quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Sobre as palavras torpes e obscenas.

Raphael de la Trinité

‘A LÍNGUA FALA DA ABUNDÂNCIA DO CORAÇÃO’ – EXCERTOS PARA ANÁLISE

Livro do Eclesiástico (cap. 28): "As chicotadas produzem vergões, mas os golpes da língua quebram os ossos... Faze uma porta e fechadura diante da tua boca: Funde o teu ouro e a tua prata e faze com isso uma balança para pesares as tuas palavras e um freio bem ajustado para a tua boca".

"Ouvi, filhos, as regras que vos dou sobre a moderação da língua: aquele que as guardar não perecerá pelos lábios, nem cairá em ações criminosas" (Ecli., 23,7)

"Que as palavras desonestas sejam banidas da vossa boca". (Col. 3-8)

São Tiago: “Observai como uma faísca é capaz de incendiar uma floresta inteira. Ora, a língua, também é um fogo. Como um mundo de injustiça, a língua, instalada entre nossos membros, contamina o corpo inteiro e, alimentada pelo fogo do inferno, inflama o curso da existência”. (Tiago 3, 6-7).

Santo Inácio, mártir, no meio dos seus suplícios, repetia sem cessar o nome de Jesus, e, quando morreu, encontraram este nome bendito gravado no seu coração. Assim, cada um fala voluntariamente daquilo que mais ama: "tal é o coração, tais são as palavras" (São João Crisóstomo). Um modelo acabado de verdadeiro religioso, "Santo Inácio de Loiola, parecia só saber falar de Deus, de tal modo que o tinham cognominado de 'o padre que não tem na boca senão a Deus'" (Santo Afonso Maria de Ligório).

*** * ***

Sobre palavras torpes e indecentes (Padre Manuel Bernardes)

"Se lhe apresentassem à mesa o pão ou qualquer outro manjar, em um prato ou vaso que houvesse servido em coisas que não são para nomear, quanto se indignaria contra o seu criado, por esta grosseria e desatenção! E quem duvida que muito mais repreensível é que a língua de um fiel, que serve de patena ao verdadeiro corpo de Cristo quando comunga, sirva de instrumento a palavras torpes e indecentes? (p. 530)

Quem usa de semelhante linguagem, por mais que se desculpe, dizendo que lhe não entra da boca para dentro, e que é só para rir e passar o tempo, o que dá é claro indício de que o seu interior está corrupto. Porque,oráculo é de Cristo Senhor nosso que a boca fala conforme o de que abunda o coração: Ex abundantia enim cordis os loquitur; e outra vez disse: Que do coração saem os maus pensamentos; e claro é que o que vem à língua, primeiro esteve no pensamento; e ainda Sêneca assentou que o modo com que cada qual fala é o translado ou cópia do seu espírito: Imago mentis sermo est; qualis vir, talis oratio... Logo, quem é acostumado a falar descomposturas, com que verdade afirma que lhe não entram no coração? E se até os sonhos de um adormecido e os delírios de um frenético são ordinariamente das coisas a que a natureza estava acostumada, quanto mais se conhecerá o nosso interior pelas palavras que proferimos, estando em nosso siso e liberdade? (p. 530/531)

Escreve Estrabão que há na Índia um gênero de serpentes com asas como de pergaminho, que, voando de noite, sacodem uns pingos de suor tão pestífero que onde caem causam corrupção. Tais me parecem os que entre conversação soltam palavras e chistes descompostos; que são estes, senão pingos de suor asquerosíssimo, que onde caem geram maus pensamentos e corrompem os costumes dos ouvintes? E se estes são gentes de tenra idade, a corrupção é mais pronta e mais certa, porque meninos são tábuas rasas onde o bem e o mal se pintam facilmente; pelo que mais respeito se deve ter a um menino, para não falar ruins palavras em sua presença, do que a homens de cãs veneráveis, porque estes sabem conhecer e reprovar o mal e aqueles não; neste caso ficará quem falou mal, temeroso de achar repreensão, naquele outro ficará contente de achar imitadores. (Tratado da Virtude da castidade – Padre Manuel Bernardes - II – p. 532.)

"Primeiramente, a matéria das nossas palavras há de ser plana, onde não ache tropeços a consciência, e limpa, onde não haja sombras e manchas contra a pureza do coração. Ó grande engano o nosso! Nós não queremos falar coisas boas, e queremos falar bem?" O valor do silêncio (Padre Manuel Bernardes)

"Sejamos circunspectos antes de falar, e não profiramos uma só palavra sem primeiro a ter pesado, conforme este belo dito de Santo Agostinho: "omnia verba prius veniant ad limam quam ad linguam;" o que não acontece com os que, falando sempre precipitadamente, começam de atirar suas escumas, em vez de chorar o mal irreparável que elas causam. É a necessidade que sente o padre santo, em si mesmo, de dar bom exemplo a todo o mundo por suas conversas, que o leva a regular de tal modo sua língua, que não deixa nunca escapar voluntariamente um só palavra que ofenda o decoro ou uma qualquer virtude, impondo-se pelo cortejo de virtudes, que o acompanha sempre por toda a parte, onde se encontra!" (O Padre e o bom exemplo, Padre. A.A. Moraes Junior).

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OBJEÇÕES:

- "Para este gênero de conversações, a consciência já está formada".
Formada ou deformada?

- "Não podemos, contudo, trazer sempre algodão nos ouvidos".
“Não ter algodão nos ouvidos” quereria dizer alforria para provocar ou alimentar conversações picantes?

- "Com certeza, hão de tachar-me de carola".

Evangelho de São Mateus “Aquele que se envergonhar de Mim diante dos homens, Eu também me envergonharei dele diante do Meu Pai” (10, 33).
Deus há de chamar-lo corajoso. Esse é o soberano juízo.

- "Que pensarão de mim"?
Hão de admirá-lo.

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A quem se pede um conselho sério? Ao amigo de farras, emulação no vício ou na pândega? Isso jamais ocorrerá a ninguém com um mínimo de bom senso.

Só pode gozar de credibilidade e juízo quem pratica a temperança verbal. Ao parecer deste, justo e desassombrado, fazendo-se necessário, saberemos recorrer.

Todo ser humano, antes da estima, busca respeito. Ora, só infunde respeito quem demonstra ter juízo. Isso se revela por todo o seu comportamento, mormente pelas palavras.

Eclesiástico XIX, 27: "A veste do corpo, o riso dos dentes e o andar do homem, dão a conhecer o que ele é".

Se alguém não peca por palavras, é um homem perfeito, diz São Tiago.

Não se conhecem textos na Sagrada Escritura que nos recomendem a melancolia; são muitos, porém, os que nos recomendam a amabilidade e a alegria.

"Fala, pois, muitas vezes de Deus e experimentarás o que se diz de São Francisco — que, quando pronunciava o nome do Senhor, sentia a alma inundada de consolações tão abundantes que até sua língua e seus lábios se enchiam de doçura".

"Regozijai-vos no Senhor, sem cessar: regozijai-vos em alegria". (II Cor. 13-11).

"Andai sempre alegres". (I Tes. 5-16)

"Vosso coração se alegrará e ninguém arrebatará a vossa alegria... Que a vossa alegria seja perfeita". (Jo. 16-22)

"Bem-aventurados os puros" (Ps. 118)

domingo, 23 de novembro de 2014

19 . O DOM DAS LÍNGUAS

PERGUNTA: Nas reuniões dos "crentes", sobretudo Pentecostais, manifesta-se freqüentemente o dom das línguas, considerado por eles como presença do Espírito Santo e confirmação de veracidade da seita. O que diz a Bíblia?

RESPOSTA : 1) É verdade que a manifestação das línguas e de outros carismas, é na Bíblia chamado simplesmente: "descida do Espírito Santo". (At 2,4-6; 8,15-19; ,10,44-48). Porém nestes acontecimentos tratava-se sempre de comunidades unidas e obedientes aos Apóstolos. E aqueles que receberam os dons extraordinários do Espírito Santo, aceitaram também os sacramentos iniciais, de batismo e crisma ("impondo-lhes as mãos").

2) Em I Cor cap. 12, São Paulo fala de diferentes dons, ministérios, operações, dispensados pelo mesmo Deus: acrescentando: "para que redundem em vantagem comum".
Em seguida São Paulo revela o belo mistério do Corpo místico de Cristo, composto de diferentes membros, que solidamente compartilham os sofrimentos e alegrias, e colaboram para o bem do corpo inteiro. Neste Corpo de Cristo - a sua Igreja - São Paulo apresenta também uma hierarquia de valores (vers. 28): "primeiro apóstolos, segundo profetas, terceiro doutores, depois os que possuem o dom de milagres,... (e no fim) o dom de falar diversas línguas."

Conclusões :

a ) Tudo o que foi dito acima, pela Palavra de Deus, verifica-se perfeitamente na maioria dos grupos de renovação carismática católica. - unidos e obedientes aos legítimos sucessores dos Apóstolos.

b ) Logicamente é impossível admitir que também os "carismáticos" de milhares de seitas protestantes, - que se separaram, e freqüentemente odeiam e combatem o verdadeiro Corpo místico de Cristo, a Igreja Católica Apostólica Romana, - possam ser inspirados pelo Espírito Santo, prometido po Jesus aos Apóstolos e seus sucessores. (Jo 16,13). O Espírito Santo não pode ser dividido e combater a si mesmo! Por isso, "as inspirações proféticas e o dom das línguas" na várias seitas, vêm provavelmente por meios parapsicológicos, como acontece também nas sessões espíritas.

c ) Admite-se ainda a possibilidade, de que o Espírito Santo poderia também em várias seitas inspirar alguns carismáticos bem intencionados, que na sua ignorância desconhecem a Bíblia e não dão conta do grande mal da divisão e separação do único Corpo místico de Cristo. Nestes casos as inspirações do Espírito Santo teriam a finalidade de resguardar também nestas comunidades alguns autênticos valores do Evangelho, e as preparar para a reunião com a única Igreja de Cristo.

d ) Porém, todos os carismáticos têm obrigação de respeitar as regras expostas por São Paulo (e inspirados pelo Espírito Santo) em I Cor 14,19 e 27-28: "Na assembléia, eu prefiro dizer cinco palavras com a inteligência, a fim de poder instruir também os outros, do que dez mil palavras em virtude do dom das línguas"; e a outra regra: "...se não houver quem possa interpretar (a língua desconhecida), guardem silêncio na assembléia, falando somente consigo e com Deus."

