sábado, 31 de maio de 2014

A mãe do Salvador e nossa vida interior.

​Père Garrigou-Lagrange
La Mère du Sauveur et notre vie intérieur

Maria recebe incessantemente de graça e de caridade, quando leva o Menino nos braços, O alimenta, quando recebe Suas carícias, escuta Suas primeiras palavras, o sustenta em Seus primeiros passos. “O Menino, entretanto – diz São Lucas (II, 40) – crescia e se fortificava, estando cheio de sabedoria e a graça de Deus estava nele.” Quando tinha doze anos, acompanhou a Virgem Maria e São José a Jerusalém para celebrar a Páscoa, e no momento do regresso, ficou na cidade sem que seus pais percebessem. Somente no final de três dias o encontraram no Templo entre os doutores da Lei. E Ele os disse: “Porque me buscavam? Não sabiam que devo me ocupar das coisas de meu Pai? Mas eles – faz notar São Lucas, II, 50 – não entenderam o que os dizia.”

Maria Santíssima aceita na obscuridade da fé o que não podia compreender; o mistério da Redenção se irá revelando progressivamente em toda sua profundidade e extensão. Constituiu uma grande alegria o encontrar Jesus, porém esta alegria deixava pressentir muitíssimos sofrimentos.

Bossuet (1) faz estas observações, a propósito da vida oculta de Nazaré, que se prolongou até o ministério público de Jesus: “Os que se chateiam por Jesus Cristo e se envergonham por vê-lo passar a vida em tão estranha obscuridade, se chateiam também com respeito à Maria Santíssima e querem lhe atribuir inúmeros milagres. Mas escutemos o Santo Evangelho: ‘Maria guardava todas essas coisas em seu coração’ (Luc., II, 51)... Não é um emprego bastante digno este de conservar em seu coração tudo o que havia notado e visto de seu caro Filho? Se os mistérios de sua infância foram tão grato passatempo, quanto não se alegraria em ocupar se e meditar em todo o resto da vida de seu Filho? Maria Santíssima meditava em Jesus... permanecia em continua contemplação, fundindo se e derretendo se, por assim dizê-lo, em amor e desejos... Que diremos, pois, de todos esses que inventam belas lendas referentes à Santíssima Virgem? O que vamos dizê-los se a humilde e perfeita contemplação não os basta e satisfaz? Porém, se bastou a Maria e a Jesus, durante trinta anos, não foi mais que o suficiente para a Virgem continuar neste santo exercício? O silêncio da Escritura, com respeito a essa divina Mãe, é mais sublime e eloquente que todos os discursos. Ó homem, demasiado ativo e inquieto por tua própria atividade! Aprende a contentar se com escutar a Jesus em teu interior, lembrando-te Dele e meditando em suas palavras... Orgulho humano! Porque queixais tu com teu desassossego, por não ser nada no mundo? Que personagem foi Jesus nele? E entretanto, que celebridade a de Maria! Eram a admiração do mundo, o espetáculo de Deus e dos anjos! Que faziam? De que se ocupavam? Que fama tinham na terra? E tu queres ter um nome e uma posição gloriosa? Não conheces a Maria nem a Jesus! Dizes: não tenho nada que fazer; quando, em parte, a obra da salvação dos homens está em tuas mãos. Não existem inimigos que reconciliar, diferenças que eliminar, dissensões que terminar, do que disse o Senhor: ‘Tereis salvado vosso irmão’ (Mt., XVIII, 15)? Não existem miseráveis que se há de impedir que murmurem, blasfemem, se desesperem? E quando tudo isso se tenha concluído, não resta ainda o negócio de tua salvação, a verdadeira obra de Deus para cada um de nós?”

Quando se medita na vida oculta de Nazaré, neste silêncio e progresso espiritual de Maria, e depois, por oposição, no que o mundo moderno chama com frequência de progresso, se chega a esta conclusão: nunca se falou tanto de progresso como se esqueceu do mais importante de todos, o progresso espiritual. O que aconteceu? O que tantas vezes fez notar Le Play, que o progresso inferior buscado por si mesmo, está acompanhado da facilidade do prazer, da ociosidade e descanso, de um imenso retrocesso moral até o materialismo, o ateísmo e a barbárie, como mostram muito bem as duas últimas guerras mundiais.

Em Maria, pelo contrário, encontramos a realização cada vez mais perfeita da palavra evangélica: “Amarás o Senhor teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo teu espírito, e ao próximo como a ti mesmo” (Lc., X, 27).

Quanto mais avança, mas ama a Deus com todas as suas forças, ao ver, durante o ministério público de Jesus, como se eleva contra Ele a contradição, até a consumação do mistério da Redenção.

(1) – Elévations, XX semana, IX e X elev.

Fonte: http://auxiliodoscristaos.blogspot.com.br/2014/05/a-vida-oculta-em-nazare.html

sexta-feira, 30 de maio de 2014

Hedonismo: cultura do próprio prazer e a dor que causa às pessoas.

A educação do prazer: desde a infância?
Por João Malheiro

Diante de uma série de crimes brutais cometidos por adolescentes e jovens de classe média ou alta nos últimos meses, é comum que muitos pais se perguntem pelos motivos desse comportamento. Se, por um lado, é verdade que é preciso analisar cada caso individualmente, por outro lado é possível apontar uma tendência comum na educação das crianças: aquela segundo a qual a felicidade está em simplesmente procurar o prazer e evitar a dor. É necessário educar bem os filhos para que eles descubram as verdadeiras fontes da felicidade.
Ao depararmos nos noticiários com jovens de classe média abastados que agem de forma cruel e infra-humana, matando, por exemplo, pessoas da sua própria família, ou com pais que jogam o próprio filho recém-nascido no pára-brisa de um carro por raiva, é cada vez mais comum nos perguntarmos: o que é que está acontecendo com a sociedade? Como é possível que um ser humano possa chegar a semelhantes níveis de violência e insensibilidade? O que leva essas pessoas a perder totalmente a racionalidade e a transformarem-se em verdadeiros “bichos do mato”?

Há diversas possíveis respostas para estas indagações – sejam de índole médico-psiquiátrica, sociológica, filosófica, religiosa etc. – e, portanto, haveria que se pesquisar caso por caso para evitar generalizações perigosas e superficiais. Mas acredito que em todas elas se pode apurar que um grande parte da culpa recai na deficiência, desde a infância, da educação do prazer. Uma deficiência que foi crescendo, desde os anos 70, paulatinamente, década por década, mas que, atualmente – qualquer pai e educador percebe claramente –, vem chegando a níveis bastante preocupantes.

Qualquer pai, educador ou psicólogo sabe por experiência que a dificílima tarefa de educar consiste justamente em ir fortalecendo, ano após ano, passo a passo, num grande exercício de paciência, a inteligência e a vontade do “pimpolho” de modo que consiga que toda a sua carga afetiva-sentimental, instintiva-passional e os seus sentidos-gostos sejam moderados e direcionados para as grandes metas da vida. Antes da inversão da “chave” (de “lt;” para “gt;”), qualquer criança viverá sob o domínio do prazer sensível e identificará felicidade com prazer, o que é um dos maiores enganos deste início de século. Se perguntarmos a um adolescente o que o torna feliz ou o que ele identifica como felicidade, descobrirá que para uns será dormir bastante e a qualquer hora, comer o que lhe der na telha e nas melhores praças de alimentação, divertir-se com os mais diversos recursos audiovisuais que a indústria eletrônica oferece para todos os gostos, viajar bastante nos feriados, ir às festas mais badaladas da noite: enfim, as alegrias materiais, fugazes, rápidas, que não deixam muita coisa no “ser” e que, apesar de serem elementos importantes para a felicidade, não são nem de longe o mais importante.

BUSCAR O PRAZER E EVITAR A DOR

Em outros casos, detectaremos que o jovem adolescente identificará a felicidade com “fazer o que se gosta e fugir do que custa”: é a dinâmica própria da velha doença dos sentimentos desvairados que se chama sentimentalismo. Todo mundo quer e gosta de se sentir bem. O problema não é esse. O problema está em parar nisso: em colocar o fim da vida nisso, pois como será possível alcançar os ideais altos que todo ser humano normal anseia, ou conseguir almejar uma capacidade séria e forte de compromisso, somente sentindo-se bem na vida?

Por fim, outros ainda alegarão que felicidade é ficarem na sua “bolha”: o quartinho, a caminha, a mesinha, com ar condicionado, frigobar, computador-TV-videogame-DVD, cachorrinho, livres dos perigos da vida... Quantas mães são as próprias criadoras destas “bolhas”, que não passam de “câmaras” de infra-filhos, os quais irão crescer sem anticorpos para vencer as dificuldades da vida!

Podemos observar, portanto, que toda a criança, nos primeiros anos da sua vida, é “naturalmente” egoísta e tremendamente hedonista (prazer pelo prazer, sem porquês, sem medidas, sem limites). Como se já não bastasse toda esta força negativa da própria natureza humana da criança, vem-se somando, desde os anos 70, uma outra carga negativa que é a força do meio em que toda criança vive. É já lugar-comum afirmar a força que exercem hoje os meios de comunicação – TV, outdoors, internet, filmes, músicas – nas escolhas dos jovens e adolescentes.

A PRIMAZIA DOS SENTIMENTOS

Se fizéssemos uma exploração histórico-filosófica – aqui daremos somente umas breves pinceladas – desde a Idade Média até ao início do século XX, perceberíamos com muita facilidade que os domínios da inteligência e da vontade sempre se foram revezando na primazia: em algumas épocas, o grande “valor” social eram as conquistas e as guerras; em outras, as grandes descobertas; ora o heroísmo do além-mar, ora o mundo das idéias. Nem a inteligência nem a vontade nunca se deixaram perder ou rebaixar pelo mundo dos sentimentos e dos afetos. No início do século passado, influenciados tanto por alguns filósofos que, reagindo a tanto racionalismo e cientificismo humano, “lançaram no mercado” a supremacia dos sentimentos, como por um rápido desenvolvimento tecnológico, que oferece ao mundo conforto e prazer jamais imaginados pelos nossos antepassados, a sociedade se “vendeu” ao prazer.

Durante todos estes anos, semelhante idolatria foi crescendo e ganhando espaço e hoje – com a revolução tecnológica que permitiu a globalização –, parece que estamos chegando perto do seu ápice. O fato é que esta força social é a grande motivação de muitos pais para trabalharem doze horas por dia e se matarem irracionalmente para ganhar muito dinheiro que permita, primeiro, “ter” para curtir a vida e mostrar aos outros que “têm”; e, depois, oferecer aos filhos aquilo que a sociedade diz ser felicidade. Esta é a grande responsável de que os pais poupem sofrimento aos filhos, custe o que custar, em vez de lhes ensinar – aos pouquinhos – como enfrentar o sofrimento e dar-lhes um sentido na hora da dor. É ela que vem induzindo o adolescente a fazer de tudo para se “sentir” feliz de forma errada e nociva.

O que acontece quando a força negativa da natureza da criança se soma a essa força social? Qualquer pai ou mãe que analise em profundidade as conseqüências nocivas que essa resultante de forças cria, só pode e deve ficar bastante preocupado. Perceberá que muitas delas se identificarão com algumas das “chagas” sociais que tanto se comentam nas reportagens dos jornais e, quiçá, se encontram na sua própria família.

CONSEQÜÊNCIAS DO PRAZER COMO FINALIDADE

Uma criança que identifique felicidade com prazer facilmente se tornará consumista e materialista: só se “sentirá feliz” se puder ir ao shopping todos os fins de semana e comprar a vigésima calça para a festa da amiguinha; terá vergonha de ir ao colégio se o pai não tiver o carro do ano; fará de tudo, se precisar, para conseguir ter mais dinheiro.

Uma criança que é educada na dinâmica do sentimentalismo – fazer só o que gosta e fugir de tudo o que custa – será, em primeiro lugar, uma pessoa fraca de vontade: não terá capacidade de alcançar os ideais altos que exigem muita garra e fortaleza e será um inconstante infeliz; não conseguindo conquistar esses ideais e sendo “discriminado” pela vida, com muita probabilidade tornar-se-á uma pessoa depressiva – já chamam a depressão de “doença do século XXI”! – e imatura, porque não consegue vaga na faculdade, no mercado de trabalho, não é feliz no namoro, não tem alegria na vida. Para quem se encontra num estado interior assim, passar para a violência requer apenas um pulinho. A violência da classe média é, na maioria das vezes, reflexo da sua própria fraqueza, construída normalmente com as facilidades e mimos dos familiares.

Por outro lado, uma pessoa fraca, depressiva e violenta – queira ou não queira –tornar-se-á uma pessoa solitária, sem amigos e sem amores. Fica fácil entender agora por que muitos jovens hoje se escondem – se alienam, se refugiam – nas drogas e nas mais diversas modalidades do sexo? Por que parecem “bichos do mato”?

Por mais alarmistas que possam parecer estas considerações, é uma pena ter de reconhecer que se trata de uma realidade muito próxima. Em todos os exemplos anteriores, como consultor educacional e com experiência de mais de 20 anos na área educacional, poderia citar nomes e sobrenomes de inúmeros casos iguais ou semelhantes.

MOSTRAR ONDE ESTÁ A FELICIDADE

É necessário e urgente investirmos pesado na educação dos nossos jovens. É preciso mostrar-lhes que a felicidade não está no prazer desvairado e irracional, mas no prazer certo, no lugar certo, na medida certa e com a finalidade certa. Que para isso é preciso aprender, desde cedo, a dizer “não” a muitos desejos e impulsos. Que quando são bem explicados, os porquês dos “não” não só não traumatizam – como já se disse muito por aí – mas libertam, e no fundo estão dizendo “sim” à verdadeira felicidade, à verdadeira realização, aos verdadeiros amores. Que não é muito inteligente buscar um prazer imediato, irrefletido e animal, que conduza depois a tanta tristeza e depressão, que duram, às vezes, por períodos longos ou até a vida toda.

Está na hora de investir intensamente nas alegrias da inteligência, dos valores humanos, da descoberta do sentido da vida, da cultura, das convicções firmes. Como também chegou o momento de resgatar o papel fundamental que tem, no equilíbrio das paixões e na harmonia dos sentimentos, a conquista da vontade, do amor real e da verdadeira amizade. Somente assim será possível darmos às nossas crianças capacidade de enfrentar e superar toda a pressão interna e externa que sofrem todos os dias; e dar-lhes a possibilidade de vislumbrar horizontes mais humanos.


Fonte: Interprensa

A sabedoria de São João da Cruz.

DITOS de Luz e Amor

(retirado do livro "Obras Completas— S. João da Cruz")

PRÓLOGO

Ó Meu Deus e meu enlevo, também foi por amor a Vós que a minha alma se quis aplicar nestes vossos ditos de luz e amor. Embora tenha o seu dizer, falta-me a sua obra e virtude, que é, meu Senhor, o que neles Vos agrada mais do que palavras e sabedoria. Talvez outras pessoas, animadas por eles, possam aproveitar no vosso serviço e amor, em que eu falto, e a minha alma se console por ter sido ocasião para encontrardes noutros o que falta nela.

Vós, Senhor, amais a discrição, a luz e o amor mais do que outras operações da alma. Por isso, estes ditos servirão de discrição para o caminhar, de luz para o caminho e de amor no caminhar.

Arrede-se, pois a retórica do mundo! Ponhamos de lado o palavreado e a eloquência oca da sabedoria humana, débil e engenhosa, que nunca Vos agrada. Ao contrário, dirijamos ao coração palavras banhadas de doçura e amor, que muito Vos agradam. Talvez, assim, retiremos pequenas ofensas e dificuldades em que muitas almas tropeçam por ignorância; e, não sabendo, continuarão a errar, pensando que acertam no seguimento do vosso dulcíssimo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, por se verem semelhantes a Ele na vida, circunstâncias e virtudes, ou na forma de desnudez e pureza de espírito. Sede Vós, porém, Pai das misericórdias, a dá-la, porque sem Vós, Senhor, nada se fará.

1. O Senhor sempre revelou aos mortais os tesouros da Sua sabedoria e do Seu espírito; mas agora, que a malícia vai mostrando cada vez mais o seu rosto, revela-os ainda mais.

2. Ó Senhor, meu Deus, quem Vos procurará com amor puro e singelo sem que Vos encontre ao seu gosto e vontade, sabendo que Vós sois o primeiro a mostrar-vos e a vir ao encontro daqueles que Vos desejam?

