quinta-feira, 7 de março de 2013

Legenda Perusina 46-49.

[46]

Zelava com muito ardor pela profissão da Regra comum, e deu uma bênção especial aos que eram zelosos por ela. Pois dizia aos seus que ela era o livro da vida, a esperança da salvação, a medula do Evangelho, o caminho da perfeição, a chave do paraíso, o pacto da eterna aliança. Queria que todos a tivessem, que todas a soubessem e, em toda parte servisse para conversar com o homem interior como um impulso na indolência e lembrança do juramento feito. Ensinou a tê-la sempre diante dos olhos para recordar como deviam agir e, o que é mais, que deviam morrer com ela. Houve um irmão leigo que não se esqueceu dessa recomendação, e que nós cremos que deve ser venerado entre os mártires, pois conseguiu a palma da vitória gloriosa. Pois quando os sarracenos o levaram para o martírio, segurou a Regra nas mãos levantadas, dobrou humildemente os joelhos e disse ao companheiro: ”Irmão querido, eu me proclamo culpado diante dos olhos da majestade e diante de ti por todas as coisas que fiz contra esta Regra”. À breve confissão seguiu-se a espada, pelo qual terminou a vida terminou em martírio, ficando conhecido mais tarde pelos sinais e prodígios. Tinha entrado tão jovem na ordem que mal podia suportar o jejum regular. No entanto, apesar de quase criança, levava um cilício sobre a carne. Feliz menino, que começou bem para terminar ainda melhor.



[47]

Aborrecia-se muito o bem-aventurado pai quando a ciência era procurada com desprezo da virtude, principalmente quando cada um não persistia na vocação em que tinha sido chamado desde o começo. Dizia: “Os meus irmãos que se deixam arrastar pela curiosidade da ciência vão se encontrar de mãos vazias no dia da tribulação”. Gostaria que se reforçassem mais com virtudes para que, quando encontrarem tempos de tribulação, na angústia tenham o Senhor. Pois virá, disse, uma tribulação em que os livros, não prestando para nada, vão ser jogados nas janelas e nos desvãos”. Não dizia isso porque não gostasse dos estudos das escrituras, mas para afastar a todos do cuidado supérfluo de aprender, pois preferia que fossem bons pela caridade e não sabidos pela curiosidade. Pressentia que não custariam a chegar tempos em que sabia que a ciência seria ocasião de ruína. A um de seus companheiros que estava ocupado com pregações apareceu uma vez depois de sua morte, proibiu e mandou que trilhasse o caminho da simplicidade.



[48]

Dizia que os tíbios, que não se ocupam habitualmente com nenhum trabalho, deviam ser logo vomitados da boca de Deus. Nenhum ocioso podia parecer diante dele sem que o corrigisse com dente mordaz. Assim, ele todo, um exemplo de perfeição, trabalhava e agia com as próprias mãos, não permitindo que se perdesse nada do ótimo dom do tempo. Pois uma vez disse: “Quer o que todos os meus frades trabalhem e estejam ocupados, e que os que não sabem aprendam algum ofício, para sermos menos onerosos para as pessoas e para a língua e o coração não fiquem vagando no ócio”. Mas não confiava o lucro ou pagamento do trabalho a quem o ganhava, mas ao guardião ou à família.



[49]

Encontraram-se em Roma com o bispo de Óstia, que depois foi papa, os preclaros luminares do mundo, São Francisco e São Domingos. Depois de terem conversado coisas muito agradáveis a respeito de Deus, disse-lhes o bispo: -- “Na Igreja primitiva os pastores eram homens pobres, fervorosos de caridade e não de cobiça. Por que não fazemos de seus frades bispos e prelados, para liderarem os outros pela doutrina e pelo exemplo? Surgiu, então, entre os dois santos, uma porfia, não para passar na frente mas para estimular e até obrigar a responder. Na verdade, cada um queria ser o primeiro na devoção ao outro. Finalmente a humildade venceu Francisco para que não se pusesse à frente, e também venceu Domingos, para que, respondendo primeiro, obedecesse humildemente. Domingos respondeu ao bispo: -- “Senhor, meus frades já foram promovidos a um bom grau, se o souberem reconhecer, e, se depender de mim, não permitirei que assumam outro tipo de dignidade”. Depois que ele fez esse breve discurso, o bem-aventurado Francisco se inclinou diante do bispo e disse: -- “Senhor, meus frades são chamados de menores para que não presumam ser maiores”. Sua vocação ensina-os a ficar no chão e a seguir os vestígios da humildade de Cristo, de modo que, afinal, na recompensa dos santos, sejam mais exaltados do que os outros. Se queres que produzam fruto na Igreja, mantém-nos e conserva-os no estado de sua vocação, e faze-os voltar ao chão mesmo que não queiram. E não permitas de maneira alguma que subam a uma prelatura”. Essa foi a resposta dos bem-aventurados. No fim das respostas, muito edificado com as palavras dos dois, o senhor de Óstia deu muitas graças a Deus. Quando saíram de lá, o bem-aventurado Domingos pediu a São Francisco que se dignasse dar-lhe a corda com que se cingia. O bem-aventurado Francisco custou para fazer isso, com tanta humildade quanta era a caridade com que o outro lhe pedia. Mas a devoção do feliz pedinte venceu, e ele a cingiu com muita devoção sob a túnica inferior. No fim deram-se as mãos e fizeram mútuas recomendações com muito carinho. Disse um santo ao outro: -- “Gostaria, Frei Francisco, que a tua e a minha religião fossem uma só e vivessem de forma semelhante na Igreja”. Quando foram embora para casa, o bem-aventurado Domingos disse muitos que estavam presentes: -- “Na verdade vos digo que os outros religiosos deveriam seguir o santo varão Francisco, tanta é a perfeição de sua santidade”.

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