quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Justiça e igualdade social: a armadilha.


SIMPLES E MUITO BEM EXPLICADO...

Um professor de economia na universidade Texas Tech
disse que nunca reprovou um só aluno antes, mas tinha, uma vez,
reprovado uma classe inteira.

Esta classe em particular tinha insistido que o socialismo realmente
funcionava: ninguém seria pobre e ninguém seria
rico, tudo seria
igualitário e "justo".

O professor então disse:

- Ok, vamos fazer um experimento socialista nesta
classe.. Ao invés de
dinheiro, usaremos suas notas nas provas. Todas as
notas seriam concedidas
com base na média da classe, e portanto seriam
"justas".

Com isso ele quis dizer que todos receberiam as mesmas
notas, o que
significou que ninguém seria reprovado. Isso também
quis dizer, claro, que
ninguém receberia um "A"...

Depois que a média das primeiras provas foram
tiradas, todos receberam "B".
Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os
alunos que não se
esforçaram ficaram muito felizes com o resultado.

Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos
estudaram ainda menos -
eles esperavam tirar notas boas de qualquer forma.
Aqueles que tinham
estudado bastante no início resolveram que eles
também se aproveitariam do
trem da alegria das notas. Portanto, agindo contra
suas tendências, eles
copiaram os hábitos dos preguiçosos.
Como um resultado, a segunda média
das provas foi "D". Ninguém gostou.

Depois da terceira prova, a média geral foi um "F".
As notas não voltaram a
patamares mais altos, mas as desavenças entre os
alunos, buscas por
culpados e palavrões passaram a fazer parte da
atmosfera das aulas daquela
classe. A busca por "justiça" dos alunos tinha sido a
principal causa das
reclamações, inimizades e senso de injustiça que
passaram a fazer parte
daquela turma. No final das contas, ninguém queria
mais estudar para
beneficiar o resto da sala.
Portanto, todos os alunos repetiram o ano... Para
total surpresa!!!

O professor explicou que o experimento socialista
tinha falhado porque foi
baseado no menor esforço possível da parte de seus
participantes. Preguiça
e mágoas foi seu resultado. Sempre haveria fracasso
na situação a partir da
qual o experimento tinha começado.

"Quando a recompensa é grande", ele disse, "o
esforço pelo sucesso é
grande, pelo menos para alguns de nós. Mas quando o
governo elimina todas
as recompensas ao tirar coisas dos outros sem seu
consentimento para dar a
outros que não batalharam por elas, então o fracasso> é inevitável."

"É impossível levar o pobre à prosperidade através
de legislações que punem
os ricos pela prosperidade.
Para cada pessoa que recebe sem trabalhar, outra
pessoa deve trabalhar sem
receber.
O governo não pode dar para alguém aquilo que não
tira de outro alguém.
Quando metade da população entende a idéia de que
não precisa trabalhar,
pois a outra metade da população irá sustentá-la,
e quando esta outra
metade entende que não vale mais a pena trabalhar
para sustentar a primeira
metade, então chegamos ao começo do fim de uma
nação.
É impossível multiplicar riqueza dividindo-a."

PAÍSES COMUNISTAS VIVERAM ESSA MISÉRIA SOCIAL, ECONÔMICA E MORAL POR DÉCADAS.
JÁ VIMOS ESTE FILME POR LONGOS ANOS... E ESTAMOS PRESTES A VÊ-LO POR MAIS 4 (QUATRO)!!!

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Contra o humanismo secular ateu.


Contra os humanistas seculares.

Dos ótimos blogs dos que combatem os neo-ateus e pagãos de todas as matizes (recomendo).

É a iniciativa de defesa.
É a iniciativa focada em pegar tudo que usam de propaganda contra nós e neutralizá-las. Portanto, como benefício dessa atitude poderíamos citar “neutralização de propaganda”
Mas isso não é o suficiente para tirarmos a autoridade deles.
E lembremos que a base do ceticismo é a quebra de falsas autoridades.
Precisamos gastar uma parte do tempo não apenas refutando o que eles falam contra nós, mas também o que eles falam SOBRE ELES, e principalmente sobre suas ideologias.
Por exemplo, eles gastam uma parte do tempo atacando a religião cristã, que é baseada na crença em Deus.
Da mesma forma, temos que mostrar as falhas da religião humanista secular, que é baseada na crença no homem, o que é muito pior.
Como certa vez o Natã, comentarista deste blog, disse: “Nossas mães nos dizem, na infância, para quando sairmos de casa, não confiar em estranhos. Os humanistas acreditam em estranhos, que são os seus líderes humanistas, que garantem que construirão a sociedade perfeita”.
A crença humanista nasceu para ser ridicularizada, pois ela não é sustentável logicamente.
Não há uma justificativa racional para a crença humanista.
Agradeço ao Adilson, também comentarista do blog, que me citou alguns trechos de Luiz Felipe Pondé, que já haviam sido citados no blog de Snowball (como este).
Vejamos:
Qualquer um que conheça a tradição “conservative” sabe que ela é múltipla e heterogênea. Nasce no século 18 como uma reação à agressão da ganância jacobina. Trata-se de uma sensibilidade política de trincheira. Defende-se, entre outras coisas, da mentira que é a crença em se transformar o mundo a partir de “closet theories” (teorias de gabinete), termo de Burke. O conservador reage a essas teorias não porque seja contra diminuir o sofrimento no mundo, mas apenas porque é inteligente o bastante para perceber o estelionato político dos que se dizem amantes da humanidade.
Note que Pondé não apenas defende o conservador, mas principalmente ataca a ingenuidade e estupidez da crença do oponente.
Ele explica ainda mais, passando novamente mais tempo dando justíssimas estocadas nos esquerdistas e humanistas do que propriamente defendendo o conservadorismo:
VOCÊ SABE o que é a tradição política conhecida no mundo anglo-saxão como “conservative”? No Brasil é quase inexistente. Entre nós, o termo é comumente utilizado para designar (de modo retórico) “pessoas más contra a democracia”. Mentira. Conservadores são pessoas desconfiadas que não gostam de fórmulas políticas de redenção. Por exemplo, eu desconfio de quem diz que ama a humanidade. Normalmente quem ama a humanidade detesta seu semelhante. Comumente pensa que seria melhor que seu semelhante deixasse de existir para, em seu lugar, “nascer” aquele tipo de gente que o amante da humanidade acha ideal. Prefiro pessoas que são indiferentes à humanidade, mas que pagam salários em dia. O crítico da revolução francesa, o britânico Edmund Burke (século 18) usa esta mesma frase: “Loves mankind, hates his kindred” (“ama a humanidade, detesta seu semelhante”) para gente como Rousseau (século 18), mentor espiritual da chacina que foi a Revolução Francesa. Proponho a leitura das suas “Considerações sobre a Revolução na França”, pedra filosofal da tradição “conservative”, ao lado de “Democracia na América” de Tocqueville (século 19).
Em outro texto, Pondé segue implacavelmente perspicaz:
VOCÊ ACREDITA em justiça social? Tenho minhas dúvidas. Engasgou? Como pode alguém não crer em justiça social? Calma, já explico. Quem em sã consciência seria contra uma vida “menos ruim”? Não eu. Mas cuidado: o jargão “por uma sociedade mais justa” pode ser falado pelo pior dos canalhas. Assim como dizer “vou fazer mais escolas”, dizer “sou por uma sociedade mais justa” pode ser golpe.
Dá para notar que Pondé simplesmente aplica o ceticismo contra o homem.
Por que apenas o ceticismo contra Deus?
Para a crença em Deus, há argumentos lógicos. E quais argumentos os humanistas possuem para a crença no homem? Simplesmente nenhum.
Como já dito, o mero discurso de apelo à autoridade (“estou do lado da humanidade”, “eu represento a ciência, para lhe tirar das trevas”) pode ser golpe. Pelo que temos visto neste blog, geralmente é.
E eu não preciso praticar apelo à autoridade nenhum, pois eu não prometo salvar a humanidade. Não acredito nisso. Não há sequer indícios de que isso seja possível.
Realmente, a tecnologia tende a evoluir. Cada vez mais.
Mas isso não significa uma melhoria sequer da moral humana.
Os maiores genocídios contra os próprios povos não ocorreram na época medieval ou na idade do bronze.
Aconteceram na era moderna, pós-iluminista.
E vindo do pessoal que proclamava “salvação da humanidade”.
Pelo menos, nem todos os iluministas foram insanos, como Pondé novamente nos lembra, citando David Hume, filósofo que no século 18 escreveu “An Enquiry Concerning the Principles of Morals, Section III“:
Cético e irônico, Hume foi um dos maiores filósofos modernos. É conhecida sua ironia para com a ideia de justiça social. Ele a comparava aos delírios dos cristãos puritanos de sua época em busca de uma vida pura. Para Hume, os defensores de um “critério racional” de justiça social eram tão fanáticos quanto os fanáticos da fé.
A conclusão é clara.
Estamos diante de pessoas que precisam ter suas crenças humanistas dissecadas, investigadas e expostas.
E isso não se faz apenas refutando os seus argumentos contra a religião.
Isso é apenas uma parte do trabalho.
É vital que mostremos ao maior número de pessoas que sujeitos que surgem com essa conversa de “estou aqui para propor a remodelação da sociedade” ou “lutemos pelo governo global”, ou até “vamos ouvir a música Imagine, de John Lennon, juntos, para nos inspirarmos em nossa luta política”, devem logo de cara ser carimbadas e tachadas como o que eles são: fanáticos em torno de uma crença injustificada e infantil.
Mas se a crença fosse apenas injustificada e infantil, isso não seria problema.
Apenas riríamos deles, e tudo bem.
Mas o caso é que crenças desse tipo é que habilitaram as maiores atrocidades da era moderna.
Hoje em dia, a tecnologia nos dá gratas surpresas a cada dia.
Mas também aumenta a tecnologia de morte.
Se crenças humanistas não forem atacadas suficientemente, os riscos podem ser altos demais para serem aceitos.
O dano que as crenças humanistas causaram na Rússia, China e Alemanha Nazista pode ser muito maior no futuro.
Quanto mais realizarmos a exposição do ridículo que é a crença no homem, melhor gerenciamos esse tipo de risco.
A mera refutação aos estratagemas deles contra a religião não realiza esse tipo de exposição.
O ataque frontal às crenças deles já ajudaria a atigir o intento.
Não temos apenas que ficar em nossas trincheiras nos defendendo.
Temos que invadir a trincheira deles.
http://lucianoayan.wordpress.com/2010/09/28/partindo-para-o-ataque-contra-os-humanistas-seculares-e-neo-ateus/
VOCÊ SABE o que é a tradição política conhecida no mundo anglo-saxão como “conservative”? No Brasil é quase inexistente. Entre nós, o termo é comumente utilizado para designar (de modo retórico) “pessoas más contra a democracia”. Mentira. Conservadores são pessoas desconfiadas que não gostam de fórmulas políticas de redenção.
Por exemplo, eu desconfio de quem diz que ama a humanidade. Normalmente quem ama a humanidade detesta seu semelhante. Comumente pensa que seria melhor que seu semelhante deixasse de existir para, em seu lugar, “nascer” aquele tipo de gente que o amante da humanidade acha ideal. Prefiro pessoas que são indiferentes à humanidade, mas que pagam salários em dia.
O crítico da revolução francesa, o britânico Edmund Burke (século 18) usa esta mesma frase: “Loves mankind, hates his kindred” (“ama a humanidade, detesta seu semelhante”) para gente como Rousseau (século 18), mentor espiritual da chacina que foi a Revolução Francesa. Proponho a leitura das suas “Considerações sobre a Revolução na França”, pedra filosofal da tradição “conservative”, ao lado de “Democracia na América” de Tocqueville (século 19).
Hoje, na América Latina, a onda fascista cresce travestida de “justiça social”, e por isso sou obrigado a falar de política, caso contrário acabarei caindo na condição de “idiota” no sentido grego antigo: alguém que não participa da política e os outros participam no lugar dele. Sou pessimista com nosso futuro político imediato: a elite deste país “brinca” com o fascismo de esquerda que se delineia no horizonte. Talvez ela acabe na mesma condição da aristocracia alemã e italiana que achava que podia “brincar” com os fascistas de então, e acabou na condição de cúmplice de um massacre.
Qualquer um que conheça a tradição “conservative” sabe que ela é múltipla e heterogênea. Nasce no século 18 como uma reação à agressão da ganância jacobina. Trata-se de uma sensibilidade política de trincheira. Defende-se, entre outras coisas, da mentira que é a crença em se transformar o mundo a partir de “closet theories” (teorias de gabinete), termo de Burke. O conservador reage a essas teorias não porque seja contra diminuir o sofrimento no mundo, mas apenas porque é inteligente o bastante para perceber o estelionato político dos que se dizem amantes da humanidade. Vejamos um exemplo.
Nos últimos anos um “novo” marxismo surgiu na Europa, uma salada mista de marxismo e Lacan. Nomes como Alain Badiou e Slavoj Zizek são as estrelas dessa nova seita fundamentalista, cozida entre consultórios lacanianos e cafés parisienses. Lacan aqui deve servir pra dar um toque “chique” a uma tradição violenta e banal que matou mais gente do que o próprio Hitler: Lênin, Stálin, Mao e Pol Pot.
Nossos gurus fazem uma leitura infame de São Paulo, fundador do cristianismo, em chave fanático-religiosa, como modelo a ser seguido no combate ao humanismo relaxado da sociedade liberal pós-moderna. Para eles, Paulo seria um exemplo ideal do protorrevolucionário marxista que passou por uma “transformação interior” e descobriu a “verdade” e a levou às últimas consequências. Socorro!
Os gurus, em seus gabinetes chiques, chegam a descrever o amor como “busca da verdade”, passo necessário para uma nova “gramática do desejo”. Uma “nova política” criada por seres com “gramáticas eróticas libertárias”. Puro papo furado para crentes.
Amor não é uma experiência política, nem gramatical, mas afetiva e moral. Não quero que me ensinem a amar da forma correta. Ninguém ama corretamente nem politicamente. Amor é sempre errado. Quando a política se “finge” amorosa é para matar o homem real em nome do amor por uma ideia de homem. Pensar em se “reordenar politicamente a libido”, coisa típica dessa seita, é um delírio que autoriza a repressão do desejo concreto em nome de um desejo abstrato, este, claro, definido no gabinete chique do guru. No fundo a seita quer que os homens reais deixem de existir para dar lugar aos homens com “libido politicamente reordenada”. Quem seriam eles? Provavelmente os gurus e seus discípulos, como sempre.
http://quebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/2010/09/06/luiz-felipe-ponde-conservadores-e-a-politica-de-redencao/
A Oligarquia da Esquerda
O jargão “por uma sociedade mais justa” pode ser falado pelo pior dos canalhas
VOCÊ ACREDITA em justiça social? Tenho minhas dúvidas. Engasgou? Como pode alguém não crer em justiça social? Calma, já explico. Quem em sã consciência seria contra uma vida “menos ruim”? Não eu. Mas cuidado: o jargão “por uma sociedade mais justa” pode ser falado pelo pior dos canalhas. Assim como dizer “vou fazer mais escolas”, dizer “sou por uma sociedade mais justa” pode ser golpe.
Aliás, que invasão de privacidade é essa propaganda política gratuita na mídia, não? O desgraçado comum, indo pro trabalho no trânsito, querendo um pouco de música pra aliviar seu dia a dia, é obrigado a ouvir a palhaçada sem graça dos candidatos. Ou o blablablá compenetrado de quem se acha sério e acredita que sou obrigado a ouvi-lo.
Mas voltando à justiça social, proponho a leitura do filósofo escocês David Hume (século 18), “An Enquiry Concerning the Principles of Morals, Section III“. Cético e irônico, Hume foi um dos maiores filósofos modernos. É conhecida sua ironia para com a ideia de justiça social. Ele a comparava aos delírios dos cristãos puritanos de sua época em busca de uma vida pura. Para Hume, os defensores de um “critério racional” de justiça social eram tão fanáticos quanto os fanáticos da fé.
Sua crítica visava a possibilidade de nós termos critérios claros do que seria justo socialmente. Mas ele também duvidava de quem estabeleceria essa justiça “criteriosa” e de como se estabeleceria esse paraíso de justiça social no mundo. Se você falar em educação e saúde, é fácil, mas e quando vamos além disso no “projeto de justiça social”? Aqui é que a coisa pega.
Mas antes da pergunta “o que é justiça social?”, podemos perguntar quem seriam “os paladinos da justiça social”. Seria gente honesta? Ou aproveitadores do patrimônio dos outros e da “matéria bruta da infelicidade humana”, ansiosos por fazer seus próprios patrimônios à custa do roubo do fruto do trabalho alheio “em nome da justiça social”? Humm…
A semelhança dos hipócritas da fé que falavam em nome da justiça divina para roubar sua alma, esses hipócritas falariam em nome da justiça social para roubar você. Ambas abstratas e inefáveis, por isso mesmo excelentes ferramentas para aproveitadores e mentirosos, as justiças divina e social seriam armas poderosas de retórica autoritária e mau-caráter.
Suspeito de que se Hume vivesse hoje entre nós, faria críticas semelhantes à oligarquia de esquerda que se apoderou da máquina do governo brasileiro manipulando uma linguagem de “justiça social”: controle da mídia, das escolas, dos direitos autorais, das opiniões, da distribuição de vagas nas universidades, tudo em nome da “justiça social”. Ataca-se assim, o coração da vida inteligente: o pensamento e suas formas materiais de produção e distribuição.
A tendência autoritária da política nacional espanta as almas menos cegas ou menos hipócritas. A oligarquia de esquerda associa as práticas das velhas oligarquias ao maior estelionato da história política moderna: a ideia de fazer justiça social a custa do trabalho (econômico e intelectual) alheio.
Outro filósofo britânico, Locke (século 17), chamava a atenção para o fato de que sem propriedade privada não haveria qualquer liberdade possível no mundo porque liberdade, quando arrancada de sua raiz concreta, a propriedade privada (isto é, o fruto do seu esforço pessoal e livre e que ninguém pode tomar), seria irreal.
Instalando-se num ambiente antes ocupado pela oligarquia nordestina, brutal e coronelista, e sua aliada, a chique oligarquia industrial paulista, os “paladinos da justiça social” se apoderam dos mecanismos de controle da sociedade e passam a produzir sucessores e sucessoras tirando-os da cartola, fazendo uso da mais abusiva retórica e máquina de propaganda.
Engana-se quem acha que propriedade privada seja apenas “sua casa”. Não, a primeira propriedade privada que existe é invisível: sua alma, seu espírito, suas ideias. É sobre elas que a oligarquia de esquerda avança a passos largos. Em nome da “justiça social” ela silenciará todos.
Esses seres “bons” não existem. São só termos usados como bucha de canhão para esconder a execução da agenda. Todo movimento revolucionário depende da estratégia de ressignificação e criação de duelos imaginários: é o “proletário” contra o “burguês”, é o “libertário” contra o “fascista”, é o “racional” contra o “crédulo” . O neo-ateísmo é apenas a reedição da mentalidade revolucionária adaptada para religião. O entendimento do fenômeno neo-ateísta é o mesmo da revolução. Sob o manto de estar lutando pela “justiça social”, eles querem controlar os órgãos de mídia pelos “Direitos Humanos”. Sob o manto da “defesa da razão”, eles querem tirar os religiosos da discussão pública. Alguns, como Richard Dawkins, querem até tirar os direitos dos pais educarem os filhos.
Esse é o perigo da falta de ceticismo para os encantadores de serpentes políticos. Já passou da hora de tolerarmos como tontos o discurso de origem marxista-iluminista de retirada dos religiosos da cena pública. Ou reagimos a altura (como nos Estados Unidos o Tea Party começa a fazer) ou vamos sofrer as consequências dessa omissão no futuro.