3. Ainda que o caminho seja plano e suave para os homens de boa vontade, contudo o caminhante andará pouco e a muito custo se nisso mesmo não se empenhar com boas pernas, coragem e audaz porfia.

4. Mais vale estar carregado junto do forte do que aliviado junto do fraco. Quando estás carregado estás junto de Deus, que é a tua fortaleza, pois Ele está perto dos atribulados. Quando estás aliviado estás junto de ti, que és a tua própria fraqueza. A virtude e a fortaleza da alma crescem e confirmam-se com trabalhos e paciência.

5. Quem quiser estar sozinho, sem ajuda de mestre ou guia, assemelha-se à árvore do campo, sozinha e sem dono: por muito fruto que dê, os caminhantes sempre a colherão antes do tempo.

6. A árvore cultivada e resguardada pelo seu dono dá o fruto no tempo que dela se espera.

7. A alma virtuosa, sozinha e sem mestre, é como o carvão aceso que fica só: mais se vai esfriando que acendendo.

8. Quem cai sozinho, sozinho fica no chão, e pouco apreço tem pela sua alma, pois só a escora em si.

9. Se não temes cair sozinho, como presumes em levantar-te sozinho? Olha que podem mais dois juntos do que um sozinho.

10. Quem cai carregado, dificilmente se levantará.

11. Quem cai cego, não se levantará sozinho. E, se se levantar, encaminhar-se-á por onde não convém.

12. Deus antes quer de ti o mais pequeno grau de pureza de consciência do que todas as obras que possas fazer.

13. Deus antes quer de ti o mais pequeno grau de obediência e humildade do que todos esses serviços que Lhe pensas oferecer.

14. Deus estima mais em ti a disposição para a aridez e o sofrimento por Seu amor do que todas as consolações, visões espirituais e meditações que possas ter.

15. Nega os teus desejos e encontrarás o que o teu coração deseja. Sabes, por acaso, se o teu apetite é do agrado de Deus?

16. Ó dulcíssimo amor de Deus, tão mal conhecido! Descansado fica quem encontrou a sua fonte.

17. Se hás-de receber redobrada amargura por fazeres a tua vontade, então não a faças, apesar de te amargurares.

18. A alma que se encaminha para Deus, se tiver em si o mais pequeno apetite por qualquer coisa do mundo, vai mais desonesta e impura do que se carregasse todas as indecorosas e molestas tentações e trevas que se possam imaginar, desde que a vontade racional não as aceite. Nessa ocasião até se pode aproximar com mais confiança de Deus, porque está a fazer a vontade de Sua Majestade que diz: Vinde a Mim todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu vos aliviarei (Mt 11,28).

19. Agrada mais a Deus a alma que, na aridez e provações, se sujeita à razão do que aquela que, sem dela fazer caso, tudo faz a seu bel-prazer.

20. Uma obra feita às escondidas e sem querer que se saiba, por pequena que seja, agrada mais a Deus do que mil feitas com vontade de que os homens as vejam. Quem faz as coisas por Deus no amor mais puro, pouco se importa que os homens as vejam, pois nem as faz para que o próprio Deus as conheça. E ainda que Ele nunca as viesse a conhecer, não deixaria de Lhe prestar os mesmos serviços com a mesma alegria e pureza de amor.

21. A obra feita por Deus em total pureza, transforma o coração puro em reino inteiro para o seu senhor.

22. Duplo trabalho tem o pássaro que poisou no visco: soltar-se e limpar-se. Também de duas maneiras pena quem satisfaz o seu apetite: em primeiro lugar libertar-se dele e, depois, limpar-se do se lhe apegou.

23. Quem não se deixa levar pelos apetites, voará ligeiro no espírito, como acontece à ave que tem penas.

24. A mosca que poisa no mel interrompe o seu voo. A alma que queira manter-se atida ao sabor do espírito interrompe a sua liberdade e contemplação.

25. Se quiseres guardar a imagem pura e simples do rosto de Deus na tua alma, não te mistures com as criaturas; ao contrário, esvazia e afasta muito delas o teu espírito e andarás na luz divina, porque Deus não se parece com elas.

26. Oração da ala enamorada Senhor Deus, Amado da minha alma!

* Se ainda Vos recordais dos meus pecados para não me fazeres o que Vos tenho andado a pedir, fazei meles, meu Deus, a Vossa vontade, pois é o que eu mais quero; fazei sentir a Vossa bondade e misericórdia e neles sereis conhecido.

* E se estais à espera das minhas obras para atenderdes o meu pedido, dai-mas Vós e realizai-as por mim, bem como as penas que quiserdes aceitar, e faça-se.

* Mas se pelas minhas obras não esperais, então porque esperais, meu clementíssimo Senhor? Porque tardais?

* E já que, enfim, há-de ser graça e misericórdia o que em vosso Filho Vos peço, recebei o meu nada, já que o quereis, e concedei-me este bem, que também é o que quereis.

* Quem se poderá livrar destes modos e baixos termos se não sois Vós, meu Deus, a erguê-lo para Vós, em pureza de amor? Como se elevará até Vós o homem gerado e criado em baixezas, se não sois Vós, Senhor, a deitar-lhe a mão com que o fizestes?

* Meu Deus, não me ireis roubar o que me destes um dia no vosso único Filho, Jesus Cristo, no qual me destes tudo quanto quero; por isso, espero e confio em que não tardarás.

* E porquê tanta demora, se já podes a Deus no teu coração?

* Os céus são meus e a terra é minha. Os povos são meus; meus são os justos e os pecadores. Os anjos são meus, a Mãe de Deus é minha, e minhas são todas as coisas. O próprio Deus é meu e para mim, porque Cristo é meu e todo para mim. Então, que pedes e procuras alma minha? Tudo isto é teu e para ti. Não te rebaixes nem olhes às migalhas que caem da mesa do teu Pai.

* Sai para fora e gloria-te na tua glória; esconde-te nela e goza, pois alcançarás o que o teu coração deseja.

27. O espírito bem purificado não se mistura com estranhas advertências nem respeitos humanos, mas apenas se comunica interiormente com Deus, na solidão de todas as formas, em ameno sossego, porque o seu conhecimento é em silêncio divino.

28. A alma enamorada é suave, mansa, humilde e paciente.

29. A alma rude endurece-se no seu amor-próprio.

30. Se Vós, ó bom Jesus, não suavizais a alma no Vosso amor, ela continuará sempre na sua rudeza natural.

31. Quem perde a ocasião é como quem deixou fugir o pássaro da mão: não o voltará a apanhar.

32. Eu não Vos conhecia, meu Senhor, porque desejava ainda conhecer e saborear coisas.

33. Senhor Deus, que tudo mude em boa hora para repousarmos em Vós.

34. Um só pensamento do homem vale mais que o mundo inteiro. Portanto, só Deus é digno dele.

35. O que não sentes é insensível; o que sentes é sensível; o pensamento é espírito de Deus.

36. Olha que o teu anjo da guarda nem sempre move o apetite a agir, se bem que ilumine sempre a razão. Portanto, não estejas à espera do gosto para praticar a virtude, pois basta a razão e o entendimento.

37. Quando o apetite está posto noutra coisa, não dá lugar a que o anjo o mova.

38. O meu espírito secou, porque se esqueceu de apascentar-se em Vós.

39. O que pretendes e o que mais desejas não o encontrarás no caminho que levas, nem na alta contemplação, mas só com muita humildade e docilidade de coração.

40. Não te canses, pois não gozarás da suavidade do espírito se não te entregares à mortificação de tudo quanto desejas.

41. Lembra-te que a flor mais delicada é a que murcha mais depressa e perde o seu perfume; livra-te, portanto, de caminhar pelo espírito do sabor, pois serás inconstante; procura antes um espírito robusto, desapegado de tudo, e encontrarás suavidade e paz em abundância, porque a fruta mais saborosa e duradoira apanhase nas terras frias e secas.

42. Pensa que a tua carne é fraca e que nenhuma coisa deste mundo pode trazer fortaleza e consolação ao teu espírito, porque o que nasce do mundo é do mundo, e o bom espírito só nasce do espírito de Deus, que não se comunica nem pelo mundo nem pela carne (cf. Jo 3,6).

43. Presta atenção à razão para fazeres o que ela te indicar no caminho para Deus. Valer-te-á mais isso diante de Deus do que todas as obras feitas sem essa atenção e todos os gostos espirituais que desejas.

44. Feliz aquele que, tendo posto de lado o seu gosto e afeição, vê as coisas na razão e na justiça para as fazer.

45. Quem se guia pela razão é como quem se nutre de substancia; quem se guia pelo gosto da sua vontade é como quem come fruta mole.

46. Senhor, com alegria e amor, levantais de novo quem Vos ofende, enquanto que eu não volto a levantar nem honrar a quem me aborrece.

47. Ó Senhor todo-poderoso, se uma centelha do império da Vossa justiça tem tanta influência no príncipe mortal que governa e guia as nações, o que não fará a Vossa omnipotente justiça no justo e no pecador?

48. Se purificares a tua alma dos estranhos gozos e apetites, entenderás as coisas em espírito; e, se nelas negares o apetite, gozarás da sua verdade, entendendo nelas o que é certo.

49. Senhor, meu Deus, Vós não sois estranho a quem não se esquiva de Vós. Porque dizem, então, que Vós vos ausentais?

50. Verdadeiramente venceu todas as coisas aquele a quem nem o gosto delas o move ao prazer nem a sua insipidez lhe causa tristeza.

51. Se quiseres chegar ao santo recolhimento, mais do que consentindo hás-de ir negando.

52. Meu Deus, indo convosco, seja para onde for, em toda a parte me há-de acontecer aquilo que para Vós desejo.

53. Não poderá chegar à perfeição quem não procura satisfazer-se com tão pouco, de modo que a concupiscência natural e espiritual estejam satisfeitas mesmo sem nada; aliás, é o que se pede para gozar da suma tranquilidade e paz de espírito. É assim que o amor de Deus, na alma pura e simples, está quase permanente em acto.

54. Lembra-te que Deus é inacessível e, por isso, não te deves concentrar no que as tuas potências podem compreender e os teus sentidos sentir, a fim de não te satisfazeres com o mais inferior nem a tua alma perder a necessária ligeireza no caminho para Ele.

55. Como quem puxa um carro encosta acima, assim caminha para Deus a alma que não se liberta de cuidados nem apaga o apetite.

56. Não é da vontade de Deus que a alma se perturbe com coisa alguma nem que sofra amarguras; e se as sofre com as contrariedades do mundo isso deve-se à sua pouca virtude, porque a alma perfeita alegra-se naquilo em que a imperfeita se atormenta.

57. O caminho da vida é de muito pouco barulho e pretensão, e requer mais mortificação da vontade do que muito saber. Quem menos se agarrar às coisas a aos gostos, mais avançará por ele.

58. Não penses que trabalhar muito agrada mais a Deus do que fazê-lo com boa vontade, sem apegos e respeitos humanos.

59. No entardecer examinar-te-ão no amor. Aprende a amar como Deus quer ser amado e não olhes à tua condição.

60. Procura não te misturares em coisas alheias, nem sequer te lembres delas, porque quiçá não poderás cumprir o que tens a fazer.

61. Não julgues que, por não luzirem no outro as virtudes que tu pensas, não será ele precioso aos olhos de Deus pelo que tu não pensas.

62. O homem não sabe alegrar-se nem condoer-se muito bem, porque desconhece a distância entre o bem e o mal.

63. Procura não te entristeceres tão depressa com as contrariedades do mundo, pois não sabes o bem que acarretam consigo, nem como está ordenado nos juízos de Deus para a alegria sempiterna dos eleitos.

64. Não te delicies com as riquezas temporais, pois não sabes ao certo se elas te asseguram a vida eterna.

65. Na tribulação recorre imediatamente a Deus com toda a confiança e serás fortalecido, iluminado e ensinado.

66. Na consolação e na alegria recorre imediatamente a Deus com temor e verdade, e não serás enganado nem envolvido pela vaidade.

67. Considera a Deus como o esposo e o amigo que te acompanha sempre, e, assim, não pecarás, saberás amar, e conhecerás a prosperidade das coisas que necessitas.

68. Conquistarás as pessoas sem grande esforço e as coisas ser-te-ão servidas, se delas e de ti mesmo te esqueceres.

69. Tranquiliza-te, evitando freimas e não te preocupando com o que acontece; assim servirás a Deus a seu gosto e n’Ele gozarás.

70. Lembra-te que Deus só reina numa alma pacífica e livre.

71. Podes fazer muitas coisas, mas se não aprendes a negar a tua vontade e a dominar-te, não te preocupando contigo e com as tuas coisas, não avançarás na perfeição.

72. Que adianta dares a Deus uma coisa se Ele te pede outra? Pensa no que Deus poderá querer e fá-lo, porque assim satisfarás melhor o teu coração do que com aquilo que gostas.

73. Como te atreves a folgar sem nenhum temor, se tens de comparecer diante de Deus para prestar contas da mais pequena palavra e pensamento?

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Inquisição.

INQUISIÇÃO

Por muito tempo instaurou-se na sociedade a idéia fantasiosa de que a Igreja cometeu atos abomináveis em nome da justiça divina, torturas, fogueiras, etc etc. Em 1998 João Paulo II autorizou a abertura dos arquivos secretos da Congregatio pro Doctrina Fide (antigo Santo Oficio) onde se encontra a maior base documental sobre a Inquisição (fonte primária). O estudo desses documentos culminou com um Simpósio Internacional de Historiadores chamado “A Inquisição”, presidido por ninguém menos que Rino Camillieri.

Em discurso do Papa aos cientistas participantes no simpósio sobre “a Inquisição” João Paulo II afirma: “O argumento sobre o qual vos detivestes requer, como é fácil intuir, atento discernimento e notável conhecimento da história.”

Nesse sentido devemos, portanto desconstruir a idéia errada de considerar todos os tribunais medievais simplesmente como “Inquisição”. Devemos distinguir que havia na verdade Tribunal Civil, Tribunal Eclesiástico e Tribunal Protestante. Somente o Tribunal Eclesiástico respondia pela Igreja Católica.

De principio vou me ater ao tribunal Eclesiástico e Civil para depois expor o que se passou pelos Tribunais Protestantes.

Parte I – Posicionamento da Igreja Católica frente as praticas comuns ao Direito Civil:

No livro “A Inquisição em seu mundo” de João Bernardino Gonzaga. Lemos o seguinte:

Conforme atestam inúmeros documentos, a antiga Igreja sempre foi radicalmente hostil à utilização de violências nas investigações criminais. Muito citada é a carta que o papa Nicolau I escreveu, no ano. 866, a Bóris, príncipe da Bulgária:

"Eu sei que, após haver capturado um ladrão, vós o exasperais com torturas, até que ele confesse, mas nenhuma lei divina ou humana poderia permiti-lo. A confissão deve ser espontânea, não arrancada"; e advertiu: "Se o paciente se confessa culpado sem o ser, sobre quem recairá o pecado?"

Eis portanto a repulsa da Igreja – acusada injustamente – frente a tortura. Continuando, se fosse usado algum artifício e tortura temos que ela não deveria pôr em perigo a vida e a integridade fisica do paciente; vedada era a efusão de sangue; um médico devia estar presente; somente podia ser aplicada uma vez, jamais reiterada; a confissão por meio dela obtida apenas valeria se depois livremente confirmada. Condições muito mais suaves, portanto, do que as vigorantes na Justiça secular.

Ainda nesse sentido, uma distinção clara entre os tribunais civis e eclesiástico é vista em relação ao ordálio.

O ordálio era uma prática comum empregada pelo tribunal civil. Na época vigorava o chamado "sistema acusatório", reduzindo-se o julgamento a um confronto, em termos de rigorosa igualdade, entre dois particulares, nobres ou homens livres. Não se formara a noção do interesse público em punir os crimes. Conseguintement e, o direito de acusação somente pertencia à pessoa lesada, ou, se esta houvesse morrido, à sua linhagem. Sem a presença de uma vítima, queixando-se, não era possível instaurar o pleito.

O procedimento era público, oral e formalista. No dia fixado, as partes compareciam pessoalmente perante a assembléia formada pelos seus pares, sob a presidência do senhor feudal ou de um seu representante. O autor apresentava sua queixa de viva voz, através de rígidas fórmulas tradicionais, sem cometer nenhuma falha que permitisse ao adversário proclamar nula a demanda. Em seguida, competia ao acusado responder de imediato, uma vez que o silêncio equivalia a uma confissão. A defesa tinha de consistir em negações exatamente ajustadas aos termos da acusação, refutando-a palavra por palavra, de verbo ad verbum.

