quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Como agradar a Deus.

Parte III: Santo Antâo



Se ouvirdes atentamente a minha voz
e guardardes a minha aliança,
sereis minha propriedade especial entre todos os povos,
porque minha é a terra e vós constituireis para mim
um reino de sacerdotes e uma nação santa.

Ex. 19,5-6.

Eis que celebrarei uma aliança:
diante de todo o povo farei maravilhas
que jamais foram operadas em terra alguma,
nem em nenhuma nação;
e todo o povo no meio do qual te encontras,
contemplará a glória do Senhor.

Guarda-te de fazer aliança alguma
com os habitantes da terra para a qual te diriges,
a fim de que não constituam um laço no meio de ti.
Pelo contrário, derrubarás os seus altares,
despedaçarás as suas estátuas
e cortarás os seus bosques.

Não adorarás nenhum outro deus,
porque Zeloso é o nome do Senhor:
um Deus zeloso é Ele.

Cuida de não estabelecer aliança com os habitantes do país,
porque se prostituem aos seus deuses
e lhes oferecem sacrifícios,
e te convidariam e comerias de seus sacrifícios.

Ex. 34,10-16

Aproximai-vos de Cristo, pedra viva, eleita e estimada por Deus,
também vós, como pedras vivas.
Vinde formar um templo espiritual para um sacerdócio santo,
a fim de oferecer sacrifícios espirituais,
agradáveis a Deus por Jesus Cristo.

Sois uma estirpe eleita, sacerdócio real, gente santa,
povo trazido à salvação,
para tornardes conhecidos os prodígios
d’Aquele que vos chamou das trevas
para a luz admirável.

1 Pe. 2, 4-5

O Senhor é digno de receber o louvor
e de abrir os selos do Livro,
porque foi imolado e nos remiu para Deus com o seu sangue,
e fez de nós reis e sacerdotes para o nosso Deus.

Àquele que nos amou,
que nos lavou dos nossos pecados pelo seu sangue,
e que nos fez ser reino e sacerdotes de Deus seu Pai,
a Ele a glória e o império
pelos séculos dos séculos. Amém.

Ap. 5,1

Quem se aproxima das lições das Sagradas Escrituras com o desejo de aprender, deve considerar primeiro qual é o assunto de que tratam, pois assim poderá alcançar mais facilmente a verdade e a profundidade de suas sentenças. A matéria de todas as Sagradas Escrituras é a obra da restauração humana.

O fim a que deve aspirar cada cristão é, segundo o permitirem as próprias forças, observar exatamente a lei divina e os conselhos evangélicos, cuidando, neste sentido, excluídos os casos de extrema necessidade, em primeiro lugar de si próprios e em seguida do próximo, naqueles ministérios de caridade que, de acordo com os tempos e lugares, devem ser executados para buscar a maior glória de Deus e o próprio adiantamento espiritual, as quais duas coisas não devem afastar-se jamais da mente e do coração de cada um.

O maior mandamento do Cristianismo é o da caridade para com Deus:

"Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração,
com toda a tua alma, com toda a tua mente,
e com todas as tuas forças". Mc. 12,28. 4.

A Escritura nos manifesta o quanto devemos amar o nosso bem que é Deus. Não preceituou apenas que o amássemos, ou que amássemos apenas a Deus, mas que o amássemos o quanto pudéssemos. A tua possibilidade será a tua medida; quanto mais o amares, mais o terás.

O mandamento da caridade divina é a nova aliança que o Senhor fêz, escrevendo sua lei em nossa mente e em nosso coração e fazendo de nós templos do Espírito Santo. Cada cristão o explicará aos seus filhos, meditará nele quando sentado em sua casa, andando pelo caminho, ao dormir e ao levantar, o ligará como um sinal às suas mãos, estará e se moverá entre seus olhos, e o escreverá no limiar e nas portas de sua casa.

Quem desejar cumprir verdadeiramente o mandamento da caridade divina deve, primeiramente, renunciando a si próprio, decidir-se a abandonar toda obra e ocupação que tenha caráter pessoal e dedicar-se exclusivamente àquelas ocupações que tenham razão de caridade.