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20 . ALCOÓLATRAS E FUMANTES

PERGUNTA : Por que os alcoólatras e fumantes católicos, passando para a Igreja dos "crentes", abandonam o vício? Não é isso prova de maior força e graça de Deus nestas seitas?

RESPOSTA : Não se pode negar que tais fatos acontecem. Porém, mais freqüentemente recuperamos católicos viciados a sobriedade, quando acham apoio entre bons amigos e parentes, e sobretudo quando se associam aos Grupos "AA" (Alcoólatras Anônimos), espalhados em muitas cidades do Brasil e do mundo. Por outro lado, são conhecidos os alcoólatras, que alistando-se numa seita cristã, largaram o vício por algum tempo, e depois voltando ao mesmo, foram expulsos desta seita; e tendo vergonha de voltar à sua Igreja Católica, ficaram totalmente desamparados e desprezados.

a ) Quais são as causas do alcoolismo? Quais os meios de vencê-lo?

Os médios afirmam que algumas pessoas já nascem com a predisposição hereditária para o alcoolismo, e se não forem prevenidas e bem acompanhadas, facilmente caem no vício, sem darem-se conta disso. E o viciado é psiquicamente doente, dependente do álcool. Sente-se mal, quando não bebe. E para superar esta dependência doentia, é necessário muito força de vontade, que ele sozinho não acha. A boa Confissão e freqüente comunhão dar-lhe-iam esta ajuda, mas ele quase sempre as evita. Os grupos "AA" ele nem os conhece, ou não existem por perto. E, quando nesta situação, alguns "crente" lhe estendem a mão, mostrando-lhe amizade, respeito e esperança, então ele os aceita e colabora, e esta força psicológica conjunta, consegue vencer o vício. Repito: Não é neste caso graça divina, existente na seita, mas as forças psicológicas conjuntas, que alcançam a vitória sobre o vício. (Pois, na Igreja Católica, as fontes da graça Divina eram muito mais abundantes, mas não foram aproveitadas).
Ora, a Igreja Católica, fiel ao ensinamento da Bíblia, não pode proibir a todos o uso moderado das bebidas alcoólicas. Pois desde Noé até Jesus, o vinho (que contém álcool) misturado com água, era a bebida cotidiana destes povos. E o próprio Jesus mudou água em vinho nas bodas de Caná da Galiléia. A Igreja, porém, sempre condenou a embriagues e recomendou moderação; e aos viciados, ou propensos ao alcoolismo, recomenda, como os psicólogos, a abstinência total. O mesmo exigem também os grupos "AA", já que sem isso não há cura!

Quando, porém , apesar de todo esforço e apoio, o viciado não consegue livrar-se do alcoolismo, então a Igreja não o expulsa, mas recomenda tratá-lo com paciência, respeito e amor, como deve se tratar qualquer doente incurável. Só Deus, que conhece o íntimo do homem, tem o direito de julgá-lo. Para nós vale o preceito de Jesus: "Não julgueis e não sereis julgados; não condeneis e não sereis condenados." (Lc 6,37).

b ) A mesma atitude mantém a Igreja Católica para com os fumantes. A Bíblia não oferece nenhuma base para proibir totalmente o fumo, - como o fazem muitos seitas. Pois, até a vinda de Jesus o fumo era desconhecido. Mas, acompanhando as pesquisas científicas da medicina, a Igreja taxa o costume de fumar, sobretudo o exagero, de pecado contra o 5o. Mandamento da Lei de Deus, já que ele estraga a saúde e encurta a vida. Além disso, esbanja o dinheiro, que o cristão devia usar para finalidades mais dignas.

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21 . ESPIRITISMO E CRISTIANISMO

PERGUNTA : Pode um cristão ser espírita ou umbandista e freqüentar suas sessões?

RESPOSTA : Não !
a ) O espiritismo nega 40 verdades essenciais da doutrina cristã; ensina reencarnação; afirma a aparição dos espíritos do além, evocados pelos médiuns, e ensina muitas outras heresias opostas à doutrina cristã, negando principalmente o poder salvador de Jesus Cristo.

Falando mesmo de Santos, de caridade, de oração e boas obras, o espiritismo segue apenas as orientações se seu codificador, Allan Kardec, que (no seu livro de Médiuns, 2a. edição, pag. 336) recomenda iludir os cristãos, aceitando no começo suas convicções para depois, pouco a pouco lhas tirar.

Já o famoso escritor espiritista no Brasil, Dr. Carlos Imbassahy, escreve claramente: "Nem a Bíblia prova (para nós) coisa alguma... O espiritismo não é um ramo do cristianismo, como as demais seitas cristãs. Não assenta seus princípios nas Escrituras (Sagradas)... A nossa base é o ensino dos espíritos. Daí o nome espiritismo." (À margem do Espiritismo, pág. 219).

Daí vale para os cristãos a advertência de Jesus: "Cuidai-vos dos falsos profetas que se apresentam em pele de ovelha, mas por dentro são lobos vorazes."(Mt 7,15).

b ) O que diz a Bíblia sobre as práticas espíritas?

RESPOSTA: Lemos em Dt 18,9-14: "Não se achará no meio de ti quem pratique a adivinhação, o sortilégio, a magia, o espiritismo, a evocação dos mortos: porque todo homem que fizer tais coisas constitui uma abominação para o Senhor."

Lev 20,6-27: "Se uma pessoa recorrer aos espíritas, adivinhos, para andar atrás deles, voltarei minha face contra essa pessoa e a exterminarei do meio do meu povo." "Qualquer mulher ou homem que evocar espíritos, será punido de morte."

c ) Nas sessões espíritas, há realmente contatos com espíritos do além?

RESPOSTA : Não! Eis um de muitos exemplos. Uma senhora nascida na Argentina, mas residente, há anos, em Curitiba, narra o seguinte:
"Faz alguns anos morreu minha filha. Os espíritas me procuraram, prometendo-me que me poriam em comunicação com ela. Eu, aflitíssima como estava, aceitei e fui à sessão. Quando o chefe dos trabalhos me anunciou a presença dela, comecei, é claro, a falar em espanhol, língua essa que , em casa, nos era mais familiar. Mas para meu grande desapontamento, minha filha havia esquecido o espanhol e somente sabia falar português. Minha decepção cresceu de ponto, atingindo o clímax, quando pedi que ela me dissesse, para maior garantia de identificação, o apelido que ela tinha em casa. Até seu próprio apelido ela havia esquecido. Isto era demais. Levantei-me indignada, lançando em rosto dos responsáveis pela sessão, essa verdadeira palhaçada que estavam cometendo comigo. Em conseqüência disso, não quero nem falar em Espiritismo."

A revista norte-americana, "Womans Companion", para experimentar a veracidade ou mentira dos médiuns espíritas, inventou uma história sobre um tal soldado George Bertlett de 27 anos, falecido na invasão de Okinawa, que deixou a viúva, Bárbara, com dois filhos e 5.000 dólares.

Agora os repórteres desta revista, disfarçados, perguntaram a 20 diferentes médiuns espíritas, em nome da viúva Bárbara: O que devia fazer com os 5.000 dólares; e se devia casar-se novamente, com um funcionário do banco e ir morar em Nova York.

As respostas dos médiuns eram todas diferentes, às vezes contraditórias e fantásticas. Mas nenhum médium declarou: "Não consigo comunicar-me com o espírito de seu marido, porque este não existe, nem a inventada viúva !" - E só esta resposta teria sido a verdadeira !

Para quem quiser aprofundar o conhecimento do espiritismo, recomendamos os livros de Edvino A. Friderichs: "Onde os Espíritos baixam", "Caixinha de perguntas", "Panorama da Parapsicologia" e "Casas Mal-as-sombradas".

Para ser adquiridos em: Centro Latino-Americano de Parapsicologia, Av. Leonardo da Vinci, 2123 (Jabaquará) CEP.: 04313-002 - São Paulo, SP. Fone: (011) 577-9451, ou em: Livraria Editora Pe. Reus - Cx.P. 285 - Rua Duque de Caxias, 805 CEP.: 90010-282 - Porto
Alegre - RS.

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22 . ORIGENS DE ALGUMAS IGREJAS E SEITAS CRISTÃS

PERGUNTA : São todas as Igrejas cristãs iguais e fundadas por Cristo?

RESPOSTA : Não! Somente uma Igreja foi fundada por Cristo e confiada a Pedro e seus legítimos sucessores - os Papas (como já foi provado neste livro, na base da Bíblia). Por isso ela, desde os primeiros séculos, foi chamada Igreja Católica - quer dizer UNIVERSAL - para todos.

Todas as igrejas ou seitas cristãs têm seu fundador e a data de sua origem. Eis as datas de algumas delas:

Protestantes - Luteranos: Fundados por Martinho Lutero (1484 - 1546) na Alemanha - sacerdote agostiano - que depois se casou com uma ex-freira.

Batistas: Por John Smith, clérigo anglicano, na Inglaterra e Horlanda, no Século XVII. No Brasil desde 1871.

Presbiterianos: Por John Knox, sacerdote católico, contagiado pela doutrina de Lutero e Calvino. Na Escócia, em 1560.

Congregacionistas: Por Robert Brawne, clérigo anglicano, na Inglaterra em 1600.

Metodistas: Por John Wesley, na Inglaterra, em 1727.

Anglicanos Episcopais: Pelo rei da Inglaterra, Henrique VIII, em 1534, pelo "Aro de supremacia Régia". Obcecado pela paixão, casou-se 8 vezes, mandando executar algumas de suas ex-esposas.