Os litigantes deviam também prestar o juramento de que diziam a verdade, sempre que possível acompanhados de pessoas de bem, que endossassem suas posições. Eram os conjuratores. A prova testemunhal, caso existisse, era igualmente formalista: as testemunhas depunham oralmente, diante das partes e da assembléia, li mitando-se a pronunciar certas fórmulas indicativas de que a razão estava com este ou aquele contendor. Mais do que o conteúdo das suas declarações, o que importava era apenas o número de testemunhas concordes. As regras indicavam quantos depoimentos bastavam para que se desse como provado certo fato.

Na hipótese de os juramentos não serem aceitos e de inexistirem testemunhas suficientes, restavam dois outros expedientes, oriundos do antigo Direito germânico: o duelo e os "Juízos de Deus" ou ordálios. Ambos se baseavam na mesma crença, de um Deus sempre presente no mundo, a interferir nos negócios humanos. Provocava-se pois a intervenção divina, para que apontasse o culpado e não permitisse a condenação de um inocente.

No duelo, batiam-se acusador e acusado, reconhecendo-se razão àquele que vencesse. Não deixava de haver aí alguma perspicácia: esperava-se que o mentiroso, sabedor da própria culpa, que Deus também conhecia, lutas se com menor ardor, mais facilmente sendo derrotado.

Finalmente, se por qualquer motivo não conviesse o duelo, recorria-se aos ordálios. Se o acusado insistisse na sua inocência, era ele (e às vezes também suas testemunhas) submetido a alguma prova que ensejasse a Deus a revelação da verdade. Os métodos variaram muito, mas em regra consistiram na "prova do fogo" ou na "prova da água".Por exemplo, o réu devia transportar com as mãos nuas, por determinada distância, uma barra de ferro incandescente. Enfaixavam depois as feridas e deixavam transcorrer certo número de dias. Findo o prazo, se as queimaduras houvessem desaparecido, considerava-se inocente o acusado; se se apresentassem infeccionadas, isso demonstrava a sua culpa. Equivalentemente ocorria na "prova da água", em que o réu devia por exemplo submergir, durante o tempo fixado, seu braço numa caldeira cheia de água fervente. A expectativa dos julgadores era de que o culpado, acreditando no o rdálio e por temor a suas conseqüências, preferisse desde logo confessar a própria responsabilidade, dispensando o doloroso teste.

Se o imputado fosse nobre de muito alto nível, um príncipe, um conde, era-lhe permitido indicar algum subordinado seu para participar dessas provas.

Graças todavia à firme oposição da Igreja, a utilização dos ordálios foi declinando, para praticamente desaparecer no século XIV.

Parte II – Por que a Igreja perseguia os hereges?

Como advertira São Tomás de Aquino, os hereges são como os delinqüentes que passam moeda falsa. O herege procura ser sempre astuto, não revela o seu desvio, e este se torna geralmente difícil de descobrir, porque escondido no íntimo da pessoa. Imperioso era pois a Justiça obter a confissão.
Difícil se torna para nós hoje decidir retroativamente, dentro da formação mental daquela época, como caberia ao dever de caridade resolver este dilema: deixar o herege impune, para que continuasse a disseminar o mal, e, com essa omissão, arriscar-se a perder incontáveis cristãos; ou extorquir-lhe pela força o reconhecimento do seu crime, a fim de tentar corrigi-lo, e, se isso não fosse possível, eliminá-lo para o bem do povo.

Somente a Igreja, jamais o juiz leigo, possui competência para dizer se determinada doutrina é ou não herética. De conseguint e, o julgamento do caso lhe havia forçosamente de caber. Afirmada então por ela a existência do crime, o culpado passava ao tribunal comum, para receber os castigos previstos na legislação estatal.

A Igreja também reivindicou sempre a sua autoridade exclusiva para conhecer de acusações envolvendo clérigos, tanto nos crimes religiosos como nos comuns. Referem os historiadores que muitos bandidos, por isso, se faziam tonsurar, a fim de escaparem da Justiça laica, muito mais severa, e passarem à alçada da religiosa, de maior brandura.

Sempre que pôde, a Justiça canônica pretendeu também que fossem deixados a seu cargo vários crimes praticados por leigos, principalmente aqueles que atingiam a Igreja ou a fé e alguns de natureza mista, que a interessavam maiormente; ou seja, certos atos que, ademais de ilícitos, constituíam grave pecado: delitos carnais em geral, usura, etc.
Muito encontradiça foi também esta solução: o tribunal eclesiástico fazia o processo e proferia a condenação, impondo ao réu uma sanção espiritual ; e o transferia a seguir à Justiça do Estado, para que esta aplicasse, em acréscimo, as próprias penas. Tal sucedia, por exemplo, nas hipóteses em que o crime merecia a pena de morte, inexistente no arsenal repressivo da Igreja. Sendo o réu um clérigo, podia-se recorrer a fácil artifício: primeiro, a Justiça eclesiástica lhe impunha a degradação, fazendo-o retornar à condição de leigo, com o que se via livre para o encaminhar depois às autoridades civis.

Em Portugal, as Ordenações Filipinas foram explícitas nesse sentido, dizendo no Livro V, Título I: "O conhecimento do crime de heresia pertence principalmente aos Juizes Ecclesiasticos. E porque elles não podem fazer as execuções nos condenados no dito crime, por serem de sangue, quando condenarem alguns herejes,os devem remetter a Nós com as sentenças que contra elles derem, para os nossos Desembargadores as verem; aos quaes mandamos, que as cumpram, punindo os herejes condenados, como per Direito devem".

Parte III – Os cátaros – hereges:

Não se pode falar de Inquisição sem mencionar o maior povo heretico da idade média...

Os cátaros impugnavam o casamento, e para eles o fruto proibido, no paraíso terrestre, fora justamente o seu uso. A propagação do gênero humano constitui obra diabólica, ou seja, do deus mau, a mulher grávida possui o demônio no corpo. Pregava-se, em conseqüência, a abstenção da convivência entre os sexos, para as pessoas chegarem ao estado de perfeita pureza; mas, sendo evidentemente difícil a perseverança na perfeição, preveniam-se as defecções por meio de freqüentes assassínios, a chamada "endura".

Há quem calcule que essa prática haja vitimado mais cátaros do que toda a repressão inquisitorial contra eles exercida.

As novas crenças passaram assim a minar a Igreja e o Estado, mormente a do catarismo, que muito se expandia, investindo contra os Poderes civil e religioso. A Igreja, durante bastante tempo e fiel à sua tradição, procurou manter-se à margem das violências, restringindo-se aos meios suasórios, de catequese, e recomendava compaixão para com os culpados, enquanto as autoridades leigas se mostravam crescentemente inquietas.

Na Inglaterra, não houve meias medidas: quando um grupo de cátaros lá desembarcou em 1160, foram todos logo presos, marcados a ferro incandescente e expulsos da ilha. Sumariamente afastou-se pois o problema, de tal sorte que, nesse país, inexistiram tribunais de Inquisição durante toda a Idade Média.
Parte IV – Erros comuns. A importância do revisionismo histórico:

Essa parte visa instigar-lhes o espirito crítico pois grande parte dos absurdos que se acredita hoje em dia nasce da propaganda feita pelos maus professores de historia. Imparciais e cultivadores do odio em relação a Santa Sé.

Crise da idade média:

Vamos começar pela "Pasteurella pestis" - Uma bactéria que matava em pouco tempo e que se espalhou rapidamente.
Principais sintomas - Febre, mal-estar e bulbos (bolhas) de sangue e pus espalhavam-se pelo corpo do doente, principalmente nas axilas e virilhas. Como os conhecimentos médicos eram pouco desenvolvidos, a morte era certa.
A doença que ela provocava logo levou a uma pandemia e recebeu o nome de Peste Negra. A conseqüência de sua entrada na Europa foi simplesmente devastadora: a morte de cerca de 34 milhões de pessoas, ou seja, um terço da população do continente.Como poderia então a Inquisição ter matado 75-100 milhões de pessoas? Alguns historiadores afirmam que estes números são estimados e acreditam veementemente neles. - inclusive na epoca de escola fui instruido assim.

Vejamos... Matemática simples:

1/3 = 34 milhões logo 3/3 (ou seja, o total) = 102 milhões
Teoricamente Peste e Inquisição teriam matado juntas 34+(75+100)/2 (para se calcular a média) = 121,5 milhões de pessoas! Sem contar a fome e os demais problemas decorrentes da crise medieval!!!

Ou seja, uma mentira sem tamanho já que, repito, a população européia era estimada em 102 milhões nesses séculos.

Continuam os erros matemáticos...

1186 - A "Santa Inquisição" é estabelecida no Concílio de Verona" – muitos afirmam isso. ERRADO!

Inquisição foi estabelecida pelo Pa pa Gregório IX no ano de 1231 e durou no máximo até o século XVI quando foi substituída pelo Santo Ofício.
Só ai já são 45 anos de erro.
Não vou nem comentar aqueles que falam sobre a Inquisição ter durado 1200 anos afinal de contas, eles estariam fazendo a conta das mortes que a Inquisição fará até o ano de 2386!!!! (1186+1200=2386).

Agora supondo que a Inquisição tenha matado de fato 75-100 milhões de pessoas:

Tendo em vista ela ter durado corretamente do ano de sua fundação (1231) até o século XVI, aproximados 400 anos (jogando pra cima para não se dizer estar sendo reduzido o tempo de sua duração) temos exatos 146 mil dias (365x400).

São, portanto 146 mil dias para se matar um total de 100 milhões de pessoas. Façamos essa conta:

100000000/146000 = 684,93151Exato, a Inquisição matava em média 684,93151 pessoas por dia!!!!

Usando-se agora a média de mortes (100000000+75000000/2 = 87500000):

8 7500000/146000 = 599,31507!!!
Ainda assim um número Absurdo!!!! Não?

Parte V – O Tribunal eclesiástico e os tribunais protestantes e civis:

Muita calúnia se espalhou pelos protestantes a troco de uma falsa evangelização, objetos de torturas imaginários, que hoje sabe-se, nunca foram usados, como a “iron maiden”, eram citados dramaticamente pelos embusteiros da fé, como ferramentas da Igreja. Hoje sabemos que eram apenas calúnias de quem queria esconder algo terrível.

É muito fácil, mas injusto, condenar com os critérios de hoje os acontecimentos de então, diante da ignorância da época, da supertição, da carga psicológica e do influxo bíblico.

Enquanto o tribunal católico e os juízes civis, absolveram muitos dos acusados de bruxaria, tome-se como exemplo: Galileu e Casanova, o protestantismo em muitos países, não deixou viver um suspeito sequer, ensandecidos e ávidos por verem as labaredas devorarem a carne trêmula de seus condenados sem julgame nto, bradavam versículos bíblicos ensandecidos, como de preferência o Êxodo (22,17), "Não deixarás viver a feiticeira".

Já no início, as posições de Lutero, contra os anabatistas, causaram a morte de milhares de pessoas... Calvino, pai dos presbiterianos, mandou queimar o espanhol Miguel Servet Grizar (médico descobridor da circulação do sangue); Um só perseguidor protestante, de bruxas na Alemanha, Nichólas Romy, considerado grande especialista e que escreveu um longo tratado sobre bruxaria, teve sobre sua consciência a morte de 900 pessoas.

Diferente dos tribunais católicos e civis – já expostos mais acima – entre os protestantes parecia haver uma disputa por ceifar mais vidas. Benedict Carpzov perdia a compostura contra a bruxaria, que considerava merecedora de torturas três vezes intensificadas com respeito a outros crimes, e cinco vezes punível com pena de morte, luterano fanático, num record, assinou sentença de morte contra 20.000 bruxas. Carpzov, entre outros textos bíblicos (Lv 19,31; 20,6.27; Dt 12,1-5; I Sm 27...), citava também o Êxodo (22,17); "Não deixarás viver a feiticeira".

A soberba era tamanha, o protestante Teodoro Bessa, em 1554, pediu o uso da força pública contra os católicos pelo simples ódio da Igreja. A perseguição contra os católicos, na Inglaterra e na Irlanda, foi dominada pela mais escancarada intolerância religiosa. Ainda a pouco tempo as falsas perseguições que terminaram por causar o domingo sangrento foram reveladas.

João Calvino, governou com mão-de-ferro, transformou Genebra numa oligarquia religiosa, proibiu os moradores de praticar hábitos como dançar, jogar, ir ao teatro etc. Durante os quatro primeiros anos de governo houve nada menos, nada mais do que cinqüenta e oito execuções. Segundo Preserved Smith, houve mais casos de vício em Genebra depois da reforma do que antes.

A frase abaixo de Bommberg, indica as linhas gerais dos procedimentos civis e protestantes:

“Um juiz francês (poder civil) alardeava de ter queimado oitocentas mulheres em 16 anos de magistratura. Queimaram-se 600 pessoas, durante a administração de um bispo protestante em Bamberga. A caça as bruxas liderada pelas igrejas protestantes tomaram a Grã-Bretanha e a Alemanha. Na Genebra protestante foram queimadas 500 pessoas no ano 1615. Em Tréveris (quase exclusivamente poder civil) se informou da queima de umas 7.000 pessoas durante um período de vários anos”.

Na Grenoble católica, o poder civil — não o tribunal católico — condenou à morte 167 pessoas acusadas de bruxaria, entre os anos 1427 e 1447. Mas na Saxônia protestante só num dia do ano de mil quinhentos e oitenta e nove se queimaram 133 bruxos. No pequeno cantão suíço de Vaud, os protestantes, em 10 anos — de 1591 a 1600 —, mataram 311 bruxos, e na Baviera uns 2.000 do ano 1500 ao 1756.

Foram terríveis os genocídios causados pelos protestantes na Alemanha. A então Alemanha estava dividida em mais de trezentas circunscrições, cada uma delas com seu próprio Supremo Tribunal civil e seu Direito particular. A perseguição às bruxas a severidade dos castigos dependiam geralmente dos respectivos senhores de cada região, que governavam com muita independência e poder quase absoluto.

Dentro de cada região, havia oscilações pendulares inclusive extremas, segundo os critérios subjetivos do mesmo senhor e segundo os conceitos das diversas sucessões no poder através dos anos e dos séculos. Daí a dificuldade em se calcular o número de pessoas condenadas à fogueira e à forca na Alemanha. Mas das crônicas e processos regionais que chegaram até nós cabe deduzir que as vítimas se contaram por milhares. Gardner calcula nove milhões. Morrow simplesmente diz que foram milhões. É deveras dificultoso termos acesso aos do cumentos ocultos pelos próprios protestantes.

W. A. Schoeder, contemporâneo aos fatos, anotou que nas localidades de Bamberg e Zeil, entre 1625 e 1630, (cinco anos) se realizaram nada menos que 900 processos de bruxaria. Deles (numa exceção), 236 terminaram com condenação à morte na fogueira. Só num ano, 1617, em Wurzburgo, foram queimadas 300 bruxas; em total nesta região as atas apresentam l.200 condenações à morte.

Em 20 anos, de 1615 à 1635, em Estrasburgo, houve 5.000 queimas de bruxas.
Em cidades pequenas como a imperial Offenburg, que só tinha entre dois e três mil habitantes, se desenvolveram acérrimas perseguições às bruxas durante três decênios, e em só dois anos, segundo as atas, foram queimadas 79 pessoas.

Na Suíça, quando protestante, os casos de condenação de bruxas descritos nas crônicas conservadas chegam a 5.417. Nos Alpes Austríacos, as mortes chegaram ao menos a 5.000.
Na Inglaterra destacava-se o protestante Mathew Hopkins que se autodenominava "descobridor geral de bruxas". Parece que era um sádico encoberto. Quando encontrava uma mulher que excitava seus instintos sexuais anormais, obrigava-a a despir-se na sua presença e começava a fincar, com uma agulha, as diversas partes do corpo dela (assim se procuravam áreas insensíveis, o que seria sinal de possessão demoníaca). Mas... ele mesmo diante de outros fanáticos protestantes, foi acusado de possuir estranhos poderes. Submetido às provas de bruxaria que empregara, foi condenado e morto.

Na Inglaterra não era necessário aplicar torturas — às vezes se deram! — porque a condenação freqüentemente era sentenciada sem necessidade de confissão por parte do acusado.

