sábado, 8 de janeiro de 2011

Vida conforme Maria.



CAPÍTULO 1
FUNDAMENTO DA VIDA MARIANA:
MARIA MEDIANEIRA DAS GRAÇAS

Trata-se da vida mariana ou da vida marieforme,
quer dizer, uma vida conforme o beneplácito de
M aria ou no espírito de Maria. Isto como uma
seqüência da vida deiforme ou vida divina.

Antes de concluir o meu livro sobre a vida de
Deiforme ou a vida divina em Deus, vida que Deus
na divina clemência se dignou inspirar-nos,
considero importante acrescentar alguma e
mostrar como nós devemos comportar-nos a
respeito de nossa Mãe Amável. Nosso amor filial
por Ela nos estimula a isso. Portanto como nós já
dissemos em outro lugar, devemos viver uma vida
Deiforme, quer dizer, segundo o desígnio de Deus
ou segundo a exigência da vontade divina. Do
mesmo modo, podemos levar uma vida também
Marieforme, ou segundo o desígnio da Mãe de
Deus, Maria. Por isso, aqueles que tomam a
decisão de serem seus bons filhos, se valem de
uma mesma regra para discernir se suas ações ou
omissões concordam com a vontade de Deus e
com a vontade de nossa Mãe bondosa – quando
tentam, em tudo o que fazem ou omitem, fixar o
olhar tanto em Deus como em Sua Mãe
Santíssima – para, com prontidão e alegria,
cumprir o que sabem que lhes é agradável e evitar
cuidadosamente o que sabem que lhes é
desagradável. Para viver uma vida sobrenatural e
divina é necessária a Graça Sobrenatural ou o
Espírito de Deus, que previne, desperta, auxilia,
acompanha e segue a alma. Colaborando
fielmente com isso, a alma que ama a Deus vive
uma vida sobrenatural e divina.

Deus decidiu, porém, segundo os Padres da Igreja,
não dar nenhuma graça senão pelas mãos de
Maria. Esta é a razão pela qual eles a dominam
“Pescoço da Igreja” por meio do qual saindo de
Cristo, que é a Cabeça da Igreja, devem fluir todas
as graças e bênçãos desta Mãe amantíssima. Como
conseqüência, não somente a Graça ou o Espírito
de Deus atua nestas almas e nelas imprime a Vida
Divina, mas também a graça ou o espírito de
Maria atua e imprime Vida Mariana na alma.
Santo Ambrósio desejou que o espírito de Maria
viesse de tal modo em nós quando disse “Tomara
que esteja à alma de Maria em todos para
engrandecer o Senhor e esteja em todos, o espírito
de Maria para rejubilar- se em Deus, Seu
Salvador” E eu acrescento “Tomara que o espírito
de Maria esteja em nós todos para que, vivendo
neste espírito, ele mesmo faça nossas obras por
nós e assim possamos viver por ele” Por isso
Maria fala através da boca de nossa Mãe, a Santa
Igreja “Meu espírito é mais suave do que o mel”
(Eclo 24 27) e “ queles que trabalham comigo não
pecam” (Eclo 24,30), quer dizer, com as graças,
por meu intermédio conquistadas “ quele que
me encontra, encontra a Vida e recebe a salvação
de Deus” (Prov 8 35) Num outro lugar ela di
“Em mim se encontra toda a graça” quer di er
para todas as almas que amam ou buscam a Deus
“em mim se encontra toda a esperança de vida e
de virtude” (Eclo 24 25) de tal modo que
ninguém, de qualquer estado ou modo de vida,
recebe a graça alguma ou pode ter esperança de
vida divina ou virtude cristã fora da mediação de
Maria ou fora das graças de nossa Amável Mãe.
Neste sentido, a alma piedosa aos poucos vai
vivendo vida divina flui do espírito de Deus e do
espírito de Marie, quer dizer, de graça de Deus,
que vem para nós, através das mãos de Maria.
E, assim, a alma chega a viver uma vida cristã,
mariana e divina pode diz er “não sou eu que
vivo mas vive em mim Cristo” (Gl 2 20) e Maria
ou também: o Espírito de Jesus e Maria
“permanece em mim e opera obras” (Jo 14 17) É “o
mesmo Espírito” de Jesus e Maria que opera tudo
na alma (cf. 1Cor 12,11). Pode-se dize, também, que
Maria possui o Seu reino na alma e o trono dela
junto ao trono de Jesus, Seu Filho; e, na medida
que o Reino de Jesus cresce em influência na alma,
ao mesmo tempo o reino de Maria também cresce
e floresce nela. Assim, realize-se na alma “
rainha está à tua direita” (Sl 44 10) porque o
Reino de Jesus e o reino de Maria florescem de
modo indiviso na alma. Jesus e Maria reinam
conjuntamente nela.

CAPÍTULO 2
A VIDA MARIANA SE DEIXA CONDUZIR EM
TUDO POR UM AMOR FILIAL PARA COM A
NOSSA MÃE CELESTE

Trata-se de viver em Deus, - o que pode ser
simultaneamente - um viver em Maria. Tanto por
uma graça especial, como por um hábito adquirido
com a prática, pode-se viver esta vida mariano-
divina nos trabalhos, nos sofrimentos e na morte.

Agora, nós vamos mostrar como a vida Deiforme
ou Vida Divina em Deus também é vivida em
Maria.Para viver em Deus temos que, em todas as
nossas ações, omissões e paixões, tanto corporais
como espirituais, causadas pelos homens ou pelos
espíritos maus, proceder com atitude de
reverência e amor, de modo delicado e livre, com
o íntimo voltado para Deus, desejando-O como se
vivêssemos tranquilamente em Sua presença.
Assim, exatamente como o salvador deixava que
todas as Suas obras as fi esse o Pai que n’Ele
morava e, ao mesmo tempo, as realizava também
Ele com o Pai, com suave, amorosa e reverencial
inclinação de espírito para o Seu Pai Celeste.
Do mesmo modo, podemos também viver em
Maria, nossa mãe amantíssima, procurando em
tudo o que fazemos ou sofremos, no que
realizamos ou omitimos, nas nossas penas, dores,
aflições e dificuldades, conservar e até fomentar
em nós uma filial, terna e inocente elevação do
nosso espírito, uma amorosa aspiração ou
respiração para Maria como uma Mãe
amantíssima e diletíssima em Deus. Deste modo,
entre nós e Ela e através d’Ela entre nós e Deus
se estabelece um suave fluxo e refluxo de amor.
Isto parece realizá-lo, de vez em quando, o
Espírito Santo na nossa alma mediante a difusão,
redundância e transbordamento do amor de Deus
para Maria e d’Ela de novo para Deus Isto vemos
acontecer com Santa Maria Madalena de Pazzi,
que pela exuberância da divina caridade sempre se
refugiava na Virgem, Mãe de Deus, como sua mãe
dulcíssima, procurava saídas para a inclinação
filial e manifestações de amor, cheia de ternura e
candura, mesmo nos êxtases que o Espírito de
Deus operava nela. Cheias desses exemplos são as
vidas de vários santos, como São Bernardo, São
Pedro Tomás, o Beato Herman Joseph e outros.

