sábado, 1 de outubro de 2011

Aliança de São Francisco com a Senhora Pobreza

“Sacrum commercium”

são francisco

Aliança de São Francisco com a Senhora Pobreza

Começa o “Sacrum commercium”

(Prólogo)

1. Entre as outras virtudes preclaras e principais, que preparam no homem lugar e morada para Deus e indicam o caminho mais excelente e expedito para ir e chegar até Ele, a santa Pobreza sobressai entre todas por uma certa prerrogativa e supera os títulos das outras por uma graça singular, porque ela é o fundamento e guardiã de todas as virtudes e tem, entre as outras virtudes evangélicas, a primazia de ser citada merecidamente em primeiro lugar. Por isso, as outras não precisam temer que caiam as chuvas, que cheguem os rios e que soprem os ventos ameaçando ruína, se estiverem estabelecidas sobre esta base.

2. E com razão, pois o Filho de deus, Senhor das virtudes e Rei da glória, amou-a com afeto especial, buscou-a, encontrou-a e a manteve, quando realizava a salvação no meio da terra. Foi a ela que ele colocou, no começo de sua pregação, como luz para os que entram pela porta de fé e lançou como pedra fundamental da casa. E ela foi investida sem demora alguma com o reino dos céus, que as outras virtudes receberam dele como promessa. Pois disse: Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o reino dos céus (cfr. Mt 5,3).

3. O reino dos céus é mesmo, com dignidade, daqueles que não possuem nada de terreno por vontade própria, por uma intenção espiritual e pelo desejo das coisas eternas. Quem não se preocupa com as coisas terrenas precisa viver das celestes, e pode comer neste exílio, saboreando-as, as doces migalhas que caem da mesa dos santos anjos. São os que, renunciando a todas as coisas terrenas, têm tudo como lixo, para ter o mérito de saborear quão doce e suave é o Senhor. Ela é a verdadeira investidura do reino dos céus, é a segurança de sua posse eterna, é uma oportunidade de já provar a felicidade futura.

4. Por isso, o bem-aventurado Francisco, como verdadeiro imitador e discípulo do Salvador, entregou-se, no princípio de sua conversão, com todo esforço, com todo desejo, com toda decisão a buscar, encontrar e preservar a santa pobreza, sem duvidar de adversidades, sem temer nada de sinistro, sem fugir a nenhum trabalho, sem escapar de nenhuma angústia do corpo, para que lhe fosse dada finalmente a opção de chegar àquela a quem o Senhor entregou as chaves do reino dos céus.

Capítulo 1

O bem-aventurado Francisco indaga sobre a Pobreza.

5. Aplicadamente, como um explorador curioso, ele começou a rondar pelos becos e praças da cidade, procurando diligentemente a que era a amada de sua alma. Interrogava os que estavam parados, perguntava aos que chegavam, dizendo: “Será que não vistes aquela que minha alma ama?” (cfr. Ct 3,3). Mas essa palavra era como um enigma para eles (Lc 18,34), parecia estrangeiro. Como não o entendiam, diziam: “Ó homem, não sabemos do que estás falando. Fala-nos em nossa lingua e te responderemos”. Naquele dia, os filhos de Adão não tinham voz nem sensibilidade para querer conversar sobre a pobreza, ou mesmo mencioná-la. Odiavam-na veementemente, como fazem até hoje, e sobre ela não podiam falar nada de pacífico ao que perguntava; por isso responderam como a um estranho, afirmando que não sabiam nada do que se estava perguntando.

6. O bem-aventurado Francisco disse: “Vou falar com os importantes e os sábios. Pois eles conhecem o caminho do Senhor e o juízo do seu Deus (Jr 5,5); estes talvez sejam pobres e ignorantes. Desconhecendo o caminho do Senhor e o juízo do seu Deus (Jr 5,4)”. Quando o fez, eles lhe responderam ainda mais duramente, dizendo: “Que doutrina nova é essa que apresentas aos nossos ouvidos? Pois que essa pobreza, que buscas, pertença sempre a ti, aos teus filhos e à tua descendência depois de ti! Para nós o que conta é gozar as delícias e ter muitas riquezas, porque o tempo de nossa vida é curto e tedioso, e não há refrigério para o fim do homem (cfr. Sb 2,1). Não conhecemos nada de melhor do que alegrar-se, comer e beber enquando vivemos”.

7. O bem-aventurado Francisco, ouvindo essas coisas, ficava admirado em seu íntimo e, dando graças a Deus, dizia: “Bendito sejas tu, Senhor Deus (cfr. Lc 1,68), que escondeste estas coisas dos sábios e prudentes e as revelaste aos pequeninos! Sim, Pai, porque assim foi do teu agrado (Mt 11,25-26). Senhor, Pai e dominador de minha vida, não me abandones ao conselho deles, nem me deixes cair nessa reprovação, mas dá-me, por tua graça, encontrar o que busco, porque sou teu servo e filho de tua serva (cfr. Sl 115,16)”.

8. Então, saindo da cidade, o bem-aventurado Francisco foi com passo rápido para um campo, em que, olhando de longe, viu dois velhos sentados tomados se grande tristeza. Um deles dizia: “Para quem vou olhar senão para o pobrezinho e contrito de coração, e para o que teme as minhas palavras (Is 66,2)?”.

* E o outro dizia: “Nada trouxemos para este mundo; sem dúvida também não podemos levar nada; tendo comida e com que nos cobrir, ficamos contentes com isso (1Tm 6,7-8)”.

Continua… 

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