quarta-feira, 30 de junho de 2010

Civilização Cristã Tocêntrica x civilização moderna e pagã antropocêntrica.


Um pequeno artigo para edificação. Esquemático demais, e resumidíssimo, mas útil.

Em Cristo Senhor Nosso,

Luiz de Carvalho.

por J. Michel.


Abordamos neste texto um tema de história, ou mais exatamente, de filosofia da história. Para bem delimitá-lo, é-nos necessário mencionar alguns dados filosóficos, mesmo teológicos, concernentes ao Homem.

A civilização cristã e a civilização moderna têm duas concepções diametralmente opostas do fim último do homem.

“O objetivo de todo homem é ser feliz”, diz Bossuet. Ora, se a felicidade encontra-se em Deus criador e mestre de todas as coisas, é do livre-arbítrio de cada homem escolhê-lO e encontrá-lO... Desde o pecado original, a humanidade está desviada de seu caminho original, o que fá-la ter o fim em si própria. (cf. as diversas civilizações antigas...) Por isso, o Salvador incarnou-Se para novamente mostrar aos homens a via salvífica da verdadeira felicidade. O amor ao próximo, mesmo de seus inimigos, o perdão, em suma, as oito beatitudes que transformam as idéias recebidas até ali. A Igreja perpetua e propaga estas verdades pela face da terra.

Do século I até ao XIII, os povos dilataram em sabedoria e em ciência diante de Deus, gradativamente à aplicação dos princípios evangélicos na sociedade. Claro, houve quando em vez derrocadas e mesmo recuos consideráveis, porém a Lei, a Regra de referência que os homens consultavam desde o fim de sua errância era o Evangelho de Cristo-Rei.

Antes de prosseguir, descrevamos rapidamente em que ponto se encontrava a Civilização Cristã: “À medida que o espírito cristão penetrava as almas e os povos, almas e povos cresceram em luz e bem. Os corações tornavam-se mais puros, os espíritos mais inteligentes. Os inteligentes e os puros introduziam na sociedade uma ordem mais harmoniosa. A ordem mais perfeita ocasionava a paz geral e profunda; a paz e a ordem engendravam a prosperidade, e todas estas coisas davam azo às artes e às ciências, reflexos da claridade e da beleza dos céus.” (Mgs. Delassus) Não é esta a expressão do Evangelho: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas estas coisas vos serão dadas em acréscimo”?

A obra da Idade Média foi reformar a sociedade antiga, fazendo triunfar a idéia que Jesus Cristo oferecia a verdadeira civilização. Para chegar nesse ponto, dedica-se a reformar o coração do homem; logo, veio a reforma da família; depois o conjunto das famílias reforma o estado e a sociedade.

Tal ascensão das nações à perfeição teve seu ápice no século XIII, com São Luís de França e Santa Elisabete da Hungria, São Francisco de Assis, Santo Domingos e Santo Tomás de Aquino. Contudo, no final do século XIII manifesta-se certo recuo, o qual devia levar, após o período tenebroso do século XV (Guerra dos Cem Anos, pestes...) à Renascença, depois à Reforma e à Revolução. Estas etapas progressivas edificaram os diferentes aspectos da civilização moderna.

Esta, para destruir a cristandade, seguirá o caminho exatamente inverso do seguido para sua edificação: primeiramente, os ataques serão contra o Estado, depois contra a família e logo contra o individuo... Satã não é “o macaco de Deus”, que revira toda a simbólica do plano divino? O Templo pagão é a Igreja ao revés, como a civilização moderna é a civilização cristã invertida, transformada, desviada.

Podemos desde já qualificar tal civilização através de palavras como conflito, guerra. Trata-se, de fato, “da conseqüência universal de todos os prazeres, a guerra a lhes assediar, de homem a homem, de classe a classe, de povo a povo.” (Mgr. Delassus). Aqui já vemos o quanto está distante a moral evangélica...

Poderíamos resumir assim:

- civilização cristã = mérito
- civilização moderna (pagã) = prazer

A Renascença

Renascença = Humanismo

“A renascença é a independência da moral defronte à lei de Deus” (Mgr. Delassus)

“A renascença é a dissociação da natureza e da graça, a afirmação da beleza e da bondade da natureza sem a graça” (Marcel Clement)

“A Deus deve ser deixado o cuidado das coisas divinas, ao julgo humano o cuidado pelas coisas humanas...” (Alberti, divulgador da Renascença no século XV)


Algumas pistas para reflexão...