Tal disposição operada espontaneamente pelo
Espírito de Amor na alma ou pelo hábito
adquirido por meio de atos contínuos de amor
facilita esta inclinação para com nossa bondosa
Mãe. Assim, uma doce e contínua recordação
d’Ela enche a alma De maneira similar a alma
experimenta, em todas as suas atividades, uma
recordação amorosa e reverencial de Deus;
porque, pelo exercício fiel da fé e do amor, a alma
adquire o costume ou hábito de ficar pensando,
sempre em todos os lugares, na Presença de Deus
e se torna repleta de um sentimento autêntico de
amor por Deus, com tal facilidade que lhe parece
impossível esquecer-se de Deus. Portanto, do
mesmo modo, o filho de Maria pelo exercício
contínuo de pensar n’Ela como Sua Mãe mável
adquire o hábito deste pensar filial e amoroso, de
tal modo, que todos os seus pensamentos e
sentimentos se orientem ao mesmo tempo para
Ela e para Deus, e a alma nem pode esquecer Sua
Mãe Amável nem tampouco a Deus.
Tal hábito tinha adquirido o carmelita São Pedro
Tomás, Patriarca de Constantinopla. Ele ficava
totalmente voltado com filial inclinação para
Maria, como Sua Mãe Amável, nas suas atividades
e no exercício de suas elevadas funções e
missões apostólicas. Ela, por sua parte, o envolveu
sempre com maternal ternura e cuidado,
consolando-o e fortificando-o.

CAPÍTULO 3

O AMOR PARA COM DEUS,
COMO PRINCÍPIO DA VIDA MARIANA

Trata-se do amor de Deus. Como este se orienta
para a Mãe amável e faz com que a alma viva
simultaneamente em Deus e em Maria; como a
alma se comporta a respeito da Mãe de Deus,
mesmo além de uma graça especial do espírito.

Quando este afeto terníssimo filial e cândido do
coração para com a nossa terna Mãe se move na
alma – sustentado pelo Espírito de Deus ou do
Amor Divino – então tudo flui espontaneamente e
até mesmo a natureza de homem parece
transformada. Assim, ela se reveste de inocência,
ternura, simplicidade e outras qualidades e
inclinações de uma criança em relação à sua
querida mãe. A alma se comporta a respeito de
Maria, com inocência e candura.
Então, “o amor de Deus é derramado no seu
coração pela virtude do Espírito Santo, que lhe foi
dado.” (Rm 5 5) E como é aquele mesmo espírito
que move, dirige e anima a alma é o principal ator
neste jogo de amor, assim também esta relação
inocente e filial da alma com a Mãe amável não é
outra coisa senão um transbordar do Divino Amor
que se move na alma e a conduz suavemente à
terna Mãe. Ao mesmo tempo este Divino Amor
transbordante lança a alma de Maria, com grande
mestria e com a mesma ternura amorosa. Assim a
alma é arrastada por Maria até o oceano de Deus,
sem necessidade de intermediários e sem
impedimento algum ou confusão do espírito. E
este amor para com Deus e para com Maria parece
um só e mês o amor, como se fosse uma espécie
de contínuo fluxo e refluxo divino, enquanto a
alma, junto com a amável Mãe, descansa amorosa
e calmamente em Deus. Ou melhor, dizendo: é
“um e o mesmo Espírito” que opera e reali a este
afeto de amor para com Deus e Maria “como e
quando Ele quiser” (1 Cor 12 11) enchendo-a de
amor e transformando-a algumas vezes em esposa
amantíssima, reclinada nos braços do seu Amado,
e outras vezes em cândida criança no colo
desta Mãe dulcíssima. Uma vez passado este
transbordamento e operação do Espírito Santo ou
do Amor Divino, o filho devoto de Maria fica com
uma saudosa e amorosa recordação d’Ela e com
uma inclinação amorosa para com a Mãe.
Entretanto, não com tanto candor e ternura como
antes, porém com um afeto mais racional, maduro
e varonil. Sim, mesmo que a alma quisesse e
pretendesse, não poderia mais comportar-se e agir
de modo tão terno e amoroso como antes. Se o
tentasse, pareceria artificial, enquanto que
anteriormente o comportamento dela foi natural e
espontâneo sem fingimento algum, porque foi
movido pelo Espírito de Deus, que mora nela e
opera de modo diverso segundo sua santa
vontade, quando e como quiser (cf. 1Cor 12,11).Dir-
se-ia que há duas pessoas numa só alma, que
alternativamente operam o que a cada uma
corresponde sem artificialismo ou simulação, mas
com toda a naturalidade, como se da mesma
natureza brotasse ora uma coisa, ora outra. Assim,
constantemente a alma fica admirada consigo
mesma ao perceber e surpreender em si, num
tempo tão curto, disposições e inclinações tão
diferentes e contrárias, como se não fosse uma
só e idêntica pessoa. Para que este jogo de amor
não fique perturbado, a alma deve sempre prestar
atenção às inclinações interiores e espontâneas e
segui-las com toda a simplicidade sem forçar
demais o seu espírito.

CAPÍTULO 4

A EXPERIENCIA MARIANA:
O REINO DE MARIA E NÓS

Trata-se de viver, trabalhar, sofrer e morrer por
amor a Deus; e isto é também viver, trabalhar,
sofrer e morrer por amor a Maria, a nossa bondosa
Mãe. De que maneira?