Adventista : Por William Miller - Estados Unidos, em 1831. Agricultor, sem estudos, predisse algumas vezes o fim do mundo, sem efeito!

Testemunhas de Jeová: Por Charles Taze Russel, Estados Unidos, em 1874. No Canadá, em pleno Tribunal jurou conhecer a língua grega. Sendo-lhe apresentado o Novo Testamento em grego, foi convencido de perjúrio. Sua mulher divorciou-se dele em 1897, acusando-o de adultério com duas mulheres, e de maus tratos.

Igreja Apostólica: por Eurico Matos Coutinho, que chama a si mesmo de "bispo". Morava em São Paulo, Brasil.

Pentecostais e Assembléia de Deus: por pastores de cerca de 100 congregações diferentes dos Estados Unidos, em 1914.

Evangelho Quadrangular: é um ramo de Pentecostalismo, iniciado por Harold Williams, nos Estados Unidos, e promovido no Brasil desde 1940.

Congregação Cristã no Brasil: Por Luís Francescou, em 1910, em Platina - Paraná, Brasil. Depois estabeleceu-se entre os migrantes italianos em São Paulo.

Mormons ou Igreja dos Santos dos Últimos Dias: Fundação fantástica de José Smith, em 2830, nos Estados Unidos.

Observação: Aos que desejarem aprofundar a maioria das questões acima, recomenda-se o livrinho de Pe. Estevão Bettencourt, O.S.B., "15 Questões de Fé" - Editora Santuário, Cx. P. 4 - 12.570 - Aparecida - SP.


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Prezado Leitor !

Se, lendo esse livrinho, você ficou mais convencido que o Espírito Santo - o Espírito da Verdade é um só (e não dividido em 30.000 espíritos sectários e contraditórios) e que como Cristo prometeu, Ele continua atuando pelos Apóstolos e seus legítimos sucessores (apesar de seus pecados e fraquezas humanas), na Igreja Católica, a fim de reunir (e não dividir ! ) na mesma verdade e no mesmo amor, todos os homens de boa vontade, - então torne-se também seu apóstolo! Compre e ofereça esse livrinho, ou empreste, a seus parentes, amigos, vizinhos,... para que sejam mais confirmados na Fé, como ainda àquele, que já abandonou, ou está em perigo de abandonar a única verdadeira Igreja de Cristo. Reze por ele, para que o Bom Pastor o reconduza a seu Rebanho e à casa comum do Pai Celeste.

O Autor (Pe. Vicente Wrosz, SVD)

Fonte:
O Tesouro - Boa Nova - Bíblia Católica

domingo, 16 de novembro de 2014

A Bíblia contra o Protestantismo - parte 10.

14 . PURGATÓRIO

OBJEÇÃO : Os católicos acreditam na existência do purgatório, mas a bíblia não fala
dele!

RESPOSTA : É verdade que na Bíblia não se encontra a palavra "purgatório", como também não achamos nela as palavras de "sacramento da Confissão", da "Eucaristia" e do "Crisma". No entanto a Bíblia descreve situações, estados ou lugares que se identificam com a idéia de purgatório.

Em II Mac 12,43-46 lemos: "Judas, tendo feito uma coleta, mandou duas mil dracmas e prata a Jerusalém, para se oferecer um sacrifício pelo pecado. Obra bela e santa, inspirada pela crença na ressurreição... Santo e salutar pensamento de orar pelos mortos. Eis porque ele ofereceu um sacrifício expiatório pelos defuntos, para que fossem livres de seus pecados." - Ora ser livre de seus pecados, depois da morte, pelo sacrifício expiatório, indica claramente a existência do purgatório.
Alguns biblistas percebem a confirmação do purgatório nas palavras de Jesus em Mt 5,25-26: "Põe-te depressa de acordo com o teu adversário, enquanto estás ainda em caminho (da vida) com ele; a fim de que teu adversário não te entregue ao juiz, e o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares até o último centavo". É claro, que Jesus fala do justo juizo divino, depois da morte. Ora, sair desta prisão depois da morte, depois de ter pago o último centavo, (seja pelo sofrimento, seja pelas orações e expiações dos vivos) pode acontecer só no purgatório.

Outra alusão à existência do purgatório encontramos em I Cor 3,12-15: "....Aquele, cuja obra (de ouro, prata, pedras preciosas) sobre o alicerce resistir, esse receberá a sua paga, aquele, pelo contrário, cuja obra, (de madeira, feno, ou palha ), for queimada, esse há de sofrer o prejuízo; ele próprio, porém, poderá salvar-se, mas como que através do fogo." Também aqui a Tradição Apostólica entendia fogo do purgatório.

Entre testemunhas cristãs dos primeiros séculos, escreve Tertuliano: "A esposa roga pela alma de seu esposo e pede para ele refrigério, e que volte a reunir-se com ele na ressurreição; oferece sufrágios todos os dias aniversários de sua morte." ( De Monogamia, 10 ).
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15 . SANTIFICAÇÃO DO SÁBADO OU DOMINGO ?

OBJEÇÃO : A Bíblia ordena (Ex 20,8s): "Lembrem-te de santificar o dia de Sábado". Por que , então, os católicos guardam o Domingo ?

RESPOSTA: Em Mc 2,27-28 afirma Jesus : "O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso o Filho do Homem é Senhor também do sábado." Sendo, pois, Senhor do sábado, Jesus transferiu a santificação deste dia para o Domingo, o dia da Ressurreição e da vinda do Espírito Santo à Igreja da Nova e Eterna Aliança, como atesta a tradição cristã. (Mc 16,9 e At 2,1).

Provas indiretas da santificação do Domingo já no tempo dos Apóstolos achamo-las em At 20-7: "No primeiro dias da semana (domingo), estando nós reunidos para a fração do pão (santa missa), Paulo falava..."

Em I Cor 16,2: "No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte..."

No Último livro da Bíblia, no Ap 1,10 São João Evangelista já usa nova denominação cristã, "Domingo" - "Dia do Senhor", em lugar do judaico "primeiro dia da semana", ou romano "dia do sol", - testemunhando de que já naquela época os cristãos celebravam este dia, chamando-o "Dia do Senhor - Ressuscitado".

Quase todos os biblistas estão de acordo com os cientistas, de que os sete dias bíblicos da criação não eram 7 dias de 24 horas, mas 7 dias, épocas, de milhares de anos. E não existe povo ou cultura, que possa historicamente provar, qual dia da nossa semana era o 1o. dia. O "Sábado" bíblico, na língua hebraica, está relacionada com "descanso" e com sétimo dia. Daí a intenção do Autor da Bíblia era: ordenar à humanidade que trabalhasse durante seis dias e descansasse no sétimo, dedicando-o em sua honra. Por isso a Igreja Católica respeita os muçulmanos que celebram "o sétimo dia do descanso" na nossa Sexta-feira; como também os judeus que o celebram no sábado. Enquanto os cristãos, desde primeiro século, escolheram para o dia do descanso, o dia histórico de domingo, o dia da nova criação em honra do "novo Adão, Ressuscitado"- Jesus Cristo.

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16 . PAGAMENTO PELOS BATIZADOS E CASAMENTOS

OBJEÇÃO: Porque os padres católicos cobram pelos batizados, casamentos e Missas, quando lemos na Bíblia, (Mt 10,8), "Dai de graça o que de graça recebeste"?
RESPOSTA: Neste trecho de São Mateus, Jesus ordena: "Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios. Dai de graça o que de graça recebestes".

Aqui trata-se, portanto, de curas. E são exatamente alguns protestantes, que fazem propaganda ruidosa de suas "curas milagrosas", ficando com este negócio, ricos, com fazendas e apartamentos! Quando os padres católicos fazem exorcismos, bênçãos e orações pelos doentes, acompanhadas às vezes de graças extraordinárias, mas o fazem - sempre de graça!

Em muitas paróquias, onde foi introduzido o dízimo, os padres não cobram mais por ocasião de batismo, casamento ou missa de 7o. dia. Mas em muitos outros lugares as taxas constituem o principal sustento do padre e da igreja. E isto não é contrário à Bíblia que diz: "O que é catequizado na palavra, reparta de todos os bens com o que catequiza" ( Gal 6,6 ).

I Cor 9,13-14: "Não sabeis que os que trabalham no santuário, comem o que é do santuário; que os que servem o altar, têm parte do altar ? Assim ordenou também o Senhor, aos que pregam o Evangelho que vivam do Evangelho". Há outros trechos semelhantes.

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17. VALOR DOS MILAGRES

OBJEÇÃO : Os católicos acreditam que os milagres acontecem em Lourdes, Fátima, etc., e aprovados pelas Comissões Internacionais de médicos e teólogos, testemunham a veracidade da Igreja Católica. Os "crentes" não lhes dão importância.

RESPOSTA : Na Bíblia, desde a vocação de Moisés, o milagre era tido pelos homens retos, como sinal da presença de Deus, da aprovação divina duma pessoa e da missão profética a ela confiada. Somente os orgulhosos e perversos não reconheciam este sinal de Deus. Daí a Bíblia louvar os que aceitavam e se alegravam com os milagres, e reprovar os endurecidos que não os aceitavam. Vejamos alguns exemplos da correta e incorreta atitude em face de milagres.

Em Ex 4,1-9 lemos, como Deus concebeu a Moisés ostentar 3 milagres diante do povo e do Faraó, como prova de ser ele enviado por Deus.

Atitude correta : Ex 4,31: "O povo acreditou, E ao ouvirem que Javé visitava os filhos de Israel,... inclinaram-se e o adoraram."

Atitude incorreta : Ex 7,13 : "O coração do faraó continuou endurecido, e não lhe deu atenção como Javé tinha predito." ( - e continuou endurecido apesar das 10 pragas com as quais foi castigado.)

I Reis 17 e 18 : O profeta Elias ressuscita o filho da viúva; e faz que o fogo do céu devore seu sacrifício, junto com o altar.

Atitude correta (da viúva): "Agora reconheço que és um homem de Deus e que a palavra de Javé é verdadeira em tua boca."