Em 1562 a rainha Elizabeth, e a versão definitiva do Witch Act ou lei contra os bruxos de Jacques I em 1604, condenavam à morte a pessoa que tivesse feito qualquer male fício pretendendo acabar com a vida ou danar o corpo de alguém. Mesmo que não se percebesse efeito nenhum do malefício! Esta lei se manteve em vigor na Constituição até 1736.

No ano 1670, na Suécia, houve um processo deplorável: Como conseqüência das declarações, arrancadas pelas interrogações feitas pelos teólogos protestantes, foram queimadas 70 mulheres, açoitadas mais 56, queimadas 15 crianças que já tinham chegado aos 16 anos e outras 40 foram açoitadas. E pensar que são esses hoje, que acusam a Igreja de ter “matado inocentes”.

Na Alemanha protestante, o poder civil condenou Anna Maria Schwugelin. Foi decapitada como bruxa em 1759.

No dia dezoito de junho de mil setecentos e oitenta e dois, o governo protestante ainda decapitou uma bruxa na Suíça.

Após assomar-nos à realidade espantosa da bruxomania entre os civis e protestantes, é de todo ridículo que se inflamem os ânimos de protestantes surpresos, de certos “historiadores” e de falsos “professores” mal intencionados, contra a transparência da Igreja Católica, a única a reconhecer a ignorância e os erros de alguns filhos seus no passado.

E em Roma, onde evidentemente o influxo da Igreja Católica era maior, só se deram duas mortes pelo delito de bruxaria. Essa condenação à morte foi pedida pelo papa João XXII (1316-1334). E não por motivos religiosos. Antes do nascimento da revolta protestante. Mandou queimar o bispo da sua cidade, Cahors, e enforcar seu médico porque supunha que estes dois homens tentaram tirar-lhe a vida por meio da magia. Naquele ambiente da época, o próprio papa viveu toda a sua vida escravizado pelo pânico supersticioso dos feitiços.Após o nascimento da revolta protest ante, enquanto em outras cidades morriam queimadas ou enforcadas milhares e até milhões de "bruxas" pelos protestantes, nenhuma execução por este motivo se realizou em Roma.

Uma instrução da Câmara Apostólica, de 1657 — então os processos de bruxaria somente se realizavam nos tribunais civis —, apresenta a advertência da Inquisição: "A Santa Inquisição confessa que os processos são longos para serem instruídos regularmente; ela censura os juizes pelas vexações, encarceramentos injustos, torturas. Muitos têm-se mostrado demasiado cruéis encarcerando pela mínima suspeita e têm aplicado a tortura apesar do malefício não ter sido provado".

Parte VI – A Inquisição Protestante por localidade:

Foi demonstrado de principio a postura da Igreja com o tribunal eclesiástico. Seu posicionamento brando e piedoso. Em seguida foi exposta a gritante diferença existente entre o primeiro e o tribunal civil e protestante.

Agora seguem alguns casos que merecem destaque. Demostrar-se-á a Inquisição Protestante por localidade:

1- Alemanha:

Em Augsburgo, em 1528, cerca de 170 anabatistas foram aprisionados por ordem do Poder Público. Muitos foram queimados vivos; outros foram marcados com ferro em brasa nas bochechas ou tiveram a língua cortada. Em 1537, o Conselho Municipal publicou um decreto que proibia o culto católico e estabelecia o prazo de oito dias para que os católicos abandonassem a cidade.
Ao término desse prazo, soldados passaram a perseguir os que não aceitaram a nova fé. Igrejas e mosteiros foram profanados, imagen s foram derrubadas, altares e o patrimônio artístico e cultural foram saqueados, queimados e destruídos.
Também em Frankfurt, a lei determinou a total suspensão do culto católico e a estendeu a todos os estados alemães.
O teólogo protestante Meyfart descreveu uma tortura que ele mesmo presenciou:
‘Um espanhol e um italiano foram os que sofreram esta bestialidade e brutalidade. Nos países católicos não se condena um assassino, um incestuoso ou um adúltero a mais de uma hora de tortura (sic). Porém, na Alemanha a tortura é mantida por um dia e uma noite inteira; às vezes, até por dois dias; outras vezes, até por quatro dias e, após isto, é novamente iniciada. Esta é uma história exata e horrível, que não pude presenciar sem também me estremecer".
2- Inglaterra:

Seis monges Cartuxos e o bispo de Rochester foram sumariamente enforcados.
Na época da imperadora Isabel, cerca de 800 católicos eram assassinados por ano e Jesuítas também foram assassinados ou torturados.
Um ato do Parlamento inglês, em 1562, decretou que “cada sacerdote romano deve ser pendurado, decapitado e esquartejado; a seguir, deve ser queimado e sua cabeça exposta em um poste em local público”.

3- Irlanda:

Quando Henrique VIII iniciou a perseguição protestante contra os católicos, existiam mais de mil monges dominicanos no país, dos quais apenas dois sobreviveram.

4- Suiça:

O descobridor da circulação do sangue foi queimado em Genebra, por ordem de Calvino.
No distrito de Thorgau, um missionário zwingliano liderou um bando protestante que saqueou, massacrou e destruiu o mosteiro local, inclusive a biblioteca e o acervo artístico e cu ltural.
Em Zurique, foi ordenada a retirada de todas as imagens religiosas, relíquias e enfeites das igrejas; até mesmo os órgãos foram proibidos. A catedral ficou vazia, como continua até hoje. Os católicos foram proibidos de ocupar cargos públicos; o comparecimento aos sermões católicos implicava em penas e castigos físicos e, sob a ordem de “severas penas”, era proibido ao povo possuir imagens e quadros religiosos em suas casas.
Ainda em Zurique, a Missa foi prescrita em 1525. A isto, seguiu-se a queima dos mosteiros e a destruição em massa de templos. Os bispos de Constança, Basiléia, Lausana e Genebra foram obrigados a abandonar suas cidades e o território.
Um observador contemporâneo, Willian Farel, escreveu: “Ao sermão de João Calvino na antiga igreja de São Pedro seguiu-se desordens em que se destruíram imagens, quadros e tesouros antigos das igrejas”.

5- Escócia:

John Knox, pai do presbiteranismo, mandou queimar na fogueira cerca de 1.000 mulheres, acusadas de bruxaria.
A inquisição suspendeu sistematicamente o Catolicismo nas áreas protestantes.

6- Roma:

O Saque de Roma foi um dos episódios mais sangrentos da Reforma Protestante. No dia 6 de maio de 1527, legiões luteranas do exército imperial de Carlos V invadiram a cidade.
Um texto veneziano, daquela época, afirma que: “o inferno não é nada quando comparado com a visão da Roma atual”.
Os soldados luteranos nomearam Lutero “papa de Roma”.
Todos os doentes do Hospital do Espírito Santo foram massacrados em seus leitos. Os palácios foram destruídos por tiros de canhões, com os seus habitantes dentro. Os crânios dos Apóstolos São João e Santo André serviram para os jogos esportivos das tropas. Centenas de cadáveres de religiosas, leigas e crianças violentadas – muitas c om lanças incrustadas em seu sexo – foram atirados no rio Tibre. As igrejas, inclusive a Basílica de São Pedro, foram convertidas em estábulos e foram celebradas missas “profanas”.
Gregório afirma a respeito: “Alguns soldados embriagados colocaram ornamentos sacerdotais em um asno e obrigaram um sacerdote a conferir-lhe a comunhão. O sacerdote engoliu a forma e seus algozes o mataram mediante terríveis tormentos”.
Conta o Padre. Mexia: “Depois disso, sem diferenciar o sagrado e o profano, toda a cidade foi roubada e saqueada, inexistindo qualquer casa ou templo que não foi roubado ou algum homem que não foi preso e solto apenas após o resgate”.
O butim foi de 10 milhões de ducados, uma soma astronômica para a época. Dos 55.000 habitantes de Roma, apenas 19.000 sobreviveram.

Parte VII – Os Reformadores Protestantes. Ódio perpetuo:

1- Lutero:

Em 1520, escreveu em seu “Epítome”:
“(…) francamente declaro que o verdadeiro anticristo encontra-se entronizado no templo de Deus e governa em Roma (a empurpurada Babilônia), sendo a Cúria a sinagoga de Satanás (…) Se a fúria dos romanistas não cessar, não restará outro remédio senão os imperadores, reis e príncipes reunidos com forças e armas atacarem a essa praga mundial, resolvendo o assunto não mais com palavras, mas com a espada (…) Se castigamos os ladrões com a forca, os assaltantes com a espada, os hereges com a fogueira, por que não atacamos com armas, com maior razão, a esses mestres da perdição, a esses cardeais, a esses papas, a todo esse ápice da Sodoma romana, que tem perpetuamente corrompido a Igreja de Deus, lavando assim as nossas mãos em seu sangue?”
Em um folheto intitulado â �œContra a Falsamente Chamada Ordem Espiritual do Papa e dos Bispos”, de julho de 1522, ele declarou:
“Seria melhor que se assassinassem todos os bispos e se arrasassem todas as fundações e claustros para que não se destruísse uma só alma, para não falar já de todas as almas perdidas para salvar os seus indignos fraudadores e idólatras.
Que utilidade tem os que assim vivem na luxúria, alimentando-se com o suor e o sangue dos demais?”
Em outro folheto, “Contra a Horda dos Camponeses que Roubam e Assassinam”, ele dizia aos príncipes:
“Empunhai rapidamente a espada, pois um príncipe ou senhor deve lembrar neste caso que é ministro de Deus e servidor da Sua ira (Romanos 13) e que recebeu a espada para empregá-la contra tais homens (…) Se pode castigar e não o faz – mesmo que o castigo consista em tirar a vida e derramar sangue – é culpável de todos os assassinatos e todo o mal que esses homens co meterem”.

Em julho de 1525, Lutero escrevia em sua “Carta Aberta sobre o Livro contra os Camponeses”:
“Se acreditam que esta resposta é demasiadamente dura e que seu único fim e fazer-vos calar pela violência, respondo que isto é verdade. Um rebelde não merece ser contestado pela razão porque não a aceita. Aquele que não quer escutar a Palavra de Deus, que lhe fala com bondade, deve ouvir o algoz quando este chega com o seu machado (…) Não quero ouvir nem saber nada sobre misericórdia”.
Sobre os judeus, assim dizia em suas famosas “Cartas sobre a Mesa”:
“Quem puder que atire-lhes enxofre e alcatrão; se alguém puder lançá-los no fogo do inferno, tanto que melhor (…) E isto deve ser feito em honra de Nosso Senhor e do Cristianismo. Sejam suas casas despedaçadas e destruídas (…) Sejam-lhes confiscados seus livros de orações e talmudes, bem como toda a sua Bíblia. Proíba-se seus rabinos de ensinar, sob pena de morte, de agora em diante. E se tudo isso for pouco, que sejam expulsos do país como cães raivosos”.
Em seus “Comentários ao Salmo 80?, Lutero aconselhava aos governantes que aplicassem a pena de morte a todos os hereges.
Melanchton, o teólogo luterano da Reforma, aceitou ser o presidente da inquisição protestante, com sede na Saxônia. Ele apresentou um documento, em 1530, no qual defendia o direito de repressão à espada contra os anabatistas. Lutero acrescentou de próprio punho uma nota em que dizia: “Isto é de meu agrado”. Convencido de que os anabatistas arderiam no fogo do Melanchton os perseguia com a justificativa de que “por que precisamos ter mais piedade com essas pessoas do que Deus?”

2- Calvino:

Em seus “Institutos”, declarou: “Pessoas que persistem nas superstições do anticristo romano devem ser reprimidas pela espada”.
Em 1547, James Gruet publicou uma nota criticando Calvino e foi preso, torturado no potro duas vezes por dia durante um mês e, finalmente, sentenciado à morte por blasfêmia. Seus pés foram pregados a uma estaca e sua cabeça foi cortada.
Em 1555, os irmãos Comparet foram acusados de libertinagem, executados e esquartejados. Seus restos mortais foram exibidos em diferentes partes de Genebra.

3- Zwínglio:

Em 1525, começou a perseguir os anabatistas de Zurique. As penas iam desde o afogamento no lago ou em rios até a fogueira.
Diante tanto ódio vemos a sabedoria na pessoa do Papa Alexandre III que escreveu:
"Mais vale absolver culpados do que, por excessiva severidade, atacar a vida de inocentes... A mansidão mais convém aos homens da Igreja do que a dureza".
Como se não bastasse, a violência não foi exercida apenas contra os católicos. Os reformadores foram violentos entre si.
Lutero disse: “Ecolampaio, Calvino e outros hereges semelhantes possuem demônios sobre demônios, têm corações corrompidos e bocas mentirosas”. Por ocasião da morte de Zwínglio afirmou: “Que bom que Zwínglio morreu em campo de batalha! A que classe de triunfo e a que bem Deus conduziu os seus negócios!”, e também: “Zwínglio está morto e condenado por ser ladrão, rebelde e levar outros a seguir os seus erros”.
Zwínglio também atacava Lutero: “O demônio apoderou-se de Lutero de tal modo que até nos faz crer que o possui por completo. Quando é visto entre os seus seguidores, parece realmente que uma legião o possui”.

ROSSEAU em sua obra “Filosofia Positiva”, escreveu:
“A intolerância do Protestantismo certamente n ão foi menor do que a do Catolicismo e, com certeza, mais reprovável”.

Parte VIII – Esclarecendo alguns episódios distorcidos ao longo da historia:1º - Em 1208 exterminaram os cristãos Albaneses:
Nenhuma bula papal pregou a violência, nem a morte de hereges. A história registra: "Foram numerosos os cânones dos concílios que, excomungando os hereges e proibindo os cristãos de lhes darem asilo, não admitiam que se utilizassem contra eles a pena de morte. Deviam bastar as penas espirituais ou, quando muito, as penas temporais moderadas." (Daniel-Rops, História da Igreja de Cristo, vol. III, A Igreja das Catedrais e das “Cruzadas”, Quadrante, pp. 605-606).

O Papa Alexandre III escreveu: "Mais vale absolver culpados do que, por excessiva severidade, atacar a vida de inocentes... A mansidão mais convém aos homens da Igreja do que a dureza".

H. C. Lea – historiador protestante e possuidor do maior acer vo a respeito da Inquisição - cita 47 bulas nas quais a Santa Sé continuamente insiste na jurisprudência que deve se observar nos tribunais eclesiásticos. Alertam para não cair na violência e injustiças freqüentes dos juizes leigos. (Hansen, Zauberwahn..., op. cit., pp. 24s).
É sabido que, alguns cristãos, enviados para convertê-los, longe do controle do Papa desentenderam-se em lamentável confronto com estes maus católicos apostatas, os Albigenses, que pregavam que satã era outro deus, rejeitavam os sacramentos, declaravam ser pecado casar, eram sexualmente permissivos, evitavam a gravidez e encorajavam o aborto. É uma heresia chamarestes de “cristãos Albigenses” pois estes eram dualistas, tinham também Satã, como deus. (Enciclopédia Encarta 99). É também uma falsidade, querer atribuir isso a Igreja. Seria o mesmo que condená-la por causa de Judas Scariotes.

2º - O FRADE TORQUEMADA, anos 1420-98, comandou por 8 anos a morte de 10.200 protestantes e intelectuais queimados vivos, foi horrível! – o bispo Hooper foi queimado com fogo insuficientemente e gritada: "Mais lenha, aumente o fogo!" Ao seu lado numa caixa estava o papel de perdão, bastava retratar-se, mas não o fez!:

O monge TORQUEMADA morreu em 1498, o protestantismo é de 1517. Em 1483, este monge foi dispensado à trabalhar para os reis Isabel e Fernando, que o usaram politicamente, sem vínculo com a Igreja. E para a surpresa do fantasioso “pastor”, que deu gritinhos de “foi horrível!”, e inventava a morte de “10.200”, desmoralizamo-lo: o grande historiador Agostino Borromeu, constatou que dos 125.000 processos de sua história, a Inquisição espanhola condenou à morte 59 pessoas, longe do aval do Papa. Ou seja, condenou-se apenas 1,8% e destes, 1,7% eram bonecos queimados em lugar dos ausentes. Os tribunais eclesiásticos foram muito mais indulgentes, que os civis e protestantes que mataram 25.000 só na Alemanha, sendo o matador recordista o luterano Benedict Carpzov que matou 20.000 mulheres, Fontes: (Agência Zenit, Sunday, June 20, 2004 1:17 PM), (Benedict Carpzov, Practica Nova Rer. Criminalium Imperialis Saxonica in 3 Partes Div., Wittenberg, 1635.), Como vemos, o embusteiro andou contabilizando bonecos queimados como “protestantes”. Agora ele sabe porquê nunca pediram indenização por terem parentes mortos pela Igreja. Tem mais, seu citado “bispo Hopper” foi morto pela rainha Maria I, filha do protestante rei Henrique VIII. Não pela Igreja Católica.