Como se pode deduzir pelo que foi dito
anteriormente, a alma que ama a Deus também
pode viver em Maria. Pode-se perguntar se cabe
viver por amor a Maria, assim como é necessário
viver por amor a Deus. E eu respondo: sim. A alma
que ama Deus vive por e para Deus, ou seja, todas
as suas atividades, esforços e afeições direcionam-
se para a glorificação de Deus de acordo com a sua
vontade e para o amor. Do mesmo modo a
alma tenta viver com relação a Maria, isto é, todas
as suas ações e paixões se orientam para Maria e
para Seu serviço, glorificação e amor. Também
Maria deve ser honrada, glorificada e amada.
Deve-se promover o reino d’Ela reali ado e
ampliado no Reino de Jesus, Seu Filho. Assim
como nós vivemos, trabalhamos, sofremos e
morremos por Jesus, assim também devemos
viver, trabalhar, sofrer e morrer por Maria. Assim
como Jesus deve ter o Seu Reino em nós, assim
Maria deve também reinar em nós e dispor de
nossos trabalhos e sofrimentos. Deste modo, Ela
deve, com nossa colaboração, tomar posse total de
Seu reino, cujo direito Ela possui como Rainha do
céu e da terra e de todos os justos e santos. Este
título que Ela não possuiria se não coubesse a Ela
o poder de reinar sobre nós e nós não devêssemos
viver segundo Sua complacência para Seu serviço
e Sua glorificação. Assim São Pedro Tomás, uma
“jóia” da Ordem do Carmo estabeleceu e venerou
Maria como Rainha de sua alma, dedicando todo
o seu trabalho e sua vida, continuamente, à
glorificação e amor de Maria. Como sinal do
reinado total d’Ela sobre ele tra ia gravado em
seu coração o nome Santíssimo de Maria. O
santo carmelita Gerardo, como sinal de que a
reconhecia como sua Rainha, rezava diariamente
o ofício da gloriosa Assunção de Maria ao céu
para, continuamente pensar em Maria como
Rainha do céu e da terra. Ele levou também Santo
Estevão, rei da Hungria, e este reconhecimento e
este consagrou, por isso, o seu reino a Ela como
Rainha e ordenou que seus súditos a chamassem
Senhora ou Rainha. Isto nos deve ensinar a
orientar toda a nossa vida para a glorificação de
Maria. Além disso, sendo Ela a Mãe de todos os
eleitos, é evidente que nós devemos mostrar-lhe
um afeto filial e terno amor em toda a nossa vida,
trabalhos, sofrimentos e morte. Assim, Ela será
nosso desejo, nosso ideal e nosso refúgio, estando
convencidos que, enquanto vivemos, vivemos por
esta Rainha e Mãe, enquanto morremos,
morremos por esta Mestra e Mãe. Quer vivendo
quer morrendo, queremos ser filhos desta Mãe.
Por isso parece que a estou ouvindo dizer-nos:
“ inda que tivésseis de mil amas ou madrastas
não tendes, todavia, muitas mães, pois Eu vos
gerei em Cristo Jesus” ( 1Cor 4 15)

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CAPÍTULO 5

A VIDA MARIANA É TOTALMENTE
ORIENTADA PARA O REINO
DE JESUS E PARA DEUS COMO NOSSO FIM
ÚLTIMO

Viver e morrer por amor a Maria deve ser orie ntado
para viver e morrer por amor a Deus; nesta vida
mariana não se busca “próprio interesse”.

Observe-se aqui, que viver e morrer por e para
Maria deve ser ordenado e orientado por e para
Deus. Deve-se dizer o mesmo sobre o culto, o
amor e a veneração para com os santos. Assim
como Maria está orientada, totalmente, de corpo e
alma, para a glória de Deus e vive na eternidade
para Deus, para Seu amor e glória; assim temos de
viver e morrer por Maria, não como se ela fosse
nosso fim último nem pensando ou procurando
nosso próprio proveito ou outra coisa fora de
Deus, mas com aquela finalidade exclusiva de que,
vivendo e morrendo em Maria e por Maria,
vivamos e morramos mais perfeitamente em Deus
e por Deus. O reinado perfeito de Maria em
nós anda junto com o Reino perfeito de Jesus,
uma vez que o reino de Maria não está em disputa
com o Reino de Jesus, mas está totalmente
orientado para este Reino e consagrado ao
mesmo. Por isso a pessoa, que ama a Deus e quer
ser filha fiel desta terna Mãe, cuida com atenção e
constância de que, em tudo o que fizer, a caridade
e o amor de Deus derramados no coração dela pelo
Espírito Santo que lhe foi dado (Rm 5,5) se
estendam e fluam para Maria também. Numa
inclinação suave, a alma se refugia em Maria,
orienta-se amorosamente para Ela, pensando
n’Ela em todas as circunstâncias, com
familiaridade e com veneração por Ela no coração.
Este fluxo e refluxo e esta extensão do amor de
Deus para a Mãe Amável voltam, refluem e
chegam a Deus e não são concedidos e exercidos
por nenhuma outra razão do que por amor a
Deus. Isto se realiza com perfeição na alma
quando é o Espírito de Deus que – no mais íntimo
do nosso ser -move e dirige livremente todo este
jogo de amor. Então, experimenta-se que esta vida
por e para Maria não impede a vida por e para
Deus, mas, ao contrário, é mais uma ajuda e
estímulo constante para isto. Ou melhor
dizendo, é um fluir do amor de Deus por meio de
Maria e com Maria para Deus, um fluir que se
funde no amor e repouso em Deus junto com a
Mãe bondosa; ou ainda, esta vida de amor para
com nossa Amável Mãe coexiste com a vida de
amor para com Deus e repousa finalmente, como
sua meta final, em Deus.

CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 6

A PERFEIÇÃO ESPECIAL DA VIDA MARIANA

Trata-se do fato que a vida mariana possui em si
alguma perfeição maior do que a vida simples e
unitiva com Deus. Comparação com os Santos.
Esta vida é mariano-divina: em Deus e por Deus e,
simultaneamente, em Maria e por Maria.