"Todo o povo, ao ver isto, prostrou-se com o rosto na terra, exclamando: - É Javé que é Deus! É Javé que é Deus!" (e agarraram os 450 falsos profetas, e Elias os matou; então cessou o flagelo da seca e veio a chuva.)

Atitude incorreta: I Reis 19,2: "Jezabel enviou um mensageiro a Elias, para dizer-lhe: "Que os deuses me façam tal coisa e pior, se amanhã, nesta hora, eu não fizer com tua vida, o que fizeste com a deles."
Nos Evangelhos Jesus cura os cegos, leprosos, paralíticos e ressuscita mortos.

Atitude correta (Jo 3,2): Nicodemos lhe disse: "Rabi, bem sabemos que és um mestre enviado por Deus, pois, ninguém seria capaz de fazer os milagres que tu fazes, se Deus não estivesse com ele."

Lc 7,16: Depois da ressurreição do jovem de Naim: "Cheios de temor louvavam a Deus com estas palavras: "Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo".

Jo 30,33: O cego curado respondeu: "Isto é espantoso! Ele me abriu os olhos e vós não sabeis donde ele vem! Sabemos que Deus não escuta aos pecadores. Mas Deus escuta a quem o serve com piedade e cumpre a sua vontade... Se este homem (Jesus) não fosse de Deus, nada poderia fazer!"

Atitude incorreta: Jo 9,28 e24: "Então os fariseus começaram a insultar o cego curado, dizendo: "Sejas tu discípulo dele! Nós somos discípulos de Moisés. Sabemos (da Bíblia) que Deus falou a Moisés. Quanto a Jesus, não sabemos de onde vem... Tu nasceste no pecado e pretendes ensinar a nós? E o expulsaram."

Jo 11,47-53: "Os sacerdotes-chefes e os fariseus reuniram o Conselho e discutiram:
"Que faremos? Este Jesus está fazendo muitos milagres... A partir desse dia resolveram matá-lo."

Mc 3,22: (Depois que Jesus tinha feito muitas curas e expulsado demônios, diziam: ) "Ele está possesso de Beelzebul. É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios.

Na Igreja primitiva, Pedro e Paulo fizeram alguns milagres em nome de Jesus Cristo, - como narram os Atos dos Apóstolos, ( At 3,6-10; 5,12-16; 9,33-34; 9,40; 20,7-12; 28,3-6
etc.).

No nosso século XX a Igreja Católica manda com todo rigor científico examinar os milagres acontecidos em Lourdes e Fátima, pelas equipes de qualificados especialistas interconfessionais. Em Lourdes, por exemplo, de 1.200 curas milagrosas, reconhecidas como inexplicáveis por estas equipes médicas, a Comissão dos bispos aprovou apenas 65 como milagrosas. Tal é o rigor exigido pela Igreja!

Um dos poucos milagres permanentes, confirmados cientificamente, pode ser observado cada dia na Igreja de Lanciano na Itália, - onde no século VII, durante a Consagração, na Missa dum padre Basiliano, o pão e o vinho consagrados, mudaram-se visivelmente em Corpo e Sangue (de Jesus). Colocados num belo reliquiário, guardam-se frescos, sem se estragar, até hoje.

Em 1970 o bispo de Lanciano requisitou uma equipe de especialistas, de alto gabarito, para examinar estas relíquias. O veredicto era o seguinte:

"O pedaço da carne é verdadeira carne humana, tecido do miocárdio (coração), fresco, do grupo AB. Os 5 coágulos de sangue são verdadeiro sangue humano, do grupo AB, com diagrama de frescura como se fosse hoje tirado duma pessoa viva. Nota: O grupo sangüíneo AB é muito raro na sociedade em geral; mas 95 por cento dos judeus pertencem a este grupo.
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18 . FALSOS MILAGRES ?

OBJEÇÃO : Alguns "crentes" afirmam que em Mc 13,21-22 Jesus tinha predito falsos milagres, para seduzir os eleitos. Não é isso que ocorre na Igreja Católica ?

RESPOSTA : Não! examinemos atenciosamente esta profecia, quase igual em Mc 13,21-22 e em Mt 24,23-25: "Então, se vos disserem, "Vede! O Messias está aqui! ou, está ali !", não acrediteis nisso. Porque surgirão falsos messias e falsos profetas, que farão grandes prodígios e portentos, capazes de enganar os próprios eleitos, se for possível. Vede que eu já vos preveni." São Paulo, predizendo os mesmos eventos, em II Ts 2,9-10 acrescenta que também os milagres serão falsos. "Aquele ímpio (anticristo) cuja vinda, graças à influência de satanás, será acompanhada de toda a espécie de portentos, de prodígios e de prestígios mentirosos, e de toda espécie de seduções iníquas, para aqueles que hão de se perder, por não terem acolhido o amor da verdade, que os teria salvo." Disso podemos tirar as seguintes conclusões lógicas:

1a. Aqui não se trata de verdadeiros milagres, com os quais Jesus prometeu acompanhar os Apóstolos e seus verdadeiros seguidores (Mc 16,17-20), mas de milagres mentirosos, com os quais satanás ajudará os falsos profetas a seduzir aqueles que não acolhem o amor verdadeiro, para seguir os falsos messias, antes da destruição de Jerusalém, e antes do fim do mundo.

De fato, 40 anos depois da Ascensão de Jesus vieram estes falsos messias e profetas e seduziram os judeus a rebelar-se contra a dominação romana. As legiões romanas esmagaram o levante e destruíram Jerusalém, de modo que não sobrou "pedra sobre pedra", como Jesus tinha predito. Porém, os judeus convertidos ao cristianismo, foram prevenidos pelos Apóstolos, e fugiram para as montanhas, escapando desta chacina.

2a. Ninguém desconhece, quantas vezes os "Testemunhas de Jeová" e outros sectários, tinham predito a volta de Jesus para o fim do mundo, - e se desmascararam como falsos profetas dos falsos messias! E qual a seita - entre as mais de 30.000 seitas cristãs, que tem garantia de ser a única "dos eleitos", que não serão enganados? Não serão, antes, os humildes fiéis, obedientes aos Apóstolos e seus legítimos sucessores, na Igreja Católica, como foi no tempo da destruição de Jerusalém ?

3a. Enquanto os "prodígios e portentos dos falsos messias e profetas" serão destinados para seduzir os eleitos, de os seguir, - as curas benfazejas e os outros milagres dos Apóstolos e Santos da Igreja Católica têm a aprovação de Jesus que disse: (Mt 6,15-20) "Acautelai-vos dos falsos profetas... por seus frutos os reconhecereis... Não pode árvore boa dar frutos maus, nem árvore má dar frutos bons." Por isso a Igreja Católica costuma promulgar os verdadeiros milagres somente depois de muitos anos, quando foram comprovados pelos bons frutos: de conversão dos ateus e pecadores, de penitência, de vida pura, virtuosa, dedicada à caridade, etc.

Quem apesar disso teima em atribuir os verdadeiros milagres, rigorosamente comprovados e com bons frutos, ao poder de satanás, está imitando os doutores da Lei, que atribuíram os milagres de Jesus ao poder de Beelzebul, e aos quais Jesus respondeu que "esta blasfêmia contra o Espírito Santo nunca terá perdão, mas será réu de um pecado eterno." (Mc 3,28-30).

sábado, 15 de novembro de 2014

Carta a um amigo: o retrato da "tradição" hoje.

Caro Amigo:

Suas preocupações procedem. Os carismáticos gostam de usurpar qualquer liderança e de imporem o próprio jeito.

A tendência é de extinção do católico modernista para ele virar carismático, tradicional, protestante, ateu (ativista marxista/ecologista/feminista/new age da TL), espírita, budista ou macumbeiro.

Entendo a intenção de congregar o maior número possível de pessoas (eu também gostaria disso).

Essa questão dos carismáticos é um ponto delicado. É melhor mantê-los longe ou sob controle estrito. Uma das maneiras de fazê-lo é não haver cantoria e ter um roteiro estrito a ser seguido e sem intervenções individuais (por exemplo, numa "hora santa" - se deixar por conta deles, eles começam aquele falatório emocional pentecostal que ninguém aguenta!). É melhor fazer uma procissão só com reza mesmo (cronometrando o tempo médio que se gasta e vendo o tanto que se pode rezar nesse intervalo). É preciso deixar claro, principalmente para os carismáticos, que precisamos deixar as preferências individuais ou de certos grupos de lado, ater-nos ao que for essencial - já que algumas práticas de uns grupos são antipatizadas por outros, mas que o que nos une conta com a aprovação geral. Precisamos ser sinceros e claros com todos desde o início. Tomara que aceitem.

Nossos amigos tradicionais enxergam heresias até onde não há. É uma paranóia que aprenderam da Montfort. Eles não aprenderam a superar um modelo que funcionava até o tempo de Pio XII, quando éramos maioria e contávamos com o apoio do clero. Hoje em dia, o exército foi dispersado ou se rendeu, e temos que agir como células terroristas ou guerrilheiras - em pequenos, unidos mas bem organizados grupos, a menos que queiramos ser "franco-atiradores".

Oração meditativa? Nem pensar! Só padre que pode, só monge é que deve, segundo eles (falácia da autoridade). Eles não percebem que a base da santificação é esse tipo de oração. Eles acabam ficando sem recursos espirituais se continuarem assim. Já consegui perceber a falta de sabedoria e de discernimento da maioria dos nossos amigos tradicionais para coisas muito simples. Eles gostam mesmo é de discutir questões estratosféricas. Agir, que é bom, nada.

Muitos estão desanimados de tanto falar em crise na Igreja. Ao invés de se esforçarem pela melhor causa que existe (a própria santificação) e compartilharem com os outros alguma experiência que auxilie alguém, ficam apontando heresias, discutindo S. Tomás de Aquino (ao invés de aprofundar o catecismo) ou os últimos lances da novela FSSPX versus Vaticano, etc. Isso desanima mesmo. Se falassem mais A Deus do que DE Deus (como escreveu S. Teresinha), seriam mais animados e ativos (o tal contemplativo em ação dos jesuítas é isso aí). Mais uma prova de que a vida espiritual daquele pessoal está parecendo bem pobrezinha...

