quarta-feira, 1 de junho de 2011

Missa Tridentina.


"A IGREJA DEVE SUPORTAR ESSA RAIVA"

POR PAUL BADDE

(Die Welt, 23/V/2011)

Há quatro anos, o Papa Bento XVI, contra a oposição da grande maioria na Igreja Católica, restaurou a antiga Liturgia Latina em igualdade com a nova forma vernácula da celebração da Missa, a qual é mantida desde 1969. (A Liturgia Latina data substancialmente a São Gregório Magno (540-604) e foi autoritativamente fixada, enfim, pelo Concílio de Trento (1545-1563)). Há uma semana, o Vaticano, em uma carta papal, reafirmou a determinação de 2007 e clarificou algumas questões disputadas no que se refere às suas aplicações práticas. Martin Mosebach, destinatário do prêmio Büchner, é um dos admiradores e defensores mais fervorosos da Liturgia antiga.

Die Welt: No ano de 2007, o Papa Bento XVI, em um "motu proprio" especial (uma carta apostólica), liberou a antiga Liturgia Gregoriana para a Igreja Católica. Porque o Vaticano publicou instruções após quatro anos sobre como a vontade do Santo Padre deve ser implementada?

Martin Mosebach: Os inimigos da grande tradição litúrgica da Igreja Romana em muitos casos não aceitaram a permissão dada ao Rito Antigo. Eles freqüentemente tentaram ignorar o Monto Proprio papal e procuraram manter obstáculos. Tentaram, ademais, com métodos burocráticos tornar ineficiente a generosidade do Santo Padre. Logo, o Vaticano teve de ser mais claro se quisesse manter o motu proprio.

DW: A instrução fala em "dois usos do mesmo Rito Romano". Isso não abre a porta para um novo e assustador cisma?

MM: Já há um cisma: não entre os apoiadores do novo e do velho rito, mas entre os Católicos que aderem à antiga teologia sacramental da Igreja, como foi confirmado pelo Concílio Vaticano II, e aqueles que asseveram que o Concílio Vaticano II fundou uma nova igreja, com uma nova teologia e novos sacramentos. Esta última doutrina tem sido largamente difundida e contra o melhor conhecimento de seus promotores, nos seminários, universidades e academias católicas. E é isto que fomenta o perigo de um cisma.

DW: "O que foi sagrado para as gerações anteriores permanece sagrado e grande também para nós; isso tudo não pode ser repentinamente proibido, muito menos julgado prejudicial". A Instrução aqui cita o Papa. Mas não foi essa a intenção da grande maioria dos bispos católicos nos últimos quarenta anos?

MM: Sim, infelizmente é verdade que uma parte não pequena dos bispos católicos, em um frenesi suicida, tentou separar da Tradição Católica e retirar a Igreja da fonte de sua vitalidade. Na sentença que você citou, o Santo Padre lhes deu uma espécie de aula em eclesiologia.

DW: Como pode a Liturgia Romana no "usus antiquor" ser oferecida hoje "a todos os fiéis" se somente uma fração deles entende o latim?

MM: Em todas as épocas somente alguns católicos foram capazes de seguir a Missa Latina palavra por palavra. A Europa tem atrás de si mais de mil anos de uma gloriosa cultura católica, sem as pessoas serem capazes de entender a língua latina. Elas entendem algo mais importante: que no rito a Parousia - a presença mística - do Senhor está presente. Sem esse entendimento, a pessoa nada entendeu da Missa, mesmo se ela pensa que entende todas as palavras. Ainda mais: há muito tempo que existem maravilhosos missais bilíngües, com os quais podemos rezar a Missa acompanhando o padre. Mas uma coisa é certa: o Rito Antigo requere certo esforço, uma prontidão para aprender.

DW: E como, precisamente, a promoção do "antigo" rito mais "reconciliação dentro da Igreja" após ele levou a tantos conflitos até o momento?

MM: O conflito é essencialmente devido ao mal entendimento, tão perigoso para a Igreja, de que o Vaticano II estabeleceu uma nova Igreja. A luta que cerca este mal entendimento deve ser levada ao fim. Cobrí-la com frases pacíficas não ajuda a Igreja.

DW: Os prelados são convidados a mostrar "um espírito de generosa acolhida" a grupos de fiéis que gostariam de celebrar a Antiga Missa Latina. Não é isso ingênuo, após as últimas décadas, nas quais tais fiéis foram considerados antiquados e retrógrados sem solução?