O Espírito Santo nos ensina e também a
experiência de algumas pessoas piedosas nos
mostra que a vida mariana ou a vida em Maria se
fundamenta na vida divina ou em Deus. Ela pode
ser contemplada como um grau superior ao
estado de união simples com Deus, o Nosso
Sumo Bem, ou uma vida divina simples ou em
vida em Deus. Segundo o modo comum de falar,
Deus é o fim único e último da alma. Ele é,
outrossim, o Bem único, absoluto e supremo: a
alma é criada para alcançá-lo. Toda a sua
felicidade e beatitude, nesta vida e na outra,
consistem em adquiri-Lo, contemplá-Lo, possuí-
Lo e gozá-Lo.... Contudo a alma pode, num outro
sentido, tender e levantar-se para mais alto. É o
que vamos explicar a seguir. Os santos no céu
gozam todos à glória de Deus, face a face. São
transfigurados pela luz da glória e inundados pelo
amor beatífico, no qual consiste sua mais alta
felicidade e beatitude.... Porém, além desta
beatitude ou vida gloriosa essencial, eles se
deleitam numa glória e alegria acidental, cada um
na medida dos seus merecimentos segundo a
disposição de Deus, que recompensa os atos bons.
Isto consiste, por exemplo, na contemplação da
Humanidade Santíssima de Cristo, ou de suas
Santas Chagas, ou da Santa Cruz como meio da
nossa salvação, ou também da Santíssima Mãe de
Deus, de São José ou de outros santos; ou ainda
consiste no conhecimento puro de alguns
mistérios divinos, e assim por diante.
Aqueles gozos acidentais, um santo possui num
grau maior, outro num grau menor. Neste sentido
podemos dizer que um santo está na glória, que
abrange vários objetos que geram felicidade, num
grau mais alto do que outro, desde que o amor
beatífico é naquele santo mais forte do que no
outro. De modo mais ou menos similar, nesta vida
são dados graças, dons e favores acidentais para
algumas almas piedosas. Assim, num certo
sentido, à semelhança dos santos elas são elevadas
a um grau mais perfeito e mais alto de amor
unitivo, para chegarem aos poucos a uma vida
mais perfeita de amor e de gozo de Deus. Neste
sentido a vida mariana, ligada com a vida divina, é
mais perfeita e um grau mais elevada do que a
simples vida contemplativa e unitiva. Aquela vida
mariana é como se fosse dupla, quer dizer divina e
mariana em Deus e em Maria, pela simples
contemplação, amor e certo gozo de Deus em
Maria, e de Maria em Deus. Quando a alma
piedosa pelo Espírito de Deus, que mora nela, é
movida continuamente e cada vez de novo, a ter
diante de si, - contemplando, amando e
vivenciando – aqueles dois objetos de
contemplação, Deus em Maria e Maria em Deus,
então, pode-se dizer, que ela vive uma vida
divino-mariana em Deus e uma vida mariano-
divina em Maria. Prova-se assim que, dedicando-
se pelas ações, palavras e pensamentos a aumentar
o amor, serviço e glorificação destes dois objetos
de contemplação, a alma vive para Deus e para
Maria. Esta vida divino-mariana, então, é mais
perfeita do que a simples vida divina, desde que o
Espírito de Amor, além da união com Deus e sem
impedimento algum para esta, une a alma
também com Maria e faz com que a alma se
entretenha simultaneamente com Deus e Maria.
Assim esta vida divino-mariana, ao menos quanto
a extensão, é mais perfeita do que quando se
entretém somente a respeito de Deus ou em Deus.
Assim também a vida dos santos é – em extensão
e de modo acidental – mais perfeita, quando tem
mais objetos de alegria além do próprio Deus.

CAPÍTULO 7

UNIDADE ORGÂNICA DA VIDA MARIANA

A vida contemplativa se exerce ou contemplando
a Deus somente, ou a divindade e humanidade,
enquanto estão unidas na pessoa de Cristo. Assim
também a vida mariana se exerce, contemplando
Deus e Maria, unidos “misticamente” na pessoa de
M aria. Como esta contemplação influencia e forma
a vida espiritual.

Existe uma vida de contemplação pura, tendo
como objeto apenas a essência simples de Deus ou
algo inteiramente Divino, por exemplo, a
Santíssima Trindade ou os nomes, atributos e
perfeições divinas. Existe outro tipo de vida de
contemplação, cujo objeto é Cristo, Deus e
homem: Cristo que é Deus, que assumiu a
natureza humana, ou que é pessoa divina unida
com a humanidade. Além da vida de
contemplação, que tem como objeto Deus e
Cristo, que é Deus e homem, existe ainda uma
vida de contemplação de Deus em Maria e de
Maria em Deus; uma vida contemplativa que tem
ambos como objetos inseparáveis e se orienta
amorosamente para os dois, que estão unidos de
um modo especial. Esta contemplação, que tem
como objeto Deus em Maria e Maria em Deus,
difere da contemplação, que tem como objeto
Cristo em sua divindade e humanidade tão unidas
de modo íntimo e pessoal. Mas a união de Deus e
Maria forma em certo sentido uma união íntima
pela graça e é uma união muita mais elevada do
que qualquer união de Deus com a criatura, por
mais nobre que seja. Maria está unida com Deus
na sua qualidade de Mãe e como tal Ela pode, em
certo sentido, ser contemplada como unida com o
seu Deus-Filho, de quem Ela é Mãe; Ela não pode
ser vista amada e honrada separada do Divino
Filho. Assim Maria é contemplada por algumas
almas piedosas, quer dizer, como unida em Deus e
com Deus sem intermediário. Estas almas
parecem ter sempre diante dos olhos esta Mãe
Amável unida com Deus e demonstrar-lhe os
sinais do seu amor e carinho. Desfalecendo-se em
si mesmas, ficam amorosamente, com uma unção
especial absorvidas n’Ela e simultaneamente em
Deus. Então, elas parecem, pode-se dizer
acolhidas e assumidas no seu coração puríssimo,
carinhoso e ardentemente amoroso, ou no seu
seio. Por causa da ternura do amor puríssimo por
Ela e ao mesmo tempo por Deus elas desfalecem
como fora de si. Uma vez tendo entrado num
estado de pura contemplação,
despojamento e paz, orientado para a Essência
simples de Deus e absorvido interiormente na
contemplação, amor e gozo desta Essência
simplíssima, o espírito, às vezes, se sente atraído
ao mesmo tempo para contemplar a nossa Mãe
Amável, para amá-la e dar-Lhe sinais de amor e
deleitar-se com Ela suavemente. Numa palavra:
entreter-se carinhosamente com Ela, que está
intimamente unida com Deus. Assim, a alma, que
ama com o mesmo amor e gozo a Deus, ama
simultaneamente a nossa amável Mãe, como se
Ela fosse uma só com Deus. Assim Deus e Maria
parecem um único objeto de amor e deleite para a
alma, que contempla os dois como um só. Tal é,
mais ou menos, o modo pelo qual a alma piedosa
contempla a humanidade de Cristo unida com a
Divindade; assim ela tem como um só objeto de
contemplação as duas naturezas unidas numa
pessoa só. Do mesmo modo a alma contempla e
ama, então, Jesus e Maria como Mãe e Filho
estreitamente ligados. Assim acontece com
pessoas diferentes, mas que são entre si
inseparáveis e que não podem ser conhecidas nem
amadas uma sem a outra.

CAPÍTULO 8

A VIDA MARIANA NÃO É IMPEDIMENTO
PARA A PERFEITA CONTEMPLAÇÃO

Aqui se trata da maneira de viver a vida mariana,
quando faltar uma graça especial do Espírito Santo.
Como São Pedro Tomás e outros santos
praticavam esta vida mariana.

Da descrição acima se segue que aqui
encontramos uma forma de amor excelente, puro
e perfeito por Maria, embora poucos, talvez a
conheçam por experiência própria. Somente a
devotos especiais de Maria e a filhos prediletos,
escolhidos por Ela, é dada por um favor especial.
Entre as almas, que se dedicam à vida perfeita,
existem algumas que não se sentem cativadas por
esta vida mariana em Maria e para Maria. Todavia,
não podem por isso subestimar ou menosprezar
esta vida como ainda imperfeita e como uma vida
que convenha somente a principiantes ou àqueles
que ainda estão a caminho. Isto lhes parece como
um pouco contrário à simplicidade, despojamento
e abnegação de todas as criaturas e, assim
sendo, bem afastado ainda da perfeição. Elas têm
que saber que esta vida mariana pode muito bem
existir sem impedimento algum para a vida
espiritual, como já explicamos acima; antes pelo
contrário, enquanto Deus deste modo influencia a
alma, esta vida mariana é uma grande ajuda e
estímulo. Porém, tudo acontece na hora certa.
Fora da moção e operação do Espírito Santo não é
bom forçar o espírito ou convencê-lo, ou fazer
com que ele se ocupe com isto. Basta contemplar
com sentimento carinhoso nossa amável Mãe e
amá-la mais intimamente, até que Ela mesma
tenha a bondade de infundir na alma aquele
espírito de vida mariana. Quando as almas unidas
com Deus são cativadas por nossa amável e são
condu idas como pela mão d’Ela a este grau
superior, então experimentarão quanto é real o
que está escrito aqui sobre a vida mariana em
Maria e para Maria. Então não mais lhes
estranhará tanto que São Pedro Tomás possuísse
por nossa Mãe amantíssima sentimentos tão
ternos de amor que se aproximasse d’Ela de modo
tão carinhoso e confiante; que gostasse tanto de
pensar n’Ela e parecesse constant emente ocupado
com Ela, sem nunca se esquecer dela, tendo o
coração cheio de recordações, lembranças e amor,
falando, comendo, bebendo ou fazendo qualquer
coisa. Tudo se impregnava com o doce nome de
Maria cujo nome ele mereceu ter imprimido no
seu coração, como se conta. Pois, poder-se-ia
dizer que o hábito contínuo de ocupar o seu
coração carinhosamente com Maria, amando-a
com amor ardente, tinha feito com que ele fosse
absorvido n’Ela e quase se transformasse n’Ela
pela fusão de amor com Ela e com Deus. O
mesmo vale para São Bernardo e para o Beato
Herman Joseph. Santa Maria Madalena de Pazzi e
inúmeros outros santos viviam de fato uma vida
mariana sem impedimento algum para a vida
divina de contemplação ou de amor unitivo. Dizer
que estes santos, nos exercícios de amor por Maria
e nestas operações interiores do Espírito Santo,
eram imperfeitos, parece contradizer a razão e a
veneração devida aos santos, como foi
demonstrado abundantemente num outro lugar.

CAPÍTULO 9

A UNIÃO SUBLIME DE MARIA COM DEUS
ESCLARECE A UNIDADE ORGÂNICA
DA CONTEMPLAÇÃO MARIANA

A vida mariana encontra sua origem na íntima
união de Maria com Deus. Se tal não fosse o caso,
esta vida mariana seria imperfeita e nos separaria
de Deus. Como “Mãe de Deus”, Maria está unida a
Deus de modo mais sublime que as outras
criaturas.

A vida mariana recebe toda a sua excelência,
grandeza e dignidade da total união de Maria com
Deus e da sua participação superabundante nas
graças divinas que lhe foram dadas sem medida
mais do que a todas as outras criaturas e de
maneira inefável e incompreensível para nós.
Deus é o abismo inesgotável de todo o bem e
dando-se inteiramente a Maria, junto com Ela é
amado, contemplado e saboreado, numa
contemplação, amor e íntima união. Sem esta
contemplação, amor e gozo simultâneos de Maria
em Deus e de Deus em Maria, como uma
realidade só, a vida mariana seria praticada de um
modo muito superficial e imperfeito. Contemplá-
la, amá-la, abraçá-la, ser levado por uma
inclinação terna para com Ela, como simples
criatura e não como unida com Deus em Deus,
despertaria, necessariamente, uma certa
inclinação natural ou sentimental e separaria a
alma de Deus. O objeto do amor revela a
qualidade do amor. Quando o objeto é natural e
sensitivo, assim o amor; quando o objet o é
sobrenatural e divino, o amor deve corresponder.
Por isso a alma que ama Maria deve cuidar de
purificar, aos poucos, o amor por Ela, amando-a
com um puro amor, assim como Ela é sumamente
amável em Deus e como de fato é amada pelos
santos, pelo próprio Cristo e por Deus. Por isso, é
bom saber por que nossa Amável Mãe é mais
unida com Deus e mais transfigurada pela
essência divina e mais partícipe das propriedades
e perfeições de Deus do que os maiores santos e
anjos. Deus a fez digna para que Ela recebesse no
seio virginal a Palavra Eterna do Pai, que nela
morou nove meses e divinizou Sua natureza,
corpo e alma, penetrou-a totalmente, uniu-a
consigo e transformou- a pelo laço indissolúvel
do Seu amor por Ela e, reciprocamente, do amor
de Maria por Ele. Assim, a alma piedosa pode vê-
la claramente como uma só com Deus e em Deus,
como objeto da sua contemplação amorosa, amor
unitivo e gozo tranqüilo. Nesse sentido, ela pode
viver em Maria e para Maria e, ao mesmo tempo,
viver uma vida divina em Deus e para Deus. A
alma sente-se atraída por isso, fortemente, e
estimulada, quando Deus se digna iluminá-la com
Seu raio divino. Com os olhos iluminados pela fé,
ela pode ver e reconhecer, um pouco, a
sublimidade e elevação inefável, poder e
autoridade com que Deus honrou a Sua Mãe e
nomeou-a Medianeira de todas as Suas graças,
dádivas divinas e misericórdias. Como Sua Mãe,
investiu-a com perfeições divinas e uniu-a tão
intimamente com a Sua essência que a alma
amante vê Maria, de certo modo, como uma só
coisa com Deus. Era muito conveniente, portanto,
que devesse existir uma relação mais íntima entre
Mãe e filho. Por isso, a alma piedosa não se deixa
convencer que em nossa Amável Mãe somente
exista uma união simples com a essência divina
como acontece com os Santos. Conforme a
iluminação interior dada por Deus,a alma
acha que nossa Mãe bondosa está unida com Deus
de um modo diferente e inefável e mesmo
divinizada, de tal modo que, num certo sentido,
mereça ser chamada “deusa” Ela parece ser pela
graça, o que Deus é por natureza. Com efeito,
quando se di dos santos “Eu disse Vós sois
deuses e todos filhos do altíssimo” tanto mais é
admissível chamar nossa Doce Mãe,
verdadeiramente num certo sentido “deusa”!