Um escritor do século XIX fala dos princípios da Renascença:

“Numa época de negligência, de afrouxamento quase geral da vida religiosa (séc. XV), do enfraquecimento da autoridade dos papas (Avignon), da invasão do espírito mundano no clero, da decadência da filosofia e da teologia escolástica, da terrível desordem na vida civil e política, encontramos sob os olhos duma geração superexcitada as deploráveis lições da literatura antiga. Sob a influência duma admiração excessiva por esta, alçaram o estandarte do paganismo. Os aderentes desta reforma pretendiam adequar tudo à antiguidade, tanto na moral quanto nas idéias, restabelecendo a preponderância do espírito pagão. Eles consideravam a filosofia antiga e a fé na Igreja dois mundos inteiramente distintos e sem nenhum ponto de contato.”

Desejavam que o homem conquistasse sua felicidade na terra e que a sociedade se organizasse de forma que cada um procurasse satisfizer todos os sentidos.

Deste modo, o homem modifica sua concepção de finalidade. “A um homem decaído e resgatado, a Renascença opõe o homem nem decaído nem resgatado, elevando-se a alturas admiráveis somente pelas forças de sua razão e livre-arbítrio.” (M. Bériot)

Eis que estamos muito longe da concepção cristã que afirma que o coração é para amar a Deus, o espírito para conhecê-lO e o corpo para servi-lO...

Os êxitos humanos que foram as novas invenções (imprensa, pólvora, telescópio...), a descoberta do Novo Mundo, a (re)descoberta das antigas obras exaltaram o orgulho do homem, e fê-lo afirmar que somente a Razão pode governá-lo.

As devastações da Renascença manifestaram-se, em primeiro lugar, na ordem estética e intelectual. A arte, a literatura e a ciência retiraram-se pouco a pouco do serviço da alma, para servir o corpo e suas paixões.

A revolução moral estava em marcha, a qual iria deslanchar na revolução religiosa: a Reforma.



A Reforma

Definições:

“A Reforma é a independência da razão defronte à revelação” (Mgr. Delassus)

“A Reforma é o divórcio da razão humana e da razão divina, o livre exame do individuo investindo-se contra a graça misericordiosa do magistério exercido pelo vigário de Cristo” (Marcel Clément)


Algumas pistas para reflexão...

Convém bem distinguir duas coisas na Reforma:

- as novas idéias religiosas, que desejavam “reformar a Igreja e fazê-la reencontrar sua pureza original” (Lutero)
- o fenômeno da tomada do poder político nalguns paises europeus pelos protestantes...

As idéias humanistas, aplicadas no domínio da religião, vão cair no livre-arbítrio. Por que, com efeito, o homem submeter-se-ia aos dados da Revelação o que pertence ao domínio religioso, se afirma que Deus não possui qualquer autoridade no que não toca à Fé? Cada homem é capaz, através da própria razão, de definir o que verdadeiramente está sob domínio da Fé: eis o livre-arbítrio, impostado por Lutero, Calvino... Não há mais espaço à interpretação da Palavra Divina por nenhuma autoridade.

Após a etapa da laicização da sociedade, que é a Renascença, os “reformadores” passam à “laicização” da religião, lha negando tudo o que possui de Divino...

Ademais, a “religião” protestante “assegurava uma maior liberdade para a conduta privada”. Prometendo o Paraíso a todo homem, mesmo ao mais criminoso, sob a única condição dum ato de fé interior (somente possível aos predestinados), a Reforma assegurava-se um certo sucesso defronte aos indivíduos já moralmente corrompidos pela Renascença...

“Empreguem vosso poder para me ampararem e fazer triunfar minha revolta contra a Igreja, e eu vos livrarei de toda autoridade religiosa” dizia Lutero aos príncipes protestantes. Compreendemos então a rapidez e a eficácia da Reforma na Alemanha, na Inglaterra e na Escandinávia. Foi por pouco que a França resistiu vitoriosamente a tais assaltos após cinqüenta anos de guerras; isso só foi possível graças ao enraizamento profundo dos princípios cristãos na filha mais velha da Igreja.

Mas “o regime de Genebra”, tipo e vitrine da democracia laica, (onde o rei reina e não governa, pois o povo é soberano...) já continha as premissas da Revolução Francesa, e os ideais desta alastraram-se perniciosamente, no correr dos anos...