http://quebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/2010/09/09/mais-uma-aula-de-ponde-a-oligarquia-da-esquerda-e-a-justica-social-como-caminho-para-a-dominacao/
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terça-feira, 28 de setembro de 2010

Mentalidade revolucionária: os sintomas.


Relembremos os cinco pontos que qualificam alguém como adepto da mentalidade revolucionária:

* (1) Crença na idéia de que o homem pode e irá criar um mundo perfeito, isento de males
* (2) Sensação de que se pertence ao grupo que irá consolidar este mundo perfeito
* (3) Noção de que, ao se lutar por esse ideal, todos os atos estão a priori justificados
* (4) Criação de campanha de rejeição social e fomentação de ódio contra um grupo, a ser selecionado como bode expiatório, grupo este que será divulgado como o “inimigo” deste novo mundo (para Dawkins, são os religiosos, para Hitler, eram os judeus, para Marx, eram os burgueses, para a Al Qaeda, são os norte-americanos)
* (5) Ambições de dimensões globais em torno desse ideal

Todos os cinco itens acima são oposições ferrenhas a todos os princípios cristãos. Mas são adesão absoluta à todo paradigma do projeto Iluminista, que justamente criou tal tipo de mentalidade.

O paradigma do projeto Iluminista era inerentemente anti-religioso, com uma série de ateus radicais.

Leia mais em http://lucianoayan.wordpress.com/2010/09/27/tecnica-hitler-era-cristao-mas-jamais-um-ateu/ .

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

DOGMAS DA IGREJA.


Os dogmas da Santa Igreja
A Igreja Católica proclama a existência de muitos Dogmas, sendo 43 o número dos seus principais. Estão subdivididos em 8 categorias diferentes:
- Dogmas sobre Deus
- Dogmas sobre Jesus Cristo
- Dogmas sobre a criação do mundo
- Dogmas sobre o ser humano
- Dogmas marianos
- Dogmas sobre o Papa e a Igreja
- Dogmas sobre os sacramentos
- Dogmas sobre as últimas coisas
http://emdefesadelefebvre.blogspot.com/2010/09/os-dogmas-da-santa-igreja.html
Dogmas sobre Deus
1- A Existência de Deus
"A ideia de Deus não é inata em nós, mas temos a capacidade para conhecê-Lo com facilidade, e de certo modo espontaneamente por meio da Sua obra"

2- A Existência de Deus como Objecto de Fé
"A existência de Deus não é apenas objecto do conhecimento da razão natural, mas também é objecto da fé sobrenatural "

3- A Unidade de Deus
"Não existe mais que um único Deus "

4- Deus é Eterno
"Deus não tem princípio nem fim"

5- Santíssima Trindade
"Em Deus há três pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo; e cada uma delas possui a essência divina que é numericamente a mesma "

Dogmas sobre Jesus Cristo
6- Jesus Cristo é verdadeiro Deus e filho de Deus por essência
"O dogma diz que Jesus Cristo possui a infinita natureza divina com todas as suas infinitas perfeições, por ter sido engendrado eternamente por Deus."

7- Jesus possui duas naturezas que não se transformam nem se misturam
"Cristo é possuidor de uma íntegra natureza divina e de uma íntegra natureza humana: a prova está nos milagres e no padecimento"

8- Cada uma das naturezas em Cristo possui uma própria vontade física e uma própria operação física
"Existem também duas vontades físicas e duas operações físicas de modo indivisível, de modo que não seja conversível, de modo inseparável e de modo não confuso"

9- Jesus Cristo, ainda que homem, é Filho natural de Deus
"O Pai celestial quando chegou a plenitude dos tempos, enviou aos homens o seu Filho, Jesus Cristo"

10- Cristo imolou-se a si mesmo na cruz como verdadeiro e próprio sacrifício
"Cristo, pela sua natureza humana, era ao mesmo tempo sacerdote e oblação, mas pela sua natureza Divina, juntamente com o Pai e o Espírito Santo, era o que recebia o sacrifício."

11- Cristo resgatou-nos e reconciliou-nos com Deus por meio do sacrifício da sua morte na cruz
"Jesus Cristo quis oferecer-se a si mesmo a Deus Pai, como sacrifício apresentado sobre a ara da cruz na sua morte, para conseguir para eles o eterno perdão"

12- Ao terceiro dia depois da sua morte, Cristo ressuscitou glorioso de entre os mortos
"ao terceiro dia, ressuscitado pela sua própria virtude, levantou-se do sepulcro"

13- Cristo subiu em corpo e alma aos céus e está sentado à direita de Deus Pai
"ressuscitou de entre os mortos e subiu ao céu em Corpo e Alma"

Dogmas sobre a criação do mundo
14- Tudo o que existe foi criado por Deus a partir do Nada
"A criação do mundo do nada, não é apenas uma verdade fundamental da revelação cristã, mas ao mesmo tempo chega a alcançá-la a razão somente com as suas forças naturais, baseando-se nos argumentos cosmológicos e sobretudo no argumento da contingência."

15- Carácter temporal do mundo
"O mundo teve princípio no tempo"

16- Conservação do mundo
"Deus conserva na existência todas as coisas criadas"

Dogmas sobre o ser humano
17- O homem é formado por corpo material e alma espiritual
"O humano como comum é constituído de corpo e alma"

18- O pecado de Adão propaga-se a todos os seus descendentes por geração, não por imitação
"Pecado, que é morte da alma, propaga-se de Adão a todos os seus descendentes por geração e não por imitação, e é inerente a cada indivíduo"

19- O homem caído não pode redimir-se a si próprio
"Somente um acto livre por parte do amor divino poderia restaurar a ordem sobrenatural, destruída pelo pecado"

Dogmas marianos
20- A Imaculada Conceição de Maria
"A Santíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua conceição, foi por singular graça e privilégio de Deus omnipotente em previsão dos méritos de Cristo Jesus, Salvador do género humano, preservada imune de toda a mancha de culpa original"

21- Maria, Mãe de Deus
"Maria, como uma virgem perpétua, gerara Cristo segundo a natureza humana, mas quem dela nasce, ou seja, o sujeito nascido, não tem apenas uma natureza humana, mas sim o divino que a sustenta, ou seja, o Verbo. Daí que o Filho de Maria é propriamente o Verbo que subsiste na natureza humana; então Maria é verdadeira Mãe de Deus, posto que o Verbo é Deus. Cristo: Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem"

22- A Assunção de Maria
"A Virgem Maria foi elevada ao céu imediatamente depois de terminar a sua vida terrena; o seu Corpo não sofreu nenhuma corrupção, contrariamente ao que sucederá com todos os homens que ressuscitarão somente no final dos tempos passando pela descomposição."

