quinta-feira, 17 de março de 2011

Quantos já tiveram de fazer isso?

Reverendíssimo Pe. xxx, Pároco da Paróquia xxxxx:


Comunicação da saída. Comunico-lhe, por esta, a nossa saída da Pastoral do xxxx da Comunidade xxxxx . Já há tempo em que a xxx e xxxx fazem um estágio conosco e nos auxiliam, e já estão procurando engajar-se em curso de capacitação para essa função, pelo que pude me informar, e a Pastoral do xxx dará continuidade ao seu serviço por meio dessas e outras pessoas.

Depois de muito pensarmos, chegamos à conclusão de que nossa saída era melhor do que nossa permanência por uma série de motivos, que expomos abaixo.

Impossibilidade de nossa presença na maioria das reuniões, cursos, eventos, etc. (devido aos nossos horários de trabalho). Só nos resta o domingo.

Força dos argumentos x argumento da força. Não nos sentimos capazes de lidar com divergências entre linhas de pensamento e ação sem a mediação de uma autoridade acima das partes divergentes (entre comunidades, pastorais e até dentro da mesma pastoral) pois acaba prevalecendo o que impuserem pessoas de prestígio ou quem saiba manipular melhor as dinâmicas de persuasão e poder, não importando se o que prevalece (com a concordância ou a omissão da “tirania da maioria”) esteja em conformidade com as regras da Igreja ou mesmo com o bom senso. Não há espaço para a força dos argumentos e o argumento da força é frequentemente usado. Sem uma mediação, acordos ficam difíceis e certos grupos ou pessoas acabam dominando o espaço coletivo. Isso fica muito claro nos CPCs. Esse modelo não funciona bem.
Gostaria de ver o conselho como “conselho” , órgão consultivo, de uma diversidade de pontos de vista (como a Regra Beneditina), e não como órgão decisório e deliberativo (=Padre). A decisão final não pode simplesmente derivar de uma síntese ou até de uma síncrese, mas de algo independente de gostos e razões pessoais para o bem da Igreja. Creio que o Padre é o melhor decisor e mediador de conflitos para o afastamento e a neutralização de atitudes daninhas, ouvindo as vozes e as visões de pessoas que têm contato mais próximo com a realidade debatida para fundamentar melhor suas determinações.

Vida comunitária submetida a eventos de outras comunidades (ora, só os sacramentos não podem ser simultâneos porque o Padre não pode estar em 2 lugares ao mesmo tempo). Há a presença de grupos hegemônicos uniformizadores e massificadores, sem consideração pela diversidade comunitária (os quais, inclusive, acabam impondo uma Missa muito agitada e ruidosa através dos músicos e cantores) apesar de dever haver uma unidade paroquial em torno de certas atividades. Com isso, pouco se ousa em nossa Capela no domingo, que fica vazia e de portas fechadas porque “há algo acontecendo em outras comunidades” (não separam eventos paroquiais de eventos comunitários – eventos comunitários podem coincidir entre si, mas não com eventos paroquiais, a meu ver), empobrecendo nossa vida comunitária e espantando a criatividade e a iniciativa.

Esvaziamento espiritual + caixa de ressonância filo-marxista da “teologia da libertação” (socialismo/comunismo) – isso , uma regra quase geral no Brasil, afastando os fiéis da Igreja e atraindo pessoas de perfil ativista ou sindicalista, principalmente pelo material de catequese (evangelização) por parte da Arquidiocese. A comunidade não atende às necessidades espirituais (acaba num ativismo esvaziado de conteúdo espiritual). Obras ambiciosas de construção são a prioridade quase exclusiva, e o mesmo cuidado com a parte espiritual, ao lado das obras de misericórdia, a razão de ser da Igreja, não está sendo tomado. Gostaria de ver a reintrodução da devoção e da oração profunda para não haver espiritualidade superficial “desencarnada” nem pessoas espiritualmente em crise (fugindo para outras religiões ou engajando-se em práticas mundanas hedonistas). Protesto por uma catequese até a idade adulta (para não haver abandono da identidade católica) ao invés de uma evangelização sem os ensinamentos da Igreja. Isso se vê até nos cursos e eventos de formação de catequistas, nos quais mais se ensinam dinâmicas, e se despreza o bom ensinamento da Igreja, relativizando-o. Lamento, também, a burocratização do sacerdócio (por parte dos bispos) na administração atual da Igreja, que provoca o afastamento do sacerdote de sua missão catequética (contra sua vontade) e a consequente deformação e enfraquecimento espiritual dos fiéis. E os leigos, sem o respaldo do sacerdote, não têm o poder de influenciar nem de mobilizar os outros leigos em prol de algo diferente dos modismos que sacodem a Igreja.

“Espiritualidade ecumênica”. Fiquei espantado com essa determinação da Arquidiocese sobre o perfil do catequista: “ter espiritualidade ecumênica”. O catequista deve ensinar a fé católica, não a religião “ecumênica”. Na prática, o ecumenismo só faz confusões de conceitos nas mentes dos católicos e provoca uma evasão de fiéis para outras religiões, já que o ecumenismo nos põe, católicos, na condição de ouvintes de ataques à Igreja e nos manda calar a boca para não “ofendermos os irmãos separados”. Bíblia sem catecismo é abandono da identidade católica, desprezo pelos sacramentos, pela devoção e oração. O ecumenismo é a melhor propaganda para as igrejas protestantes.

Uma sociedade desagregada. A desconfiança, o medo, a desunião e a falta de unidade entre os católicos por causa de vários movimentos divergentes (tradicionais, libertários, “carismáticos”, liberais, etc.) dificultam uma aproximação entre as pessoas e sua articulação para a atuação na vida espiritual na Igreja.
Chego à conclusão que, quem não concorda com o modo de funcionar das pastorais, precisa contentar-se com a oração individual, a catequese de si próprio, a freqüência silenciosa e constante aos sacramentos, a obediência fiel aos ensinamentos consagrados da Santa Madre Igreja e a contribuição de seu dízimo.
Tentarei cumprir esse papel com a melhor fidelidade possível, incapaz de contribuir com algo mais.

Mantenho e expresso a minha admiração, obediência e respeito por Vossa Reverendíssima, que sempre foi um exemplo de boas intenções, de entusiasmo por seu sacerdócio, de terno e sábio acolhimento de todos os que o procuram em busca de aconselhamento ou de uma palavra misericordiosa.

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