Realmente, essas "facções" e cismas até dentro dos grupos tradicionais me entristecem. As pessoas deixam de fazer juntas o que elas têm em comum (isso exige quase um "ecumenismo" dentro da própria Igreja!) e se desunem, enfraquecendo qualquer iniciativa. Ficam aguardando aprovação deste ou aquele padre ou bispo, da Montfort, da Opus Dei, do Olavo do Carvalho, do movimento tal ou qual, etc. Enquanto isso, o inimigo faz a farra em cima da obediência, excessivamente passiva e humana.

Rezemos por alguma luz. Desculpe a verborragia. Parabéns mais uma vez pelas iniciativas!

Grato,

Seu amigo.

domingo, 9 de novembro de 2014

A Bíblia contra o Protestantismo - parte 9.

14 . PURGATÓRIO

OBJEÇÃO : Os católicos acreditam na existência do purgatório, mas a bíblia não fala
dele!

RESPOSTA : É verdade que na Bíblia não se encontra a palavra "purgatório", como também não achamos nela as palavras de "sacramento da Confissão", da "Eucaristia" e do "Crisma". No entanto a Bíblia descreve situações, estados ou lugares que se identificam com a idéia de purgatório.

Em II Mac 12,43-46 lemos: "Judas, tendo feito uma coleta, mandou duas mil dracmas e prata a Jerusalém, para se oferecer um sacrifício pelo pecado. Obra bela e santa, inspirada pela crença na ressurreição... Santo e salutar pensamento de orar pelos mortos. Eis porque ele ofereceu um sacrifício expiatório pelos defuntos, para que fossem livres de seus pecados." - Ora ser livre de seus pecados, depois da morte, pelo sacrifício expiatório, indica claramente a existência do purgatório.
Alguns biblistas percebem a confirmação do purgatório nas palavras de Jesus em Mt 5,25-26: "Põe-te depressa de acordo com o teu adversário, enquanto estás ainda em caminho (da vida) com ele; a fim de que teu adversário não te entregue ao juiz, e o juiz ao guarda, e sejas metido na prisão. Em verdade te digo: Não sairás de lá, enquanto não pagares até o último centavo". É claro, que Jesus fala do justo juizo divino, depois da morte. Ora, sair desta prisão depois da morte, depois de ter pago o último centavo, (seja pelo sofrimento, seja pelas orações e expiações dos vivos) pode acontecer só no purgatório.

Outra alusão à existência do purgatório encontramos em I Cor 3,12-15: "....Aquele, cuja obra (de ouro, prata, pedras preciosas) sobre o alicerce resistir, esse receberá a sua paga, aquele, pelo contrário, cuja obra, (de madeira, feno, ou palha ), for queimada, esse há de sofrer o prejuízo; ele próprio, porém, poderá salvar-se, mas como que através do fogo." Também aqui a Tradição Apostólica entendia fogo do purgatório.

Entre testemunhas cristãs dos primeiros séculos, escreve Tertuliano: "A esposa roga pela alma de seu esposo e pede para ele refrigério, e que volte a reunir-se com ele na ressurreição; oferece sufrágios todos os dias aniversários de sua morte." ( De Monogamia, 10 ).
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15 . SANTIFICAÇÃO DO SÁBADO OU DOMINGO ?

OBJEÇÃO : A Bíblia ordena (Ex 20,8s): "Lembrem-te de santificar o dia de Sábado". Por que , então, os católicos guardam o Domingo ?

RESPOSTA: Em Mc 2,27-28 afirma Jesus : "O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso o Filho do Homem é Senhor também do sábado." Sendo, pois, Senhor do sábado, Jesus transferiu a santificação deste dia para o Domingo, o dia da Ressurreição e da vinda do Espírito Santo à Igreja da Nova e Eterna Aliança, como atesta a tradição cristã. (Mc 16,9 e At 2,1).

Provas indiretas da santificação do Domingo já no tempo dos Apóstolos achamo-las em At 20-7: "No primeiro dias da semana (domingo), estando nós reunidos para a fração do pão (santa missa), Paulo falava..."

Em I Cor 16,2: "No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte..."

No Último livro da Bíblia, no Ap 1,10 São João Evangelista já usa nova denominação cristã, "Domingo" - "Dia do Senhor", em lugar do judaico "primeiro dia da semana", ou romano "dia do sol", - testemunhando de que já naquela época os cristãos celebravam este dia, chamando-o "Dia do Senhor - Ressuscitado".

Quase todos os biblistas estão de acordo com os cientistas, de que os sete dias bíblicos da criação não eram 7 dias de 24 horas, mas 7 dias, épocas, de milhares de anos. E não existe povo ou cultura, que possa historicamente provar, qual dia da nossa semana era o 1o. dia. O "Sábado" bíblico, na língua hebraica, está relacionada com "descanso" e com sétimo dia. Daí a intenção do Autor da Bíblia era: ordenar à humanidade que trabalhasse durante seis dias e descansasse no sétimo, dedicando-o em sua honra. Por isso a Igreja Católica respeita os muçulmanos que celebram "o sétimo dia do descanso" na nossa Sexta-feira; como também os judeus que o celebram no sábado. Enquanto os cristãos, desde primeiro século, escolheram para o dia do descanso, o dia histórico de domingo, o dia da nova criação em honra do "novo Adão, Ressuscitado"- Jesus Cristo.

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16 . PAGAMENTO PELOS BATIZADOS E CASAMENTOS

OBJEÇÃO: Porque os padres católicos cobram pelos batizados, casamentos e Missas, quando lemos na Bíblia, (Mt 10,8), "Dai de graça o que de graça recebeste"?
RESPOSTA: Neste trecho de São Mateus, Jesus ordena: "Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expulsai os demônios. Dai de graça o que de graça recebestes".

Aqui trata-se, portanto, de curas. E são exatamente alguns protestantes, que fazem propaganda ruidosa de suas "curas milagrosas", ficando com este negócio, ricos, com fazendas e apartamentos! Quando os padres católicos fazem exorcismos, bênçãos e orações pelos doentes, acompanhadas às vezes de graças extraordinárias, mas o fazem - sempre de graça!

Em muitas paróquias, onde foi introduzido o dízimo, os padres não cobram mais por ocasião de batismo, casamento ou missa de 7o. dia. Mas em muitos outros lugares as taxas constituem o principal sustento do padre e da igreja. E isto não é contrário à Bíblia que diz: "O que é catequizado na palavra, reparta de todos os bens com o que catequiza" ( Gal 6,6 ).

I Cor 9,13-14: "Não sabeis que os que trabalham no santuário, comem o que é do santuário; que os que servem o altar, têm parte do altar ? Assim ordenou também o Senhor, aos que pregam o Evangelho que vivam do Evangelho". Há outros trechos semelhantes.

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17. VALOR DOS MILAGRES

OBJEÇÃO : Os católicos acreditam que os milagres acontecem em Lourdes, Fátima, etc., e aprovados pelas Comissões Internacionais de médicos e teólogos, testemunham a veracidade da Igreja Católica. Os "crentes" não lhes dão importância.

RESPOSTA : Na Bíblia, desde a vocação de Moisés, o milagre era tido pelos homens retos, como sinal da presença de Deus, da aprovação divina duma pessoa e da missão profética a ela confiada. Somente os orgulhosos e perversos não reconheciam este sinal de Deus. Daí a Bíblia louvar os que aceitavam e se alegravam com os milagres, e reprovar os endurecidos que não os aceitavam. Vejamos alguns exemplos da correta e incorreta atitude em face de milagres.

Em Ex 4,1-9 lemos, como Deus concebeu a Moisés ostentar 3 milagres diante do povo e do Faraó, como prova de ser ele enviado por Deus.

Atitude correta : Ex 4,31: "O povo acreditou, E ao ouvirem que Javé visitava os filhos de Israel,... inclinaram-se e o adoraram."

Atitude incorreta : Ex 7,13 : "O coração do faraó continuou endurecido, e não lhe deu atenção como Javé tinha predito." ( - e continuou endurecido apesar das 10 pragas com as quais foi castigado.)

I Reis 17 e 18 : O profeta Elias ressuscita o filho da viúva; e faz que o fogo do céu devore seu sacrifício, junto com o altar.

Atitude correta (da viúva): "Agora reconheço que és um homem de Deus e que a palavra de Javé é verdadeira em tua boca."

"Todo o povo, ao ver isto, prostrou-se com o rosto na terra, exclamando: - É Javé que é Deus! É Javé que é Deus!" (e agarraram os 450 falsos profetas, e Elias os matou; então cessou o flagelo da seca e veio a chuva.)

Atitude incorreta: I Reis 19,2: "Jezabel enviou um mensageiro a Elias, para dizer-lhe: "Que os deuses me façam tal coisa e pior, se amanhã, nesta hora, eu não fizer com tua vida, o que fizeste com a deles."
Nos Evangelhos Jesus cura os cegos, leprosos, paralíticos e ressuscita mortos.

Atitude correta (Jo 3,2): Nicodemos lhe disse: "Rabi, bem sabemos que és um mestre enviado por Deus, pois, ninguém seria capaz de fazer os milagres que tu fazes, se Deus não estivesse com ele."

Lc 7,16: Depois da ressurreição do jovem de Naim: "Cheios de temor louvavam a Deus com estas palavras: "Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo".

Jo 30,33: O cego curado respondeu: "Isto é espantoso! Ele me abriu os olhos e vós não sabeis donde ele vem! Sabemos que Deus não escuta aos pecadores. Mas Deus escuta a quem o serve com piedade e cumpre a sua vontade... Se este homem (Jesus) não fosse de Deus, nada poderia fazer!"

Atitude incorreta: Jo 9,28 e24: "Então os fariseus começaram a insultar o cego curado, dizendo: "Sejas tu discípulo dele! Nós somos discípulos de Moisés. Sabemos (da Bíblia) que Deus falou a Moisés. Quanto a Jesus, não sabemos de onde vem... Tu nasceste no pecado e pretendes ensinar a nós? E o expulsaram."

