sexta-feira, 10 de maio de 2013

Legenda Perusiana 91-95.

[91]

Outra vez, um pobrezinho veio com roupas muito pobres a um eremitério dos frades, e pediu por amor de Deus aos frades uma peça pobrezinha. O bem-aventurado Francisco disse a um irmão que procurasse pela casa para ver se achava algum pano ou pedaço para lhe dar. Rodando pela casa, o frade disse que não achou. Mas para que o pobre não voltasse sem nada, o bem-aventurado Francisco foi ocultamente, para que seu guardião não lhe proibisse, pegou uma faca e, sentando-se num lugar escondido, começou a cortar um pedaço de sua túnica, que estava costurado pelo lado de dentro, querendo dá-lo secretamente ao pobre.

Mas o guardião logo percebeu o que ele queria fazer, foi ao seu encontro e proibiu que desse, principalmente porque então estava fazendo muito frio e ele estava doente e muito resfriado. mas o bem-aventurado Francisco lhe disse: “Se não queres que lhe dê, é preciso absolutamente que se faz dar algum retalho ao pobre”. Então aqueles frades deram um pano de suas roupas, em nome do bem-aventurado Francisco.

Quando os frades lhe arranjavam uma capa, tanto quando ia pelo mundo pregando [a pé ou montado num burrico] - porque depois que começou a ficar doente não conseguia ir a pé e por isso precisava, às vezes, montar num burrico, porque a cavalo só queria montar quando houvesse uma necessidade estrita e maior, e isso pouco antes de sua morte, quando começou a ficar muito doente - ou estivesse em algum lugar, não queria recebe-la senão daquele jeito, isto é, que se encontrasse com um pobrezinho ou este fosse procura-lo, pudesse dá-la se lhe fosse manifestamente necessária e se o espírito lhe desse testemunho a respeito.



[92]

Certa ocasião, no começo da religião, quando morava em Rivotorto com os dois frades que ram os únicos que tinha naquele tempo, eis que alguém, que foi o terceiro frade, veio do século para assumir sua vida. E aconteceu que, como ficasse vestido por diversos dias com as roupas que trouxera do século, um pobrezinho veio ao lugar pedindo esmola ao bem-aventurado Francisco. O bem-aventurado disse ao que foi o terceiro frade: : Dá ao pobrezinho a tua capa”. Ele tirou na mesma hora de suas costas, com grande alegria, e deu ao pobre. Por isso pareceu-lhe que na mesma hora deus lhe havia colocado uma nova graça em seu coração nessa ocasião, pois dera a capa ao pobre com alegria.



[93]

Em outra ocasião, quando permaneciam junto à igreja de Santa Maria da Porciúncula, uma mulher, velhinha e pobrezinha, que tinha dois filhos na Religião dos frades, foi àquele lugar pedindo alguma esmola ao bem-aventurado Francisco, principalmente porque naquele ano não tinha do que poder viver. O bem-aventurado Francisco disse a Frei Pedro Cattani, que era então ministro geral: “Será que nós temos alguma coisa para dar à nossa mãe?”. Porque dizia que era mãe sua e de todos os frades da religião a que fosse mãe de algum frade. Frei Pedro respondeu-lhe: “Na casa não temos nada que possamos dar-lhe, principalmente porque ela quer uma esmola que possa ser suficiente para o que é necessário ao seu corpo. Na igreja só temos um Novo Testamento, em que lemos as leituras de matinas”.

Pois naquele tempo os frades não tinham breviários nem muitos saltérios. Disse-lhe o bem-aventurado Francisco: “Dá a nossa mãe o Novo Testamento, para que o venda para a sua necessidade; creio firmemente que vai agradar mais a Deus e à bem-aventurada Virgem que se nele lesses”. E assim o deu a ela. Pois o bem-aventurado Francisco pode dizer-se o que foi dito do bem-aventurado Jô: Minha comiseração saiu e cresceu comigo desde o útero de minha mãe (cfr. Jô 31,18). Por isso, para nós que estivemos com ele, seria muito longo escrever e contar não só o que ouvimos de outros a respeito de sua caridade e piedade para com os pobres, mas também o que vimos com nossos olhos.



[94]

No mesmo tempo, vivendo o bem-aventurado Francisco no eremitério de Sapo Francisco de Monte Colombo, aconteceu que uma certa doença dos bois, chamada vulgarmente “basabove”, da qual nenhum pode escapar, atacou os bois de Santo Elias, que fica perto do eremitério, de modo que todos eles começaram a adoecer e morrer. Mas uma noite foi dito em visão a um homem spiritual daquela vila: ”Vá ao eremitério onde mora o bem-aventurado Francisco e a água usada para lavar seus pés e mãos, jogue-a sobre os bois, e vão ficar imediatamente libertados”.

O homem levantou-se bem cedinho, foi ao eremitério e disse tudo isso aos companheiros do bem-aventurado Francisco. Eles, na hora da refeição, recolheram numa vasilha a água que tinha sido usada para ele lavar as mãos; de tarde também pediram que os deixasse lavar seus pés, sem falar nada daquele assunto. E assim deram depois ao homem a água usada para lavar as mãos e os pés do bem-aventurado Francisco; e levou e aspergiu-a como água benta sobre os bois, que estavam deitados quase mortos, e sobre todos os outros. E na mesma hora, pela graça de Deus e pelos méritos do bem-aventurado Francisco ficaram todos livres. Naquele tempo o bem-aventurado Francisco tinha cicatrizes nas mãos, nos pés e no lado.



[95]

Nesses mesmos tempos, como o bem-aventurado Francisco estava doente da enfermidade dos olhos e por alguns dias permanecesse no palácio do bispo de Rieti, um clérigo da diocese de Rieti, chamado Gedeão, homem muito mundano, jazia doente havia muitos dias por uma enfermidade grande e com a maior dor dos rins. De tal modo que não podia se mexer nem se virar na cama sem ajuda, nem levantar-se ou andar a não ser carregado e, quando ia carregado, ia encurvado e quase dobrado por causa das dores dos rins: pois nem podia levantar-se um pouco.

Um dia fez-se levar até onde estava o bem-aventurado Francisco, lançou-se aos seus pés e pediu com muitas lágrimas que fizesse o sinal da cruz sobre ele. O bem-aventurado Francisco disse-lhe: “Como vou te fazer o sinal se vivestes outrora sempre segundo os desejos da carne, não levando em conta nem temendo os juízos de Deus? Mas vendo-o tão afligido pela grande doença e pelas dores, ficou com pena dele e lhe disse: “Eu te assinalo em nome do Senhor. Mas se aprouver ao Senhor libertar-te, toma cuidado para não voltar ao vômito, porque na verdade eu te digo que, se voltares ao vômito, virão coisas piores que as de antes e vais incorrer num juízo duríssimo, por causa de teus pecados e por ser ingrato e ignorar a bondade do Senhor”.

E quando o bem-aventurado Francisco fez o sinal da cruz sobre ele, ele se ergueu e se levantou, libertado interiormente na mesma hora. Quando se ergueu, os ossos de suas costas soaram como se alguém estivesse quebrando lenha seca. Mas como depois de alguns dias voltou ao vômito e não observou o que o Senhor lhe tinha dito por seu servo Francisco, aconteceu que um dia, quando foi jantar na casa de outro cônego, seu companheiro, e tivesse dormido lá nessa noite, caiu de repente o telhado da casa em cima de todos. Mas os outros escaparam da morte, só o coitado foi atingido e morto.

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