MM: Com efeito, os fiéis que aderiram ao Antigo Rito ou o descobriram recentemente foram injuriados de tal forma que, eu espero, não seja revelador do valor espiritual da reforma. As palavras de Karl Rahner não foram esquecidas: os open entes da reforma da missa são "elementos marginais tragicômicos, frustrados pela humanidade". Hoje em dia, no entanto, surpreendentemente acha-se uma boa parte de compreensão na causa em defesa da Tradição entre os sacerdotes mais jovens.

DW: A mudança feita pessoalmente pelo Papa da antiga oração pelos judeus da Sexta-feira Maior dificilmente satisfez sequer um crítico ou oponente. A nova instrução não atiça ainda mais o fogo?

MM: Os críticos da oração da Sexta-feira Maior percebem a insistência da Igreja de que Cristo é "A Verdade" com a criação de escândalo. Mas a Igreja deve suportar esta raiva. Ela não pode se desviar desta convicção.

DW: Agora os sacerdotes podem novamente celebrar a missa por si mesmos (ou com o auxílio de um só acólito). Não é isso um passo atrás à era em que o conceito de "communio" tinha somente um existência sombria na Igreja Católica?

MM: O conceito de "communio" nunca teve somente uma existência sombria na Igreja. A "comunhão dos Santos" é, afinal de contas, inclusive um artigo de fé! A comunidade da qual a Igreja fala, no entanto, é muito mais que as pessoas presentes de fato. É a comunhão com os mortos e os anjos - mas é especialmente a comunhão com Jesus Cristo. A experiência ensina que esta comunhão pode ser intensivamente experimentada na antiga forma da missa e até especialmente na missa rezada - em qualquer caso, para muitas pessoas melhor que na forma pós-conciliar, caracterizada por um incessante falatório e o canto de canções questionáveis.

DW: O treinamento de sacerdotes deve novamente "oferecer a oportunidade de aprender a forma extraordinária do rito" aos estudantes de teologia. Mas quem ensinará isso? Há, afinal de contas, quase nenhum professor restante.

MM: Há um número de sociedades sacerdotais tradicionais que vê como sua missão transmitir a antiga liturgia aos novos padres. Alguém deve somente se dirigir a essas sociedades e pedir. Elas se alegra em prover informações, mas, até agora, elas têm sido impedidas por muitos bispos.

DW: O que mais lhe surpreendeu na nova instrução?

MM: O que mais me surpreendeu é quão determinado é o Santo Padre na questão de liturgia. Em qualquer caso, ele criou os pré-requisitos legais para o retorno do Rito Antigo à completa liberdade. Nenhum bispo que quisesse impedir o Rito Antigo pode mais citar razões legais.

DW: E o que mais lhe desapontou?

MM: Foi-me desapontante que o grande antigo rito da cerimônia de ordenação pode somente ser celebrado em mosteiros e sociedades sacerdotais tradicionais. É uma pena que este tesouro espiritual, que define tão exatamente o sacerdócio, está para ser perdido na Igreja universal - pelo menos no presente momento.

DW: Como você responde à crítica de que o debate sobre liturgia negligencia a situação da Igreja e do mundo?

MM: A situação da Igreja é precisamente a de que ela esqueceu onde está o seu centro. Sua missão é de proclamar o Cristo Ressuscitado e Cristo Ressuscitado aparece na liturgia. Se a liturgia é construída sujeita às modas da época, Cristo ressuscitado torna-se invisível. Então a Igreja está verdadeiramente em uma crise.

> DO SÍTIO DA SOCIEDADE DA SÃO HUGO DE CLUNY
> Tradução: Agradeço ao Sr. Marcos Mattke

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Infelizmente, devido ao alto grau de estupidez, hostilidade e de ignorância de tantos "comentaristas" (e nossa falta de tempo para refutar tantas imbecilidades), os comentários estão temporariamente suspensos.

Contribuições positivas com boas informações via formulário serão benvindas!

Regras para postagem de comentários:
-
1) Comentários com conteúdo e linguagem ofensivos não serão postados.
-
2) Polêmicas desnecessárias, soberba desmedida e extremos de ignorância serão solenemente ignorados.
-
3) Ataque a mensagem, não o mensageiro - utilize argumentos lógicos (observe o item 1 acima).
-
4) Aguarde a moderação quando houver (pode demorar dias ou semanas). Não espere uma resposta imediata.
-
5) Seu comentário pode ser apagado discricionariamente a qualquer momento.
-
6) Lembre-se da Caridade ao postar comentários.
-
7) Grato por sua visita!

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.

Pesquisar: