crescimento em virtude; 2b0) castigo, punição, (dos males com os quais Deus visita homens para sua correção)” (Léxico de Strongs).

Dos significados lexicográficos das palavras gregas aludidas, tem-se que a disciplina, além de ter um elemento repreensivo/punitivo, inflitivo de dor, todavia tem também um elemento de instrução, que visa o aperfeiçoamento moral/espiritual do corrigido, do disciplinado. Aliás, é exatamente esta última dimensão que o escritor aos Hebreus destaca com essas palavras: “É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige?” (Hebreus 12:7) [εις παιδειαν υπομενετε ως υιοις υμιν προσφερεται ο θεος τις γαρ υιος ον ου παιδευει πατηρ;].

Apenas para corroborar o significado de παιδεια (paideia) como instrução, destaco que essa palavra tinha uma importância enorme na cultura grega antiga. Werner Jaeger, que compôs um livro sobre a educação do homem grego, escreveu sobre o objeto de sua obra: “Não é possível descrever em poucas palavras a posição revolucionária e solidária da Grécia na história da educação humana. O objeto deste livro é apresentar a formação do homem grego, a paidéia, no seu caráter particular e no seu desenvolvimento histórico” (Paidéia – A Formação do Homem Grego. São Paulo: Martins Fontes, 2001, p. 07). No mesmo sentido, Giovanni Reale & Dario Antiseri escreveram, em argumentação sobre a origem do termo “humanismo”: “Para os mencionados autores latinos, ‘humanitas’ significava aproximadamente o que os helênicos indicavam com o termo ‘paidéia’, ou seja, educação e formação do homem” (História da Filosofia, vol. 02. São Paulo: Paulus, 1990, p. 17).

É para o ensino, para a instrução, para a aprendizagem, para a disciplina, que os filhos de Deus permanecem firmes mesmo debaixo das mais duras provações (εις παιδειαν υπομενετε…). O verbo “perseverar”, grego υπομενω (hupomeno), segundo Strongs, tem a acepção de: 1) ficar; 1a) retardar; 2) ficar, i.e., permanecer, não retirar-se ou fugir; 2a) preservar: sob desgraças e provações, manter-se firme na fé em Cristo; 2b) sofrer, aguentar bravamente e calmamente: maltratos”. Como enfatizei no início deste parágrafo, é para que adquiram instrução através das duras provações, que os filhos de Deus suportam, aguentam, brava e calmamente, as aflições que vêm com a correção divina. E eles suportam isso porque creem que “… que filho há que o pai não corrige?” Que filho há que o Pai não imponha as aflições da sua amorosa instrução?

Haja vista que é para o aprendizado, para o crescimento espiritual, moral, que os filhos de Deus são disciplinados e suportam, permanecem firmes, nessa disciplina, é que eles, por causa da fé, aplicam toda diligência em tirar proveito e aprendizado do fogo da purificação da correção do Senhor, alimentando, mesmo em tais condições, o ânimo em seus corações. A disciplina (παιδεια) busca formar o caráter cristão naquele que é corrigido.

Porém, a motivação última dos verdadeiros filhos de Deus em suportar tudo isso é o amor que têm pelo Pai, em Cristo Jesus, nosso Senhor. Neste caso, a fé atua, torna-se eficaz, poderosa, através do amor. Como escreveu Paulo, e eu já trascrevi acima, o que tem, de fato, valor em Cristo é “… a fé que atua pelo amor” (πιστις δι’ αγαπης ενεργουμενη). Nessas palavras de Paulo, o vocábulo “atua”, na verdade, é o particípio presente médio ενεργουμενη (energoumene), do verbo ενεργεω (energeo): “1) ser eficaz, atuar, produzir ou mostrar poder; 1a) trabalhar para alguém, ajudar alguém; 2) efetuar; 3) exibir a atividade de alguém, mostrar-se operativo” (Léxico de Strongs).

Segundo Fritz Rienecker & Cleon Rogers, o fato desse particípio estar na voz média é indicativo de “demonstrar atividade, trabalhar, operar efetivamente” (Chave Linguística do Novo Testamento Grego, São Paulo: Vida Nova, 1995, p. 381). A voz média é uma voz referencial, e sempre tem o sujeito como referência da ação, haja vista que a ação é para ele, tendo ele em vista, ou a partir dele mesmo (média intensiva). Portanto, somente quando atua através do amor é que a fé se faz eficaz, produtiva, operativa. Essa é a natureza da fé verdadeira.

Logo, a fé verdadeira, em condições difíceis, de tribulação, de provação, em cumprimento ao mandamento do Senhor, que equivale a demonstrar amor por Ele, procura com toda a diligência e paciência adquirir conhecimento, instrução, de forma que resulte um bem permanente, o aperfeiçoamento moral, sendo a correção divina a ocasião propícia para esse crescimento. Sendo assim, embora seja almejada a saída da situação de provação, ela não é almejada sem que a sua finalidade seja alcançada, pois a obediência ao mandamento de Deus requer isso.

A “fé neopentecostal” destoa, claramente, da fé bíblica conforme acima exposta. Toda e qualquer tribulação é vista como tendo origem diabólica, e os mestres neopentecostais ensinam os seus discípulos a desejarem, acima de tudo, a libertação imediata da tribulação. Quanto mais rápida for a saída, segundo concebem, de uma situação adversa, tanto mais forte é a fé do “vencedor”. Não há lugar para o aprendizado, para a dimensão da disciplina que a caracteriza como instrução, como formação do caráter. A mente é estimulada a vislumbrar a “vitória” sobre a tribulação, pura e simplesmente, mesmo ao custo de nenhum aprendizado, de nenhum aperfeiçoamento moral (pelo padrão da Lei do Senhor).

O crente neopentecostal deve, pois, “determinar” a cessação da tribulação, “revoltando-se” contra ela, haja vista ser ela uma inflição maligna de dor já abolida por Cristo na cruz do calvário. A fé do “fiel” dessa orientação religiosa é caracterizada por uma batalha contra o diabo, e não por uma submissão amorosa ao Deus soberano.

Homem e mulher de fé, na visão neopentecostalista, são aqueles que “vencem” as tribulações, e derrotam o diabo. A resignação paciente é vista como incredulidade e desobediência à Palavra de Deus, haja vista que imaginam que um Deus amoroso jamais trará qualquer tipo de dor ou sofrimento sobre um de seus filhos.

Mas, como vimos, a disciplina, que implica em dor e aprendizado, vem do Senhor, pois nos é ordenado: “Filho meu, não menosprezes a correção que vem do Senhor…” (… υιε μου μη ολιγωρει παιδειας κυριου…). O diabo pode ser até usado como instrumento da disciplina e do sofrimento que vem em seu bojo, mas, em última instância, ela vem do Senhor, o Soberano. Além do mais, a correção é prova do amor de Deus e de sua paternidade: “É para disciplina que perseverais (Deus vos trata como filhos); pois que filho há que o pai não corrige? Mas, se estais sem correção, de que todos se têm tornado participantes, logo, sois bastardos e não filhos” (Hebreus 12:7-8 RA).
O autor aos Hebreus afirma que é justamente porque Deus trata o cristão verdadeiro como filho que ele o corrige. Além do mais, esse escritor afiança “… que todos se têm tornado participantes…” da correção (παιδεια, disciplina), e aqueles que não têm se tornado participantes dela, ou seja, aqueles que estão sem correção, são bastardos e não filhos. Mas os neopentecostais veem as angústias da correção como obra diabólica, e não divina.

Escrevendo aos crentes de Roma, Paulo consignou: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8:28 RA). “Sabemos”, οιδαμεν (oidamen), é o perfeito ativo do indicativo de οιδα, que por sua vez é o perfeito do obsoleto (não usado no presente) ειδω (eido) (Harold K. Moulton, Léxico Grego Analítico, São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 294). Moulton ensina que “Em um considerável número de verbos, o perfeito é usado com uma significação estrita de presente. A explicação desse uso deriva-se simplesmente da idéia completa dada pelo tempo perfeito…” (op. cit., p. xlix).

Mas o que quero enfatizar é o significado do verbo, que, segundo Strongs, se traduz como “1) ver: 1a) perceber com os olhos; 1b) perceber por algum dos sentidos; 1c) perceber, notar, discernir, descobrir; 1d) ver; 1d1) i.e. voltar os olhos, a mente, a atenção a algo; 1d2) prestar atenção, observar 1d3) tratar algo 1d31) i.e. determinar o que deve ser feito a respeito de 1d4) inspecionar, examinar; 1d5) olhar para, ver; 1e) experimentar algum estado ou condição; 1f) ver i.e. ter uma intrevista com, visitar”, e como 2) conhecer: 2a) saber a respeito de tudo; 2b) saber, i.e. adquirir conhecimento de, entender, perceber; 2b1) a respeito de qualquer fato; 2b2) a força e significado de algo que tem sentido definido; 2b3) saber como, ter a habilidade de; 2c) ter consideração por alguém, estimar, prestar atênção a (#1Ts 5.12)”.

Então, para Paulo, os que foram chamados por Deus, os seus eleitos, sabem, adquirem o conhecimento, entendem, percebem, conhecem a força e o significado de que todas as coisas contibuem para o seu bem. É uma convicção, firmemente estabelecida na Palavra de Deus que lhes dá esse entendimento. Isso é o que a Escritura chama de fé. E esses tais que foram chamados por Deus são os mesmos que o amam, pois “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”.

Mas, com qual propósito Deus chama seus eleitos? Paulo responde, no mesmo contexto: “Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Romanos 8:29 RA). O propósito de Deus em chamar seus eleitos, aqueles que Ele predestinou, é fazer deles “… conformes à imagem de seu Filho”, ou seja, é fazê-los semelhantes a Jesus Cristo. Esse é o bem para o qual todas as coisas cooperam (concorrem).

Mas, no contexto, o que são “todas as coisas”? Um pouco à frente o apóstolo indaga: “Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada” (Romanos 8:35)? Um pouco antes, Paulo escrevera:

“Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós. A ardente expectativa da criação aguarda a revelação dos filhos de Deus. Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos” (Romanos 8:18-25 ).

Portanto, fundamentalmente o apóstolo tinha em mente por “todas as coisas” “…os sofrimentos do tempo presente…”, pois, como disse ele “… nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo…”. Então, completa dizendo: “Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos”. Fé, esperança e paciência se unem nesse contexto, de modo que “todas as coisas”, que, como vimos, fundamentalmente são os sofrimentos, as tribulações, as angústias, concorram para o processo de assemelhação dos cristãos à pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Tudo isso está de acordo com o pensamento do autor aos Hebreus, demonstrando a unidade doutrinária e teológica da Escritura. A fé tem como objeto o próprio Deus, que nós o conhecemos pela sua Palavra, em especial pela sua Palavra encarnada, Jesus Cristo.

Como todas as coisas cooperam para o bem, para o crescimento em Jesus Cristo, para a assemelhação com ele, e isso todo cristão deve saber, entender, ter convicção, segue-se que com paciência espera o fruto da obra do Espírito em torná-lo semelhante ao Mestre. Isto quer dizer que o cristão se aplica em compreender a obra de Deus em sua vida através desses sofrimentos, dessas aflições, dessas angústias, de modo que ao invés de desanimar por causa delas ele afirme como Paulo: “… nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz perseverança; e a perseverança, experiência; e a experiência, esperança. Ora, a esperança não confunde, porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Romanos 5:3-5 ). Tribulação e amor de Deus estão sempre vinculadas. O cristão se gloria nelas porque sabe que elas são fruto do amor de Deus, que está derramado em seu coração pelo Espírito Santo.

O cristão, então, demonstrando amor por seu Pai, por Deus, segue o exemplo daquele com quem deve ser assemelhado através das tribulações, Jesus Cristo, o qual “embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu” (Hebreus 5:8 ). Não são as próprias tribulações que assemelham o crente à Jesus Cristo, mas a Palavra e o Espírito de Deus, que operam a obediência no meio sofrimento, assim como fez Jesus. As tribulações são as ocasiões nas quais Deus opera a mudança no caráter do cristão, através da Palavra e do Espírito.

Então, quando o cristão pacientemente se porta na tribulação, aguaradando a hora de Deus por um fim nela, que deve ser quando Ele julgar que houve o fruto para o qual a correção foi infligida, a assemelhação à Jesus Cristo, demonstra amor a Deus que paternalmente lhe disciplina, levando-o a um estado espiritual mais elevado do que antes. Para alcançar esse estado, o cristão age pela fé que atua pelo amor.
Tudo isso é muito distinto do que os neopentecostais chamam de fé, uma fé revoltosa, que não suporta a provação, que não tira dela ensinamento e crescimento espiritual que os leve a cada vez mais ficarem parecidos com Jesus Cristo. Com isso demonstram ódio por Deus, ao se revoltarem com toda e qualquer aflição, imputando ao diabo a origem do sofrimento deles. Fé falsa e ímpia, morta, sem nenhum fruto, mormente aquele do amor a Deus, pois a pregação neopentescotal estimula os seus ouvintes a desobedecerem o mandamento de Deus. E uma fé que leva à desobediência, que é demonstração de ódio a Deus, conforme a Escritura, não é fé verdadeira, pois a fé sem obras é morta, a fé sem amor é uma inutilidade: “… ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei” (1 Coríntios 13:2 ).

Mas também a fé neopentecostal se mostra falsa, morta e inoperante na dimensão horizontal do amor, do amor recíproco entre irmãos, e para com o próximo. O conceito neopentecostal de fé tem implicações práticas na vida de seus adeptos. Estar em uma situação de provação significa fraqueza e debilidade de fé. Então, quando uma pessoa nessa condição procura um pastor neopentecostal ou alguém versado na doutrina neopentecostal, ao invés de receber ajuda naquilo que precisa, é instada a se revoltar contra aquela situação, a abandonar a sua incredulidade e à exercitar fé para “vencer” aquela aflição diabólica.

Se a aflição é financeira, por exemplo, como a de uma viúva cheia de dívidas, ao invés de ser ajudada financeiramente será instada a “sacrificar” o pouco que tem, ou que não tem, como demonstração de fé, a fim de que seja honrada por Deus por causa dessa sua fé. Ouvirá que Deus lhe quer livrar daquele estado de humilhação, que o diabo está levando vantagem sobre ela, etc. O que ela não receberá é ajuda financeira, pois a fé neopentecostal não promove o amor, a caridade, a não ser para fins egoísticos, para fins de política eclesiástica, para a promoção das igrejas desse tipo de orientação religosa.

As coisas ocorrem assim porque os neopentecostais estão impregnados com a doutrina da recompensa, pois doam sempre esperando receber algo em troca. Doam o dízimo para serem abençoados financeiramente. Doam ofertas pelo mesmo motivo. O amor não é o fundamento da doação deles, não é a motivação última e mais sublime.
Contudo, Tiago escreveu que “A religião pura e sem mácula, para com o nosso Deus e Pai, é esta: visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações e a si mesmo guardar-se incontaminado do mundo” (Tiago 1:27 RA). Por visitar Tiago não tinha em mente, certamente, apenas levar palavras de conforto, e muito menos de repreensão, no sentido de se afirmar que os órfãos e as viúvas estão naquela situação por falta de fé. Ele tinha em mente que a religião verdadeira consiste em ajudar os necessitados da igreja, em suas tribulações, que no caso de órfãos e viúvas, em função do contexto do tempo do escritor bíblico, eram angútias principalmente ligadas ao sustento, ao comer e ao vestir. A religião pura e sem mácula, segundo a Palavra infalível de Deus, consiste na assistência real a esses necessitados.
Isso é absolutamente certo, haja vista que foi o mesmo Tiago quem disse o que acima já transcrevi: “Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? Assim, também a fé, se não tiver obras, por si só está morta” (Tiago 2:14-17 ).

Logo, o que a fé neopentecostal promove é a avareza, e não o amor, a caridade. Todo aquele discurso de instar o necessitado à fé, a que se revolte contra a situação difícil em que se encontra sem, contudo, meter a mão no bolso para ajudá-lo não passa de falsa piedade, de religiosidade enganosa e diabólica. É corolário lógico da pregação neopentecostal que ajudar alguém em situação difícil, causada pelo diabo, é a mesma coisa que perpetuar o necessitado no laço diabólico. Destarte, o crente dessa fé jamais será incentivado à caridade sem que isso viole as suas convicções mais íntimas, mais profundas. A doutrina neopentencostal, portanto, é uma mina que explode e destrói a piedade cristã, o amor bíblico e a fé verdadeira. O neopentecostalismo é, assim, uma “religião impura e maculada, para com o nosso Deus e Pai”. Medida pelo padrão da Escritura, é uma falsa religião.

Seus mestres, por serem profetas de uma falsa religião, são falsos profetas, cegos guias de cegos. Contudo, seus seguidores não são menos culpados do que eles, haja vista que se cercaram deles porque lhes dão o que as suas concupiscências desejam. Não ouvem a advertência de Jesus: “Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. Pelos seus frutos os conhecereis…” (Mateus 7:15-16 ). E Jesus advertiu o povo a se acautelar dos falsos profetas porque o destino deles é o inferno, e, como também falou o Mestre, “… se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco” (Mateus 15:14 ). Com isso Jesus quis dizer que o destino do discípulo é o mesmo do mestre, o destino do seguidor do falso profeta é o mesmo dele, o lago de fogo e enxofre.