Dogmas sobre o Papa e a Igreja
23-A Igreja foi fundada pelo Deus e Homem, Jesus Cristo
"Cristo fundou a Igreja, da qual estabeleceu os fundamentos substanciais, no tocante à doutrina, culto e constituição"

24- Cristo constituiu o Apóstolo São Pedro como primeiro entre os Apóstolos e como cabeça visível de toda a Igreja, conferindo-lhe imediata e pessoalmente o primado da jurisdição
"O Romano Pontífice é o sucessor do bem-aventurado Pedro e tem o primado sobre todo o rebanho"

25- O Papa possui o pleno e supremo poder de jurisdição sobre toda a Igreja, não somente em coisas de fé e costumes, mas também na disciplina e governo da Igreja
"Conforme esta declaração, o poder do Papa é: de jurisdição, universal, supremo, pleno, ordinário, episcopal, imediato"

26- O Papa é infalível sempre que se pronuncia ex cathedra.
"Para compreender este dogma, convém ter na lembrança: Sujeito da infalibilidade papal é todo o Papa legítimo, na sua qualidade de sucessor de Pedro e não outras pessoas ou organismos (ex.: congregações pontificais) a quem o Papa confere parte da sua autoridade magisterial". O objecto da infalibilidade são as verdades de fé e costumes, reveladas ou em íntima conexão com a revelação divina. A condição da infalibilidade é que o Papa fale ex catedra:
- Que fale como pastor e mestre de todos os fiéis fazendo uso da sua suprema autoridade.
- Que tenha a intenção de definir alguma doutrina de fé ou moral para que seja acreditada por todos os fiéis. As encíclicas pontificais não são definições ex catedra.

A razão da infalibilidade é a assistência sobrenatural do Espírito Santo, que preserva o supremo mestre da Igreja de todo o erro. A consequência da infalibilidade é que as definições ex catedra dos Papas sejam por si mesmas irreformáveis, sem a intervenção ulterior de qualquer autoridade."

27- A Igreja é infalível quando faz definições em matéria de fé e costumes
Estão sujeitos à infalibilidade:
- O Papa, quando fala ex catedra
- O episcopado pleno, com o Papa, que é a cabeça do episcopado, é infalível quando reunido em concílio ecuménico ou disperso pelo rebanho da terra, ensina e promove uma verdade de fé ou de costumes para que todos os fiéis a sustentem"


Dogmas sobre os sacramentos
28- O Baptismo é verdadeiro Sacramento instituído por Jesus Cristo
"Foi-vos dado todo o poder no céu e na terra; ide então e ensinai todas as pessoas, baptizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo"

29- A Confirmação é verdadeiro e próprio Sacramento
"Este Sacramento concede aos baptizados a fortaleza do Espírito Santo para que se consolidem interiormente na sua vida sobrenatural e confessem exteriormente com valentia a sua fé em Jesus Cristo."

30- A Igreja recebeu de Cristo o poder de perdoar os pecados cometidos após o Baptismo
"Foi comunicado aos Apóstolos e aos seus legítimos sucessores o poder de perdoar e de reter os pecados para reconciliar os fiéis caídos depois do Baptismo"

31- A Confissão Sacramental dos pecados está prescrita por Direito Divino e é necessária para a salvação
"Basta indicar a culpa da consciência apenas aos sacerdotes mediante confissão secreta"

32- A Eucaristia é verdadeiro Sacramento instituído por Cristo
"Aquele que come a Minha Carne e bebe o Meu Sangue tem a vida eterna"

33- Cristo está presente no sacramento do altar pela Transubstanciação de toda a substância do pão no seu corpo e toda a substância do vinho no seu sangue
"Transubstanciação é uma conversão no sentido passivo; é o trânsito de uma coisa a outra. Cessam as substâncias de Pão e Vinho, pois sucedem-se nos seus lugares o Corpo e o Sangue de Cristo. A Transubstanciação é uma conversão milagrosa e singular diferente das conversões naturais, porque não apenas a matéria como também a forma do pão e do vinho são convertidas; apenas os acidentes permanecem sem mudar: continuamos a ver o pão e o vinho, mas substancialmente já não o são, porque neles está realmente o Corpo, o Sangue, Alma e Divindade de Cristo."

34- A Unção dos enfermos é verdadeiro e próprio Sacramento instituído por Cristo
"Existe algum enfermo entre nós? Façamos a unção do mesmo em nome do Senhor"

35- A Ordem é verdadeiro e próprio Sacramento instituído por Cristo
"Existe uma hierarquia instituída por ordenação Divina, que consta de Bispos, Presbíteros e Diáconos"

36- O matrimónio é verdadeiro e próprio Sacramento
"Cristo restaurou o matrimónio instituído e bendito por Deus, fazendo que recuperasse o seu primitivo ideal da unidade e indissolubilidade e elevando-o à dignidade de Sacramento."

Dogmas sobre as últimas coisas (Novíssimos)
37-A Morte e sua origem
"A morte, na actual ordem de salvação, é consequência primitiva do pecado"

38- O Céu (Paraíso)
"As almas dos justos que no momento da morte se acham livres de toda a culpa e pena de pecado entram no céu"

39- O Inferno
"O inferno é uma possibilidade graças à nossa liberdade. Deus fez-nos livres para amá-lo ou para rejeitá-lo. Se o céu pode ser representado como uma grande ciranda onde todos vivem em plena comunhão entre si e com Deus, o inferno pode ser visto como solidão, divisão e ausência do amor que gera e mantém a vida. Deve-se salientar que a vontade de Deus é a vida e não a morte de quem quer que seja. Jesus veio para salvar e não para condenar. No limite, Deus não condena ninguém ao inferno. É a nossa opção fundamental, que se vai formando ao longo de toda a vida, pelos nossos pensamentos, actos e omissões, e que confirma ou não o desejo de estar com Deus para sempre. De qualquer forma, não se pode usar o inferno para convencer as pessoas a acreditar em Deus ou a viver a fé. Isso favorece a criação de uma religiosidade infantil e puramente exterior. Deve-se privilegiar o amor e não o temor. Só o amor move os corações e nos faz adorar a Deus e amar o próximo em espírito e verdade."

40- O Purgatório
"As almas dos justos que no momento da morte estão agravadas por pecados veniais ou por penas temporais devidas pelo pecado, vão ao purgatório. O purgatório é estado de purificação"

41- O Fim do mundo e a Segunda vinda de Cristo
"No fim do mundo, Cristo, rodeado de majestade, virá de novo para julgar os homens"

42- A Ressurreição dos Mortos no Último Dia
"Aos que crêem em Jesus e comem do Seu corpo e bebem do Seu sangue, Ele lhes promete a ressurreição"

43- O Juízo Universal
"Cristo, depois do seu retorno, julgará todos os homens."

Fonte: Apostolado Tradição em foco

domingo, 26 de setembro de 2010

A Igreja contemporânea.


D. Marcel Lefebvre e D. Antônio de Castro Mayer

21 de novembro de 1983


Carta Aberta ao Papa e o Manifesto Episcopal



Beatíssimo Padre

Permita-nos Vossa Santidade que, com filial franqueza, Lhe apresentemos as reflexões que seguem.

A situação da Igreja é tal, há uns vinte anos, que semelha uma cidade ocupada.

Milhares de sacerdotes e milhões de fiéis acham-se num estado de angústia e de perplexidade, motivado pela “auto-destruição” da Igreja: os erros contidos em documentos do Concílio Vaticano II, as reformas pós-conciliares, especialmente a Reforma Litúrgica, as falsas concepções difundidas por documentos oficiais, os abusos de poder cometidos por membros da Hierarquia deixam os fiéis perturbados e confusos. Semelhante situação vem causando em muitos a perda da fé, o resfriamento da caridade, e destruindo o conceito de unidade da igreja no tempo e no espaço.

Sensibilizados pelas angústias de tantas almas desorientadas que, em todo o mundo, desejam perseverar na identidade da mesma Fé e da mesma Moral, tal como definida pelo Magistério da Igreja ou por Ela ensinada de modo constante e universal, Nós, Bispos da Santa Igreja Católica, Sucessores dos Apóstolos, julgamos que não nos seria lícito calar sem sermos cúmplices de obras malignas (Cfr. 2, Jo. 11).

Eis porque, baldadas as diligências feitas, nestes últimos 15 anos, em caráter particular, vemo-nos obrigados a intervir publicamente junto de Vossa Santidade para denunciar as causas precípuas desta angustiante situação da Igreja e suplicar-Lhe que, usando de Seus poderes pontifícios “confirme seus irmãos” (Luc. XXII, 32) na Fé que nos foi fielmente transmitida pela Tradição Apostólica.

Com este propósito, tomamos a liberdade de, em anexo, apontar a Vossa Santidade mais pormenorizadamente, embora não de modo exaustivo, os erros principais que estão na raiz desta situação trágica e que foram condenados por Vossos predecessores:

1. Um conceito “latitudinarista” e ecumênico da Igreja, dividida em sua Fé (condenado especialmente pelo Syllabus, nº 18; DS 2918).

2. Um governo colegial e uma orientação democrática (condenado especialmente pelo Conc. Vaticano I DS 3055).

3. O falso conceito de direitos naturais do homem que aparece claramente no documento sobre a Liberdade Religiosa do Conc. Vaticano II (condenado especialmente por “Quanta cura” de Pio IX e “Libertas” de Leão XIII).

4. A falsa concepção do poder do Papa (Cfr. DS 3115).

5. A concepção protestante do Santo Sacrifício da Missa e dos Sacramentos (condenada pelo Conc. De Trento, sessão XXII).

6. E, finalmente, de modo geral, a livre difusão de erros e heresias (como novo humanismo, evolucionismo, naturalismo, socialismo, comunismo, etc.), caracterizada pela supressão do Santo Ofício.

Tais erros em documentos oriundos de fontes tão excelsas criam, na Igreja, um profundo mal-estar e perplexidade a muitos fiéis. Trata-se, Santíssimo Padre, não de fiéis reticentes no acatamento da Autoridade Pontifícia, e sim, pelo contrário, de membros do Clero e leigos que têm como base de sua Fé a adesão profunda e inabalável à Cátedra de São Pedro.

Com todo respeito, ousamos dizer a Vossa Santidade: é urgente que esse mal-estar cesse logo, porque o rebanho se dispersa e as ovelhas abandonadas estão seguindo mercenários. Nós conjuramos Vossa Santidade, pelo bem da Fé católica e da salvação das almas, a que reafirme as Verdades contrárias a esses erros, Verdades que nos foram ensinadas pela bimilenar Igreja de Jesus Cristo.

Dirigimo-nos a Vossa Santidade com os sentimentos de São Paulo com relação a São Pedro, quando aquele o censurava por não seguir a “verdade do Evangelho” (cf. Gal. 2, 11-14). Com esta atitude, cumprimos um dever para com os fiéis que perigam na fé.

São Roberto Belarmino, exprimindo aliás um princípio geral de Moral, afirma que se deve resistir ao Pontífice cuja ação seja prejudicial à salvação das almas (Cf. “De Romano Pontífice” lib. 2, c. 29).

É com a intenção de auxiliar Vossa Santidade que lançamos este grifo de alarme, que se torna ainda mais veemente diante dos erros, para não dizer heresias, do Novo Código de Direito Canônico, e as cerimônias e discursos ao ensejo do 5º Centenário de Lutero. Verdadeiramente, ultrapassaram-se os limites.

Exprimindo-lhe nosso filial devotamento, rogamos à Santíssima Virgem Maria Sua especial proteção sobre Vossa Santidade.



Rio de Janeiro, 21 de novembro de 1983,

Festa da Apresentação de Nossa Senhora.

+ Marcel Lefebvre Arcebispo – Bispo Emérito de Tulle

+ Antonio de Castro Mayer – Bispo Emérito de Campos







ANEXO

BREVE SÍNTESE DOS PRINCIPAIS ERROS DA

ECLESIOLOGIA CONCILIAR



1. Conceito “latitudinarista” e ecumênico da Igreja.



O conceito de Igreja como “povo de Deus” encontra-se atualmente em numerosos documentos oficiais: os atos do Concílio “Unitatis Redintegratio”, “Lumen Gentium”, - o novo Código de Direito Canônico (c. 204, §1), a Carta do Papa João Paulo II “Catechesi tradendae” e a alocução na Igreja anglicana de Cantuária, - o Diretório ecumênico: “Ad totam Ecclesiam” do Secretariado para a Unidade dos Cristãos.

Este conceito transpira um sentido latitudinarista e um falso ecumenismo.

Fatos manifestam, de modo evidente, este conceito heterodoxo: as autorizações para a construção de salas destinadas ao pluralismo religioso, - a edição de bíblias ecumênica que não são mais conformes à exegese católica, - as cerimônias ecumênicas como as de Cantuária.

Na “Unitatis Redintegratio” ensina-se que a divisão dos cristãos “é para o mundo um objeto de escândalo e dificulta a pregação do Evangelho a toda a criatura... que o Espírito Santo não se recusa a servir-se de outras religiões como meio de salvação”. Este mesmo erro é repetido no documento “Catechesi tradendae” de João Paulo II. É no mesmo espírito e com afirmações contrárias à fé tradicional, que João Paulo II declarou na Catedral de Cantuária, em 25 de maio de 1982, “que a promessa de Cristo nos inspira a confiança de que o Espírito Santo sanará as divisões introduzidas na Igreja, desde os primeiros tempos, após Pentecostes”, como se a unidade do Credo jamais tivesse existido na Igreja.

O conceito de “povo de Deus” insinua que o protestantismo não é outra coisa senão uma forma particular da mesma religião cristã.

O Concílio Vaticano II ensina “uma verdadeira união no Espírito Santo” com as seitas heréticas (Lumen Gentium, 13), “uma certa comunhão, embora imperfeita, com elas” (Unitatis redintegratio, 3).

Esta unidade ecumênica contradiz a Encíclica “Satis Cognitum” de Leão XIII, que ensina que “Jesus não fundou uma Igreja que abarca várias comunidades que se assemelham genericamente, mas que são distintas e que não estão vinculadas por um liame que forma uma Igreja individual e única”. Igualmente, esta unidade ecumênica contraria a Encíclica “Humani Generis” de Pio XII, que condena a idéia de reduzir a uma fórmula qualquer a necessidade de pertencer à Igreja Católica; contrário, outrossim, a Encíclica “Mystici Corporis” do mesmo Papa que condena a concepção de uma Igreja “pneumática” que seria um laço invisível das comunidades separadas na Fé.

Este ecumenismo é igualmente contrário aos ensinamentos de Pio XI na Encíclica “Mortalium animos”: “Sobre este ponto é oportuno expor e recusar uma opinião falsa que está na raiz deste problema e deste movimento complexo por meio do qual os não católicos se esforçam por realizar uma união das Igrejas cristãs. Os que aderem a esta opinião citam constantemente estas palavras de Cristo: “Que eles sejam um... e que não exista senão um só rebanho e um só pastor” (Jo. 17, 21 e 10, 16) e pretendem que, por estas palavras, Jesus exprime um desejo ou uma oração que jamais foi realizada. Eles pretendem, com efeito, que a unidade de fé de governo, que é uma das notas da verdadeira Igreja de Cristo, praticamente, até hoje jamais existiu e hoje ainda não existe”.

Este ecumenismo condenado pela Moral e Direito Católicos chega a permitir a recepção dos Sacramentos da Penitência, da Eucaristia e da Extrema-unção de “ministros não católicos” (C. 844 do novo Código) e favorece a “hospitalidade ecumênica” autorizando os ministros católicos a dar o sacramento da Eucaristia a não católicos.

Todas estas coisas são abertamente contrárias à Revelação divina que prescreve a “separação” e recusa a união “entre a luz e as trevas, entre o fiel e o infiel, entre o templo de Deus e o dos ídolos” (II Cor, 6, 14-18).



2. Governo colegial-democrático da Igreja.



Depois de terem abalado a unidade da fé, os modernistas de hoje empenham-se por sacudir a unidade de governo e a estrutura hierárquica da Igreja.

A doutrina, já sugerida pelo documento “Lumen Gentium” do Concílio Vaticano II, será retomada explicitamente pelo novo Direito Canônico (C. 336); doutrina segundo a qual o colégio dos Bispos juntamente com o Papa goza igualmente do poder supremo na Igreja, e isto de uma maneira habitual e constante.

Esta doutrina do duplo poder supremo é contrária ao ensinamento e à prática do Magistério da Igreja, especialmente no Concílio Vaticano I (DS 3055) e na Encíclica de Leão XIII “Satis Cognitum”. Somente o Papa tem este poder supremo que ele comunica, na medida em que ele o julgar oportuno e em circunstâncias extraordinárias.

A este grave erro está ligada a orientação democrática da Igreja, com os poderes inerentes no “povo de Deus”, como se define no novo Direito. Este erro jansenista foi condenado pela Bula “Auctorem fidei” de Pio VI (DS 2592).

Esta tendência em fazer a “base” participar do exercício do poder encontra-se na instituição do Sínodo e das Conferências episcopais, nos Conselhos presbiteriais, pastorais e na multiplicação de Comissões romanas, e de Comissões nacionais, como no seio das Congregações religiosas (ver a propósito Concílio Vaticano I, DS 3061) – Novo Código de Direito Canônico, C. 447).

A degradação da autoridade na Igreja é a fonte da anarquia e da desordem que n’Ela se nota hoje por toda parte.



3. Os falsos direitos naturais do homem



A declaração “Dignitatis humanae” do Concílio Vaticano II afirma a existência de um falso direito natural do homem em matéria religiosa, que se põe aos ensinamento pontifícios, que negam formalmente semelhante blasfêmia.

Assim Pio IX na sua Encíclica “Quanta cura” e o Syllabus, Leão XIII nas suas Encíclicas “Libertas praestantissimum” e “Immortale Dei”, Pio XII na sua alocução: “Ci riesce” aos juristas católicos italianos, negam que a razão e a revelação fundamentem semelhante direito.

O Vaticano II crê e professa, de modo universal, que “a Verdade não pode impor-se senão pela força da própria Verdade”, esquecendo-se de que a Verdade pode impor-se também, normal e racionalmente, pela autoridade, pela autoridade de Deus revelante. O Concílio chega ao absurdo de afirmar o direito de não aderir e de não seguir a verdade, de obrigar os governos civis a não mais fazer discriminações por motivos religiosos, estabelecendo a igualdade jurídica entre as falsas e a verdadeira religião.

Tais doutrinas se fundamentam numa falsa concepção da dignidade humana, proveniente das pseudo-filosofias da Revolução Francesa, agnósticas e materialistas, que já foram condenadas por São Pio X na Carta Apostólica “Notre charge apostolique”.

O Vaticano II diz que da Liberdade religiosa surgirá uma era de estabilidade para a Igreja. Gregório XVI, ao contrário, afirma que é suma impudência sustentar que da liberdade imoderada de opiniões provenha algum benefício para a Igreja (DS. 2731).

O Concílio, na “Gaudium et Spes”, exprime um princípio falso, quando julga que a dignidade humana e cristã procede do fato da Encarnação, que teria restaurado esta dignidade para todos os homens. Este erro é afirmado na Encíclica “Redemptor hominis” de João Paulo II.

As conseqüências do reconhecimento por parte do Concílio deste falso direito do homem arruínam os fundamentos do Reino Social de Nosso Senhor, abalam a sua autoridade e o Poder da Igreja na sua missão de fazer reinar Nosso Senhor nos espíritos e nos corações, empenhando-se no combate contra as forças satânicas que subjugam as almas. O espírito missionário será acusado de proselitismo exagerado.

A neutralidade dos Estados em matéria de religião é injuriosa a Nosso Senhor e à sua Igreja, quando se trata de Estados com maioria católica.



4. Poder Absoluto do Papa



Sem dúvida, o poder do Papa na Igreja é um poder supremo, mas ele não pode ser absoluto e sem limites, visto que está subordinado ao poder divino, que se exprime na Tradição, na Sagrada Escritura e nas definições já promulgadas pelo Magistério eclesiástico (DS. 3116).

O poder do Papa é subordinado e limitado pelo fim que determinou a concessão desse poder. Este fim foi claramente definido pelo Papa Pio IX na Constituição “Pastor aeternus” do 1º Concílio do Vaticano (DS. 3070). Seria um intolerável abuso de poder modificar a constituição da Igreja e pretender apelar para o direito humano contra o direito divino, como na liberdade religiosa, como na hospitalidade eucarística autorizada pelo novo Direito, como na afirmação de dois poderes supremos na Igreja.

É claro que nestes casos e em outros semelhantes, há um dever para todo o clero e fiel católico de resistir e recusar a obediência. A obediência cega é um contrasenso e ninguém está isento de responsabilidade por ter obedecido aos homens antes que a Deus (DS. 3115), e esta resistência deve ser pública se o mal é público e é uma causa de escândalo para as almas (S. Tomás, Summa Th. II-II, q. 33, a. 4 ad 2).

Aí estão princípios elementares de moral, que regulamentam as relações dos súditos com todas as autoridades legítimas.

Esta resistência, aliás, encontra uma confirmação no fato de que atualmente são punidos os que se mantém firmemente vinculados à Tradição e à Fé católicas, ao passo que os que professam doutrinas heterodoxas ou realizam verdadeiros sacrilégios absolutamente não são inquietados. É a lógica do abuso do poder.



5. Concepção protestante da Missa.



A nova concepção da Igreja, como a definiu o Papa João Paulo II, na Constituição que antecede o novo Código de Direito Canônico, pede uma mudança profunda no ato principal da Igreja que é o Sacrifício da Missa. A definição da nova eclesiologia dá exatamente a definição da nova Missa: a saber, um serviço, uma comunhão colegial e ecumênica. Não se pode definir melhor a nova Missa, que, como a nova Igreja conciliar, está em ruptura profunda com a Tradição e o Magistério da Igreja.

É uma concepção mais protestante do que católica que explica tudo quanto foi indebitamente exaltado e tudo quanto foi diminuído.

Em oposição aos ensinamentos do Concílio de Trento na sua Sessão XXII, em oposição à Encíclica “Mediator Dei” de Pio XII, exagerou-se o papel dos fiéis na participação na Santa Missa e diminuiu-se o papel do sacerdote transformando em simples presidente. Exagerou-se o papel da Liturgia da Palavra e diminuiu-se o Sacrifício propiciatório. Exaltou-se a ceia comunitária e foi ela laicizada, às custas do respeito e da fé na Presença Real mediante a transubstanciação.

Ao suprimir a língua sagrada, pluralizaram-se ao infinito os ritos, profanando-os por achegas mundanas ou pagãs e difundiram-se traduções falsas com prejuízo da verdadeira fé e da verdadeira piedade dos fiéis.

E não obstante, os Concílios de Florença e de Trento tinham pronunciado anátemas contra todas estas mudanças e afirmado que nossa Missa no seu Cânon remontava aos tempos apostólicos.

Os Papas S. Pio V e Clemente VIII insistiram sobre a necessidade de evitar as modificações e as mudanças, conservando perpetuamente este Rito Romano consagrado pela Tradição.

A dessacralização da Missa, sua laicização levam à laicização do Sacerdócio, à maneira protestante.

A Reforma litúrgica de estilo protestante é um dos grandes erros da Igreja conciliar e dos mais ruinosos para a fé e a graça.



6. A livre difusão de erros e heresias.



A situação da Igreja, em postura de investigação, introduz na prática o livre exame protestante, resultado da pluralidade de credos no interior da Igreja.

A supressão do Santo Ofício, do Indice, do juramento antimodernista provocou nos teólogos modernos uma necessidade de novas teorias que desorientam os fiéis e os engajam para o carismatismo, o pentecostismo, as comunidades de base. É uma verdadeira revolução dirigida, em última análise, contra a autoridade de Deus e da Igreja:

I – Os Filósofos modernos antiescolásticos, existencialistas, anti-intelectualistas são ensinados nas Universidades Católicas e Seminários maiores.

II – O humanismo é favorecido por essa necessidade de as autoridades eclesiásticas fazerem eco ao mundo moderno, transformando o homem em fim de todas as coisas.

III – O Naturalismo – a exaltação do homem e dos valores humanos faz esquecer os valores sobrenaturais da Redenção e da graça.

IV – O Modernismo evolucionista causa o repúdio da Tradição, da Revelação, do Magistério de 20 séculos. Não há mais Verdade fixa, nem dogma.

V – O Socialismo e o Comunismo – A recusa do Concílio de condenar estes erros foi escandalosa e levou a pensar que o Vaticano hoje seria favorável a um socialismo ou um comunismo mais ou menos cristão.

A atitude da Santa Sé durante estes 15 últimos anos confirma este julgamento, tanto deste como do outro lado da cortina de ferro.

VI – Enfim, os acordos com a Maçonaria, o Conselho ecumênico das Igrejas e Moscou confirmam a Igreja num estado de prisioneira e a tornam totalmente incapaz de cumprir livremente sua Missão. São verdadeiras traições que clamam vingança aos Céus, como igualmente os elogios dados nestes dias ao heresiarca mais escandaloso e mais nocivo à Igreja.

É tempo de a Igreja recuperar sua liberdade de realizar o Reino de Nosso Senhor Jesus Cristo e o Reino de Maria, sem se preocupar com seus inimigos.

IGREJA CATÓLICA: RESPONSÁVEL PELA IGNORÂNCIA? MAIS UMA MENTIRA PROTESTANTE !


REBELIÃO PROTESTANTE É A RESPONSÁVEL PELA FALÊNCIA DA CULTURA.
http://anotapol.blogspot.com/2010/09/rebeliao-prostante-responsavel-pela.html

... Ao nascer a Reforma, já na Europa cristã, de há muitos séculos se havia delineado, sob o alto patrocínio da Igreja, o grande movimento intelectual que preparou os esplendores das civilização moderna. As escolas primárias extraordinariamente multiplicadas cobriam o Ocidente cristão. As universidades franqueavam as suas portas à juventurde ávida de saber. Os monumentos de arte aformoseavam as cidades; as catedrais góticas, milagres de ciência, arte e fé, elevavam as suas agulhas e suas ogivas como testemunhas perenes da alta cultura das gerações que as idearam e executaram.

À Reforma já não restava nenhuma iniciativa no campo intelectual. Cronologicamente a Igreja a precedera de muitos séculos na obra civilizadora. Só a uma glória podia ela pretender: a de secundar esta ação benfazeja, ultimando a tarefa iniciada e guiando rapidamente os povos ao fastígio da grandeza espiritual, longa e laboriosamente preparada pelos esforços dos séculos que a precederam.

Estas glória, infelizmente, não a podem vindicar os reformadores. O grande movimento anticatólico provocado no século XVI pela revolta de LUTERO foi a maior remora ao progresso das ciências e das letras nos tempos modernos. O advento do protestantismo inaugurou uma crise intelectual em que por quase dois séculos se debateram os países que o abraçaram.

Esta tese, que a mais de um leitor há de causar a maravilha de um paradoxo, é a que empreendemos agora demonstrar. Seremos largos em citações e em citações contemporâneas e em citações de protestantes.25 Não se trata de declamar mas de provar e provar uma verdade histórica. Fatos e documentos irrefragáveis serão os alicerces inconcussos, sobre os quais havemos de fundamentar as nossas conclusões.

Levados pelo ódio cego ao Papado e a todas as suas instituições, os primeiros reformadores envolveram no mesmo anátema tudo o que a Igreja católica havia criado, protegido, abençoado.

As maldições começaram contra a natureza humana e as mais nobres das suas prendas: a razão e a vontade.

Para a filosofia católica, a razão é a mais excelente das faculdades humanas. Na ordem puramente natural é o farol luminoso que orienta toda a nossa atividade. Na ordem sobrenatural, sem nada perder de sua dignidade nativa, ela se eleva e enobrece, pondo ao serviço da revelação divina o melhor de suas luzes. À razão pertence conduzir o homem à fé. À filosofia incumbe a nobre missão de guiá-lo aos umbrais da teologia. As universidades são o vestíbulo do templo. Entre a razão e a fé, portanto, nenhuma contradição possível; dons, uma e outra, do mesmo Deus, pai de todas as luzes, hamonizam-se nos laços da mais estreita aliança. E eis porque a Igreja, coluna infalível da verdade, como defendeu em todos os tempos o depósito da revelação contra os assaltos da heresia, assim tutelou com não menor energia os direitos da razão, amesquinhada pelas mutilações do cepticismo ou pelos cavilações dos sofistas.

Não assim entendeu LUTERO. O princípio fundamental da sua reforma religiosa repousa sobre o aniquilamento da razão. A mais nobre das nossas faculdades de conhecimento é radicalmente incapaz de elevar-se a Deus. "Nas coisas espirituais e divinas a razão é completamente cega"26

Razão e fé, ciência e teologia se contradizem como inimigas irreconciliáveis. "A Sorbona, mãe de todos os erros e de todas as heresias, professa um princípio detestável, afirmando que uma proposição verdadeira em teologia deve também necessariamente ser verdadeira em filosofia",27 Destarte, em consequência de suas doutrinas religiosas foi LUTERO levado a admitir a teoria das duas verdades: uma tese pode ser verdadeira em teologia e falsa em filosofia, impor-se ao crente como verdade revelada e repugnar ao sábio como contradição formal. Devemos crer o que a inteligência nos demonstra como absurdo. É a renúncia à lógica e o suicídio da razão.28

Nesta alternativa de optar pela razão ou pela fé, qual o dever do crente? Aniquilar a razão, estrangulá-la com uma besta feroz. "É encessário reduzir a inteligência e a razão ao estado de faculdades latentes e mortas em que se acham na infância; só assim poderemos chegar à fé, pois a razão contradiz a fé".29 "Os verdadeiros crentes sufocam a razão depois de lhe dirigir esta advertência: ouve-me, razão minha, tu és cega, louca, nada compreendes das coisas do céu. Não levantes tanto clamor, emudece e não penses que podes julgar a palavra de Deus. Assim fecham os crentes a boca da fera, a que nenhuma outra força poderia impor silêncio e esta é a obra mais meritória, o sacrifício mais agradável ao Senhor".30 "A razão é diametralmente oposta à fé; o verdadeiro crente nada tem que ver com ela. Mais. Incumbe-lhe o dever de destruí-la inteiramente e sepultá-la. É verdade que os anabatistas fazem da razão o facho da fé, dizem que a sua missão é iluminá e indicar-lhe o caminho. A razão irradiar luz? Sim irradia luz, como... (vá em alemão o resto) wie ein Dreck einer Laterne".31

Por vezes o seu estilo intemperantemente cínico e descomposto encontra para vilipendiar a razão expressões tão baixas e obscenas que só acham parelha nas sua invectivas contra Roma.

Veda-nos o pudor traduzir aqui estas salacidades de boldel. Depois de acabrunhar a nobilíssima entre as faculdades humanas com o ultraje ignominioso de prostituta, termina atirando-a ao lugar mais imundo da casa.32 Assim falava o grande reformador nos seus sermões, assim ultimava o seu curso de pregações em Wittemberga - como se remata uma orgia.

Depois desta ignomínias, que maravilha que "os emancipadores da razão humana" se desmandassem contra os seus mais abalizados representantes e tentassem extinguir todos os focos donde ela irradia a sua claridade?

Aos olhos de LUTERO, ARISTÓTELES, não passa de um "comediante que por muito tempo enganou a Igreja com as suas máscaras gregas"; é "um Proteu, o mais astuto enganador dos espíritos; se não fora de carne, não deveríamos hesitar em ver nele o diabo".33 "De TOMÁS DE AQUINO duvido se se salvou ou se condenou... TOMÁS escreveu muitas heresias e inaugurou o reino de ARISTÓTELES, devastador da santa doutrina".34

As universidades são "espeluncas de assassinos", "templos de Moloch", "verdadeiras cidades do diabo na terra". O ideal fora destruí-las todas. O estudo das literatura clássica é um ciência ímpia, pagã, diabólica. "O deus Moloch, a que os hebreus sacrificaram os seus filho, é hoje representado pelas universidades às quais imolamos a maior e melhor parte da nossa juventude... O que, porém, nunca se poderá bastantemente deplorar é que a juventurde é, nelas, instruída nesta ciência ímpia e pagã que tende a corromper miseramente as almas mais puras e os ânimos mais generosos".35 As escolas superiores mereciam ser destruídas até aos alicerces; desde que o mundo é mundo não houve instituição mais diabólica, mais infernal".36

"Se a revelação cristã condena evidentemente a carne e o sangue, isto é, a razão humana e tudo o que do homem procede, como incapaz de nos levar a J. C., claro está que tudo isto não passa de mentiras e trevas. E no entanto as altas escolas, estas escolas diabólicas fazem grande alarde de suas luzes naturais e guindam-nas até aos céus, como se fossem não só úteis senão indispensáveis à manifestação da verdade cristã. Assim que hoje é coisa perfeitamente estabelecida que todas essas escolas são invenção do demônio para obscurecer o cristianismo... Nelas se ensina que a luz divina ilumina a luz natural como o sol ilumina e faz ressaltar um belo painel: todas essas são idéias pagãs e não doutrina de J. C. Por esta forma as escolas instruem os seus doutores e sacerdotes mas é o demônio quem fala pelos seus lábios, etc., etc.".37


Como se vê , a Reforma desde os seus primódios, com suas tendência subjetivas e sentimentais, assumiu uma posição declaradamente antiintelectulista.

Com razão, poi, escreve PAULSEN: "O protestantimo na sua origem e na sua natureza é irracional: A razão, por si mesma, nada pode conhecer de quanto concerne à fé. A palavra de Deus: eis a única fonte de fé. O papel da razão em face da Sagrada Escritura é meramente formal: determinar-lhe o sentido genuíno. A teologia não passa de uma exegese filológica: gramática in sacra pagina occupata. Uma demonstração racional e filosófica das verdades das salvação não é nem possível nem necessária... Tal a concepção de Lutero".38

Eis a doutrina; vejamos-lhe os frutos. Eis os princípio; estudemos-lhe as consequências. Os frutos e as consequência foram a baixa geral do nível dos estudos, a decadência literária e científica em toda a parte onde a Reforma prevaleceu. E o que já observara em ERASMO: "Ubiquoque regnat Lutheranismus ibi literaram est interitus"39 e em outro lugar: "Ubicumque sunt ibi jacent omnes bonae disciplinae com pietate".

Particularizemos. Foi no ensino popular que primeiro exerceram sua influência mortífera as doutrinas reformadras. A instrução dos pobre e dos humildes recebeu o primeiro golpe.

Aqui não quero outro testemunho senão o do próprio LUTERO. Em 1524 numa carta aos burgomestres e conselheiros das cidades, lamentava ele: "De dia para dia experimentamos como nos países alemães as escolas vão caindo em completa ruína. Desde que faltaram os mosteiros e as fundações, já ninguém quer ensinar os próprios filhos e obrigá-los a estudar. Isto é obra do demônio" (personagem infalível nos escitos do reformador)... Sob o papado, o demônio havia estendido as suas redes por meio dos mosteiros e das escolas de tal maneira que sem um milagre de Deus não era possível que delas escapasse uma criança"...40 "Agora que a luz do Evangelho nos libertou das contribuições e roubos dos clérigos por que não empregais uma parte do que economizastes na educação da juventude? Dos particulares não há que esperar, queiram ou possam fazer coisa alguma para estabelecer novas escolas. Os príncipes e senhores a quem incumbe este dever ocupam-se em viagens, cavalgadas, patinações, torneios ou verga sob o peso dos interesses importantes da adega, da cozinha e da alcova". "Por isto, meu caros conselheiros, nas vossas mãos ponho eu todo este negócio; mais que os príncipes e senhores tendes para isso ocasião e oportunidade".

Os destinatários da mensagem, porém, não se deram por entendidos. Cinco anos depois (1529) deplorava Lutero que "os conselheiros em todas as cidades e em quase todos os governos deixassem perecer as escolas, como se estas fossem livres, ou eles houvessem sido exonerados do dever de zelar pela instrução".

Quão fundadas eram estas queixas depreende-se de uma carta do próprio LUTERO datada de 1525 ao Príncipe eleitor da Saxônia: Tão geral era a desordem no país que "a não se começar logo uma vigorosa organização com auxílio do governo, em breve não haveria nem paróquias nem escolas nem alunos". Em novembro do ano seguinte em outra epístola: "Aqui já não há disciplina nem temor de Deus, porque, perdido o medo ao Papa, cada qual fez o que bem lhe parece". Para a educação dos meninos pobres "faltam sacerdotes e escolas".

Com o passar dos anos, a crise da escola tornava-se cada vez mais aguda. Em 1530 o reformador levanta a voz e dirige-se a toda a Alemanha: "Uma das maiores astúcias do malvado Satanás" é enganar os homens do vulgo que não mandem os seus filhos à escola nem os apliquem aos estudos. Não havendo já esperança dos monges e das freiras e dos párocos, como até ao presente, persuadem-se que não havemos mister de nenhum homem erudito, nem de estudar muito, mas só de descansar e fazer por bem comer e enriquecer... Caros amigo, vendo que os homens do vulgo se afastam das escolas e retiram de todo os seus filhos dos estudos para os dedicarem só aos cuidados do bem viver... resolvi dirigir-vos esta exortação... Quando gemíamos sob a tirania do papado abriam-se todas as bolsas e não havia mãos a medir em dar para as igrejas e as escolas. Então podiam levar-se os filhos aos monteiros, às fundações, às igrejas e às escolas. Agora que se deveriam fundar boas escolas e igrejas, e não só fundá-las de qualquer modo mas sustentá-las depois de fundadas, cerram-se todas as bolsas com cadeados de ferro".41´

Eis as benemerências de LUTERO no ensino primário. Depois de detruir as antigas escolas católicas, disseminadas pelo território alemão em tão crescido número que só por milagre não as frequentaria uma criança, entra a fazer apelos a particulares, conselheiros e príncipes para que fundem escolas. Mas as bolsa dos particulares fecham-se com cadeados de ferro, os conselheiros e príncipes divertem-se em guerras e montarias, em torneios e banquetes. A estes clamores perdidos no vazio reduz-se toda a ação prática do reformador.

Contra esta realidade esmagadora, que monta o sediço paralogismo mais uma vez repisado pelo gramático paulista: a Reforma fez da Escritura a única regra de fé; mas para conhecer o Evangelho é necessário saber ler; logo a Reforma "contraiu a obrigação de pôr cada um no estado de se salvar pela leitura da Bíblia", p. 126. Isto é silogismo e a história consta de fatos. O que devera ou pudera ter feito a Reforma pertence ao domínio das coisas possíveis impérvias tanto a mim quanto ao Sr. C. PEREIRA; o que de fato fez, acabamos de ouvir e é o que nos interessa aos que vivemos de realidades e não de possibilidades.

Do ensino primário se alastrou o contágio da desorganização e da desordem e contaminou outrossim as formas mais elevadas da instrução. Ouçamos este grande epicédio, este concerto fúnebre entoado pelos contemporâneos sobre a morte das ciências e das letras.

CAMERÁRIO, um dos mais ardentes propagadores da Reforma, lamenta a reúna dos estudos "destes escelentes estudos que no passado constituíam o mais belo ornamento e o mais nobre recreio dos espíritos. Quem não lembra o vivo ardor pela ciência que animava a juventura dos nossos tempos? Quem ignora a consideração e a estima em que era tido o talento? As coisas, andam mal! Mudaram de aspecto. Hoje, aos estudos não há nem amor nem estima, mas aversão. Os espíritos desgarraram da luz apenas nascentes do Evangelho para mergulharem no erro e nas trevas".42

EUSÉBIO MÊNIO, professor de matemáticas em Wittemberga: "Sinto grande confusão em comparar o desleixo da nossa época (1553) com zelo e ardor pelos estudos que, no século passado, se manifestava em toda a aparte. Os homens nos instruídos envergonhavam-se então de não saber algo de matemática e de física; hoje, estas ciências são tão descuradas que, nas numerosas fielira dos estudantes, raríssimos são os que não ignoram o que outroa era familiar até aos mininos de escola".43

"Eu não sei como explicar o fato, diz por sua vez TOMÁS LÂNSIO, professor de direito em Tubinga, mas as ciências, de par com os bons costumes e autoridade política, nos abandonam e emigam para o outro mundo".44

O descaso dos estudos manifesta-se outrossim pelo desprezo aos homens de ciência. Em vez de estima pública e da proteção oficial que caracterizam as épocas policiadas e os países cultos, os sábios não encontravam nas multidões senão indiferença e sarcasmo. "Sob a antiga Igreja, diz CHRISTÓFORO PELÁGIO, professor em francofort, as coisas não corriam assim: mestres e alunos cumpriam com zelo e alegria o seu dever. Presentemente, em meio a esta raça de ciclopes e de vândalos, as artes e as boas letras caíram mais baixo não obstante o deprezo e o ódio que por cá se mostram aos estudos, ainda se encontrem na Alemanha vestígios das musas. O povo e não somente o povo mas aqueles que deviam dar bom exemplo, tratam hoje os doutos como se tratavam outrora os bobos e foliões".45 Com Pelágio afina PETRI, escrivão da cidade de Mulhouse. Não se poderá negar "que nestes últimos tempos, graças ao aperfeiçoamento da imprensa, tiveram os nossos maiores grande número de doutos, assinalados, comparáveis não só, mas superiores aos sábios da antiga Roma e Grécia; Não havia em nossa pátria cidadezinha e, por assim dizer, cantinho de terra que não possuisse alguns. Depois, porém, diminuiu singularmente a estima que então se consagrava aos cultores das musas. Que digo? Tornaram-se de tal modo alvo de aversão que se apontavam o dedo como monstros e até as crianças os perseguiram com apupos e injúrias.... Tão geral em nossos dias é este desprezo dos doutos que os próprios príncipes os afastam de seus conselhos e para os grandes cargos dão preferência aos homens de espada e aos nobres educados entre as loucas dissipações do mundo.46

Que diferença há entre os chefes da igreja evangélica e os bispos papistas? Pergunta CORDI, amigo de LUTERO e professor de medicina em Marburgo. "Nenhuma, responde, a não ser que, onde dominam os primeiros, as ciências e as letras estão em decadência: onde os bispos conservaram a influência, prosperam sob a sua proteção".47


Estes depoimentos individuais, que se poderiam multiplicar sem dificuldade, são confirmados pelos relatórios oficiais, inquéritos e provisões públicas.


Nas atas dos privilégios concedidos em 1529 à universidade de Marburgo pelo eleitor FILIPE DE HESSEN lê-se a seguinte declaração de motivos: "Considerando que as artes, as letras, as ciências e os estudos liberais, em geral, nos últimos tempos caíram em grande descrédito entre o povo ignorante e ameaçam cair mais profundamente; considerando que a aversão pública aos livros, aos estudos e aos próprios doutos é tão profunda e manifesta que, parece, nada se deseja mais ardentemente que ver o mundo livre deles; considerando que, se nos não apressamos em pôr eficaz remédio a semelhante estado de coisas, os estudos se vêem ameaçados, para breve, de total ruína, etc., etc."48

Os inspetores encarregados em 1573 de visitar as igrejas e escolas da Saxônia assim se exprimem no seu relatório: "De todos os males que afligem a nossa sociedade e ameaçam a Igreja e o Estado de próxima queda, o mais deplorável é talvez o mau estado das escolas inferiores nas cidades e a falta de zelo pela religião e pela ciência quer em professores e estudantes de dia para dia sempre mais se observa".49

Em Hasse a fúria dos pregadores evangélicos havia destuído todas as escolas. Vinte anos mais tarde, o conselho da cidade de Cassel, num memória ao Eleitor, declarava que "a burguesia de há muito estava queixosa porque os meninos, depois de frequentar por vários anos a única escola da cidade, não conheciam ainda as declinações e conjugações e nem ler bem sabiam". Com o tempo agravou-se este estado de coisas e em 1635 reconhecia o governo que "se não se dessem pressa em remediar os males que dele haviam resultado, toda a sociedade corria risco de cair na desordem, no embrutecimento e na barbárie".50

Modernamente, PAULSEN não faz senão resumir a impressão geral que se desprende dos fatos e documentos da época, quando escreve que, no fim do séculço XVIII, isto é, depois dos dois séculos imediatos à implantação da Reforma, "as universidades alemãs caíram no mais baixo estado que ainda se viu, na estima pública e na influência sobre a vida esperitual do povo alemão".51

Fora da Alemanha, o protestantismno frutificou por toda a parte a mesma ignorância. Citemos de carreira para não incorrermos em demasias fastidiosas.

Na Inglaterra, declarava em 1563 o Speaker da Câmara baixa: em consequência das rapinas e saques das fundações, ficou frustrada a educação da juventura e cortados os estipêndios dos professores. Atualmente existem menos 110 escolas que outrora e as restantes são mal frequentadas. Por isso observa-se uma surpreendente diminuição de homens instruídos.52 Nas duas universidades de Oxford e Cambridge, os numerosos colégios fundados nos tempos católicos, era na sua maioria, propriamente destinados aos pobres. Com a Reforma foram aristocratizados. Mais tarde fundaram-se novas escolas superiores, mas os pobres foram sistematicamente escluídos.

Ouvimos, há pouco, os lamentos pela falta de homens cultos. Esta inferioridade intelectual pesou por quase dois séculos sobre a Inglaterra. Fale um autor insuspeito, que organizou uma estatística interessante dos tempos em que a Grã-Bretanha jazia num "oceano de protestânticos resplendores". "O período é de 1600 a 1787, escreve W. COBBETT, período em que a França jazia sob o tenebroso despotismo da Igreja católica, como exprime o jovem Jorge Rosa ou sob a ignorância e superstição monacal, na frase de Blackstone, enquanto estas ilhas [Inglaterra, Escócia e Irlanda] nadavam num mar de luzes irradiadfas por Lutero, Crammer e seus sectários. Eis sem mais o quadro:


53.
Na França. o protestantismo nunca chegou a prevalecer; ainda assim a sua primeira irrupção foi assinalada por uma desorganização no ensino. "L'introduction du protestantisme en France eut une première conséquence, cele de retarder notablement la restauration de l'ensignement primaire en paralysant les efforts de l'Eglise et en annulant pour un temps les effets de l'invention de l'imprimerie".54 DE GEAUREPAIRE aponta=nos a causa dest decadência da instrução popular: "L'ensignement popuaire était g´néralement confié aux ecclésistiques et aux clercs qui aspiraient a le devenir; il était assem ordinairemente mis à la charge des fabriques e6t partout el était prcé sous la suveillance du clergé. Il est donc aisé de concevoir combien les écoles durent souffrer des attaques dirigées par ceux de la religion nouvelle contre de culte catholique".55

Na Suíça, da Universidade de Basiléia escrevia ECOMPÁDIO em 1529: "Quase todas as escolas foram fechadas, e nas que até aqui eram frequentadas por muitos alunos, vêm-se ao presente pouquíssimos, como se estivéramos em tempo de peste; assim foram as coisas e úteis evnvolvidas com as inúteis no desprezo geral".56 Poucos anos depois, outro pedagogo suíço assim frisava a incapacidade pedagógica e organizadora da Reforma: "SDe quisermos levantar as escolar que até aqui tão deplorável e diabolicamente foram destuídas, dispersas e devastadas, devemos de novo restituir os oífiocs eclesiásticos à sua natural dignidade".57

Na Dinamarca, as escolas decaíram a tal ponto que numa circular dirigida em 1594 pelo senado aos bispos (protestantes) do reino se comunicavam várias instruções para impedir a ruína geral dos estudos que não se podia negar ser iminente.

Na Suécia mesmos danos, mesmo influência perniciosa. Em duas epístolas dirigidas em 1533 e 1540 pelo rei à nação lemos o tópico seguinte: "Estamos convencidos e vos informamos que as escolas nas cidades do reino se acham em deplorável estado de decadência. Onde outrora havia trezentos estudantes não há hoje mais de cinquenta. Grande número de paróquias existe, em que as escolas se acham completamente desertas, o que não pode deixar de causar imensos prejuízos ao reino".58

O autor citado acaba de indicar-nos outra via por onde facilmente podemos julgar da decadência introduzida pela Reforma nos institutos superiores de ensino: o exame dos registros de matrícula. Ao unânime testemunho dos contemporâneos acrescentemos a aridez eloquente dos algarismos.

A universidade de Colônia, que no fim da idade média era a mais célebre das universidades renanas e chegara a contar cerca de 2.000 estudantes, com a revolução político-religiosa entrou rapidamente a decair de sua antiga grandeza. Em 1521 só se acham inscritos 251 alunos, em 1527, 72 e em 1534 apenas 54!

Eufurt era outro centro intelectual que desempenhara importantíssimo papel na evolução espiritual da Alemanha. Consultemos-lhe as matrículas. Em 1520, encontramos 311 estudantes; no ano seguinte esse número baixa a 120, em 1522 a 72, para conservar-se até 1527 abaixo de 14. "Todos os estudos científicos jazem por terra, escrevia HENRIQUE HERBEROLD, reitor da Universidade, as honras acadêmicas são desprezadas, na juventude estudiosa desapareceu todo o pudor". O próprio LUTERO, lembrando-se dos tempos de sua juventude, quando estudava em Erfurt, confessava mais tarde: "Tal era outrora a consideração e a fama de Universidade de Erfurt que, em seu cofronto, todas as outras não passavam de pequenas escolas; hoje, desapareceu toda essa glória e majestade; a Universidade está inteiramente morta". 59

Em Leipzig, a matrícula atingia nos anos de 1507-1510 a elevada cifra de 1948 estudantes; em 1517-1510 desde a 1.445; em 1527-1530 a 419; em 1537-1540 a 686, número esse desconhecido nos anais da Universidade havia mais de um século.

Em Rostock a inscrição de novos estudantes é também índice da decadência. Em 1524 inscrevem-se apenas 44 estudantes, em 1525, 15 e nos anos seguinte apenas 8!

A universidade de Wittemberga, quartel-general do reformador, contava na primeira metade do século XVI cerca de 3.000 estudantes; em 1598 eram apenas 2.000, e em 1613, 786.

Mesma decadência em Inglostadt e Francoforte. Compreende-se agora o juízo severo de R. WORTHER, teólogo suíço, que visitou os institutos superiores de ensino da Alemanha e, em 1568, escreveu as suas impressões: "As universidades alemãs acham-se ao presente em tal estado, que, fora a ignorância e negligência dos professores e a despudorada imoralidade que nelas reina, nada há digno de atenção.60

À vista de todos estes documentos, nenhum leitor sensato poderá ainda duvidar da causa deste descalabro geral dos estudos nos países reformados. A indisciplina e desregramento de costumes em professores e alunos foram a causa imediata, a pregação dos reformadores que assoalhavam uma doutrina imoral e desprestigiavam a ciência, a causa remato. Tal é a lição que se desprende espontânea do exame dos depoimentos contemporâneos.

A corrupção de costumes na juventude, a impaciência de disciplina não se conciliam com a aplicação ao estudo e o amor desinteressado da ciência. Colégios e universidades se haviam convertido em focos de dissolução. Na própria Saxônia, a Universidade de Wittemberga, onde dogmatizava LUTERO, era tida como sentina [Foco de vícios e de torpezas] pestilencial (Faetudan ckican duabiku) e dizia-se às mães que melhor fora apunhalar os próprios filhos que mandá-los lá a estudos.