A Revolução

Definições:

“A revolução tem por meta formar um novo homem, destruindo a constituição cristã da França” (Constituição de 1792)

“A revolução é inspirada pelo próprio Satã; seu objetivo é destruir duma vez por todas o edifício do cristianismo, e de reconstruir sobre suas ruínas a ordem social do paganismo” (Pio IX)



Pistas para reflexão..

Em poucos meses a revolução fez tabula rasa do governo, das leis e das instituições da França.

Ela destruiu sucessivamente todas as ordens que vinculava a França à sua tradição cristã multissecular. Ela pôs o clero em estado de miséria, depois suprimiu o rei e a nobreza, enfim, destruiu as corporações de oficio. Então a República foi proclamada... era a revolução política.

Lancemos um véu pudico sobre todos os horrores que acompanharam estas sucessivas destruições, das quais cada um conhece um tanto; digamos somente que correu muito sangue...

Após estas destruições, seria necessário reconstruir:

Os revolucionários deram como fundamento da nova sociedade o princípio do “homem bom por natureza” (Rousseau). Aos auspícios deste princípio foi alçada a trilogia maçônica Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

- Liberdade: para todos e para tudo, porque no homem só há bons instintos...
- Igualdade: porque todos são igualmente bons, possuem direitos iguais em tudo...
- Fraternidade: rompendo toda barreira entre indivíduos, famílias ou nações, para permitir ao gênero humano amplexar-se numa república universal...

A religião católica foi substituída pelo culto da Natureza. Ela tinha um deus: o Ser Supremo, e uma deusa, a Razão; possuía um dogma: a liberdade, a volúpia, a lei e a nação.

Assim, “o homem pôde retornar à pureza e à simplicidade da Natureza.” (Talleyrand)

A realeza foi substituída pela democracia revolucionária, para perpetuar as reformas. Tudo o que poderia lembrar o tempo antigo foi proscrito (até do calendário)...

Os resultados foram assustadores. O homem retrocedeu ao estado de animal, e ao fim de dez anos, a França retornara aos tempos mais bárbaros de sua história. Realismo cristão e utopismo revolucionário...

Então mui oportunamente surge Napoleão, que salva a revolução de sua própria ruína contendo-a. Restabelece a Igreja de França através da concordata, mas não restabelece a civilização cristã... As instituições revolucionárias perduraram. E no decorrer do tempo, a revolução continuou e continua sempre a solapar o Reino de Cristo para instaurar doravante sempre o de Satã.

Nosso século é apenas a continuação do precedente, fundado sobre as mesmas idéias, que progrediram sem parar. As raízes de nosso mal são profundas...


Conclusão

A Renascença deslocou a felicidade de lugar, e modificou suas condições: era em nosso mundo e não mais no outro, era pelo prazer e não mais pelo mérito.

A Reforma descarta a autoridade religiosa que dizia: “Vós vos enganais, a felicidade está no céu”. Sozinha, a Bíblia bastava para asseverar a Verdade...

A Revolução negou que Deus falara aos homens, e afoga em sangue aqueles que continuavam a afirmar a verdade. Logo, instituiu o culto da Natureza.

Todas estas transformações profundas da civilização, todos estes ataques contra a Igreja do Cristo não se fizeram sem resistência. Muitas almas resistiram e resistem sempre apegadas ao ideal cristão da civilização cristã do Cristo-Rei. Daí que vêm os inumeráveis conflitos de idéias desde há quase cinco séculos...


“Toda civilização que não se origina da palavra de Deus é falsa,
Toda civilização que não cumpre a palavra de Deus é breve,
Toda civilização que não é penetrada do espírito de Deus é fria e vazia.”

Lamartine


“E as portas do inferno não prevalecerão sobre Ela...”

Mt 16, 18

http://www.istoecatolico.com.br/index.php/Artigos/Diversos/Renascenca-reforma-e-revolucao-ou-a-historia-da-luta-entre-a-Igreja-e-o-Templo.html
Bibliografia

- La conjuration antichrétienne Mgr. H. Delassus Ed DDB
- Histoire de France J. Banville
- Histoire partiale, histoire vraie J. Guiraud Ed. Beauchesne (4 vol.)
- Pour en finir avec le moyen-âge R. Pernoud
- Connaissance élémentaire du protestantisme, AFS
- La révolution française P. GaxotteL´Eglise face à la révolution J. Crétineau-Joly Ed. C.R.F

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