Jo 11,47-53: "Os sacerdotes-chefes e os fariseus reuniram o Conselho e discutiram:
"Que faremos? Este Jesus está fazendo muitos milagres... A partir desse dia resolveram matá-lo."

Mc 3,22: (Depois que Jesus tinha feito muitas curas e expulsado demônios, diziam: ) "Ele está possesso de Beelzebul. É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios.

Na Igreja primitiva, Pedro e Paulo fizeram alguns milagres em nome de Jesus Cristo, - como narram os Atos dos Apóstolos, ( At 3,6-10; 5,12-16; 9,33-34; 9,40; 20,7-12; 28,3-6
etc.).

No nosso século XX a Igreja Católica manda com todo rigor científico examinar os milagres acontecidos em Lourdes e Fátima, pelas equipes de qualificados especialistas interconfessionais. Em Lourdes, por exemplo, de 1.200 curas milagrosas, reconhecidas como inexplicáveis por estas equipes médicas, a Comissão dos bispos aprovou apenas 65 como milagrosas. Tal é o rigor exigido pela Igreja!

Um dos poucos milagres permanentes, confirmados cientificamente, pode ser observado cada dia na Igreja de Lanciano na Itália, - onde no século VII, durante a Consagração, na Missa dum padre Basiliano, o pão e o vinho consagrados, mudaram-se visivelmente em Corpo e Sangue (de Jesus). Colocados num belo reliquiário, guardam-se frescos, sem se estragar, até hoje.

Em 1970 o bispo de Lanciano requisitou uma equipe de especialistas, de alto gabarito, para examinar estas relíquias. O veredicto era o seguinte:

"O pedaço da carne é verdadeira carne humana, tecido do miocárdio (coração), fresco, do grupo AB. Os 5 coágulos de sangue são verdadeiro sangue humano, do grupo AB, com diagrama de frescura como se fosse hoje tirado duma pessoa viva. Nota: O grupo sangüíneo AB é muito raro na sociedade em geral; mas 95 por cento dos judeus pertencem a este grupo.
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18 . FALSOS MILAGRES ?

OBJEÇÃO : Alguns "crentes" afirmam que em Mc 13,21-22 Jesus tinha predito falsos milagres, para seduzir os eleitos. Não é isso que ocorre na Igreja Católica ?

RESPOSTA : Não! examinemos atenciosamente esta profecia, quase igual em Mc 13,21-22 e em Mt 24,23-25: "Então, se vos disserem, "Vede! O Messias está aqui! ou, está ali !", não acrediteis nisso. Porque surgirão falsos messias e falsos profetas, que farão grandes prodígios e portentos, capazes de enganar os próprios eleitos, se for possível. Vede que eu já vos preveni." São Paulo, predizendo os mesmos eventos, em II Ts 2,9-10 acrescenta que também os milagres serão falsos. "Aquele ímpio (anticristo) cuja vinda, graças à influência de satanás, será acompanhada de toda a espécie de portentos, de prodígios e de prestígios mentirosos, e de toda espécie de seduções iníquas, para aqueles que hão de se perder, por não terem acolhido o amor da verdade, que os teria salvo." Disso podemos tirar as seguintes conclusões lógicas:

1a. Aqui não se trata de verdadeiros milagres, com os quais Jesus prometeu acompanhar os Apóstolos e seus verdadeiros seguidores (Mc 16,17-20), mas de milagres mentirosos, com os quais satanás ajudará os falsos profetas a seduzir aqueles que não acolhem o amor verdadeiro, para seguir os falsos messias, antes da destruição de Jerusalém, e antes do fim do mundo.

De fato, 40 anos depois da Ascensão de Jesus vieram estes falsos messias e profetas e seduziram os judeus a rebelar-se contra a dominação romana. As legiões romanas esmagaram o levante e destruíram Jerusalém, de modo que não sobrou "pedra sobre pedra", como Jesus tinha predito. Porém, os judeus convertidos ao cristianismo, foram prevenidos pelos Apóstolos, e fugiram para as montanhas, escapando desta chacina.

2a. Ninguém desconhece, quantas vezes os "Testemunhas de Jeová" e outros sectários, tinham predito a volta de Jesus para o fim do mundo, - e se desmascararam como falsos profetas dos falsos messias! E qual a seita - entre as mais de 30.000 seitas cristãs, que tem garantia de ser a única "dos eleitos", que não serão enganados? Não serão, antes, os humildes fiéis, obedientes aos Apóstolos e seus legítimos sucessores, na Igreja Católica, como foi no tempo da destruição de Jerusalém ?

3a. Enquanto os "prodígios e portentos dos falsos messias e profetas" serão destinados para seduzir os eleitos, de os seguir, - as curas benfazejas e os outros milagres dos Apóstolos e Santos da Igreja Católica têm a aprovação de Jesus que disse: (Mt 6,15-20) "Acautelai-vos dos falsos profetas... por seus frutos os reconhecereis... Não pode árvore boa dar frutos maus, nem árvore má dar frutos bons." Por isso a Igreja Católica costuma promulgar os verdadeiros milagres somente depois de muitos anos, quando foram comprovados pelos bons frutos: de conversão dos ateus e pecadores, de penitência, de vida pura, virtuosa, dedicada à caridade, etc.

Quem apesar disso teima em atribuir os verdadeiros milagres, rigorosamente comprovados e com bons frutos, ao poder de satanás, está imitando os doutores da Lei, que atribuíram os milagres de Jesus ao poder de Beelzebul, e aos quais Jesus respondeu que "esta blasfêmia contra o Espírito Santo nunca terá perdão, mas será réu de um pecado eterno." (Mc 3,28-30).

domingo, 2 de novembro de 2014

A Bíblia contra o Protestantismo - parte 9.

12 . VIRGINDADE DE MARIA

OBJEÇÃO: Os católicos ensinam que Maria ficou sempre virgem. Porém, em vários lugares da Bíblia (por ex. Mc 3,31-32) lemos de irmãos de Jesus. Portanto Maria devia ter outros filhos, além de Jesus !

RESPOSTA : Na linguagem bíblica, "irmão" é freqüentemente usado em lugar de primo, sobrinho, tio, parente. Por ex. em Gen 13,8 Abraão diz a Ló: "Somos irmãos," - enquanto de Gen 11,27-31 consta claramente que Ló era filho de Aran - irmão de Abraão, portanto seu sobrinho.

Também Labão, em Gen 29,15 fala a Jacó: "Por seres meu irmão, servi-me de graça?"- Mas em Gen 27,43 e 29,19-11 - Labão é declarado irmão de Rebeca, mãe de Jacó, e tio dele.

b ) Os evangelistas Mateus e Marcos, (em Mt 13,55 e Mc 6,3) enumeram como "irmãos de Jesus": Tiago, José, Judas Simão: Porém, na cena da crucificação de Jesus, João Evangelista coloca debaixo da cruz: "Sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena". Enquanto Marcos acrescenta, que esta outra Maria (irmã da Mãe de Jesus) era mãe de Tiago, o Menor, e de José. Estes últimos eram portanto sobrinhos de Maria Santíssima, e primos de Jesus (Jo 19,25 e Mc 15,40). Ora, Judas (Tadeu) Apóstolo, declara-se, no início de sua carta apostólica (Jd 1,1) "Judas, servo de Jesus Cristo, e irmão de Tiago". O mesmo se dá com Simão Apóstolo.
c ) Alguns "crentes" teimam tirar uma conclusão (errado!) de que Maria - depois da concepção virginal do Salvador - tinha relações e outros filhos com José, os três seguintes textos bíblicos:

1o. Mt 1,18: "Maria, sua Mãe, estava desposada com José. Antes de coabitarem, ela concebeu por virtude do Espírito Santo". RESPOSTA: "Antes de coabitarem" significa apenas : "Antes de morarem juntos na mesma casa". Isso aconteceu, quando "José fez como o anjo do Senhor havia mandado e recebeu em sua casa sua esposa (Maria)" (Mt 1,24).

2o. Lc 2,7: "Maria deu à luz o seu filho primogênito". EXPLICAÇÃO : É errado concluir, que devia seguir o segundo ou mais filhos. A lei mosaica exige: "Consagrar-me-ás todo o primogênito (primeiro gerado) entre os israelitas, tanto homem como animal: ele é meu". (Ex 13,2). Também, quando o primogênito era filho único. Um exemplo: No Egito foi encontrada uma inscrição judaica. "Arisoné entre as dores do parto morreu, ao dar à luz seu filho primogênito."

3o. Mt 1,25: (Só em algumas traduções) "José não concebeu Maria (= não teve relações com ela) até que ela desse à luz um filho (Jesus)". EXPLICAÇÃO: Seria errado insinuar, que depois daquele "até" José devia "conhecer" Maria. "Até " na linguagem bíblica refere-se apenas ao passado. Exemplo: "Micol, filha de Saul, não teve filhos até ao dia de sua morte" (II Sm 6,23).

d ) Como fidelíssimo observador da Lei de Moisés, Jesus não podia, na hora de sua morte na cruz, confiar sua Mãe a João Apóstolo (Jo 19,26) mas devia a tê-la confiado ao filho mais idoso dela, se ela de fato os tivesse.

e ) Por isso, o Símbolo dos Apóstolos, que é mais antigo do que o Cânon dos Livros Sagrados, reza: "Nasceu da Virgem Maria". = no sentido de Sto. Agostinho: "Virgem concebeu, Virgem deu à luz, Virgem permaneceu".

Consequentemente, os "Irmãos" (primos, parentes) de Jesus, tão freqüentemente mencionados nos escritos do Novo Testamento, nunca são chamados filhos de Maria, nem filhos de José, confirmando a tradição apostólica.

f ) Até os Muçulmanos, nos seus livros sagrados, veneram a Mãe de Jesus como Virgem.

Por tanto, a acusação contra a virgindade de Maria, Mãe de Jesus, demonstra apenas a ignorância ou malícia dos acusadores.

