quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Editorial - desafios ao movimento de restauração da tradição católica: cuidados ao involver-se com isso!



Desafios ao movimento de restauração da tradição católica.

Muitas vezes, percebemos a dificuldade da restauração da tradição católica devido a uma série de fatores. Vejamos alguns que se relacionam ao apostolado leigo.

1.Católicos “raivosos”. Há um movimento de católicos “raivosos” (mau exemplo de certos líderes) que se dedicam somente à apologética, aqueles desconfiados e amedrontados que não hesitam em chamar seus opositores (ou mesmo seus irmãos ignorantes)de hereges, apóstatas, ateus, descrentes (apesar de muitas vezes sê-los), e menosprezam qualquer outra forma de apostolado devocional e caritativo (justamente o que mais cativa seguidores e os conduz a conversões). Com isso, conquistam mais inimigos e mais resistência do que seguidores e adesões. Falta-lhes a caridade para fazer a apologética e esclarecer os confusos e/ou ignorantes de forma mais gentil (mas sem amolecer na assertividade), o que reforça a idéia de que a Igreja tradicional seja um poço de obscurantismo, de condenações, de caçadores e queimadores de bruxas, etc. Desconfiam de toda iniciativa baseada na sã doutrina e que não seja da pura apologética contra as heresias (principalmente do clero modernista e dos delírios do Concílio Vaticano II) e da discussão escolástica meramente intelectual (diferentemente da difusão de devoções e práticas misericordiosas, que é justamente o que mais impressiona, atrai mais seguidores e penetra mais profundamente e sem grandes resistências entre a população, já que isso se encontra pouco profanado pelo modernismo e bem relacionado a uma doutrina tradicional segura e que as embaseia, excetuando-se o ativismo social comunista e herético da TL ou algumas devoções protestantes - ou espíritas - estranhas e não menos heréticas da RCC). Olham com desconfiança até pessoas que podem ser bons colaboradores do movimento com outros dons devocionais, administrativos, catequísticos ou caritativos - afinal, a Igreja é um Corpo com várias habilidades, e limitar a ação dos leigos somente à apologética seria fazê-lo claudicar com andar lento e trôpego. Sobra-lhes orgulho por se sentirem mais cultos e esclarecidos do que a grande massa da população (e, de fato, a ignorância da doutrina católica é a regra hoje em dia). Isso gera mais antipatia contra o movimento e os tradicionais acabam sendo vistos como casos psiquiátricos, um bando de D. Quixotes fora de contexto, ou uma elite antipática, o que afasta seguidores. Falta-lhes, também, um conhecimento devocional mais profundo e uma meditação humilde sobre suas próprias vidas em confronto com os ensinamentos da Igreja, e, por essa falta, descambam para o farisaísmo e acabam mais atrapalhando do que ajudando. Sem a caridade, o diálogo mais respeitoso e a humildade no trato com os outros (sem perder a firmeza, claro), e sem boas obras de misericórdia, não haverá um bom exemplo a ser seguido nem estímulo a conversões, e acabará tudo num delírio orgulhoso, meramente intelectual e infrutífero, medroso e extremamente dependente de iniciativas do clero (na maioria modernista, atrapalhado, tímido, ignorante e nada simpático à causa) já cheio de tarefas a cumprir em seu ativismo de "enxugar gelo" (além da mania de “só o Padre é que sabe, só o Padre é que pode” – uma atitude excessivamente passiva e dependente, como se a caridade, a penitência e a oração meditativa/contemplativa fossem de prerrogativa exclusiva do clero e dos religiosos, e uma contradição, já que os leigos apologetas, muito ativos em funções que seriam da competência do clero, têm um bom embasamento doutrinário; mas falta-lhes sabedoria e discernimento, aprendidos mais em exercícios espirituais e devocionais do que em leituras meramente intelectuais, algo que os Padres da Igreja já conheciam - por isso essa passividade). Isso cria grupinhos isolados sem orientação e sem "ordem unida", além de afastar possíveis colaboradores (ocorre o mesmo nas pastorais paroquiais, onde a estupidez, o orgulho, o egocentrismo e a ignorância são a regra).

2.Falta de boas obras (e exemplos) de caridade. O leigo prega mais por seu exemplo de vida do que por suas palavras. O discurso do leigo não tem a mesma autoridade entre outros católicos do que daquele do clero, que consegue até pregar heresias e angariar adeptos entre o povo sem a mínima contestação. Sem obras de misericórdia, não há simpatia por tais pessoas nem pela fé que dizem professar. A filantropia (o gostar do ser humano por ser uma pessoa) é uma grande jogada de marketing de empresas, pessoas e até de falsas religiões para se promoverem e angariarem simpatia para suas causas (além de adeptos). Os católicos não perceberam o impacto que a caridade (amar o ser humano por ser membro do Corpo Místico de Cristo, amando a Deus, assim, com o amor que Deus tem por nós) faz entre as pessoas, fiéis ou não. Sem caridade (a começar dentro da própria família mas nunca ficando circunscrita a ela, expandindo-se a toda pessoa que nos cruze o caminho, inclusive aos inimigos), a fé é vã e farisaica. O mundo está sedento de caridade! A caridade é a perfeição e o certificado da fé!