Diante de tudo isso, advirto aos seguidores desses falsos profetas que se arrependam, que abram os seus olhos, e que julguem a sua religiosidade pelo paradigma da Escritura Sagrada. Como disse Jesus, “… arrependei-vos e crede no evangelho” (Marcos 1:15). E como também disse o Espírito de Cristo, pelo profeta Jeremias, “Saí do meio dela, ó povo meu, e salve cada um a sua vida do brasume da ira do SENHOR” (Jeremias 51:45).

Que o Senhor Deus conceda o verdadeiro arrependimento e a verdadeira fé a muitos dos que agora estão enganados!

O “Deus domesticado” dos Neopentecostais

O que estamos presenciando em certas “igrejas” é um evangelho onde Deus é ensinado a fazer as nossas vontades. Ou falando de outra forma, a igreja tem ensinado seus membros a reconhecerem que Deus quer e vai fazer as suas vontades. Os líderes eclesiásticos estão apresentando um deus que pode ser moldado aos diferentes problemas da vida, e com um detalhe animador: para cada problema, há uma solução! Por isso, os pregadores evangélicos não medem esforços para trazerem o máximo de pessoas às suas igrejas, prometendo um deus que pode, perfeitamente, resolver qualquer problema da vida: seja enfermidade, seja financeiro, seja na vida amorosa, sentimental… Não há nada mais confortador do que isso: que Deus vive para mim e para resolver meus problemas. Fazendo um jogo de palavras do Catecismo Maior de Westminster, temos a seguinte realidade: “Qual é o fim supremo e principal de Deus? Resposta. O fim supremo e principal de Deus é glorificar ao Homem e gozá-lo para sempre.”

Que tipo de transformação é operada nos corações dos evangélicos? Nenhuma! Por que é o homem que tem que ser transformado? Afinal de contas, Deus me aceita do jeito que sou, não é mesmo? E por isso mesmo, é Deus quem se transforma para ser acomodado às circunstâncias da vida de cada um. A única transformação operada é no status do homem: é só dar alguns R$ 1.000,00 para a igreja que já tenho direito a uma bênção! É só participar de algumas “campanhas financeiras” que a minha empresa irá prosperar! É só dar uns R$ 900 para ganhar uma bíblia (que custa uns 30 reais em algumas livrarias evangélicas) e minha vida já será transformada! É só dar o trízimo (dízimo para cada pessoa da trindade) que minha vida será recompensada! Simples assim!!!

Mais tem também uma mudança na saúde e na vida amorosa. Basta participar de algumas correntes (e levar alguns bons trocados no bolso), que aquele meu amor platônico será finalmente meu, ou que aquele vizinho que botou mau-olhado pra mim será castigado, ou que aquela doença incurável deixará de existir no meu corpo… Enfim, é uma infinidade de milagres que o deus domesticado irá operar na vida de todo aquele que se mostrar generoso ($$$$$) para com a igreja, ou para que algum programa de televisão se mantenha no ar.

Francamente, estou enojado desse evangelho farrapado, minúsculo e mesquinho pregado nessas igrejas neopentecostais, apresentando um evangelho fácil, que não exige sacrifício do homem, que não exige transformação de vida, que não exige o abandono do pecado, que não exige temor e reverência da parte do homem para com Deus.

Todos esses profetas de Baal, ministros de Satanás receberão as devidas recompensas pelos atos praticados soberbamente e egoisticamente. A parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre (Ap 21.8). Não tenho dúvidas de que muitos desses falsos profetas serão desconsiderados por Deus no último dia: “Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas? E então lhes direi abertamente: Nunca vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniqüidade” (Mt 7.22,23).

Não é Deus que tem que ser domesticado, e sim o homem. É o homem que tem que aprender a fazer a vontade de Deus, a ser educado nos princípios e mandamento de Deus. É o homem que tem que ser submisso à vontade de Deus. Submissão essa que não considera nada em troca, senão unicamente a condição de dependência do homem a Deus. O homem precisar ser ensinado a reconhecer a sua condição de miséria por causa do pecado. O homem precisa aprender a chorar pelo seu pecado, a lamentar sua depravação, a morrer para os prazeres do mundo, da carne e do pecado e a reconhecer a soberania divina sobre a sua vida. O homem precisar ser ensinado a viver uma vida de acordo com os princípios bíblicos de santidade e pureza, olhando sempre para o alto, onde o seu coração deve repousar.

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