4º - Carlos V anos 1500-58, eliminou por ordem do papa 50 mil cristãos alemães:

Carlos V, era imperador germânico, reconheceu a divisão religiosa do Império, legalizando, pela primeira vez, o luteranismo na Alemanha. Embora não tenha permitido uma satisfação completa, garantiu 50 anos de paz religiosa na Alemanha. Nunca recebeu “ordem” de algum Papa. Na batalha de Mühlberg, em 1547, repeliu e venceu um insurgente e armadíssimo exército protestante, chamado de Liga Esmalcalda. Que fique claro, esta batalha foi política e não religiosa.

5º - O Papa Pio V anos 1566-72, exterminou 100.000 Anabatistas:

Aos 25/6/1535, o povo da cidade alemã de Münster, exterminou os invasores e POLÍGAMOS anabatistas, outros 30 mil e seu líder Thomas Munzer, foram exterminados pela vontade de Lutero, conforme registro oficial d a história. (VEIT, Valentim, História Universal, Livraria Martins Ed, SP, 1961, Tomo II, pp. 248-249). (Revista Pergunte & Responderemos. 03/97).

6º - O Papa Gregório XIII anos 1572-85, organizou com os jesuítas o extermínio dos protestantes franceses e na noite de 24 de agosto de 1572 mataram 70 mil deles! – Esse papa comemorou mandando que as Igrejas cantassem o TE DEUN, trocassem presentes e cunhou moedas comemorativas as massacre:

Este fato envolvendo disputas políticas entre a Rainha Catharina de Medici e o protestante almirante Coligny, aconteceu na França, quando o Papa estava em Roma e os Jesuítas ausentes àquele casamento da filha da rainha com um protestante. Uma falsa notícia, sem outros meios de comunicação na época, chegou a Roma dando conta que os huguenotes haviam atentado contra o rei e a rainha, que teriam vencido os huguenotes bravamente escapando ilesos.

Sendo todos em Roma amigos do rei e da rainha franceses, festejaram sua resistência, ocasião em que o Papa Gregório XIII, sem maldade e diplomaticamente, solicitou em ação de graças que se cumprissem todas as cerimônias de praxe. Diz um documento da época: "Mesmo em Paris, muita gente se enganou; e o próprio Parlamento condenou retrospectivamente o almirante Coligny (líder protestante) a ser queimado em effigie por causa do criminoso atentado." (DEVIVIER, Pe. W., SJ. Curso de Apologetica Christã, 3ª ed., São Paulo: Melhoramentos, 1925, pp. 426-429). A conclusão que se tira é de uma mera questão política entre a rainha Catharina e o político protestante Coligny.

7º - Em 1590 o catolicismo eliminou uns 200 mil cristãos Huguenotes:

Em 1593, o novo líder dos protestantes huguenotes, Henrique IV, que escapou do citado massacre da rainha, converteu-se voluntariamente e d efinitivamente ao Catolicismo, este proclamou o Edito de Nantes, que trouxe a paz. Se fosse a Igreja que tivesse exterminado os protestantes huguenotes, como iría seu líder se converter ao Catolicismo???

Em 1572, Catarina de Médicis, mãe do Rei Carlos IX, temendo que o almirante Gaspard de Coligny influenciasse seu filho a fazer guerra à Espanha ordena um atentado contra a vida do almirante, que sobrevive.
Poucos dias antes, numa tentativa de apaziguar os ânimos entre as partes, a irmã do rei, Margarida de Valois, havia se casado com o líder protestante Henrique de Navarra (na verdade ele"se converteu"apenas para que pudesse se casar).
A tensão entre os huguenotes (liderados por Coligny) e a família real aumenta depois do atentado e descamba em conflitos de rua que se tornam um verdadeiro massacre. Gaspar de Coligny é assassinado a mando de Henrique de Guise, prefeito de Paris, numa vingança familiar (havia fortes suspeitas de que Coligny fos se o mandante do assassinato do pai de Henrique de Guise, nove anos antes).

Quando Carlos IX morre Henrique III, seu irmão, assume o trono; Henrique de Guise inicia uma guerra contra o rei por sua política favorável aos huguenotes; Henrique de Navarra, cunhado do rei também entra na guerra, como líder do exército huguenote. Henrique III celebra a paz com o cunhado e os dois se unem contra o prefeito de Paris. A mando do Rei, Henrique de Guise é assassinado.O Rei morre no dia seguinte pelas mãos de um partidário de Guise.
Na falta de filhos ou irmãos o nome levantado para assumir o trono é o de Henrique de Navarra, cunhado do falecido rei, que se torna Henrique IV A população de Paris não aceita um Rei protestante e Henrique não consegue entrar na cidade com suas tropas. Nessa ocasião ele proclama a célebre frase: "Paris vaut bien une messe" ("Paris vale bem uma missa") e se "converte" novamente, dessa vez em caráter definitivo ao catolicismo para assim ganhar a simpatia da população e dos líderes políti cos da cidade de Paris e poder tornar-se rei de fato.
Repetindo... "Paris vaut bien une messe" cunho totalmente politico.

8º - O Monarca alemão Fernando II anos 1578-1637 instigado pelos jesuítas começou uma guerra de extermínio aos protestantes; essa guerra religiosa terminou em guerra política e tirou a vida de 15 milhões de pessoas:

Omitindo que os luteranos promoveram o maior massacre da história da humanidade, segundo Maurice Andrieux, no dia 6 de maio de 1527, quando saquearam Roma. Nunca os Jesuítas se juntaram a este imperador.

Parte IX – Referências:
A Inquisição em seu Mundo - João Brenardino Gonzaga - professor da USP

Heresias Medievais - Nachman Falbel
Manual do Inquisidor - Bernard Guy
Histoire de l´ Inquisition au Moyen Âge - Jean Guiraud
L´Épóppée Cathare - Michel Roquebert
Les Cathares - Arno Borst
Histoire des Cathares - Jean Duvernoy
El Tribunal de la Inquisición - Fernando Ayllon
Personajes de la Inquisición - William T. Walsh
L’Inquisition - Henri Maisonneuve
La Vera Storia dell Inquisizione - Rino Camilleri

Procure também a respeito de Agostino Borromeo. Segundo ele:
na Espanha, apenas 1,8% dos investigados pela Inquisição espanhola foram mortos.

Henry Charles Lea - vasta obra nesse sentido. Alguns afirmam sobre sua obra (a respeito da Inquisição Espanhola):

" The subject is an interesting one, and w e know of no other English book which throws so much light (SO MUCH LIGHT!) upon it. ... It should be understood that this book is the outcome of independent, first-hand investigation of the materials stored in the immense Spanish Archives." M. W. H. in The Sunday Sun, New York.

Até a BBC:
Agora, também a insuspeita emissora BBC de Londres vem refutar o mito da Inquisição como paradigma de terror. A notícia nos vem através do diário madrilenho "El Pais" (8-11-94), em artigo de Lola Galán, intitulado "A falsa história da Inquisição espanhola".
Diz ela:
"As sinistras salas de tortura dotadas de rodas dentadas, engrenagens quebra-ossos, grilhões e demais mecanismos aterradores só existiram na imaginação de seus detratores. O Santo Oficio (nome do Tribunal da Inquisição) viu-se frente a uma gigantesca máquina propagandística.”

"Domingo, num programa noturno de maior audiência - Time Watch - a BBC mostrou o verdadeiro rosto do tribunal criado pelos Reis Católicos contra a heresia. Peritos do porte de Henry Kemen, Stephen Haliczer ou os professores José Álvares Junco e Jaime Contreras reconstituíram a verdadeira fisionomia de uma instituição intencionalmente desvirtuada.
"Em cerca de 7 mil casos, aplica-se apenas em 2% algo parecido com a tortura. Em 350 anos de história, enquanto a lenda fala de milhões de assassinatos, a cifra real de vítimas situa-se entre 5 a 7 mil pessoas.
"É paradoxal que tenha sido a prestigiosa BBC, a televisão estatal britânica, a encarregada de reconstituir a imagem de uma instituição espanhola".
NOTE - "UMA INSTITUIÇÃO INTENCIONALMENTE DESVIRTUADA".

Rino Camillieri, autor do livro La Vera Storia dell Inquisizione, ed. PIemme, Casale Monferrato, 2.001, afirma que em 50.000 processos in quisitoriais uma ínfima parte levaram à condenação à morte, e dessas só uma pequena minoria produziu efetivamente execuções. ( Cfr. op. cit , p. 17) Diz ainda esse autor que na principal cidade medieval --centro da heresia cátara-- , em um século, houve apenas 1% de sentenças à morte (Cfr. Op cit. p. 36). Um outro autor dá o número total de condenações à morte em Toulouse, durante 100 anos: 42 sentenças.

AGOSTINO BORROMEO

Em estudos recentes do Historiador Agostino Borromeo verificou que, relativo ao Tribunal Eclesiástico, este número não chegou a 100 mortos em toda a Europa, sendo estes crimes contra a vontade dos papas.

Diz o renomado historiador em entrevista à agência eurpéia ZENIT . org, em 16 de junho de 2004: "Pelo que se refere às famosas "caçadas de bruxas", o historiador constatou que os tribunais eclesiásticos foram muito mais indulgentes que os civis. Dos 125.000 processos de sua história, a Inquisição espanhola condenou à morte 59 "bruxas". Na Itália, acrescentou, foram 36 e em Portugal 4.

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OBS: O que se deduz disso tudo é que na realidade a Igreja Católica levou a fama, enquanto foram os diferentes grupos de protestantes os grandes responsáveis por grandes morticínios. A Igreja Católica, através de seus Papas, sempre impôs limites e regras claras a este respeito, e condenou sempre os excessos. Sob a Igreja sempre os condenados tiveram direito à defesa, mas isso não acontecia entre os protestantes.

De qualquer forma, se não tivesse havido a inquisição, o mundo medieval teria mergulhado profundamente no satanismo, e não haveria hoje uma civilização como a nossa. Além do que, todos os padres e bispos da Igreja que cometeram excessos, foram condenados pela Igreja, e receberam também o castigo eterno. Um exemplo disso foi o bispo maligno que condenou Santa Joana Darc a fogueira. Ele está no abismo eterno.

Fora disso, todos os que condenam a Igreja católica agem bestialmente, sem provas quaisquer, apenas pelo desejo sórdido de incendiar a opinião pública. Se eu for julgar alguém olhando pelo prisma de seu inimigo, sempre haverá condenação. A Igreja tem provas de que não fez, cabe aos inimigos provarem documentalmente o contrário.

quinta-feira, 15 de maio de 2014

Mosteiro Beneditino.

O QUE É UM MOSTEIRO BENEDITINO?

Dom Emmanuel-Marie André
( † 1903)

Fonte: www.beneditinos.org.br

As poucas páginas que seguem foram publicadas pela primeira vez no Boletim da Obra de Nossa Senhora da Santa Esperança. Tínhamos anunciado a fundação dos Beneditinos e das Beneditinas de Nossa Senhora da Santa Esperança, e as Máximas de São Bento vinham, por assim dizer, responder à pergunta: O que é então um mosteiro beneditino?

Desejamos que estas páginas levem a resposta a toda parte em que puder esclarecer um espírito, alegrar uma alma, ajudar talvez uma vocação. Quantas almas sofrem no mundo por não terem encontrado o seu caminho e que renderiam graças a Deus pela sua felicidade se uma mão caridosa lhes mostrasse a porta de um mosteiro beneditino!

CAPÍTULO 1 - São Bento e sua obra na igreja
CAPÍTULO 2 - O segredo do poder de São Bento
CAPÍTULO 3 - A presença de Deus
CAPÍTULO 4 - O amor de Nosso Senhor Jesus Cristo
CAPÍTULO 5 - A graça de Deus
CAPÍTULO 6 - O Mosteiro
CAPÍTULO 7 - O Abade
CAPÍTULO 8 - Os Irmãos
CAPÍTULO 9 - As três colunas do edifício
CAPÍTULO 10 - A Oração
CAPÍTULO 11 - O Ofício Divino
CAPÍTULO 12 - A liberdade de espírito
CAPÍTULO 13 - Um testemunho
CAPÍTULO 14 - A luz em todas as coisas
CAPÍTULO 15 - A Glória de Deus em todas as coisas

CAPÍTULO I

AS MÁXIMAS DE SÃO BENTO

São Bento e a sua obra na Igreja

Aprouve muitas vezes a Deus, que falou a Moisés no monte Sinai, falar a seus santos no cume das montanhas, longe do mundo, perto do céu. Monte Cassino é um desses lugares abençoados; lá se ergue, como sobre uma base de granito, a grande imagem de São Bento. A mão de Deus que o tinha arrebatado do mundo, conduziu-o à solidão, e o moldou para ser o pai da maior família monástica que já houve na Igreja.

Ele começou, diz Bossuet, por onde os outros acabam, ou seja, pela perfeição. Sua primeira vitória sobre o mundo foi completa, decisiva: a vitória que ele alcançou pouco depois sobre si mesmo, triunfando sobre os atrativos da voluptuosidade, não foi menos completa nem menos decisiva. Em seguida correu com um passo livre e seguro no caminho de Deus, e, como nota o mais ilustre dos seus discípulos, São Gregório Magno, tendo-se tornado eleito de Deus, tornou-se doutor das almas. Electi, doctores animarum fiunt.

Era admirável ver São Bento, tão jovem ainda, cercado de discípulos, ensinando-lhes o caminho da perfeição monástica. A humildade do pai foi a medida da multiplicação dos filhos: “De modo que para fazer o seu panegírico em poucas palavras e resumir seus louvores, seria preciso apenas destacar que Deus o julgou bastante digno de ser a cabeça desse grande corpo, dessa ordem tão célebre, tão santa, tão ilustre, tão útil e tão gloriosa para a Igreja; seria preciso apenas dizer que ele teve em grau eminente todas as virtudes, as perfeições, os méritos, as coroas, as auréolas dessa multidão inumerável de santos patriarcas, profetas, homens apostólicos, mártires, pontífices, confessores e virgens que pertenceram à sua ordem e nela permanecerão até a consumação dos séculos, aos quais ele comunicou e comunica continuamente tanto a santidade que eles tiveram na terra como a glória e felicidade que possuem no céu... Quanta glória deram a Deus, quantos sacrifícios Lhe ofereceram, quantas almas Lhe ganharam, quantos infiéis converteram, quantos fiéis santificaram, quantos povos instruíram, quantas paróquias governaram, quantos sacramentos administraram, quantos ofícios divinos cantaram, quantos serviços prestaram à Igreja, quantas orações vocais, quantas orações mentais, quantos jejuns, quantas vigílias, quantas esmolas, quantas penitências, quantas obras de caridade fizeram, quantos atos de virtude praticaram. Depois de Deus, é São Bento o autor de todas essas coisas, ele as desejou ardentemente, pediu-as nas suas orações, obteve-as pelas suas preces, mereceu-as pelas suas boas obras e previu-as por seu espírito profético: portanto tem delas a alegria, a recompensa e a glória acidental, como frutos de seus trabalhos, colheitas de suas sementes, efeitos de suas influências”.

Mostrar São Bento em todas as suas grandezas seria uma tarefa muito além de nossas forças: entretanto, querendo prestar-lhe ao menos uma pequena homenagem, nós nos determinamos a publicar algumas de suas máximas.

Os antigos concílios testemunham que São Bento foi assistido pelo mesmo espírito de Deus que ditou os cânones dos concílios. São Gregório Magno, esse experimentado apreciador do mérito, diz que ele foi repleto do espírito de todos os justos: que era uma lâmpada colocada sobre o candelabro para iluminar toda a casa de Deus.

Será bom para nós desfrutar dessa luz e entrar assim no íntimo do pensamento dum santo que penetrou tanto mais profundamente no pensamento de Deus quanto mais humilde era diante de seu Criador. Pois, se é verdade, como ensina São Gregório, que o orgulho é sempre estranho à verdade, não seria menos verdade dizer que a humildade está sempre na posse e no gozo da verdade de Deus.

Ora, São Bento foi humilde: ele o era para com Deus e para com todos. Seus próprios inimigos, os que tentaram envenená-lo, não puderam alterar a sua paz, a sua doçura, a sua invencível humildade. Sempre ele se via sob o olhar de Deus, segundo o testemunho de seu santo biógrafo e, por conseguinte, lia sem cessar no livro da verdade eterna, aprendendo desse modo a desprezar-se a si mesmo e a só fazer caso de Deus.

Foi assim que São Bento atraiu para sua alma essas ondas maravilhosas de luz divina que lhe revelava o fundo dos corações, os pensamentos mais secretos, os acontecimentos que ocorriam longe dele, e mesmo aqueles que não deviam suceder senão após longos anos.

Deus derramava em abundância a sua luz nessa alma vazia de si mesma e faminta só de Deus. Enriquecido com os tesouros da sabedoria do alto, São Bento escreveu a santa Regra. É o nome que ele mesmo lhe dá e que a tradição conservou e consagrou. É nela que São Bento descreveu a si mesmo, pois só ensinou o que fez.

É nela também que estudaremos o seu espírito. Para abarcá-lo na sua plenitude, seria preciso contar, pesar, penetrar todas as palavras da santa Regra; não seríamos capazes de um trabalho tão amplo: vamos nos limitar a colher num campo tão vasto e variado algumas flores cuja cor, odor e perfume possam ser úteis a nossos leitores. Queira Deus que essas flores, ao passarem por nossas mãos, nada percam de sua frescura nativa, de sua graça original, de sua virtude sobrenatural.

CAPÍTULO II

O segredo do poder de São Bento

O que nos surpreende, o que nos maravilha em São Bento, é o poder, a fecundidade, que catorze séculos absolutamente não esgotaram. Se, à vista desses dons tão espantosos, se pergunta qual foi o segredo dum semelhante poder, duma tal fecundidade, encontra-se uma resposta nestas três palavras: a castidade, a humildade, as lágrimas.

São Gregório é admirável, quando, no segundo livro dos seus Diálogos, nos descobre o poder incomparável da castidade de São Bento. “Um dia, o santo teve uma tentação da carne tão violenta como nunca havia experimentado uma semelhante... Quase vencido, ele duvidava se não iria deixar o seu deserto, mas uma graça do alto fez subitamente que voltasse a si mesmo. Notando um lugar cheio de urtigas e de espinhos, despojou-se de suas vestes e lançou-se nu sobre as pontas dos espinhos, nesse braseiro de urtigas; aí se revolveu muito tempo e saiu com o corpo coberto de feridas. Estas tinham curado a chaga de sua alma; por seus esforços, a volúpia tinha-se mudado em dor. Por meio desse castigo do fogo, ele extinguiu o fogo impuro; tinha vencido o pecado. Desde esse momento, como ele próprio contava a seus discípulos, a tentação foi subjugada de tal maneira que nunca mais sentiu o assalto da volúpia. Então começaram muitos a deixar o mundo e apressaram-se em colocar-se sob sua conduta. Isento da tentação, livre do pecado, ele se tornou mestre das virtudes: era justo”.

Então, diz São Gregório, para fazer-nos compreender bem o segredo desse poder de atração que admiramos em São Bento: ele tinha vencido a carne, era poderoso no espírito. O Espírito Santo fez escrever estas divinas palavras: “Oh, como é bela a geração dos castos!”. Sim, como é bela a geração de homens castos que, tendo começado em São Bento, durou mais de catorze séculos e, segundo uma promessa divina, durará até o fim dos tempos!

À castidade, São Bento acrescentou a humildade, sua companheira inseparável. Conforme o testemunho de seu santo biógrafo, ele preferia antes sofrer as injúrias do mundo do que receber seus louvores: Plus appetens mala mundi perpeti quam laudes. Nessa tão curta frase, São Gregório nos faz perceber, duma só vez, quão sublime era a humildade de São Bento. Sendo quem era, ele não podia deixar de sofrer da parte do mundo. Ora, não podia sofrer da parte do mundo senão duas coisas: ou males ou louvores; ele teve uns e outros. Para ele a coisa mais insuportável não era o que chamamos males, mas o que se lhe atribuía pelos louvores. Iluminado do alto, percebia o mal oculto debaixo desses louvores do mundo, fruto da vaidade naqueles que os dão e armadilha de vaidade para quem os recebe. O louvor enfraquece a alma, torna a oração difícil, a tentação inevitável. Já que se tem que sofrer alguma coisa da parte do mundo, São Bento preferia sofrer os males do que receber os louvores. Sofrer assim não envaidece absolutamente; sofrer assim nos impele para Deus, o soberano, o único bem. Nessa pura luz da humildade, que é a pura verdade, São Bento estava à vontade sob o olhar de Deus e dEle recebia inestimáveis favores, tanto para si mesmo, como para as almas que gravitavam em torno da sua. “O humilde é amado e consolado por Deus. Deus Se abaixa em direção a ele; dá-lhe a Sua graça e o faz em plenitude e grandeza. Revela-lhe os Seus segredos, convida-o e o atrai docemente a Si. O humilde permanece em Deus e não no mundo: Stat in Deo, non in mundo”.

Elevado em Deus pelas duas asas da castidade e da humildade, São Bento se tornara um instrumento muito apropriado para as obras de Deus. Ele era, como diz São Paulo, um vaso de honra, um instrumento santificado e útil ao Senhor, disposto para toda a boa obra. Casto, ele podia dirigir as almas: humilde, penetrava os mistérios da vontade de Deus, e se prestava tanto melhor para o seu cumprimento, quanto era mais fiel em reservar somente a Deus a glória de todas as coisas. Non nobis, Domine, non nobis!

Não seria de crer que, sendo amigo de Deus, São Bento visse o bem se realizar sob suas mãos, sem ter que beber o cálice do sofrimento. Antes pelo contrário, quanto mais crescia a obra de Deus, tanto mais o incomparável santo tinha lágrimas para derramar. É a lei da providência de Deus. Desde o pecado original, triste fruto do prazer de um instante, o bem não se faz mais neste mundo senão como fruto da dor. Esta verdade não brilha em nenhuma parte com um fulgor mais impressionante do que em Nosso Senhor Jesus Cristo. O grão de trigo, diz o Salvador, não dará fruto nenhum se não morrer, se não for colocado na terra e fecundado pelas chuvas. São Bento também semeou com lágrimas. O sangue de Nosso Senhor caiu sobre a terra, e ele só tem toda a sua fecundidade onde lágrimas que só Deus conhece são derramadas abundantemente. Ele quis, não obstante, que nós conhecêssemos, ao menos em parte, as de São Bento, que chorava freqüentemente. Um padre se havia feito inimigo do santo: Deus o esmagou debaixo das ruínas de sua casa. Anunciou-se o fato a São Bento, não sem certa satisfação. O santo deplorou essa satisfação com tantas lágrimas, quantas derramou pela morte desse desventurado.

Um piedoso senhor, que São Bento honrava com sua amizade, entrou um dia na sua cela e o encontrou chorando com soluços. A vista dum tal amigo não estancou de modo nenhum as lágrimas do santo: Deus lhe havia revelado a futura destruição de seu mosteiro pelos lombardos; à força de lágrimas e de gemidos, obtivera de Deus a vida dos religiosos. Os lombardos, com efeito, saquearam tudo, mas não puderam atentar contra a vida deles.

As orações ordinárias do santo eram acompanhadas de lágrimas; mas, doces como a graça que as fazia brotar, com o amor que as derramava, elas corriam sem barulho. Que espetáculo mais grandioso, mais comovente, mais encantador do que o incomparável santo, tão casto, tão humilde, chorando, sem fazer ruído, diante de Deus!

CAPÍTULO III

A Presença de Deus

Está escrito no livro da Imitação de Cristo: “O humilde se mantém em Deus”, Stat in Deo... São Bento poderia dizer como os primeiros solitários do Carmelo: Viva o Senhor, em cuja presença me mantenho. Sendo a presença de Deus tão familiar e tão cara a este incomparável pai, ele a ensinava também a seus filhos e não cessava de inculcá-la. Reconhecendo-se, como São Paulo, devedor aos fortes e aos fracos, ele tinha meios proporcionados a cada um para levá-los todos a viver na presença de Deus.

Aos mais fracos, São Bento dava este preceito: Saibam que em todo o lugar Deus os olha. E noutro lugar: Cada um considere que Deus o contempla do alto do céu, e que em todo lugar suas ações são vistas pelos olhos de Deus e a toda hora são referidas a Deus pelos anjos.

Assim é útil representar-se Deus como nosso soberano senhor, como um grande rei, dominando nos céus, servido pelos anjos, e não se dedignando absolutamente abaixar os seus olhares sobre nós, pobres vermezinhos. Ele faz mais, pois se interessa por tudo o que se refere a nós, por tudo o que fazemos; ele envolve nisto os Seus anjos e os delega para junto de nós a fim de nos guardar e, se for preciso, nos denunciar a Ele.

Este meio de praticar a presença de Deus funda-se, como se vê, na imaginação, dirigida entretanto pela fé. E quando a fé é assim a diretriz da imaginação, esta pode prestar-nos grandes serviços.

Mas o discípulo de São Bento deve esforçar-se por se elevar acima das imagens e da imaginação, deve aspirar a viver da fé; pois, diz São Paulo, o justo vive da Fé: Justus meus ex fide vivit. Se, pois, o discípulo de São Bento começa por atos da imaginação ajudados pela fé, ele progredirá por meio dos atos de fé auxiliados um pouco pela imaginação, e será perfeito quando, elevado acima dos sentidos, viver puramente da fé, como o justo de São Paulo. Justus meus, o meu justo, diz o apóstolo.

Então São Bento ensinar-lhe-á uma nova maneira de entender a presença de Deus. Escutemos este mestre pouco conhecido: Temendo a Deus, diz ele dos verdadeiros servidores de Deus, temendo a Deus, eles não se tornam orgulhosos por causa de sua boa observância, mas reconhecendo que tudo o que tem de bom não procede absolutamente deles mesmos, mas vem de Deus, glorificam o Senhor que neles opera, dizendo com o profeta: Non nobis, domine, non nobis....

Estes felizes discípulos de São Bento não mais consideram Deus como acima deles no céu; nem como em torno deles, à maneira do ar que nos envolve; mas eles O vêem, pela fé, presente neles mesmos pela infinitude de Seu ser, dando-lhes o ser, a vida, o movimento e, por conseguinte, todo o bem que fazem. Reconhecem que Deus é o seu primeiro autor, o seu único inspirador; e então Lhe tributam glória por tudo, cantando com amor e humildade o versículo do salmo: Non nobis, Domine, non nobis!

Este “non nobis” é a tradução dos sentimentos dos homens que renunciaram totalmente a si mesmos para seguir a Jesus Cristo.

CAPÍTULO IV

O Amor de Nosso Senhor Jesus Cristo

Jesus Cristo! São Bento quer que Ele seja amado. Mas com que arte sabe ensinar o amor do divino Salvador! Desde as primeiras palavras da santa Regra, ele ensina a renunciar às suas próprias vontades; pois o homem se ama a si mesmo demasiado naturalmente, e este amor se revela pela afeição à vontade própria. Esta afeição deve diminuir para que o amor de Jesus Cristo tenha mais facilidade de entrar na alma: depois, por um esforço generoso, renuncie o discípulo às suas vontades para abraçar a vontade de Deus, ou melhor como diz São Bento, para lutar pelo verdadeiro Rei que é Nosso Senhor, então ele fará o ato de amor e o fará na verdade.

Secundando o seu nobre ardor, São Bento lhe ensinará a preferir Jesus Cristo a tudo, a considerar Jesus Cristo como o seu mais caro tesouro. Nihil Christo carius.

Sendo a caridade o fim, o coroamento de toda a virtude, São Bento, ao ensinar a humildade, dá-lhe igualmente por termo a caridade. Ele conduz o seu discípulo por doze diferentes graus de humildade e, depois, diz, “chega-se a este amor de Deus que é perfeito. Ele expulsa o temor e o que anteriormente não se observava sem custo, vem-se a observar com alegria por amor de Jesus Cristo, Amore Christi”.

Assim, em duas palavrinhas muito curtas, se encontra resumida a doutrina de São Bento sobre o ponto capital da moral cristã. Nihil Christo carius: Nenhum outro tesouro senão Jesus Cristo; eis o que ilumina a inteligência, o que forma o espírito, o que prepara os caminhos da salvação. Depois Amore Christi, agir por amor e para o amor de Jesus Cristo; eis o que leva o coração a Deus e torna a vida presente merecedora da eterna. Vamos lá!

CAPÍTULO V

A Graça de Deus

Do amor de Nosso Senhor à graça de Deus, não há mais que um passo e este não é grande.

Em algumas palavras duma limpidez perfeita, São Bento nos entregou o seu pensamento sobre a graça de Deus. No prólogo da santa Regra, ele fala daqueles que, “temendo a Deus, não se exaltam absolutamente por causa de sua boa observância e, reconhecendo que o que eles têm de bom, não lhes é possível absolutamente por si mesmos, mas que é obra do Senhor, glorificam o Senhor que neles opera”.

Mais adiante, o santo patriarca exprime a mesma idéia com um desenvolvimento importante; ele dá a seu discípulo este conselho: “Quando vir em si mesmo algum bem, que o atribua a Deus e não a si; saiba contudo que o mal é sempre obra sua e a si o impute”.

Aí está perfeitamente a doutrina que São Cipriano exprimia outrora com estas palavras bem conhecidas: “Nós não nos podemos gloriar de nada, visto que nada é nosso: In nullo gloriandum, quando nostrum nihil est”.

Mas onde o pensamento de São Bento se revela na sua totalidade, é quando trata do que deve fazer o abade após ter empregado todos os meios de correção para com um religioso que permanece incorrigível. “Se ele vê, diz, que com toda a sua diligência, nada obteve, que empregue no caso, o que é maior: a sua prece e a de todos os irmãos, a fim de que o Senhor, que tudo pode, opere a salvação deste irmão enfermo”.

Aqui São Bento tinha em vista esta graça que o coração mais duro não rejeita, uma vez que ela é dada para tirar a dureza do coração. São os mesmos termos de Santo Agostinho, e São Bento é da escola dele.

Um monge beneditino, escrevendo um dia a Bossuet, lhe dizia: “Todos nós Beneditinos fomos sempre extremamente apegados aos sentimentos de Santo Agostinho”.

Todos!

Sempre!

Extremamente!

Este monge beneditino se chamava Dom Mabillon.

CAPÍTULO VI

O Mosteiro

O mosteiro recebeu de São Bento um nome maravilhosamente belo: é a casa de Deus, Domus Dei; nossos pais amavam este nome e, de bom grado, diziam: a casa de Deus, como hoje ainda se diz Hôtel-Dieu.

A casa de Deus está inteiramente submetida ao governo de Deus; Ele a rege pela Sua lei, pelos Seus mandamentos, por Seus conselhos, por Sua graça, por Seu amor. A casa de Deus combate pelo seu rei, e este é Nosso Senhor Jesus Cristo.

A casa de Deus é a morada da paz; imagem do céu, o mosteiro tende a libertar-se cada vez mais de tudo o que é terrestre; seus habitantes, êmulos dos santos anjos, devem viver numa tranqüilidade tal que eles estejam ao abrigo de toda a perturbação e de toda a tristeza. Gosta-se de ouvir São Bento dizer estas encantadoras palavras: Que ninguém seja perturbado ou entristecido na casa de Deus. Nemo perturbetur neque contristetur in domo Dei.

Não se diria que o santo revelou nesta breve máxima toda a doçura da sua alma, toda a ternura do seu coração paternal?

A casa de Deus é também uma escola. Desde as primeiras páginas da Regra, São Bento chama o seu mosteiro de escola do serviço do Senhor. O monge está na escola e sempre deve aprender; a ciência por excelência à qual ele se deve aplicar é o serviço do Senhor.

CAPÍTULO VII

O Abade

Sendo o mosteiro a casa de Deus, o abade deve ser considerado como lugar-tenente de Jesus Cristo. São Bento di-lo expressamente: Christi agere vices in monasterio creditur.

Segue-se daí que seu governo deve ser uma imitação do governo de Deus. Escreveu-se outrora um livro sobre esta questão: Qual é o melhor governo, o rigoroso ou o brando? O melhor governo, segundo nós, é aquele que imita mais perfeitamente o de Deus, o qual governa com a autoridade que sabe empregar o melhor possível a doçura, quando esta se requer e o rigor, quando este é exigido. Tal é a autoridade de Deus, tal deve ser o chefe do mosteiro conforme São Bento.