3.Devoção superficial e “de boca” (não em espírito devocional, nem em verdade da prática virtuosa). A Igreja nos ensina duas formas de oração: vocal e mental (meditativa, que geralmente conduz à contemplação). Os “raivosos” fazem suas orações vocais como narradores de jogo de futebol (louvor de lábios enquanto o coração está distante e distraído - ou não, mas com rapidez e, consequentemente, muita superficialidade), cumprindo a “tabela” sem se aprofundar no sentido e no alcance prático das suas orações. Só conhecem o Rosário, uma devoção excelente, mas muito mal rezado no estilo narrador de rádio, e sem meditação dos mistérios, sem profundidade. Eles também vêem com desconfiança a oração meditativa como sendo algo destinado a consumo exclusivo do clero e dos religiosos (reforçando a ignorância e a superficialidade da prática da fé entre os leigos como algo inatingível pelos mesmos ou reservados apenas a uma elite de “eleitos”). Quando as pessoas têm algum diálogo com Deus e percebem Seu imenso amor para com eles, então lhes brota a força para viver de modo cristão, inclusive com a superação de muitos vícios e com uma prática de vida mais virtuosa. Sem oração profunda, portanto, não há um viver profundamente cristão.

Devoção superficial = fé superficial = caridade superficial.

Precisamos, portanto, de leigos bem formados, orientados e experientes na oração profunda para servirem de referência e até como multiplicadores dessas práticas entre os outros leigos. Os “raivosos” precisam dar-se conta de que o clero e os religiosos, apesar de serem os meios privilegiados de ensino da oração mental, profunda e contemplativa, não são os meios exclusivos de sua divulgação. Lembremo-nos também de que a oração vocal é o transbordamento de algo meditado no coração e a expressão de nossa compreensão, nosso assentimento a Deus e nossa fé naquilo que dizemos, ainda que seja algo recitado, ou seja: proclamamos com a boca aquilo que transborda sinceramente de nossos corações.

4.Impenitência e falta de conversão de hábitos (conseqüência). Sem mudança de vida (sem frutos), sua fé é vã e pouco digna de crédito; consequentemente, ninguém seguirá tal exemplo e nem se entusiasmará por tal fé, a começar por seus próprios familiares, dando motivo aos inimigos da Igreja para atacá-la com bons argumentos. O pior inimigo da Igreja é Seu filho impenitente e desobediente, que age como um fariseu, um cripto-judeu, um marrano, que nega com suas obras o que afirma com sua boca.

5.Falta de instrução doutrinária essencial (catecismo, evangelhos, documentos básicos e riquíssimos do Magistério antes do Concílio Vaticano II, lições eternas da tradição, etc.) enquanto tentam esmiuçar, curiosamente, refinamentos doutrinários úteis mas não essencialmente necessários para seu estado leigo de vida. Não é o muito saber, mais o profundamente meditar e daí extrair lições a serem aplicadas ao cotidiano é que é o mais importante, útil e necessário, já ensinava S. Inácio de Loyola. Não é preciso saber coisas demais em termos de extensão(apesar de ser importante e necessário conhecer a doutrina católica em profundidade); é preciso aplicar bem o que se aprende, porém. Isso se obtém pela leitura, meditação, discernimento, vigilância (dos pensamentos, palavras e obras) e a prática diária para levar à virtude. Deus quer a perfeição da caridade, um coração grande e misericordioso, não um cabeção cheio de conceitos sem sua aplicação na vida cotidiana.

Portanto, sem uma vida profunda e coerentemente cristã, não há apostolado frutífero, e a tradição católica permanece ignorada e antipatizada como um palavrório sem prática. Tomem cuidado os entusiasmados defensores da tradição, que podem mais emperrá-la do que ajudá-la se acabarem envolvidos com pessoas e práticas mal-conduzidas, ainda que bem-intencionadas, e seguirem seus maus exemplos de comportamento farisaico, aliás, fartamente condenado justamente pela Igreja que dizem defender.

Conclui muito bem o Martelo dos Hereges e famoso taumaturgo (milagreiro), S. Antônio de Pádua e de Lisboa em "Dos Sermões de Santo Antônio de Pádua, presbítero (I.226) (Séc.XIII): "A palavra é viva quando são as obras que falam. "Quem está repleto do Espírito Santo fala várias línguas. As várias línguas são os vários testemunhos sobre Cristo, a saber: a humildade, a pobreza, a paciência e a obediência; falamos estas línguas quando os outros as vêem em nós mesmos. A palavra é viva quando são as obras que falam. Cessem, portanto, os discursos e falem as obras. Estamos saturados de palavras, mas vazios de obras. Por este motivo o Senhor nos amaldiçoa, como amaldiçoou a figueira em que não encontrara frutos, mas apenas folhas. Diz São Gregório: 'Há uma lei para o pregador: que faça o que prega'. Em vão pregará o conhecimento da lei quem destrói a doutrina por suas obras".

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