Num discurso à Universidade, dia MELANCHTHON em 1527: "Quando considero como decaiu o pudor e domina a insolência, aperta-se-me de dor o coração. Nunca se mostrou a juventude tão petulante contra as leis. Agora só quer viver segundo o capricho, não se submete a ninguém, surda à palavra de Deus e às leis". Quatro anos mais tarde, num exortação aos estudantes: "Não é vontade de Deus que vos ajunteis aqui como uma multidão de ébrios para bacanais ou como centauros para bródios [festim de comes e bebes]".61

JOAQUIM CAMERÁRIO, outro protagonista da Reforma, escrevia em 1536 que muitas vezes lhe tinha assaltado a dúvida "se não que só parecem destinados a asilos de pecados e de vícios; quisera falar contigo de viva voz sobre essas coisas, porque não são destituídas de fundamentos as queixas" E lembrando-se dos tempos de sua juventude escrevia ainda o célebre filólogo alemão em 1535: "A educação e a vida são hoje muito diferentes do que na nossa puerícia"; e em 1561: "entibiou o fervor dos estudos: já não há quem deles se ocupe com seriedade; correm todos temerariamente aos empregos públicos e tudo se governa e administra de tal jeito que os espíritos reflexivos não podem deixar de temer a ruína iminente das instituições liberais e dos estudos de erudição".62

GLAREANO, professor da universidade de Friburgo, em carta de 21 de janeiro de 1550 ao amigo Egígio Tschudi queixava-se: "A juventude de hoje é tão pervertida que se assemelha à dos tempos de Sodoma e Gomorra. Embiraguez, infidelidade, irreverência aos santos e desprezo de Deus apoderaram-se de todos os espíritos". Tres anos mais tarde ao mesmo amigo: "O temor de Deus desapareceu da Alemanha; a gente tem a palavra de Deus nos lábios e Satanás no coração".63

Em Thorn o colégio dos professores assim informava o conselho da cidade em 1588: "Não é mister descrever por miúdo os males de que adoecem as escolas; são patentes a todos. A vida viciosa e o desaparecimento completo do pudor doméstico são a fonte de todos os outros males".64

Não exagerava LUTERO, quando em carta ao príncipe Jorge de Anhalt dizia: "Vivemos em Sodoma e Gomorra; de dia para dia tudo vai de mal a pior".65 Sodoma e Gomorra é de fato a comparação que ocorre mais frequente na pena dos contemporâneos para descrever o dilúvio de corrupção que alagava o país e no qual afundava principalmente a juventude escolar.

Mas o exemplo vinha de cima. Se os estudantes eram devassos e indisciplinados, os professores não eram menos negligentes nos seus deveres profissionais.

De Rostock escrevia JOÃO CULMANN em 1555: "impossível fazer a visita de todo o Mecklemburgo; os professores estão, quase todos, ausentes; aqui há apenas 100 estudantes e estes ameaçam também se dispersar".66

Passa-se meio século e Rostock não melhora. É de 1604 esta informação de PEDRO FABRICIUS ao seu amigo Jorge Calixto: "Não pode haver maior indolência do que a que domina aqui em todas as faculdades. Professores há que há três anos têm esse título e ainda não fizeram uma só preleção e nem mesmo puseram os pés numa aula".67 Em 1584 o duque GUILHERME V visitou pessoalmente a universidade de Ingolstadt. Depois de lembrar quanto fizera para elevar o nível do estabelecimento, deplora que todos os seus esforços "na maior parte dos professores não tenha produzido resultado algum; não só não melhoravam, mas eram agora mais descuidados e negligentes que em nenhuma outra época".68


Sobre a pregação das novas doutrinas pesa, em última análise, a responsahiblidade desta deplorável decadência da instrução. Nasveghando na esteira sulcada por LUTERO, muitos de nosos apóstolos iniciaram uma verdadeira campanha contra as escolas. Eram fundações católicas; bastava para se tornarem alvo dos seus ódios e assaltos. Em Vittemberga, berço do protestantismo, os protestantes GEORGE MOHN e GABIEL DÍDIMO proclamaram do alto do púlpito que o estudo das ciências era inútil e até pernicioso; que não se podia fazer ação mais meritório que destyuir escolas e academias. Resultado; a escola da cidade transformou-se em padaria.69

Em Basiléia, GLAREANO fazia observação análoga: "Muitíssimos pregadores se esforçaram ostensivamente por implantar sobre as ruínas da Igreja e a ciência uma espécie de oclocracia [Sistema de governo em que predominam as classes populares] ou domínio da plebe ignorante, sob a direção de predicantes demagogos. Também aí se professava que o estudo do latim e do grego era inútil e até nocivo ao cristão. Os mestres de boas letras eram acusados ao povo como fautores de paganismo e de tendências pagãs.71

Em Brandeburgo, o margrave, depois de deplorar a ruína dos estudos e a volta à antiga barbárie, publicava uma ordenação contra os pastores, responsabilizando-os do presente estado de coisas, porque "descreditaram a ciência e impeliram a juventude a dar-se às profissões manuais".72 "Apenas, diz URBANO RÉGIO, ouviram muitos que o cristão é imediatamente instruído e iluminado por Deus, entraram a considerar o saber como inútil. Daí a persuasão de alguns que, quanto mais ignorantes, maiores títulos julgam possuir aos dons do Espírito Santo".73

Agora, o contraste. Enquanto a Reforma assim envolvia a Alemanha nas sombras de um pavoroso eclipse, a Igreja organizava uma cruzada de luz para salvar a civilização européia ameaçada. As ordens religiosas, que, nos planos da Providência, surgem sempre para ocorrer às exigências da Igreja, puseram logo ao seu serviço legiões e legiões de sábios e educadores. Teatinos, barbanitas, oratorianos, somascos, lazaristas, irmãos da Doutrina cristã, beneditinos reformados e jesuítas desceram a campo para salvar pela instrução e pela fé as almas seduzidas pela ignorância e pela heresia. Não entraremos aqui em pormenores sobre a ação civilizadora dos novos apóstolos. Diremos somente que em menos de 50 anos os jesuítas haviam coberto de colégios os territórios assolados pela protestantismo. Colônia (1544), Treviri (1561), Mogúncia (2581), Augsburgo (1582), Dilinga (1563), Heiligenstadt (1575), Coblença [imagem à direita] (1282), Panderbon (1585), Würsburgo (1588), Münster e Salisburgo (1588), Bamberg (1595), Antuérpia, Praga e Posen possuím os mais célebres dos seus estabelecimentos de ensino.

A elevada frequência, que para logo atingiram esses colégios, é prova evidente do zelo da nova ordem pela difusão do ensino e da excelência dos seus métodos pedagógicos. Em Colônia, onde se ensinava não só o latim e o grego, mas ainda as matemáticas e a astronomia, havia, em 1558, 500 externos e 60 internos. Vinte anos mais tarde o número dos cursos no ginásio foi elevado a 7 e a matrícula subiu a 840. Em 1581, entre internos e externos, havia mais de 1.000 alunos. Neste mesmo ano Coblença e Heiligenstadt contavam cerca de 200 estudantes, Mogúncia 700 e Trier 1.000. Em 1588, a escola catedral de Münster na Westfália [fig.à direita] passou às mãos dos novos educadores. Aí começaram a ensinar a 300 alunos; dois anos depois eram 900, em 1592, 1.100 e, pouco antes da guerra dos trinta anos, 1.300. Na Baviera, sobressaíam, entre outros, os colégios de Paderborn, Augsburgo e Munique. O primeiro, que era o ginásio da cidade, foi confiado aos jesuítas em 1585 com 140 alunos, que no fim do mesmo ano já eram 300, e no ano seguinte 400. O ginásio desenvolveu-se tão rapidamente que, em 1614, foi elevado à categoria de Universidade (mas sem faculdade médica). O colégio aberto em Augsburgo em 1582, sete anos depois foi elevado a liceu, atingindo logo uma frequência média de 500 a 600 estudantes. O progresso não foi menos rápido em Munique: nos primeiros anos a frequência oscilou entre 300 e 500; em 1587 subiu a 600, em 1589 a 800 e em 1600 a mais de 900.

Em todos estes estabelecimentos de ensino floresciam os bons costumes, vigorava a disciplina e medravam as boas letras. âo serei eu que o há de dizer. A palavra aos protestantes contemporâneos. Em 1581, ANDRÉ DUDITH escrevia de Breslau a um amigo: "Não me admiro ao ouvir que todos afluem aos colégios dos jesuítas. Possuem um saber variado, são eloquentes, ensinam, pregam, escrevem, disputam, dão à juventude instrução gratuita e com um zelo incansável; sobretudo, recomendam-se pela modéstia e vida moral incontaminada".74 Alguns anos mais tarde, o célebre H. GRÓCIO, lançando um olhar retrospectivo sobre a atividade pedagógica dos filhos de S. Inácio, assim se exprimia: "Os jesuítas são tidos em grande consideração no mundo pela santidade da vida e plo êxito com que instruem a mocidade nas velas letras. Em 100 anos, desde sua fundação, a Companhia produziu mais homens célebres em todos os ramos do saber e eminentes na pureza da vida que nenhum outra sociedade".75

Típico, porém, sobre todos é o testemunho de NATHAN CHYTRAEUS. Investigando as causas da decadância dos estudos entre os "evangélicos", assim se exprimia o célebre professor de Rostock, num oração fúnebre pronunciada em 1578: "Confesso que me detive ante a opinião dos que atribuem este triste estado de coisas aos decretos da Providência. Mas semelhante suposição é evidentemente uma impiedade, como aliás o demonstra suficientemente a prosperidade de algumas outras escolas em que vigem todas as boas usanças que asseguram a ordem e a discipina. De fato, porque motivo poderiam os colégios dos jesuítas, não obhstante as distâncias que os separam, assinar-se pela boa ordem, pela disciplina, pelo zelo de todos os cumprimentos dos próprios deveres, se o mau estado das nossas universidades fosse realmente efeito da vontade divina? E por que não poderemos nós, que caminhamos à viva luz do Evangelho, fazer o que fazem os jesuítas que ainda vivem nas trevas?" 76 Não nos é possível negar que somos responsáveis pelos males que nos afligem. Comparai o que se vê hoje com o zelo e ardor para o bem que animavam os nossos antigos predecessores. Quem poderia ler sem admiração estes estatuos em que ainda respira a sua sabedoria? etc., etc." 77


Se dos estudos literários e científicos passarmos à cultura das belas artes, facilmente verificaremos que neste campo foram ainda mais profundas as devastações da Reforma. O protestantismo não compreendeu o pensamento sublime da Igreja de pôr ao serviço da religião o que de mais fino e delicado produziu o espírito humano no domínio do belo. O templo católico é o santuário da beleza. A arquitetura, a escultura, a pintura, a decoração, a música, a eloqûência aí se estreitam na mais harmoniosa aliança para elevar a alma do crente a união com Deus que é eterna Verdade e Beleza eterna.

Estéreis como a revolta e áridos como o erro, os filhos de LUTERO não encontraram no coração gelado e ressequido pelo ódio a fibra humana, que vibrasse em uníssono com estas harmonias divinas da criação. O primeiro grito dos que protestaram foi um grito contra a arte; seus primeiros atos, atos de vandalismo atroz. Precipitaram-se sobre os nossos monumentos religiosos, os nossos altares, as nossas estátuas e arrasaram tudo: "Imbuída do espírito do seu fundador, monge invejoso e bárbaro, diz CHATEAUBRIAND, a Reforma declarou-se aberta inimiga das artes. Riscando, por assim dizer, a imaginação das faculdades humanas, cortou as asas ao gênio e tornou-se pedestre... Se a Reforma ao nascer fosse coroada de pleno êxito, teria determinado, ao menos por certo tempo, um regresso à barbárie".78

É realmente incalculável o dano causado às belas-artes pelos discípulos do grande apóstata."Os prejuízos em ouro e prata produzidos pelas suas pilhagens, escreve PRESCOTT, podem ser avaliados. As construções tão cruelmente mutiladas puderam ser retocadas pelo cinzel do arquiteto. Mas quem poderá calcular a perda irreparável ocasionada pelo destuições do manuscritos, estátuas e pinturas? É um fato doloroso que os primeiros esforços dos refomados fossem em toda a parte dirigidos contra este monumentos dos gênios, que haviam sido elevados e mantidos afetuosamente pelo patrocínio do catolicismo".79 "Os Países-Baixos possuíam um número extraordinário de igrejas e mosteiros. A sua fina arquitetura e as suas bem trabalhadas decorações eram o sinal precoce do desenvolvimento intelectual nestas regiões. Tudo o que inventara a ciência e criara a arte, tudo o que produzira a mecânica, e prodigalizara a riqueza, havia sido recolhido nestes templos magníficos. Ora, no espaço de sete dias e sete noites, desencadeou-se o terrível ciclone que destruiu todos estes tesouros... As artes por toda a parte deploram os seus despojos... Apenas uma ou outra estátua e pintura escaparam à ruína. O número de igrejas profanadas pelas turbas de calvinistas fanáticos nunca pôde ser contado. Na só província de Flandres foram saqueados 400!"80

Eis as benemerências da Reforma no culto das artes.



A causa está julgada. Não declamamos. Fomos fiéis ao nosso programa: reconstruir a história em toda a singeleza de sua verdade, lembrando fatos incontestáveis e citando documentos que não admitem réplica. Quase sempre cedemos a palavra a testemunhas insuspeitas. A conclusão que se impõe a todos espíritos desapaixonados é a que expressou CARLOS VILLERS, aliás advogado ardente da Reforma: "Somos constrangidos a convir que depois da irrupção dos povos do Norte sobre o império de Roma, nenhum acontecimento causou à Europa estragos tão longos e tão universais como a guerra acesa ao fogo da Reforma. Sob este aspecto é infelizmente verdadeiro que ela retardou o progresso da cultura geral".81

A época era para grande vôos na senda do progresso. A florescência das universidades, a invenção da imprensa, a emulação dos doutos, as novas descobertas científicas, os tesouros acumulados por tantas gerações de investigadores e filósofos, a renascença da literatura clássica, tudo preparava para a cristandade uma época de luzes e de glórias. A explosão da revolta religiosa sufocou o grande movimento nascente e envolveu a Europa setentrional num manto de trevas e de sangue. Enquanto as nações que a abraçaram e promoveram, mergulhavam por quase dois séculos na ignorância,82 a Igreja coroava o seu trabalho multissecular nos países que lhe ficaram fiéis ou que cedo rejeitaram o veneno dos inovadores. A Itália produzia o séculos de Leão X, a Espanha e de Carlos V, a França e do Luís XIV.