CAPÍTULO 10

ILUMINAÇÕES A RESPEITO DA
SUBLIMIDADE DE MARIA,
FONTE DA VIDA MARIANA

Há almas, nas quais se desabrocha uma vida
mariana por iluminações interiores a respeito das
grandezas, graças e privilégios de Maria. Por isso
brota nelas aquele amor maravilhoso para com a
Mãe de Jesus.

Há almas que são atraídas ainda mais
fortemente e estimuladas a uma vida mariana, em
Maria e para Maria, por iluminações interiores a
respeito de sua sublimidade. A bondade divina
quer manifestar sempre mais a grandeza,
sublimidade, poder e majestade desta Mãe
amantíssima e, ao mesmo tempo, o amor
incompreensível e totalmente inefável de Deus
por Ela. Levado por esse Amor, Deus, do fundo do
seu coração divino, dá à Sua Mãe tal abundância
de graças e privilégios, que nada mais podia dar-
lhe, nem podia fazê-la maior, mais bela, mais
elevada, mais sublime e digna do que Ele A fez.
Neste sentido, Deus, segundo a Sua onipotência,
sabedoria e bondade, não podia criar uma criatura
mais nobre, pura, perfeita e digna do que esta, que
é a Sua e nossa Mãe, amada acima de tudo. Estas
almas compreendem como Deus, pelo grande
amor por esta doce Mãe, deu-se totalmente a Ela e
encheu-a tanto de Si mesmo e de Suas perfeições
divinas, quanto uma criatura pura poderia conter.
Além disso, esta Doce Mãe, pela colaboração
fidelíssima com as divinas graças recebidas e pela
resposta perfeita em cada momento, conquistou
uma tal grandeza espiritual que não tinha falha
alguma e, além disso, iluminada por um
conhecimento totalmente claro das coisas divina
se inflamada por um ardente amor por Deus,
superou todos os coros dos anjos em perfeição.
Àquelas almas um raio de luz divina revela, às
vezes, que Deus se compraz e se deleita com esta
Mãe perfeitíssima sozinha mais do que todos os
santos juntos. Por isso Ele tem por Ela maior amor
do que por todos os eleitos juntos. Através de um
tal conhecimento claro e iluminação interior a
respeito dos privilégios de Maria, crescem mais
nestas almas a firmeza, simplicidade e pureza da
reverência, do respeito e do amor para com nossa
Mãe bondosa. Parece que o espírito delas está
preso a Maria e o seu coração parece "ferido” por
um ardente amor por Ela. Por isso, aos poucos,
essas almas ficam arrebatadas num êxtase de
amor, porque uma certa revelação nova das
perfeições maravilhosas, escondidas por Deus em
Maria, e do amor extraordinário e inexplicável de
Deus por Ela, leva aquelas almas até uma
admiração profunda e elevada. Por isso, elas,
quando nesta iluminação e doce ardor de amor
contemplam Maria, ficam de fora de si, porque
não conseguem compreender as maravilhas que,
então, lhes são reveladas. Ainda não
satisfeito, o amor jorra do fundo do coração, de tal
modo que a alma dá um grito de admiração e
busca palavras para expressar ou exaltar a
grandeza, sublimidade e dignidade desta Doce
Mãe; para louvar, bendizer, glorificar e
engrandecer Aquela que ela ama tão ardente e
ternamente. Assim faz um amante apaixonado
que não sabe pensar e descobrir como louvar,
glorificar e engrandecer a sua amada.

CAPÍTULO 11

FRUTOS DA VIDA MARIANA

Trata-se de outros atos de amor da vida mariana
com a alegria pelos privilégios de Maria e pelo seu
nome dulcíssimo; o repouso, a respiração e a vida
em Maria. Trata-se do significado da vida em Maria
e simultaneamente em Deus. Como a alma se
transforma em M aria e se une com Ela.
Por isso, essas almas não podem, em
nenhum momento, esquecer nossa Doce Mãe,
como tampouco podem esquecer Deus, que está
presente em toda parte. Pelo terno e ardente
amor, aos poucos, elas perdem-se na Mãe e ficam
mais e mais unidas a Ela. Por este amor forte e
doce, ardente e íntimo, chegam até o
esquecimento profundo de si e de todas as
criaturas. Às vezes, sentem uma grande alegria,
um sentimento de prazer e júbilo, quando vêem a
sua Mãe Dulcíssima ser amada de modo tão
grandioso e elevado por Deus. Então, elas não
sabem o que fazer ou dizer, para agradecer a Deus
por tudo isto, para louvar Maria e Deus como
convém, e bendizê-los pelas iluminações e
conhecimentos interiores que receberam. Não
tendo condições para louvar e amar como
convém, elas ficam num profundo silêncio e
repouso amoroso. A razão, achando-se na
impotência por causa da admiração da grandeza
dos mistérios que não consegue compreender,
entregar-se e desiste como derrotada, deixando
para a vontade somente sozinha o dever de amar.
Uma alma “Maria-amante” sente às ve es sua
respiração e sua vida em Maria. Ela percebe uma
doçura íntima ao ouvir, chamar, escrever ou só
pensar no nome Dulcíssimo de Maria. O seu
espírito exulta de alegria e ela oferece seu coração
às mãos maternas de Maria para que Ela o
purifique de tudo o que desagrade a Deus ou a
Ela. Acompanham a alma com isso, sentimentos
amorosos, inocentes e confidenciais a respeito de
Maria “ nima magis sit ubi amat, quam ubi
animat” ( alma mais está onde ama do que onde
anima). Assim, uma tal alma parece estar mais em
Maria e em Deus do que onde ela mora
naturalmente, porque ela ama de modo tão doce e
sinceramente Maria em Deus. Esta é a vida de
amor da alma em Maria e, ao mesmo tempo, em
Deus. Assim deve-se também entender: como a
alma, buscando o seu semelhante, assemelha-se a
ele, assim também, a alma que se compraz em
Maria fica absorvida n’Ela e n’Ela se transforma
Evidentemente, o amor busca união com o
amado...