A primeira e mais fundamental de todas as ocupações que têm razão de caridade é a oração. A oração é uma elevação da mente a Deus, para lhe pedir a fé e a graça do Espírito Santo. Por meio da fé aprendemos a desprezar as coisas visíveis enquanto visíveis. Sem fé é impossível crescer no mandamento do amor. Antes de tudo o mais, deve-se orar incessantemente sem jamais desanimar, e dar graças a Deus por tudo aquilo que em nossa vida ocorreu e por tudo aquilo que há de ocorrer. Quando alguém se entrega a Deus pela oração, Deus tem piedade dele e lhe concede o Espírito de conversão.

Depois da oração, deve-se renunciar a todas as demais obras, grandes e pequenas, que não tenham razão de caridade e, em todas as demais obras além da oração, deve-se pedir a Deus para não as fazer apenas por um amor virtual, mas também por um amor atual a Deus, de tal modo que, fazendo-as, isto contribua para elevar a memória até Deus, conforme diz o salmista: "Cantai ao Senhor um cântico novo, louvai o seu nome entre danças".

Diz o Senhor: "Deixemos os mortos sepultar os seus mortos". É preciso, pois, que muito nos acautelemos da malícia e da sutileza de Satanás, que não quer que o homem eleve o seu espírito e coração para o Senhor seu Deus. Ele nos espreita sem cessar, e gostaria, sob as aparências de uma recompensa ou vantagem, atrair para o seu lado o coração do homem e sufocar-lhe na memória a palavra e os preceitos do Senhor, e obcecar-lhe o coração por meio das solicitudes e cuidados mundanos e nele habitar. Na verdade, acontece que habitamos na própria morada do ladrão. Nela estamos presos pelas cadeias da morte. Importa, pois, se nós compreendemos a nossa morte espiritual, que muito nos vigiemos a nós mesmos, a fim de não perdermos ou desviarmos do Senhor a nossa mente e o nosso coração sob a aparência de uma recompensa ou obra ou vantagem. Mas na santa caridade que é Deus, que todos removam todos os obstáculos e posterguem todos os cuidados para, com o melhor de suas forças, servir, amar, adorar e honrar de coração reto e mente pura o Senhor nosso Deus, pois é isso o que Ele deseja sem medida. E que Deus abençoe a todos os que isto ensinarem, aprenderem, guardarem, recordarem e praticarem.

A obra pela qual o homem pode agradar a Deus é a lei e a obra da caridade. Ela é a boa vontade, que perfeitissimamente agrada a Deus. Cumpre-a aquele que incessantemente louva a Deus com pensamentos puros, que produzem a memória de Deus e a memória dos bens que Ele nos prometeu, e que em nós cumpriu por obras, e de sua grandeza. Da memória destas coisas se origina no homem aquele amor perpétuo que nos foi prescrito:

"Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração,
de toda a tua alma, e com toda a tua força".

Está também escrito:

"Como a corça que suspira pelas águas da torrente,
assim minha alma suspira por vós, ó Senhor".

Assim é necessário que cumpramos para com o Senhor esta obra e esta lei, para que em nós se cumpra aquela sentença do Apóstolo:

"Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?
Certamente nem as tribulações, nem as tristezas,
nem a fome, nem a nudez, nem as angústias,
nem a espada, nem o fogo".

Deve-se considerar que, se se age assim, todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

Não se deve preocupar com a própria vida, nem pelo que haverá para se comer, ou pelo que haverá para se beber, e nem pelo corpo, pelo que haverá para se vestir. Deve-se preocupar, ao contrário, em primeiro lugar, em buscar o Reino de Deus. Todas as demais coisas serão acrescentadas, porque o trabalhador tem direito ao seu sustento.

Se pudéssemos ver os fios sutis com que a providência urde a tela de nossa vida, apoderar-se-iam de nós sentimentos de gratidão e amor para com nosso bom pai celestial e, deixando nas suas mãos todo o cuidado sobre o nosso futuro, contentar-nos-íamos de ser a pequena lançadeira que doce e calmamente desliza entre os fios da urdidura divina.

Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só, como é; mas, se morrer, produz abundante fruto. Jo. 12,24. 15.

Pela glória de Deus, pela sua salvação, e pela dos próximos, deve- se estar verdadeiramente dispostos a padecer muito, ser burlado, desprezado e sofrer voluntariamente trabalhos e tribulações.

Deve-se, finalmente, agir de tal maneira que a principal ocupação seja sempre a oração; para que Deus habite permanentemente em nós pela caridade, devemos também construir em nós uma casa para a fé, para que se realizem as palavras de São Paulo:

"Já que ressuscitastes com Cristo,
procurai as coisas do alto,
pensai nas coisas do alto,
não vos interesseis pelas terrenas,
já que vós morrestes,
e vossa vida está escondida com Cristo em Deus";
e também as de Cristo: "A tua fé te salvou".

Lc. 8,48.

Se tiverdes fé como um grão de mostarda,
direis a este monte:`Muda-te daqui para ali',
e ele se mudará,e nada vos será impossível.

Mt. 17,20

Se a vossa justiça
não exceder a dos escribas e a dos fariseus,
não entrareis no Reino dos Céus.

Ouvistes o que foi dito aos antigos:
`Não matarás'. Eu, porém, vos digo:
todo aquele que se encolerizar contra o seu irmão
será réu em juízo.

Ouvistes (também) o que foi dito:
`Não cometerás adultério'.
Eu, porém, vos digo:
todo aquele que olha para uma mulher para cobiçá-la,
já cometeu adultério com ela em seu coração.

Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta
e espaçoso o caminho que conduz à perdição,
e muitos são os que entram por ele.

Mt. 5,1; 20-27; 7,13.

Referências:

1. Hugo de São Vitor: De Sacramentis Fidei Christianae, Prólogo; Migne PL 176,183.

2. S. Paulo da Cruz: Regra da Congregação dos Clérigos Passionistas, C.1,2.

3. S. Marcos: Evangelho, C.12,28.

4. Hugo de São Vítor: De Sacramentis Fidei Christianae, L.II P.XIII C.9; Migne PL 176, 535.

5. S. Marcos: Evangelho, C.12,28. S. Paulo: Epístola aos Hebreus; C. 8,10. Jeremias: C. 31,31-34. S. Leão Magno: Sermo 21, C.3; Migne PL 54,192-3. Deuteronômio: C. 6,4-9; C. 11,18-21.

6. S.Lucas: Evangelho, C. 14,25-35.

7. S. Afonso Ligório: O Grande meio da Oração, Intr.S.João Damasceno: De Fide Orthodoxa, L. III, C. 24. S. Marcos Diádoco: Capita Centum de Perfectione Spirituali, C. 1; Migne, PG 65,116

7. S. Antão: Regulae sive Canones ad filios suos; Migne, PG 40, 1065. Epistola I; Migne, PG 40, 981.

8. S. Inácio Loyola: Exercícios Espirituais.S.Antão: Interrogationes Quaedam; Migne, PG 40, 1093-5. Salmo 149.

9. S. Francisco de Assis: Regra não aprovada dos Frades Menores, C. 22-23. S. Antão: Epístola II; Migne, PG 40, 986-987.

10. S. Antão: Interrogationes Quaedam; Migne, PG 40, 1093-5.

11. S. Paulo: Epístola aos Romanos, C. 8. S.Tomás de Aquino: Quaestiones Disputatae de Veritate, Q.5 a.8.

12. S. Mateus: Evangelho, C. 6; C. 10.

13. Vida de S. Francisca Xavier Cabrini, por uma Missionária do Sagrado Coração, C. 9.

14. S. João: Evangelho, C. 12,24.

15. S. Paulo da Cruz: Regra da Congregação dos Clérigos Passionistas, C. 4,11.

16. S. João da Cruz: Subida do Monte Carmelo. S. Paulo: Epístola aos Colossenses, C. 3,1-3. S.Lucas: Evangelho, C. 8,48.

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