Concluamos com BALMES: "A inteligência, o coração e a fantasia não devem coisa alguma à Reforma: antes que ela nascesse já essas faculdades se desenvolviam vigorosas; depois de nascido continuaram no seio do catolicismo com o esplendor e a glória de outrora. Homens ilustres, ornados com a auréola com que se cingiram a fronte, aplaudidos pro todos os povos cultos, campeiam nas fileiras católicas. Caluniou quem disse que a nossa religião tende a pear e entenebrecer a intaligência. Não; é impossível; filha da luz, não pode produzir trevas: feitura da própria verdade, não precisa fugir os raios do sol e abater-se nas entranhas da terra, mas pode caminhar à claridade do dia, afrontgar a discussão, congregar em redor de si os espíritos na certeza de lhes aparecer tanto mais pura, tanto mais bela, tanto mais admirável, quanto mais atentos e mais de perto a contemplarem".83

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25. Dificilmente ao leitor brasileiro será dado ter à mão estes documentos contemporâneos da origem da Reforma e que constituem os preciosos cim´´elios das bibliotecas da velha Europa. Poderá, porém, consultá-los nas obras clássicas de DOELLINGER, DENIFLE, JANSSEN e GRISAR que citaremos em bibliografia no fim deste capítulo e do seguinte.

26. Erl. XLV, 336; XIVII; LI, 400.

27. Walch. X, 1598. Cfr. DENIFLE, Luther und Luthertum I(2), 6538 sgs. DOELLINGER, Die Refomation, I(2), 481.

28. Sobre a teoria das duas verdades em Lutero cfr. E. ZELER, Geschichte der deutshen Fhilosophie. München, 1873, p. 29. STOECKEL, Geschichte der Philosophie des Mittelalters, Mainz, III, 512, ss.; Ver not precedente.

29. Erl. XLIV, 156 ss.; Luther's ungedr. Predigten heraugegeben von Brtunms, p. 106.


30. "Fides rationem mactat et occidit illam bestiam quam totus mundus et omnes creaturae occidere no possunt... Sic omnes pif... mortificant rationem, dicentes: Tu ratio, stuta es, non supis quae Dei sunt, itaque ne obstrelpas mihi, sed tace non judica, sed audi verbum Dei et crede. Ita pii fidem mactant bestiam maiorem mundo, atque per hoc Deo gratissimum sacrificium et cultum exhibent". Weimar, XL, Iabt., 362.

31. Erl. XLIV, 156, ss.

32. Aí vai velado nas obscuridades do alemão o texto íntegro: "des Teufeis Braut, Racio, die schöne Metze, eine verfluchte Hure, eine schaebige aussaetzige Hure, die Hoechste Hure des Teufels, die man, auf dass sie hässlich werde, einen Dreck in's Angesicht werfen solle, auf das heimlich Gemach solle sie sich trollen, die Verfluchte Hure, mil ihrem Dunkel, usw" Erl. XVI, 142-148. DOELLINGER, I(2), p. 480; DENIFLE I(2), 639. Erl XX, p.479. Quase todas as palavras que começam por maiúscula são palavras infames.
Ver outros impropérios contra a razão no Comment. in epist. ad Galatas, III, 6, Ed. Irmischer, I. 331. Ed. Weimar XL, 1 abt: a razão é "atrocissimus Dei hostis", p. 363, fons fontium omnium malorum!, p. 365.

33. DE WETTE, I, 15.

34. Weimar, VIII, 127.

35. Walch, XIX, 1430.


36. Walch, XII, 45

37. Walch, XI, 459, 599. As três últimas citações apud DEOLLINGER, Die Refomation, I(2), 475-77.

38. PAULSEN, Philosophia militans (3), Berlim, 1908, pp. 35-39. Enquanto permaneceu fiel às doutrinas de Lutero e Calvino, a igreja protestante não teve poesia, nem história, nem filosopia. Sim, certamente, enquanto as comunidades protestantes foram luteranas não tiveram filosofia e quando acolheram uma filosofia cessaram de ser luteranas. Tanto foge a sua fé da filosofia e a sua filosofia da fé". MOEHLER, Gesammelle Schriften und Aufsaelze, Regensburg, 1839-40, I, 260. Desta filosofia antiintelectualista nasceu uma tendência hostil às conquistas científicas já realizadas. "A Reforma sepultou injusta e odiosamente muitos conhecimentos de que estavam de posse os seus contemporâneos, tornando-se assim responsável das crise posterior do protestntismo". A. HARNACK, Lehrbuch der Dogmengeschichte, III(4), Tübingen, 1910, p. 871.

39. Carta de Basiléia a W. Pirkheimer, 1528, Opera, Ed. Clericus, Lugduni Batavorum, 1702-1706, III, col. 1139. Cfr. DOELLINGER, Die Reformation, I, 470-71.

40. Note-se: por obra do demônio e dos frades havia tantas escolas e tão frequentadas que era necessário um milgre de Deus para que um menino não recebesse instrução. E o Sr. Carlos Pereira a escrever: "O analfabetismo é a vida cancerosa da Igreja Romana"! p. 126.

41. Os trechos citados e muitos outros não menos expressivos podem ler-se em JANSSEN, Geschichte des deutschen Volkes, t. VII (13-14), p. 16, Freiburg, i. Br. 1904. Nas obras de Lutero, o manifesto "An die Ratherren aller Staedte deuschen Landes, dass sic christliche Schulen aufrichten und halten sollen" acha-se, na ediç. Weimar no 6. XV. 27-53; o sermão de 1530 "dass man Kinder zur Schule halten soll", Weimar, 12 Abt., pp. 517-588.

42. CAMERARIL, Praecerpta morum et vitae, Lipciae, 1555, p. 1-5.

43. EUSEBII MENII, Otatio de vitas jac. Milichii, Witembergae, 1562, B.

44. LANSII, Mantissa Constitutionum, p. 68.

45. CHRIST. PELAGH, Pleias orationum sacrarum, 1618, N. 2 b. - O. 2 b.

46. JAKOB HEIRICH PETRI, Der Stadt Müthausen Geschchten, Mulausen, 1838, p. 494.

47. Quanto Evangelici ditent discrimine dicam
..................Papistis ab episcopis?
.......Non faz est, nisi quado, rerum potentibus illis
..................Bonae cadant jam literae,
.......Quarum magna sub his tamen emolumenta fuerunt
..................Dignumque juxta praemium.

EURICI CORDI, Opera Poetica, s. l. etc. a. f. 109, 278.

48. ROMMEL'S Philipp der Grossmütthige, Landgraf von Hessen, III, p. 348.

49. STROBAND, Instituto literata, III, 328.

50. CARR FRID. WEBER, Teschichte der staedtichen Gelehrtensuschule zu Cassel, von 722-1599, Cassel, 1843, p. 17; von 1599-1709, Cassel, 1844, p. 61.

51. PAULSEN, Die deutschen Universitaeten und das Univsitaetsstudium, Berlin, 1902, pp. 49-50.

52. COLLIER'S, Eccles. History of Grat Britain, II, 480 e HALLAM, Introduction to the literature of Europe, Paris, II, 39, cit. por DOELLINGER, Kirche und Kirchen, p. 209.

53. WILLIAM COBBETT, The protestant Refomation, letter I. Ver aí expostos os critérios objetivos que serviram de norma ao autor na organização do quadro acima.

54. ALLAIN, L'instruction primaire en France avant la révolution, p. 44. Cit por A. PAQUET, L'Église et l'éducation, etc., Québec, 1909, P. 93.

55. Cit. por L. A. PAQUET, ibid.

56. THOMMEN, Geschichte der Universitaet Basel, 1532-1632, Basel, 1889, p. 305.

57. CONRADO CLAUSER, De education puerorum, a544, p. 94. J. B. GFALIFFE assim resume a ação de CALVINO sobre o progfresso clientífico: "Genève comprimée et sterilisée par son depotisme, n'a produit pendant des siècles que des théologiens... Biern loin d'avoir accéleré - e da marche de son siècle, il le cloua se firmement à lui, qu'il resta stationaire pendant plus de 100 ans et ne put se remettre en mouvement qu'avec une peine et une lenteur inouies. Ja crois avoir étudié h'histoire aussi profundément et auseei consicencieusement que qui que ce soit, e très certainement je ne suis sous l'influence d1aucune partialité personelle". J. B. GALIFFE, Notices généalogiques, etc., III, 107-08.


58. S. THYSELIUS, Unkuden z. Schwed. Ref. - Gesch, unter Gustav I Wasa no Zeityschrift fuer hist. Theologie, de Niedner, 1847, pp. 226 ss., 244.

59. Erl. LXII, 187.

60. Ms. Bibl. Monac., n. 175. DOELLINGER, Die Reformation, I(2), 509.

61. Corpus Reformatorum, X, 934, 939.

62. Cfr. estas e outras citações de CAMERARIUS apud DOELLINGER, Die Reformation, I(2_. 524. 528; LUTERO também confessa a diferença dos tempos de sua juventude: "quando eu era menino, escrevia ele, corria pelas escolas o provérvio: non minus est negligere scholarem quam corrumpere virginem... e este era então o pecado que se julgava mais grave". Weimar, XV, 33.

63. SCHREIBER, Henrich Lorit Glareanus, seine Freunde und seine Zeit, Freiburg i. B., 1837, pp. 89-90.

64. STROBAND, Instiltutio literata, III, praef. 3, a 3, d. 4. b.

65. DE WETTE, V, 615.

66. GOERGES, Lukas Lossius em Schulmann des 16 Jahhunderts, Lüneburg, 1884, 10 A. 2.

67. C. L. TH. HENKE, Georg Kalixtus und seine Zeit, Halle, 1853, I. 86, p. 2.

68. PRANTL, Geschichte der Ludwig-Maximilians- Universitat in Ingolstadt, Landshut und München, Müchenm, 1872, II, 320-21.

69. Epístola de Torgaviensibus Antistibus, Wittembergae, 1744, p. 16.

70. WINER, De facultatis evangelicae in Universitate Lipsiae originibus, Lipseae, 1839, 23.

71. Ap. DOELLINGER, Die Refomation, 6. I (2), pp. 472-3.

72. Relighionsakta, 6. XI, N. 64, 66.

73. URBANI REGH, Formulae quaedam caule loquendi, Regiomaonti, 1672, p. 13.

74. SUDHOFF, C. Olivianus und L. Ursinus, Elberfeld, 1857, 504-5.

75. Cit. na obra Die Jesuiten nach dem Zeugnisse berühmter männer, Regenburg, 1891, p. 242. O gramático brasileiro, porém, vê mais longe. Para ele: "os colégios dos jesuítas são o estímulo intelectual e moral da juventurde". Que quer? São modos de ver.

76. Já dizia Isaias: Ponentes tenebras lucem et lucem tenebras. v. 20.

77. Memorae philosophorum, oratorum, etc., ed. Rollius, I, pp. 106-115, 140.

78. CHATEUBRIAND, Etudes historiques sur la chute de l"Empire Romain et la naissanche et progrès du Chstianisme. Ver toda esta página citada por BALMES, El protestantismo, c. 72.

79. W. H. PRESCOTT, History of the Reign of Fhilip the Second, Leipzig, 1857, t. , p. 30-31.

80. MOTLEY, History of lhe Rise of the Dutch Republic, t. I, c. 7.

81. CHARLES VILLERS, Essai sur l1espret de la Réforme de Luther(5), Paris, 1851, p. 227.

82. Por onde se vê que o progresso científico da Alemanha moderna nada tem que ver com o protestantismo. As ciências florescem hoje na Alemanha, como na França ou no Japão: por impulso geral da civilização contemporânea, fruto da semeadura feita pela Igreja católica nos séculos passados e transplantado até às regiões pagãs. Na história da cultura científica, à Reforma só cabe o papel inglório de haver retardado o momento atual.

83. BALMES, El protestantismo comparado com el catholicismo, c. 72.

Bibliografia. Sobre a decadência intelectual produzida pela Reforma cfr. DOELLINGER, Kirche und Kerchen, München, 1861, p. 209 ss.; JANSSEN, Geschichte des deutschen Volkes, Freiburg i. B., Herder, 1897, t. VII(13-14); AUGUSTE NICOLAS, Du protestantisme de toutes les héresies dans leur rapport avec le socialisme, l. III, c. 3; DOELLINGER, Die Reformation, ihre innere Entwichelung und ihre Wikungen, 3 vols. Regensburg, 1846-48, 6. I, 408-582;ZAHN, Science catholique et savant catholiques, trad. do inglês por J. Flageolet, Paris, Lethielleux, 1895, 1. 4, c. 2, pp. 249-285; L. A. PAQUET, L'Eglise et l'Education à la lumière de l'hsitoire et des principes chrétiens, Québec, 1909, c. IX, PP. 79-97.

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