CAPÍTULO 12

SIMPLICAÇÃO E ESPIRITUALIZAÇÃO
DA VIDA MARIANA

A vida mariana em Maria e para Maria pode ser
vivida de modo muito simples e íntimo, assim como
– de modo similar – a vida divina em Deus e para
Deus se exerce com simplicidade. É como se fossem
unidas três realidades: a alma, Maria e Deus.
Alguns místicos não conseguem entender isto. Esta
fusão é fruto da atuação do Espírito de Deus. Tal
foi o caso de muitos santos.

As almas que amam Maria parecem ter as
seguintes experiências a respeito da vida mariana:
a vida em Maria, para Maria e por Maria e, ao
mesmo tempo, em Deus, para Deus e por Deus,
pode ser vivida quase com a mesma simplicidade,
intimidade e elevação do espírito com que é vivida
em Deus. Com efeito, aos poucos se exerce esta
Vida Mariana de tal modo que somente poucas
imagens a respeito da pessoa de Maria
permanecem no pensamento. A alma vê Maria tão
unida a Deus como se Ela e Deus se fundissem
e se tornassem um só objeto de contemplação e
amor, na simplicidade do espírito, como nós já
dissemos. Memória, entendimento e vontade
ocupam-se tão tranquilamente e com tanta
simplicidade e intimidade com Maria e com Deus,
ao mesmo tempo, que a alma quase não percebe
de que modo e como agem estas faculdades da
mente. De modo vago, porém, a alma percebe que
a memória se enche com uma imagem muito
simples de Deus e Maria, que o entendimento
contém um conhecimento despojado, claro e puro
da presença de Deus e, ao mesmo tempo, de
Maria em Deus e que a vontade se dedica àquele
tranqüilo, íntimo, doce, terno e, ao mesmo tempo,
espiritual amor por Deus e por Maria em Deus e
àquela amorosa adesão a Deus e a Maria em Deus.
Eu disse “ mor espiritual” Então o amor parece
principalmente, cintilar e agir na parte superior da
alma, deixando de lado as faculdades inferiores ou
sensitivas. Assim, ela tem condições melhores
para uma fusão interior em Deus e em Maria e
para uma união com Deus e, ao mesmo tempo,
com Maria. Quando as faculdades da alma estão
ocupadas de modo tão elevado e perfeito com a
memória, o conhecimento e o amor de Deus e
Maria, então, segue disto uma afeição tão firme e
íntima de toda a alma a Deus e Maria, que ela
parece, de um certo modo, unir-se por esta fusão
amorosa ou fluência de amor com Deus e Maria,
como se esses t rês se fundissem num só, Deus,
Maria e a alma. Isto parece o limite que a alma
pode alcançar nesta vida mariana e é o ato
principal deste exercício e deste espírito de amor
por Maria. E isto não é um impedimento na vida
espiritual, mas, ao contrário, um apoio. A pessoa
de Maria estimula e confirma aquela união da
alma com Deus. Assim, Ela dá à alma amante um
apoio e uma ajuda para conquistar uma vida mais
sólida, constante e perfeita de contemplação,
união e transformação em Deus. Provavelmente,
muitos místicos e contemplativos tenham outra
opinião e imaginem que esta vida mariana em
Maria seja um impedimento para a união perfeita
com Deus, para o repouso interior em Deus, para
a vida mística, para a fruição da essência de Deus
e assim por diante. Imaginam esta vida mariana
“pouco concentrada” “ativa” e “dispersiva” Não
enxergam o modo perfeitamente harmonioso e
muito simples com que pode ser vivida esta
vida, quer dizer, puramente no espírito e em
Deus, sob a condução e atuação mística do
Espírito Santo. Pode acontecer que esta
contemplação de Maria e aqueles sentimentos
ternos e demais atos de amor por Maria apareçam
muitas vezes bem misturados com as faculdades
sensitivas e suas operações. Todavia, a alma não
fica por isso impedida na afeição imediata ou
união com o Sumo Bem e a pura essência de Deus,
quando, por dentro e espontaneamente, é movida
pela atuação e condução do Espírito de Deus. Por
isso mesmo fica mais facilmente atraída para Deus
e continuamente cativada por Ele. Quero observar
aqui que “tudo isto opera na alma um e o mesmo
Espírito” que é o operador desta vida mariana
que finalmente desabrocha na vida mística
perfeita. Ninguém deve surpreender-se com isto.
Pensemos nas vidas dos santos, que se destacaram
na vida mística e, todavia, nos seus
arroubamentos e êxtases foram movidos pelo
amor mui íntimo para com nossa bondosa Mãe.
Sem dúvida alguma, sabiam amar sem qualquer
imperfeição e, todavia, viver inteiramente com
Deus, ou melhor, movidos e conduzidos pelo Espírito de Deus, como é o caso de São Bernardo, de Santa Maria Madalena de Pazzi e
inúmeros outros. Que estes místicos levem em
conta isso, antes de criticar nossa vida mariana.


CAPÍTULO 13

A VIDA MARIANA É VIVER
SEGUNDO O ESPÍRITO DE JESUS

Assim como o Espírito de Jesus incentiva o amor
para com Deus-Pai, assim também incentiva o
amor para com a nossa amável Mãe. Tal foi o caso
do próprio Jesus. O Espírito de Jesus faz com que a
alma viva vida divina em Deus e para Deus, e
simultaneamente vida mariana em Maria e para
M aria, sem impedimento algum para a união
perfeita e mística.