São Bento adverte ter o Abade um encargo difícil, o de governar almas e de adaptar-se aos caracteres de muitos. Difficilem et arduam rem regere animas et multorum servire moribus. Servire! Aí está um dos deveres do abade.

Seu cargo lhe é dado a fim de ajudar os fracos, não para tiranizar os bons: Noverit se infirmarum curam suscepisse animarum, non super sanas tyrannidem.

Deve aplicar-se a ser útil a seus irmãos e não a fazer-se prevalecer: Prodesse magis quam praeesse. Toda a antigüidade repetiu com tanta admiração como complacência esta bela máxima de São Bento.

Como cada um encontra em si o poder de amar e o de odiar, o Abade deve saber regular em si mesmo estas afeições de sua alma. Deve odiar todos os vícios e amar todos os seus irmãos. Oderit vitia, diligat fratres.

Deus quer ser temido, porém mais ainda quer ser amado: fiel imitador do governo de Deus, o Abade aplicar-se-á, também ele próprio, mais a ser amado do que temido. Studeat plus amari quam timeri.

Depois, como o Abade não passa de um lugar-tenente de Nosso Senhor, ele deverá pensar nas contas muito exatas que Lhe dará de sua alma e de todas as que serão a si confiadas. São Bento não se cansa de repetir esta advertência ao Abade; e a propósito de todos os seus deveres, tanto no temporal como no espiritual, a propósito de todas as suas decisões, ele traz à memória do Abade o julgamento de Deus.

Enfim, exige dele uma virtude indispensável: a discrição. O Abade deve temperar todas as coisas de tal maneira que os fortes desejem fazer mais e que os fracos não venham a desanimar: Sic omnia temperet, ut sit quod fortes cupiant et quod infirmi non refugiant.

CAPÍTULO VIII

Os Irmãos

São Bento, para reconhecer a vocação de seus noviços, tinha quatro sinais que nos ensinou e que se podem dizer infalíveis. Examinava, portanto, se o noviço procurava a Deus com toda a pureza, o que já não é tão comum: em segundo lugar se ele tinha zelo pelo ofício divino; a seguir se era pronto na obediência; por fim se suportava bem uma reprimenda, um opróbrio. Si vere Deum quaerit, si sollicitus est ad opus Dei, ad obedientiam, ad opprobria. Estas curtas palavrinhas valem ao menos todo um livro que se intitularia: Do discernimento dos espíritos.

Comprometido pela profissão religiosa, o discípulo de São Bento não pertence mais a si mesmo; cabe à obediência conduzi-lo em todas as coisas. Seu julgamento está submetido a um julgamento superior, sua vontade a uma vontade mais segura; e com isso um monge deve andar na alegria de ver acima de si o superior que Deus encarregou do cuidado de sua alma: Ambulantes alieno judicio et imperio, Abbatem sibi praeesse desiderant.

Uma das coisas que São Bento proíbe com mais insistência é a murmuração. Em todas as ocasiões e por várias vezes, ele volta sobre isso e exclama para todos: Nada de murmurações! A casa de Deus tornar-se-ia a imagem do inferno, se a murmuração ali penetrasse. Há pelo menos sete passagens da Regra nas quais as murmurações são proibidas.

Os irmãos devem amar-se uns aos outros até se obedecerem de boa vontade: o amor que devem a seu pai, a seu Abade, tem duas qualidades essenciais: deve ser ao mesmo tempo humilde e sincero: humilde , porque o Abade é a imagem viva de Nosso Senhor; sincero, porque o monge deve ser, em todas as coisas, o homem da verdade: Veritatem ex corde et ore proferre.

É assim que, com algumas prescrições muito breves, mas muito substanciais, São Bento regula ao mesmo tempo o homem interior e todo o regime da casa de Deus. Beati qui habitant in domo tua, Domine!

CAPÍTULO IX

As três colunas do edifício

Querendo edificar a casa de Deus, São Bento lhe dá por base três possantes colunas, as quais descreve desde os primeiros capítulos da santa Regra: a obediência, o silêncio e a humildade.

“A obediência nos separa do mundo e de toda as suas maneiras de agir; ela nos separa ao mesmo tempo de nós mesmos, uma vez que nos subtrai os corpos e as vontades, a fim de submetê-los à sua lei.

O silêncio nos retira as palavras, fecha-nos a boca e, aqui e ali, preserva-nos duma infinidade de males.

Enfim, a humildade tira-nos a vaidade; purificando assim o coração e as intenções; ela acaba a obra de nossa conformidade com a vontade de Deus e nos fixa no caminho de toda a perfeição.

Às almas assim despojadas, só resta Deus”.

A Primeira Coluna

Desde as primeiras palavras da Regra, São Bento, considerando que a desobediência foi o começo da perda do gênero humano, quer que retornemos a Deus pelo trabalho da obediência. O soldado de Cristo, como ele chama ao seu discípulo, deve primeiramente despojar-se de suas próprias vontades depois revestir-se com as armas da obediência. Elas são poderosas, são belas. Obedientiae fortissima atque praeclara arma.

“Os mundanos, dizia Bossuet, correm para a escravidão por meio da liberdade; vós, ao contrário, meus Padres, vós ides para a liberdade por meio da dependência. Que é a liberdade dos filhos de Deus, senão uma dilatação e uma distensão do coração que se desembaraça de todo o finito? Por conseguinte, cortai, suprimi. Nossa vontade é finita e, na medida em que se fecha em si mesma, ela se limita. Quereis ser livres, desembaraçai-vos; não tenhais mais vontade a não ser a de Deus; assim entrareis no poder do Senhor; e, esquecendo-vos da vossa vontade própria, não vos lembrareis senão da Sua justiça”.

“A obediência, diz ainda Bossuet, é o guia dos costumes, a proteção da humildade, o apoio da perseverança, a vida do espírito e a morte garantida do amor próprio”.

São Bento quer que o seu discípulo obedeça em todas as coisas. “Tudo o que se faz sem permissão do Padre espiritual será atribuído à presunção e à vanglória e não à recompensa. Quod sine permissione Patris spiritualis fit praesumptioni deputabitur et vanae gloriae, non mercedi”.

A obediência deve ser tão preciosa e tão cara ao discípulo de São Bento que ele, desejoso de praticá-la sem cessar, obedece não apenas ao seu superior, mas a todos os seus irmãos. Obedientiae bonum non solum Abbati exhibendum est, sed etiam sibi invicem. Os irmãos devem obedecer-se assim à porfia. Obedientiam sibi certatim impendant.

Todas estas recomendações ainda não bastam a São Bento. Ele quer que a obediência tenha qualidades tais que seja agradável a Deus e suave ao que obedece como ao que manda. Acceptabilis Deo et dulcis hominibus.

Ela será tal se for praticada sem medo, sem demora, sem moleza, sem murmuração, sem réplica, mas de boa vontade. Non trepide, non tarde, non tepide, aut cum murmure, vel cum responso nolentis... et cum bono animo. Pois, acrescenta São Bento, segundo o Apóstolo: Quem dá com bom coração é amado por Deus.

Após todas estas recomendações, estaria São Bento satisfeito? Não. Resta-lhe ainda dizer até onde se deve estender a obediência. Ora, conforme o santo, ela se estende até o impossível. Eis as próprias palavras de São Bento: “Se se mandam a um irmão coisas duras e impossíveis, que receba a ordem do superior com toda a doçura e obediência. Se ele vê que o fardo excede completamente as suas forças, exponha ao superior com paciência e no momento oportuno as razões de sua impossibilidade, mas isto sem mostras de soberba, resistência ou contradição. Se, depois de ter assim apresentado suas razões, o superior mantiver a ordem dada, saiba o súdito que é para seu bem, e, por amor, confiado na ajuda de Deus, obedeça. Ex charitate, confidens de adjutorio Dei, obediat”.

A história monástica está repleta de exemplos desta obediência perfeita que, multiplicando as forças do monge, o faz operar realmente o impossível. Escutemos ainda uma vez a voz de Bossuet: “Vós tendes, meus Padres, um exemplo doméstico da virtude da obediência. Tendo o jovem Plácido caído num lago, quando daí tirava água, estava prestes a se afogar, quando São Bento ordenou a São Mauro, seu fiel discípulo, que corresse prontamente para retirá-lo. Fiado na palavra de seu superior, Mauro parte sem hesitar, sem se deter nas dificuldades da empresa; e cheio de confiança na ordem recebida, caminha sobre as águas com tanta firmeza como sobre a terra e retira Plácido do sorvedouro onde ele ia ser abismado. A quem atribuirei um tão grande milagre: à força da obediência ou à da ordem? Grande questão, diz São Gregório, entre São Bento e São Mauro. Digamos porém para decidir, que a obediência dá graça para cumprir o efeito da ordem; e que esta confere graça para dar eficácia à obediência”.

São Bento, um dia, mandou o impossível a um corvo. A história é interessante. Ei-la: um inimigo do santo, querendo dar-lhe a morte, enviou-lhe, a modo de esmola, um pão envenenado. São Bento agradeceu pela esmola e logo percebeu o veneno. Na hora da refeição, estando à mesa, um corvo, que tinha o costume de vir dum bosque vizinho receber pão da mão do santo, aproximou-se como sempre. São Bento atirou-lhe o pão envenenado e lhe disse: Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, leva este pão e joga-o onde ninguém o possa encontrar. O corvo então abre o bico desdobra as asas e se põe a voltear em torno do pão, crocitando fortemente; tudo isto para dizer que ele, sem dúvida, queria obedecer mas não podia fazê-lo. O homem de Deus, insistindo em sua ordem, diz: Leva-o, leva-o sem medo e vai lançá-lo onde ninguém o possa achar. O corvo tomou enfim o pão e, levando-o, partiu. Três horas depois ele voltou sem o pão envenenado, que lançara fora, e recebeu da mão do homem de Deus o pedaço de pão habitual.

A Segunda Coluna

A segunda coluna do edifício é o silêncio. À primeira vista parece bastante estranho que surja uma instituição para disciplinar os homens ensinando-os a se calarem. Naturalmente não se saberia chegar a tanto e, todavia, a graça que criou as instituições monásticas produziu nas almas um tal recolhimento em Deus, que daí resultou sem custo o silêncio. O homem que fala a Deus, o homem que, interiormente, escuta Deus falar-lhe, não tem absolutamente dificuldade em guardar o silêncio. Se parece que ele perde alguma coisa não conversando de modo nenhum com os seus semelhantes, ganha infinitamente mais conversando com Deus. Se pela palavra entramos em comunicação com os homens, pela oração nós nos relacionamos com Deus; e o que se ganha na companhia de Deus é completamente superior ao que nos poderia dar a companhia dos homens.

O silêncio se torna então um rico tesouro, e é o pensamento de São Bento quando escreve a expressão gravitas silentii. Se traduzirdes: gravidade, importância, riqueza do silêncio, tereis expresso o pensamento do santo legislador.

Depois disto, não se terá dificuldade em compreender esta sentença da Regra: Os monges devem em todo o tempo aplicar-se a guardar o silêncio, mas sobretudo durante a noite: Omni tempore silentio debent studere monachi, maxime tamen nocturnis horis.

Silentio studere, aplicar-se a nada dizer, eis aí um tipo de aplicação inteiramente novo. Os antigos monges haviam feito nisto tais progressos que tinham inventado sinais por cujo meio comunicavam os seus pensamentos quando era necessário, sabendo que ganhariam sempre e cada vez mais em não abrir absolutamente a boca. É a doutrina do Espírito Santo que, pela boca do apóstolo S. Tiago Menor, nos diz: “Cometemos todos muitas faltas, mas quem não as comete em palavras, é um homem perfeito”.

A Terceira Coluna

Humilitas entre os Romanos queria dizer baixeza; humilis domus para Horácio significava uma casa pobre. A Igreja, apoderando-se da língua latina enriqueceu-a singularmente com uma quantidade de expressões, e entre outras a palavra humilitas, com a qual ela designou esta grande e bela virtude que, despojando-nos do orgulho, nos torna tão caros a Deus: a humildade.

É a terceira coluna do edifício beneditino. A quem perguntasse a São Bento qual das três colunas ele julgava a mais necessária, o incomparável patriarca teria respondido com Santo Agostinho: a humildade. E a quem perguntasse uma segunda e terceira vez qual a mais necessária, como Santo Agostinho, ele teria respondido sempre: a humildade.

É manifesto que São Bento atribuía a esta virtude um valor inestimável. Ele a ensina com uma complacência bem acentuada; faz dela, por assim dizer, um tratado todo especial, o capítulo VII da Regra.

A primeira das obras de São Bernardo é precisamente o comentário deste capítulo VII da Regra de São Bento. É neste tratado que o ilustre abade de Claraval deu, da humildade, a definição que todos os mestres adotaram por unanimidade: “A humildade é a virtude que nos faz desprezar-nos em conseqüência de um conhecimento sumamente verdadeiro de nós mesmos”.

São Bento enumera doze graus de humildade. Eis aqui seu resumo:

1. Ter continuamente diante dos olhos o temor de Deus e, por conseguinte, manter-se prevenido contra todos os pecados e, notadamente, contra a vontade própria;

2. Renunciar a seus próprios desejos, em conseqüência da renúncia à própria vontade;

3. Submeter-se com toda a obediência a seu superior por amor de Deus;

4. Aceitar em paz as ordens difíceis, até os maus tratos e as injúrias;

5. Descobrir simplesmente ao superior os pensamentos mesmo maus que vêm à mente;

6. Contentar-se com o que há de mais vil e abjeto;

7. Considerar-se, no fundo do coração, como o último de todos;

8. Seguir simplesmente a regra comum e fugir de toda a singularidade;

9. Guardar o silêncio até que seja interrogado;

10. Não ser absolutamente pronto para rir;

11. Falar suavemente, gravemente, com poucas palavras bem razoáveis;

12. Trazer a humildade no coração e em todo o seu exterior, baixando os olhos, como um criminoso que se considera a ponto de ser chamado ao temível tribunal de Deus.

Por aí se vê que São Bento, por assim dizer, faz decorrer da humildade toda a perfeição monástica.

CAPÍTULO X

A Oração

O corpo se alimenta em parte pela respiração, e em parte pelo pão de cada dia. A alma tem também necessidade de alimento: o seu pão é a Eucaristia; sua respiração é a oração. Também Nosso Senhor diz: É preciso rezar sempre. E São Bento nada recomenda tanto a seu discípulo como a oração.

A prece é o próprio âmago da vida monástica: o ofício divino é a sua expressão mais solene; mas a isto é mister acrescentar uma oração interior que deve, sem cessar, fazer subir para Deus todos os atos da vida religiosa. “Tudo o que empreenderes, diz São Bento, pede a Deus, por uma insistente oração, que Ele mesmo queira levá-lo a cabo. Quidquid agendum inchoas bonum, ab eo perfici instantissima oratione deposcas”.

Há, contudo, certas circunstâncias em que São Bento recomenda mais particularmente a oração. Se um religioso se ausenta do mosteiro, ele deve pedir as orações de toda a comunidade; e as pede igualmente quando volta; se se apresentam hóspedes, é preciso rezar ao recebê-los antes mesmo de os cumprimentar. Durante a Quaresma, é preciso juntar as lágrimas à oração: Orationi cum lacrymis operam demus.

Se no mosteiro se acha um religioso incorrigível, o Abade, após ter esgotado todos os recursos que lhe podem fornecer a caridade, as reprimendas, as punições, recorrerá, por fim, à oração. – “Se ele vê que, com toda a sua diligência, nada conseguiu, que empregue ainda o que é maior, a saber a sua oração e a de todos os irmãos com ele, a fim de que o Senhor, que tudo pode, opere a salvação deste irmão enfermo. Adhibeat etiam (quod majus est) suam et omnium fratrum pro eo orationem, ut Dominus, qui omnia potest, operetur salutem circa infirmum fratrem”.

Outra recomendação de São Bento, a respeito da oração, é a de oferecê-la a Deus pelos nossos inimigos e isto no amor de Jesus Cristo. In Christi amore pro inimicis orare.