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13 . VENERAÇÃO DE MARIA E DOS SANTOS


ACUSAÇÃO : Esta veneração e intercessão é contrária ao ensinamento da Bíblia que diz : (Lc 4,8) "Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele servirás". - e em ( I Tim 2,5 ) "Há um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, Homem".

RESPOSTA : a ) Os católico distinguem claramente entre culto de adoração, que devemos somente a Deus, nosso Criador e Redentor; e veneração, - que implica apenas: respeito, admiração, amor, etc., como se costuma demonstrar aos pais virtuosos, ou heróis da pátria ou a Igreja, erguendo em honra deles monumentos, e dando seus nomes a cidades, montanhas, praças, ruas, etc. Nada mais humano e também bíblico!

Até o próprio Deus venera os nomes dos santos patriarcas, permitindo na Bíblia ser denominado "o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó" ( Ex 3,6 ).

Foi Deus que enviou o anjo Gabriel para saudar a Virgem Maria: "Ave, cheia de graça!"(Lc 1,28) e colocou na boca de Isabel as palavras inspiradas : "Bendita sois vós entre as mulheres" (Lc 1,42).

Igualmente Maria profere as palavras inspiradas pelo Espírito Santos: "Doravante todas as gerações me chamarão bem-aventurada,..."(Lc 1,48).

Portanto, cumprindo estas profecias bíblicas e repetindo com respeito e amor na oração "Ave Maria", a saudação de Gabriel e de Isabel, os católicos cumprem melhor as indicações da Bíblia do que os protestantes, que ignoram tudo isso, e pretendem rezar somente a Deus.

b ) Intercessão. A própria Bíblia aplica o título de "mediador" também a Moisés (Dt 5,5): "Eu fui naquele tempo intérprete e mediador entre o Senhor e vós". E S. Paulo, na mesma carta em que declara Jesus como único mediador entre Deus e homens, indica também mediador "secundário" ( I Tm 2,15 ) : "Recomenda que se façam preces, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens..."Pois, fazer orações por outros, é de fato , ser intercessor e mediador entre Deus e os outros.

c ) Alguns "crentes" admitem que os vivos podem interceder em favor dos outros. Negam, porém esta possibilidade aos falecidos, mesmo à Virgem Maria e aos Santos. Eis, o que lhes reponde a Bíblia :

Em II Mac 15,12-15 lemos: "Parecia-lhe (a Judas Macabeu) que Onias, sumo sacerdote (já falecido!)... orava de mãos estendidas por todo o povo judaico... Onias apontando para ele, disse: "Este é amigo de seus irmãos e do povo de Israel; é Jeremias (falecido!), profeta de Deus, que ora muito pelo povo e por toda a cidade santa".

Se, pois Moisés e Timóteo em vida, e Onias e Jeremias depois da morte, como ainda outras pessoas Bíblicas, rezam a Deus e são mediadores entre Ele e o povo, quem poderá proibir esta intercessão à V. Maria e aos Santos ? Por isso, desde os primeiros séculos, os fiéis cristãos rezavam: "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte ".

Portanto, as palavras de S. Paulo: "Há um só mediador entre Deus e homens, Jesus Cristo, Homem", a tradição apostólica as entendia desta maneira : Jesus Cristo é único Mediador (primeiro) que nos mereceu todas as graças e a salvação eterna, pela sua vida, morte e ressurreição. Só ele nos dar dos seus méritos, sem recorrer a nenhum outro mediador. Enquanto a V. Maria e os Santos intercedem por nós pecadores, como mediadores secundários, por meio de Jesus, recorrendo a seus méritos e sua mediação. Por isso, cada oração litúrgica termina : "Por nosso Senhor Jesus Cristo..." Esta verdade herdamos dos primeiros cristãos. Antes de serem escritos os Evangelhos, eles aprenderam no "Símbolo Apostólico" (ou Credo dos Apóstolos) "Creio na comunhão dos Santos". Sejamos gratos a Deus por tão bela verdade, por Ele a nós revelada!

Purgatório - relatos das almas.

Aparições de almas do purgatório a Santos
Alguns exemplos


Santa Margarida Maria Alacoque (1647 — 1690) escreveu na sua autobiografia (edição de 1920, pg 98): “Estava diante do Santíssimo Sacramento e, de repente, apareceu à minha frente uma pessoa toda em fogo. O seu estado lamentável fez-me compre­ender claramente que se encontrava no purgatório e verti abundantes lágrimas. Disse-me que era a alma do monge beneditino que tinha ouvido a minha con­fissão e me tinha permitido ir comungar. Por esse motivo Deus tinha-lhe concedido o favor de poder dirigir-se-me, para que lhe adoçasse a pena. Pediu­-me que oferecesse por ele, durante três meses todas as minhas obras e o meu sofrimento. No fim de três meses, vi-o inundado de alegria e de esplendor: ia gozar a felicidade eterna. Agrade­ceu-me dizendo que velaria por mim junto de Deus”.




S. João Bosco (1815 — 1888) perdeu em 1839 o seu mais íntimo amigo de infância, Luigi Comollo. “Os dois amigos tinha feito a recíproca promessa, um pouco temerária, de que o primeiro que morresse viria descansar o sobrevivente sobre a sua sorte no outro mundo. Na noite seguinte ao enterro de Luigi, sentiu-se no dormitório ocupado por vinte seminaristas, um estrondo impressionante. Brilhavam relâmpagos de fogo e depois extinguiam-se. A casa tremia. Uma voz gritou: “Estou salvo!” Os seminaristas ficaram apavorados e nenhum ousou mexer-se até despontar a aurora. Uma história incrivel! Mas houve testemu­nhas que o viram pessoalmente” von Matt, Don Bos­co, p.p.
64-65 NZN—Verlag, Zurique.



Santa Gertrudes, abadessa de Hefta, autora da célebre obra “O arauto do amor divino”, falecida por volta de 1302, viu um dia a alma de um religioso defunto que lhe fez compreender, por ges­tos, que continuava afastada do seu divino Esposo. Gertrudes perguntou-lhe a causa. Respondeu esta alma: “É que não estou ainda perfeitamente purifi­cada das manchas deixadas pelos meus pecados. Se Ele me concedesse que entrasse livremente no céu, neste estado, eu não consentiria porque, por muito brilhante que pareça aos teus olhos, sei que ainda não sou uma esposa digna do meu Mestre”.


Santa Cristina da Bélgica, pastora de Saint­ Trond, na diocese de Liege, foi chamada também Cristina a Admirável, tantas coisas admiráveis se contam dela, coisas admiráveis que aconteceram durante a sua vida e que as testemunhas atestam. Numa visão foi-lhe concedido contemplar o Céu e o Purgatório. Ela ouviu uma voz dizer-lhe: “Cristi­na, tu estás na felicidade do Céu. Dou-te liberdade de escolher: ou morar desde hoje entre os eleitos, ou voltar alguns anos à terra para, por boas obras, ajudares as almas do Purgatório. Se escolheres a pri­meira alternativa ficas em segurança e não tens mais nada a temer; no outro caso voltas à terra para sofrer um verdadeiro martírio a fim de ajudares os infelizes e embelezares a tua coroa...” Cristina respondeu: “Senhor, deixa-me voltar e sofrer pelos defuntos; não tenho medo de nenhuma dor, de nenhuma amargura”. E ela realizou obras ex­piatórias extraordinárias pelas almas do Purgatório. Muitas de entre elas, entre outras a do conde Luís de Léon, apareceram-lhe em reconhecimento por tê-las libertado do purgatório.


Santa Perpétua de Cartago. No ano 202, Santa Perpétua foi atirada para a prisão em Cartago. Re­zava no cárcere com quatro outros cristãos quando ouviu uma voz pronunciar o nome de Dinocrato, seu irmão defunto, em quem não tinha voltado a pensar depois da sua morte. O rapaz tinha falecido com a idade de sete anos por causa de um tumor canceroso da face. “Chorei, conta ela, com a recordação da sua morte e compreendi que devia rezar por ele. Foi o que fiz. Na noite seguinte, tive esta visão: na minha prisão vi Dinocrato sair de um local obscuro onde se encontravam também outras pessoas. Estava afo­gueado, sem fôlego, e coberto de poeira. O seu rosto era macilento, poeirento e ainda sangrava da chaga que lhe tinha causado a morte: uma horrível chaga cancerosa que lhe roera as bochechas a tal ponto que o seu cadáver era uma visão medonha... Havia entre nós dois uma grande distância que me impedia de ir ter com ele. Perto dele estava um tanque cheio de água, mas o bordo era demasiado alto para que ele conseguisse beber, mesmo pondo-se em bicos de pés. Emocionada por ele não poder beber, acordei e com­preendi que o meu irmão ainda sofria; mas esperava poder dar-lhe alívio. Rezei por ele o tempo todo, até nos levarem para a prisão do campo, porque estáva­mos destinados aos jogos que deviam ser dados em honra do imperador Gete. Continuei a rezar e a su­plicar noite e dia. No dia em que fomos vergastados, tive uma outra visão. O lugar escuro onde antes tinha visto Dinocrato, vi-o iluminado. O rapazinho estava vestido com um belo fato, o corpo limpo e lavado de fresco. A chaga do rosto estava curada e só se via a cicatriz. O rebordo do tanque estava tão baixo que ele podia facilmente chegar à água. No bordo havia uma taça cheia de água. Quando saciou a sede, cor­reu a jogar longe do tanque, como fazem as crianças. Quanto a mim, acordei cheia de alegria: compreendi que ele estava livre da sua pena.

Oremos!

Com o Apóstolo São Paulo e com a Santa Igreja, rezemos pelos nossos mortos:

“Ó Deus, Criador e Redentor de todos os fiéis, concedei às almas de vossos servos e servas (N.N.) o perdão total de seus pecados. Fazei que as nossas piedosas súplicas lhes obtenham a misericórdia que sempre almejaram. Vós que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.”