Para maior clareza, podem servir-nos estas
palavras do póstolo “ prova de que sois filhos é
que Deus enviou aos vossos corações o Espírito de
Seu Filho que clama “ Abba Pater” (Gl 4 6 Rm
8 ,15). Entendemos, por isto, que o Espírito de
Jesus mora nos filhos de Deus e neles opera
um terno amor para com Deus Pai, conforme a
capacidade de cada um. Ora, assim como o
Espírito de Jesus suscitou n’Ele um amor filial para
com o Seu Eterno Pai, assim também suscitou
n’Ele filiais afetos amorosos abraços e outras
efusões de carinho para com a Sua Mãe caríssima,
e isto por toda a eternidade. Que admira, pois,
que o mesmo Espírito de Jesus, que nos corações
dos filhos de Deus clama “ bba Pater” ou seja
que suscita ternos afetos de amor para com o Pai
de Jesus nos mesmos corações clame “ ve
Mater” ou seja suscite filiais afetos reverenciais e
amorosas efusões, colóquios e outros atos para
com a Mãe amável, como aconteceu com Jesus,
durante a Sua vida e acontecerá por toda a
eternidade? Assim, pois, poder-se-á dizer às almas
amantes de Maria “Porque sois filhos de Maria
enviou Deus aos vossos corações o Espírito de Seu
Filho que clama “ ve Mater” isto é que suscita
em vós filiais carinhos, amorosas inclinações,
amistosos recursos, inocentes e ternos abraços e
variadas demonstrações de terno amor a Maria,
Mãe amabilíssima e digníssima. É o mesmo
Espírito de Jesus que opera tudo nestas almas e
que suscita, ao mesmo tempo, o amor divino e
o amor mariano, sem que um impeça o outro. E,
conseqüentemente, assim como tais almas, pelo
amor de Deus, vivem a vida divina em Deus e por
Deus, assim também, pelo mesmo espírito de
amor, que se estende simultaneamente à Mãe
amável, vivem uma vida mariana em Maria e por
Maria, pois um e mesmo Espírito opera nelas tais
coisas. O mesmo Espírito de Jesus as faz amar a
Deus Pai e à Virgem Mãe, a viver em Deus e por
Deus e em Maria e por Maria, divina e
marianamente ao mesmo tempo. Somente
observe-se como isto foi possível, em Cristo, sem
dano para a perfeição mais elevada. Então, se
compreende, facilmente, como isto pode
acontecer em alguns filhos prediletos de Maria,
sem dano para a vida contemplativa ou perfeita.
Isto entenda-se muito bem. Como admirar-se que
onde habita o Espírito de Cristo ali também se
manifeste diversos sentimentos e expressões de
carinho tanto na contemplação e amor de Deus,
como na contemplação e amor de Maria? E tudo
isto opera na alma um e mesmo Espírito de Jesus,
segundo a Sua vontade e segundo a receptividade
de cada um. Daí em diante, ninguém se admire
que isto seja possível e, nem mesmo, que isto
aconteça realmente em algumas pessoas.

CAPÍTULO 14

FIM E RESULTADO ÚLTIMO DA VIDA
MARIANA:
TRANSFORMAÇÃO EM MARIA

O Espírito de Maria conduz algumas almas, toma
posse das mesmas, nela opera e as vivifica. Trata -se
do sentido e da maneira desta atuação. Estas almas
vivem, então, do espírito de Maria, a vida delas é
“Maria” e parecem transformadas em Maria.

Pelo hábito de pensar em Maria, como sua
bondosa Mãe, ou pelas moções múltiplas de amor
e orientação para esta Doce Mãe, causadas pelo
Espírito de Jesus, alguns filhos de Maria deixam-se
conduzir mais adiante, formar, influenciar e
animar pelo espírito d’Ela Por Ela eles são
educados como Seus filhos amados e neles são
impressos o caráter e espírito de Maria. Neste
sentido parece que eles são transformados n’Ela e
parece que o espírito de Maria neles vive e realiza
tudo. Deve-se entender isto como segue: o
Espírito de Jesus, sem dúvida, de modo perfeito e
inefável, operou em Maria e preencheu Sua vida
mais do que a vida de qualquer outra criatura.
Este espírito de Jesus que n’Ela habitava Ele
mesmo realizou as obras, enquanto que não faltou
a colaboração d’Ela ssim o Espírito de Jesus
tornou-se pela colaboração fidelíssima d’Ela um
só com seu espírito de onde procede que Ela possa
di er “meu espírito é mais doce que o mel” (Eclo
24,27). Este Espírito a fez irradiar toda sorte de
virtude e realizou tudo n’Ela e com Ela Quando a
própria Maria quer formar seus filhos, Ela lhes dá
o Seu Espírito, que é o Espírito de Jesus, que
reali a neles as virtudes d’Ela Seu caráter Seu
Jeito e Sua mentalidade. Assim, eles parecem ser
transformados em Maria e parece que o espírito
de Maria vive neles e neles opera o Espírito de
Jesus, assim como em Maria. Como se pode
admirar que estes bons filhos se tornem uma só
alma com sua Amável Mãe e se apropriem de seu
caráter? Isto acontece com bons filhos e nisso
empenham-se as mães amáveis. Assim, manifesta-
se neles a vida de Maria, junto com a vida de
Jesus Então acontece o que o póstolo di “Eu
vivo, não eu, mas Cristo vive em mim” (Gl 2 20)
isto é, o Espírito de Cristo vive em mim. Parece
que eles podem dizer, semelhantemente: eu vivo
não eu, mas Maria vive em mim. Neles, tudo o que
contradiz o espírito de Maria está extinto, e tudo o
que concorda com este espírito, vive neles. Sim,
parece mesmo que o espírito de Maria os conduz,
domina e é a vida deles. É como se o espírito de
Maria com o Espírito de Jesus - ou um e mesmo
Espírito de Jesus em Maria – fizesse neles todas as
suas obras e os animasse e conduzisse em tudo,
como Ele animava Maria e a conduzia e realizava
todas as suas obras. Neste sentido, eles não mais
vivem, mas Maria vive neles, incentivando,
dirigindo e conduzindo todas as suas faculdades.
Assim, Ela faz com que vivam novamente em
Deus e, assim, a vida deles é Maria, que eles
saúdam com ra ão “ vida doçura e esperança
nossa salve!” Isto é suficiente para instruir as
almas piedosas na vida deiforme e divina em Deus
e para Deus e, simultaneamente, na vida Mariana,
em Maria e para Maria. Que isto realize em nós
Aquele que nos concedeu, pela intercessão da
Mãe, ansiar por isto, Jesus, bendito nos séculos
dos séculos, Amém!

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