Enfim, para dar uma idéia mais completa da doutrina de São Bento sobre a oração, citamos o capítulo XX da Regra:

Do Respeito que deve acompanhar a Oração

“Se, quando queremos pedir algum favor aos poderosos, não ousamos fazê-lo a não ser com humildade e respeito, quanto mais, ao dirigir-nos a Deus, soberano Senhor de todas as coisas, devemos suplicar-lhe com profunda humildade e devoção pura. E saibamos que seremos atendidos não pela multiplicidade de palavras, mas pela pureza do coração e pelas lágrimas da compunção. E para isto a oração deve ser curta e pura, se não for prolongada por uma moção particular, uma inspiração da graça de Deus”.

Assim pensava, assim rezava São Bento, cujo coração, segundo o testemunho da própria Virgem Santíssima, era totalmente cheio de Deus, erat cor ejus totum plenum Deo.

CAPÍTULO XI

O Ofício Divino

Há na Igreja da terra uma oração solene e sagrada, que faz eco ao tríplice Sanctus dos Serafins do céu, uma oração que São Bento chama uma obra divina, a obra de Deus: Opus Dei.

É a prece das sete horas místicas do dia, desenrolando-se após uma longa oração noturna: é a obra capital dos religiosos beneditinos, a qual não cede a nenhuma outra, aquela à qual devem ceder todas as outras. Nihil operi Dei praeponatur.

A cada uma destas horas o filho de São Bento é, pela sua Regra, chamado ao coro para oferecer aí os seus louvores ao seu Criador. His temporibus referamus laudes creatori nostro.

Ao primeiro sinal do ofício, é preciso imediatamente deixar tudo e dirigir-se ao coro, com uma religiosa solicitude, uma gravidade modesta e uma alegria incomparável de ser chamado a unir-se ao coro dos anjos, para começar aqui em baixo a oração que se aperfeiçoará, sem jamais terminar, nos céus.

Não contente em chamar os seus irmãos ao ofício, São Bento prescreve punições para os que chegarem atrasados ao mesmo.

Começado o ofício, é preciso manter-se nele com uma atenção mais intensa à presença de Deus. Sabemos o que São Bento ensina sobre o exercício da presença de Deus, e como ele recomenda a seu discípulo estar sempre atento; nós não nos espantaríamos de que ele dê uma advertência toda especial para o tempo do ofício divino: Ubique credimus divinam esse praesentiam, et oculos Domini in omni loco speculari bonos et malos; maxime tamen hoc credamus, cum ad opus divinum assistimus.

Considerando que os religiosos no coro fazem na terra o ofício dos anjos no céu, São Bento quer que eles se tornem atentos à presença dos anjos. Consideremus qualiter oporteat nos in conspectu divinitatis et angelorum esse.

O salmista havia dito: “Na presença dos anjos, Senhor, cantar-Vos-ei salmos”.

Ainda existe um conselho muito interessante e importante de São Bento relativamente ao ofício divino: “Estejamos na salmodia de tal modo que a nossa mente concorde com a nossa voz. Sic stemus ad psallendum, ut mens nostra concordet voci nostrae”.

Bem antes de São Bento, dissera São Paulo: “Rezarei com o coração; cantarei também com a inteligência”.

Assim a voz, o coração, a inteligência, tudo o que está em nós, tudo o que nós somos, deve contribuir para o louvor de Deus. A voz canta, o coração ama, o espírito saboreia, anima, vivifica a salmodia e a torna digna de Deus.

É bom cantar, é bom amar: mas cantar e amar com inteligência é a perfeição; e esta é exigida quando se trata do ofício divino. O religioso na terra que tem de unir-se ao ofício do anjo no céu, deve esforçar-se em se elevar até o anjo com as duas asas da inteligência e do amor.

Portanto, é preciso saber.

Quando os irmãos têm tempo livre após o ofício da noite, devem também empregá-lo no estudo dos salmos e das lições. São Bento assim o quer.

É preciso saber. Toda a tradição beneditina consiste nisso. Essa também é a razão de tantos trabalhos, comentários, explicações, glosas sobre os salmos e a Escritura, que ocuparam os filhos de São Bento em todos os séculos. Eles queriam compreender, saber, a fim de cantar com inteligência e de glorificar mais Aquele que é ao mesmo tempo luz e amor, verdade e caridade.

CAPÍTULO XII

A Liberdade de Espírito

Ao escrever estas palavras, a liberdade de espírito, sentimos a necessidade de dar a sua definição. Em nossos dias se tem abusado tanto da palavra liberdade que se torna indispensável tomar as maiores precauções para não cair em qualquer um dos preconceitos ou erros modernos, enfeitando-se com o belo nome de liberdade.

Ora, por liberdade de espírito entendemos o estado duma alma, a qual nada impede em seu impulso para a perfeição, em seu vôo para Deus.

São Bento quer que o seu discípulo tenha a alma bem à vontade, o espírito inteiramente em paz. Se ao homem exterior ele impõe uma disciplina exata e uma regra à primeira vista severa, o homem interior, por sua vez, é posto em liberdade.

Aí há um grande trabalho, e São Bento não faz nenhuma dificuldade em reconhecer que os começos são um pouco penosos. Via salutis non nisi angusto initio incipienda. É o trabalho indispensável para desembaraçar a alma dos entraves que ela trouxe consigo ao vir do mundo. O pecado, e sobretudo o hábito do pecado, o desregramento das afeições, as miseráveis exigências duma vida demasiado sensual, são outros tantos obstáculos à santa liberdade de um filho de Deus. Não é sem custo que se se desprende de tantos entraves; mas à medida em que deles alguém se desembaraça, a dificuldade diminui e, depois, ela desaparece rapidamente, e o monge, feito obediente, não encontra mais na Regra nada de pesado, nada de difícil. Nihil asperum, nihil grave. Talvez, ao começar, ele mais se arrastava do que andava; contudo avançava, e isso é que é importante.

Desde a primeira hora, São Bento pede que seu discípulo esteja de boa vontade: Admonitionem pii patris libenter excipe. Quer que ele esteja alerta, bem decidido. Se Deus lhe clama: Quem quer a vida eterna? Ele Lhe responde: Eu!

Como caminhará aquele que assim começou? Após a dificuldade da primeira hora o caminho de Deus se alarga e, aumentando no discípulo de São Bento a boa vontade, ele antes corre do que anda. São Bento o diz claramente, e só no Prólogo da Regra, encontramos até três vezes este termo correr. “Se queremos chegar ao céu, diz o santo patriarca, não chegamos aí senão correndo: Nisi currendo minime pervenitur”_. E mais adiante: “É preciso correr e fazer agora o que nos deve aproveitar para a eternidade. Currendum et agendum est modo quod in perpetuum nobis expediat”. Pelo fim do mesmo Prólogo, São Bento repete ainda uma vez sua palavra favorita: “Com o coração dilatado, diz ele, por uma inenarrável doçura de amor, corre-se no caminho dos mandamentos de Deus: Dilatato corde, inenarrabili dilectionis dulcedine, curritur via mandatorum Dei”.

São Gregório Magno refere um fato extremamente interessante que citamos aqui, pois ele tem a sua significação. Havia na Campânia um solitário chamado Martinho. Morava numa caverna, estava preso a ela por uma cadeia de ferro, duma parte ligada a seu pé e de outra chumbada ao rochedo da caverna. São Bento soube do fato deste solitário e lhe mandou dizer: “Se és servo de Deus, não deves estar retido por uma cadeia de ferro, mas pela cadeia de Cristo: Si servus Dei es, non teneat te catena ferri, sed catena Christi”. O solitário obedeceu logo à palavra de São Bento: com efeito, a cadeia de Jesus Cristo lhe foi suficiente, pois, após ter deixado a sua cadeia de ferro, continuou do mesmo modo prisioneiro em sua caverna.

São Bento nos clama a todos a mesma coisa: Non teneat te catena ferri: deixai cair as cadeias de ferro de vossos pecados, de vossas paixões, de vossas vontades; há uma cadeia mais salutar, mais suave, mais leve, é a cadeia de Cristo: Catena Christi. Todas as outras são fardos, ela é porém a própria liberdade; nós não a levamos, ela é que nos leva. Portanto, como ela é desejável!

Quando o discípulo de São Bento encontrou este tesouro, todas as observâncias se cumprem sem custo nenhum: Absque ullo labore. O segredo desta facilidade no bem é que se aprendeu a amar o rei pelo qual se combate. Age-se então pelo princípio do amor de Jesus Cristo: Amore Christi. Este novo amor fez nascer um homem novo que, com hábitos novos, caminha livremente para o céu: Consuetudine ipsa bona. Então as virtudes cristãs e monásticas enchem o coração com uma suavidade incomparável: Delectatione ipsa virtutum. Como é fácil, depois disso, correr no caminho: Currendum et agendum est modo quod in perpetuum nobis expediat!

O discípulo não corre sozinho; São Bento está com ele, e vela com uma solicitude incomparável para que nada venha perturbar ou contristar o pacífico habitante da casa de Deus. Nemo perturbetur neque contristetur in domo Dei. No exterior nada perturba o monge fiel, pois tudo é muito bem regulado na casa de Deus. No interior nada existe que o possa entristecer: perto dele há um pai sempre vigilante, e um Deus que ama sem jamais interromper o ato divino pelo qual nos ama.

Havia saboreado este ensinamento, o autor que escrevia o seguinte:

“Ó Senhor meu Deus, livrai-me de minhas paixões e curai o meu coração de todas as suas afeições desordenadas, a fim de que, curado interiormente e bem purificado, eu me torne apto para amar.

É uma grande coisa o amor: é um bem inteiramente grande. Só ele torna leve qualquer fardo; à própria amargura ele dá doçura e gosto. O amor quer estar no alto: quer ser livre. Corre, voa, rejubila-se: é livre, nada o retém. Se alguém ama, este compreende”.

CAPÍTULO XIII

Um Testemunho

A liberdade de espírito é um dos bens que devemos ao Cristianismo; São Paulo ensina-o formalmente: “Onde está o Espírito do Senhor, diz, aí está a liberdade”. E noutra passagem: “Vós fostes chamados para a liberdade, meus irmãos”.

Esta mesma liberdade é um dos caracteres do espírito de São Bento. Eis a este respeito um testemunho particularmente interessante. Nós o devemos ao sábio e piedoso Pe. Faber, do Oratório de Londres:

“Onde reina a lei de Deus, onde sopra o Espírito de Cristo, aí existe a liberdade. Ninguém pode ler os escritos espirituais da antiga escola de São Bento, sem notar com admiração a liberdade de espírito pela qual a sua alma estava penetrada. É precisamente o que nós temos o direito de esperar de uma Ordem cujas tradições são tão respeitáveis. Seria um grande bem para nós possuir um maior número de exemplares e de traduções de suas obras. Santa Gertrudes é um belo exemplo disso. Ela respira em todo o lugar o espírito de São Bento... O espírito da religião católica é um espírito fácil, um espírito de liberdade; e aí estava sobretudo o apanágio dos ascetas Beneditinos da velha escola. Os escritores modernos procuram circunscrever tudo, e este deplorável método fez mais mal do que bem”.

CAPÍTULO XIV

A luz em todas as coisas

No capítulo XLI da Regra, São Bento, ao tratar da hora das refeições, estabelece que na Quaresma se jantará depois das Vésperas, mas de tal modo que a refeição termine à luz do dia. Após ter disposto todas as coisas para que assim se façam, acrescenta, para terminar todo o capítulo, esta reflexão: Que tudo se faça com luz: Cum luce fiant omnia.

Dizíamos num capítulo precedente: É preciso saber! E nós cremos poder aproximar esta palavra da máxima de São Bento: cum luce fiant omnia. Que tudo se faça com luz.

O espírito dos santos, formado na escola do Espírito de Deus, é como Este, ao mesmo tempo uno e múltiplo. Lemos no livro da Sabedoria que o Espírito Santo, Espírito de inteligência é uno e múltiplo: Spiritus intelligentiae Sanctus, unicus, multiplex. Igualmente o espírito dos santos é uno, porque se recolhe todo em Deus e na Sua santa vontade; ele é múltiplo, porque na sua unidade abarca a extensão imensa dos caminhos de Deus e todo o conjunto tão harmonioso dos meios de chegar a Ele.

Quando São Bento, falando das refeições, diz que tudo se faça com a luz do dia, ele vai muito além. À luz do dia se sobrepõe a luz espiritual que Deus infunde nas almas.

Estas também têm a sua luz e a sua refeição. Alimentam-se com a verdade eterna, desalteram-se na fonte da vida. A hora abençoada destas refeições celestes é a da oração, da salmodia, do Sacrifício eucarístico, da comunhão e mais tarde será a da visão de Deus no céu.

Ora, em todas estas coisas, há uma luz que São Bento deseja para seus filhos. É preciso saber! As trevas têm algo de entristecedor, de repugnante, de terrificante. Mesmo sob o ponto de vista material, São Bento não quer que haja trevas no mosteiro: uma lâmpada deve iluminar o dormitório até o nascer do dia. Com mais forte razão, é preciso luz para as almas. A meia luz não basta; a fé procura compreender sempre melhor: Fides quaerit intellectum, é a palavra de Santo Anselmo. É preciso luz plena e total. Nosso Senhor o disse numa parábola: Tende na mão uma tocha acesa. E São Paulo dizia e escrevia a seus fiéis: Sois filhos da luz, do dia claro: não filhos da noite nem das trevas.

Quando, rodeado de seus irmãos, São Bento cantava o Ambrosiano, o hino de Santo Ambrósio: Splendor paternae gloriae, como deveria saborear Aquele que é a luz, que nesse hino encontra-se denominado Plena aurora; Aurora totus! Para nós plena aurora, para os anjos todo luz no seu zênite.

Arrebatado de alegria nos esplendores desta aurora, ele saboreava a doçura das iluminações divinas, e esperando o grande dia da eternidade, ele penetrava já nas profundezas das claridades superiores. “Enquanto os irmãos dormiam, São Bento, de pé junto à janela, estava em oração antes da hora das Matinas. Levantou então os olhos e, de repente, viu descer do alto uma luz tão grande que todas as trevas foram dissipadas por um esplendor bem superior à luz do dia. E neste esplendor, que não era da terra, o santo viu o mundo inteiro ser trazido diante dele e condensado como debaixo de um só raio de sol”.

Quando, depois de tais graças, retornava para junto de seus irmãos, a fim de regular até as coisas mais comuns da vida, São Bento dizia com um acento muito profundo: Que tudo se faça com luz: Cum luce fiant omnia.

É preciso notar que estas harmonias maravilhosas que enchiam a alma do santo, estendiam-se até à forma com a qual se revestia o seu pensamento. Como trabalhada, poetizada por uma inspiração celeste, a expressão tomava a forma dum verso jâmbico duma beleza perfeita:

Cum luce fiant omnia.

Verdadeiramente, seria bom, seria agradável ler assim, ler freqüentemente com o espírito dos santos.

CAPÍTULO XV

A glória de Deus em todas as coisas

Leiamos mais uma vez com o espírito de São Bento. Nós o ouvimos prescrevendo a luz em todas as coisas: escutemo-lo cantando a glória de Deus em tudo.

No capítulo LVII da Regra, São Bento edita diversas prescrições aos artesãos, aos artistas que se podem encontrar no mosteiro. Ele quer que as obras deles sejam vendidas abaixo do preço fixado entre os seculares e, querendo dar à lei que estabelece um fim inteiramente sobrenatural, termina com esta admirável sentença: “A fim de que em todas as coisas Deus seja glorificado: Ut in omnibus glorificetur Deus”.

Certo dia, uma criança sem instrução tinha lido alguns capítulos da Regra de São Bento. Maravilhada com eles, manifestava seus sentimentos com estas palavras: Como isto leva diretamente a Deus!

Sim, diretamente a Deus! Aí está todo o ensinamento de São Bento. Diretamente a Deus, e é preciso não somente andar, mas correr para o Senhor. O santo diz isto por três vezes, desde o prólogo da Regra, e o repete ainda no último capítulo. Assim diz: “Correndo em linha reta cheguemos até o nosso Criador: Recto cursu perveniamus ad Creatorem nostrum”.

Assim, bem determinado o objetivo: Deus, e o meio bem definido de o atingir: a corrida, compreende-se que São Bento queira que Deus seja em tudo glorificado. Ut in omnibus glorificetur Deus.

Nossos pais atribuíam a esta bela máxima um valor inestimável. Eles a tinham no coração, a exemplo de seu Pai: ela lhes era muito familiar, e de bom grado a escreviam somente com as iniciais latinas:

U. I. O. G. D.

Portanto, digamos com São Bento: Que em todas as coisas Deus seja glorificado!

Com ele corramos!

Com ele diretamente para Deus!

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