“Ó Deus, a Quem unicamente compete dar o remédio após a morte, fazei, Vos pedimos, que as almas de vossos servos e servas (N.N.) livres dos contágios adquiridos neste mundo entrem na posse da eterna alegria. Por Jesus Cristo Nosso Senhor. Amém”

V. - Daí-lhes, Senhor, o descanço eterno.
R. - E entre os esplendores da luz perpétua, descansem em paz. Amém.

sábado, 1 de novembro de 2014

"Deixa que os mortos enterrem seus mortos".

“Deixa que os mortos enterrem os seus mortos”
Por D. Estêvão Bettencourt, OSB

Aconteceu que, indo eles pelo caminho, veio um homem que lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que vás. Jesus disse-lhe: As raposas têm seus covis e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.A outro disse: Segue-me. Mas ele disse: Senhor, permite-me que vá primeiro sepultar meu pai. Mas Jesus respondeu: Segue-me, e deixa que os mortos enterrem os seus mortos; tu vai e anuncia o reino de Deus (Lc 9, 57-60; cfr. Mt 8, 19-22).
ATITUDE PERANTE A VOCAÇÃO

O significado dos dizeres acima reproduzidos entende-se bem à luz do respectivo contexto, contexto que no Evangelho de São Lucas é um pouco mais explícito do que no de São Mateus.

Na verdade, os Evangelistas nos apresentam sucessivamente duas atitudes dos homens perante uma chamada do Divino Mestre – a chamada para seguirem a Cristo na qualidade de discípulos.

A primeira atitude é a da generosidade aparente, mas superficial. Com efeito, alguém se apresentou ao Divino Mestre afirmando: Mestre, seguir-te-ei para onde quer que vás. A esse fervor pouco experimentado, dizem os Evangelistas, Jesus houve por bem responder com reservas, mostrando as dificuldades do propósito: segui-lo seria expor-se a todas as espécies de privações, pois as raposas têm os seus covis, e as aves do céu os seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça, advertiu o Senhor.

A segunda atitude do homem perante a chamada de Cristo é a da vacilação. Certa vez, o próprio Divino Mestre dirigiu a alguém o convite: Segue-me. Ao que o discípulo replicou: Senhor, permite-me que vá primeiro sepultar meu pai. Não se dando por satisfeito com a resposta, Cristo insistiu: Segue-me, e deixa que os mortos enterrem os seus mortos.

Alguns comentadores julgam que o pai do jovem se achava ainda em vida, se bem que gravemente enfermo. O mancebo teria então pedido ao Senhor o prazo mais ou menos longo que decorreria até a morte e o sepultamento do doente, talvez pensando em esquivar-se definitivamente ao convite de Jesus. A maioria dos exegetas, porém, admite que o ancião já morrera e que o jovem pedia apenas o exíguo tempo necessário para participar dos funerais.

Como quer que seja, num e noutro caso o pedido parecia muito legítimo: prestar assistência aos genitores e sepultar os mortos eram obras altamente estimadas pelos judeus piedosos. E já que os judeus costumavam sepultar no próprio dia da morte (cfr. At 5, 5-6), o pedido do jovem não implicaria em grande atraso para seguir o Divino Mestre. Contudo, Jesus não quis reconhecer a legitimidade da súplica.

() Em particular, o sepultamento dos defuntos era tido como dever tão imperioso que os rabinos dispensavam das orações usuais e do estudo da Lei os filhos que tivessem por sepultar pai ou mãe (cfr. o tratado do Talmud, Berachot 17, 2); além disso, a própria Escritura Sagrada, por suas narrativas, muito parecia recomendar aos filhos o cuidado de sepultarem os seus pais (cfr. Gên 25, 9; 50, 5; Tob 1, 21; 2, 3-7; 4, 3).

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Não porque o cuidado dos mortos não seja em si uma obra boa, mas porque, no caso focalizado, a atitude do mancebo significava falta de generosidade para com Deus, significava certa covardia ou também um coração dividido entre o amor a Deus e o amor às criaturas. Ora, o Senhor quer ser amado acima de tudo; é, aliás, a reta hierarquia de valores que o exige: ou Deus ocupa o lugar capital na vida do homem, norteando todas as suas atitudes, ou simplesmente dever-se-á dizer que Deus não existe para esse homem; ninguém se iludirá julgando que cultua a Deus pelo fato de Lhe consagrar algumas de suas atitudes ou algumas de suas horas na vida.

O VALOR ABSOLUTO

Uma pequena digressão servirá para ilustrar quanto acabamos de dizer.

Um monge hindu dizia com muito acerto: “Deus é a unidade sem a qual só existem zeros”. Com efeito, Deus é, por definição, o Ser Absoluto – o que significa: o Valor Absoluto. Deus é, sim, o Valor que torna valiosa toda e qualquer criatura, e sem o qual esta é vazia e enganadora. Imaginemos uma série de três zeros, outra de seis, outra de nove zeros:

000 000.000 000.000.000

Os zeros que se acrescentam aos zeros nada alteram; tudo fica sendo zero... Mas coloquemos o número Um, uma só unidade, coisa simplicíssima, na série... Se pusermos o “Um” em último lugar, o conjunto, por mais longo que seja, ficará valendo muito pouco, será uma ninharia... Se o colocarmos em penúltimo lugar, já o conjunto valerá dez, o que ainda é muito pouco... Caso ponhamos a unidade em terceiro, em quarto, em quinto lugar, a série irá aumentando de valor (cem, mil, dez mil...). Finalmente, se se coloca o número Um à frente de cada série, ter-se-á:

1.000 mil

1.000.000 um milhão

1.000.000.000 um bilhão

Coisa estupenda! Os zeros tomam imenso valor desde que o “Um” lhes seja anteposto e os ilumine. Pois bem; Deus é esse “Um” sem o qual as criaturas nada são.

Se Deus ficar em último lugar na vida do homem, esta se apresentará sempre como insípida bagatela, ninharia vazia... Uma vez, porém, que se ponha Deus incondicionalmente em lugar capital, cada bagatela, cada zero da vida toma valor imprevistamente grande.

O homem pode acumular mil bens criados no seu tesouro; se chegarem a fazer empalidecer ou a remover a face de Deus no horizonte do indivíduo, esses bens, por mais numerosos que sejam, equivalerão a uma longa série de zeros; deixarão o seu possuidor sempre frustrado e insatisfeito...

Mas se o cristão puser Deus à frente de cada criatura e procurar ver tudo sob a perspectiva dEle, então e somente então esse homem começará a compreender o valor das criaturas; começará a compreender também que seguir Cristo é o maior de todos os bens e que a vida, vivida em fidelidade absoluta ao Senhor, vale, apesar de tudo, a pena de ser vivida!

A ÚNICA RESPOSTA

Voltando ao texto do Santo Evangelho, diremos conseqüentemente que, no caso da chamada dirigida pessoalmente por Jesus ao jovem, só uma resposta era adequada: a aceitação imediata, não postergada por qualquer outra tarefa; embora esta fosse em si legítima – como o sepultamento dos mortos –, naquelas circunstâncias tornava-se condenável porque, em vez de levar o discípulo a amar mais a Deus, servia para diminuir e entibiar a sua adesão ao Bem Infinito.

Eis o motivo da insistência apresentada por Cristo. Contudo, a segunda parte da frase do Senhor costuma também causar estranheza: Deixa que os mortos enterrem os seus mortos.

A construção da frase é evidentemente artificiosa, pois, como de antemão se pode conjeturar, faz duplo emprego do termo “mortos”. Em suma. Jesus quer dizer que, para sepultar cadáveres materiais – ou os mortos, no sentido físico –, há sempre gente suficiente; há, sim, todos aqueles que não são chamados à vida da graça e do apostolado, gente talvez indiferente aos interesses do Reino de Deus. Tais pessoas vivem para o mundo e para as tarefas deste mundo; são por Jesus designadas metaforicamente como “mortos”...

Esta figura de linguagem, forte como é, justifica-se pelo desejo que Jesus tem de realçar a grandeza e a premência da vocação dirigida ao jovem mancebo; chamado a seguir diretamente a Jesus, ele possui o quinhão por excelência, em comparação com o qual tudo empalidece ou desaparece, morre.

A figura também se explica pelo uso dos rabinos, que costumavam considerar como mortos – em espírito – os indivíduos que viviam alheios ao Reino de Deus. Aliás, um eco bem significativo desse uso ressoa no texto de São Paulo: A viúva que vive em prazeres está morta, embora pareça viva (1 Tim 5, 6).

Conseqüentemente, os mestres de Israel tinham os homens piedosos na conta de “vivos”, mesmo que estes se vissem atribulados e condenados à morte (cfr. 2 Cor 4, 7-12).

Por conseguinte, Jesus quer incutir ao discípulo que Ele chama a preciosa norma: “Deixa o cuidado dos mortos ou, mais amplamente ainda, o cuidado das coisas mortais ou temporais, aos homens que, por desconhecerem valores mais elevados, se dedicam profissionalmente a isso; tu, porém, que recebeste a melhor das vocações, não queiras viver como se não a tivesses, mas volta-se decididamente para os valores eternos”.

Durand comenta assim as palavras de Jesus: “Admiramos o soldado que, no caso de extremo perigo da pátria, permanece em seu posto na frente de combate, deixando aos de trás o cuidado de sepultar o seu pai. Como então nos contentaríamos com uma dedicação menor, ao tratar-se do Reino de Deus?” (Com. em Mateus, 133).

Por fim, o episódio que acabamos de analisar ainda sugere uma reflexão: em dados momentos da vida, a maior graça que Deus pode conceder a uma alma é a de pedir-lhe um ato de heroísmo. Esse ato, esse impulso forte, ainda que faça sofrer, vem a ser a condição imprescindível para que o cristão se eleve acima de seus interesses temporais ou para que fortaleça a sua verdadeira vida, e não se torne um morto a sepultar mortos no cemitério das coisas temporais.


Fonte: “Páginas dfíceis do Evangelho”, 2ª ed., Quadrante, São Paulo, 1993, págs. 23-29.

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